14| Rei de ouro - Parte 4

QUANDO A NOITE adentrou, ela teve de praticamente forçar Dorian a sair da agência para irem embora, se dependesse dele, ainda permaneceria ali arquitetando planos e mais planos. Mas ela sabia que ele precisava de banho, uma boa refeição e uma noite de sono. Dorian só se encontrava agitado daquela maneira devido a adrenalina que ainda circulava pelo corpo dele, duvidava muito que ele continuaria com aquela disposição depois que chegasse em casa e relaxasse.

Porém ela já deveria saber que aquele homem era capaz de contrariar qualquer ideia que passasse pela mente dela. Assim que adentraram o galpão, ela fez Dorian se dirigir log para o banheiro e tomar um banho, enquanto preparava o jantar com o pouco que conseguiu encontrar na geladeira e nos armários. Os dez minutos que Dorian permaneceu dentro do banheiro pareceram deixá-lo mais agitado, ou quem sabe a pancada na cabeça que levara mais cedo o estava afetando naquele momento. Ele simplesmente estava insaciável e a todo momento insistia em provocar Melina, pousando as mãos sobre a cintura dela e de vez em quando até deixando um beijo demorado no pescoço dela.

Ela sabia que não poderia deixar que ele a convencesse nem exercesse nenhum tipo de controle sobre si, mas... inferno! Aquele homem sabia como provocá-la.

Sabia onde pousar suas mãos cálidas, sabia por onde deveria correr os dedos e pior ainda, sabia os pontos fracos dela. Teve de fazer um esforço hercúleo para se manter firme e convencê-lo a se sentar para comer. Ainda assim, ele não descansou. Mesmo que Melina estivesse usando o balcão como defesa, os separando, os olhos de Dorian permaneceram o tempo todo cravados nela, provocantes, e talvez um pouquinho mais escuros do que o de costume, demonstrando o quanto as pupilas estavam dilatadas.

O desgraçado ainda lambia o talher devagar, propositalmente. E mesmo que não quisesse admitir, tudo aquilo estava mexendo com Melina. Na tentativa de acalmar os próprios ânimos, ela pegou uma calça de moletom e uma camiseta do próprio Dorian e se encaminhou para o banheiro. Quem sabe uma ducha gelada pudesse ajudá-la.

Até depois do jantar, quando lavou toda a louça que sujaram, Melina resistiu. Mas nenhum ser humano era tão forte assim, e infelizmente – ou felizmente – ela perdeu a batalha quando Dorian se aproximou por trás e levou o nariz até seu pescoço, inspirando profundamente seu cheiro. Quando ele correu as mãos de sua cintura para sua barriga, ela se virou de frente para ele, se deparando com o rosto de Dorian praticamente colado ao seu.

Diminuindo a distância, Melina colou seus lábios aos dele, sentindo pela primeira vez naquele dia, certo alívio de tê-lo tão perto. O sentimento apenas se intensificou com o pensamento de quase tê-lo perdido mais cedo. Talvez ainda estivesse assustada demais para pensar em outra coisa ou simplesmente relaxar. Mas ali, naquele momento, com uma das mãos de Dorian se embrenhando por seus cabelos, enquanto a outra apertava sua cintura, a trazendo para perto, pôde finalmente esquecer de tudo o que havia acontecido. Estranhamente, de uma maneira boa, Dorian trazia calmaria para Melina, e apesar de parecer contraditório, considerando a vida que levavam, ela sentia que ele seria seu abrigo no meio de uma tormenta.

Inesperadamente, ela se desprendeu do beijo, apenas para passar os braços ao redor de Dorian e envolvê-lo em um abraço apertando, sentindo o corpo dele contra o seu.

Ele estava ali.... Ele estava ali! Com ela. Não o havia perdido.

Percebendo a hesitação dela, Dorian se afastou lentamente, tocando o rosto de Melina delicadamente e a fazendo olhar para si. Um olhar preocupado despontou no rosto dele, quando viu os olhos dela se enxerem de lágrimas.

— O que houve? – Perguntou ele, estranhando o comportamento dela.

— É só que... eu... fiquei com medo de te perder hoje mais cedo. – Confessou ela, abaixando a cabeça constrangida – Você e a Max. E eu estou o dia todo lutando para esconder isso porque sei que é uma coisa tão boba...

— Ei. – Interrompeu ele, elevando o rosto dela novamente – Não há nada de bobo em se preocupar com as pessoas que você se importa. E não tem que esconder nenhum sentimento, Mel, as circunstâncias assustaram você, isso é natural. Em seu lugar eu teria reagido da mesma forma, ou talvez até pior.

Ela deixou uma risada curta escapar diante do eufemismo de Dorian. Ele já estava agindo de forma pior, só não havia percebido ainda. No entanto, ela não queria causar uma discussão justamente sobre aquele assunto, principalmente porque naquele momento percebeu o quanto estava exausta e imaginava o quanto o próprio Dorian também devia estar.

Relutante em se afastar, Melina o abraçou novamente, deixado um beijo rápido no tórax dele, enquanto sentia os braços dele a seu redor.

Não demorou para que os beijos retornassem, nem para que Dorian a pegasse no colo, a surpreendendo, e a colocasse sentada em cima do balcão. As roupas largas dele, que ela vestia, facilitaram muito para que a mão de Dorian subisse por dentro da calça e alcançasse sua coxa, enquanto a outra se embrenhava pela camiseta, pousando perigosamente perto do seio dela. E Melina sabia que ele estava apenas esperando um sinal dela para prosseguir.

Dorian poderia ser muitas coisas, mas invasivo em suas investidas era algo que ela nunca poderia acusá-lo. E ela de fato o desejava, mas nem mesmo todo o torpor que ele lhe causou naquele instante foi capaz de fazer o cansaço se afastar dela, muito menos a preocupação. Principalmente quando o viu resmungar e fazer uma careta de dor quando ela apertou mais do que deveria a costela de Dorian.

Melina não saberia dizer quem se afastou primeiro, ou se foi algo concomitante, mas ambos se afastaram, precisando apenas de alguns segundos para acalmarem as respirações agitadas.

A ajudando, Dorian desceu Melina do balcão e sem dizerem uma palavra, resolveram escovar os dentes e se aprontarem para dormir. Não foi preciso um pedido, Dorian sabia que Melina dormiria ali com ele.

Ele foi o primeiro a subir para o mezanino, se acomodando na beirada do colchão, e quando ela subiu se sentou próxima a ele, levando a mão aos seus cabelos e fazendo os dedos deslizarem pelos fios negros.

Curioso com o sorrisinho que ela levava no rosto ao olhá-lo, perguntou:

— O que foi?

— Nada. Só estava te olhando mesmo.

— Mesmo? Sou tão bonito assim?

Aquilo arrancou uma risada sincera de Melina, que desviou os olhos instantaneamente, se divertindo com o ego de Dorian.

— Você é muito convencido.

— Convencido não. Seguro de quem sou. – Respondeu ele com o rosto muito rente ao de Melina.

Era impressionante a capacidade dele de surpreendê-la, assim que voltou os olhos para Dorian, lá estava ele, praticamente a beijando novamente. O pescoço erguido o fazia ficar em uma posição desconfortável, notou pela microexpressão de desconforto que partiu dele, mas ela sabia bem o que ele estava querendo. Resolvendo pôr fim à vontade dele, se inclinou ligeiramente, unindo os lábios mais uma única vez, sentindo os dedos de Dorian subirem por entre seus cabelos. Quando o beijo começava a tomar proporções maiores, ele se afastou rapidamente, daquela vez tornando a careta de dor mais visível e até mesmo deixando uma queixa escapar.

Levou a mão até as costelas como se com aquilo pudesse expulsar a dor que lhe atingia bem ali. Preocupada, Melina pousou a mão sobre a dele e disse:

— Acho que deveria descansar e não fazer mais esforço por hoje.

— Talvez tenha razão. – Respondeu ele, se virando para ela – Estou sentindo todo meu corpo doer.

— Durma. Eu vou ficar aqui. Deve estar exausto.

Melina sabia que palavras tinham poder, só não imaginava que as suas fossem tão poderosas. A menção à exaustão de Dorian o fez até mesmo bocejar e piscar lentamente, realmente demonstrando seu cansaço. Inspirando profundamente, ele respondeu:

— Talvez um pouco. – Quando sentiu os dedos de Melina em seus cabelos, abriu um sorriso lento, lutando contra os próprios olhos, que pareciam pesados – Isso está me dando sono.

Ela nada respondeu, apenas se abaixou e deixou um beijo rápido na testa dele e continuou ali, com aquela carícia reconfortante, o fazendo ceder e fechar os olhos lentamente.

Puxando as cobertas até cobrir os ombros de Dorian, Melina se levantou e desceu a escada novamente, apenas para apagar a luz que havia esquecido acesa. Subiu novamente, tomando cuidado para não tropeçar nos degraus em meio à meia luz que o ambiente se encontrava. Quando se aproximou do colchão novamente, notou que impressionantemente Dorian já estava dormindo. Aquilo devia ser um recorde. Nunca vira alguém dormir tão rápido como ele.

Ainda assim, aquilo lhe parecia muito bom, ele precisava de descanso.

Tomando todo o cuidado para não o acordar, pulou por cima de Dorian, se acomodando no canto do colchão e puxando as cobertas para cima do próprio corpo. Se aproximando dele, passou o braço ao redor do tronco de Dorian, se sentindo mais aconchegada do que jamais esteve. Fechou os olhos e instantaneamente sentiu o sono chegar, mas estava tão cansada que nem mesmo o último pensamento que lhe ocorreu foi capaz de fazer o sono se afugentar.

Tarde demais se lembrou que o galpão possuía câmeras e naquele mesmo instante, estavam sendo flagrados.

A preocupação ainda rondava a mente de Melina no dia seguinte. Não conseguira deixar de pensar se alguém os havia visto pelas câmeras do galpão. Sabia que o monitoramento delas era trabalho de Max, mas com ela fora da divisão por aquele momento, não saberia se alguém assumiria o comando do monitoramento. Ansiava para que não.

Seu temor aumentou consideravelmente quando Alex chegou na divisão, um pouco mais tarde do que o comum, e lhe lançou um olhar cortante, enquanto se dirigia para a própria sala. A falta de fala dele só piorava tudo.

Seus pensamentos foram interrompidos quando Dorian se aproximou de sua mesa, não parecendo nem um pouco afetado com aquela situação.

— Pode me levar a um lugar?

— Hum? Como?

— Tenho que encontrar alguém?

— Agora? Só saímos para o almoço daqui uma hora.

— É importante. Por favor.

As sobrancelhas erguidas de Dorian tornavam a expressão dele suplicante, e ele sabia que Melina não resistiria àquilo. Conseguia convencer qualquer um com aquela expressão. Além disso, ela estava mesmo ansiosa para sair dali.

Sem pensar muito, apanhou as chaves do carro e simplesmente caminhou para fora, sabendo que Dorian entenderia aquilo como um sim.

O local que Dorian havia indicado era um restaurante extremamente luxuoso no centro da cidade, seria preciso pelo menos um ano do salário de Melina se ela quisesse fazer pelo menos uma refeição naquele lugar. No entanto, não o questionou, Dorian conseguia ser sempre surpreendente, vai que ele houvesse conseguido alguma coisa naquele lugar.

Mas diferente do esperado, o restaurante não estava aberto como todos os dias, muito pelo contrário, se encontrava de portas fechadas e cortinas abaixadas, e logo na entrada dois seguranças pareciam guardar a porta. E foi justamente naquele momento que Melina começou a desconfiar.

— Dorian, o que está acontecendo? Por que viemos aqui?

— Relaxa, não é nada muito alarmante. Acontece que a pessoa que está nos esperando aí dentro é alguém importante, por isso fecharam o restaurante.

— Importante em que nível?

— Muito importante.

Melina deveria desconfiar daquela fala de Dorian, mas sua curiosidade havia sido instigada tão profundamente, que até mesmo ela se encontrava ansiosa para adentar o local e saber com quem Dorian havia se metido daquela vez.

Estranhamente, assim que estacionaram o carro e saltaram, se aproximando da porta, os seguranças não os barraram, pelo contrário, abriram a porta e os deixaram adentrar facilmente, como se já fossem esperados ali.

E assim que puseram os pés para dentro, Melina se encantou com o local. Se antes a fachada já a deixava boquiaberta, seu interior foi capaz de triplicar qualquer sentimento que houvesse dentro de si. As paredes brancas do ambiente, tinham suas colunas enfeitadas com detalhes em dourado, que subiam até o teto e contornavam todo o espaço, com arabescos extremamente bem entralhados em gesso. Os mais finos lustres pendiam acima de suas cabeças, deixando todo o salão a uma meia luz, trazendo conforto. As mesas redondas eram forradas por toalhas brancas, imaculadas, e cercadas por cadeiras de cor creme, com assentos e encostos estofados. Aos fundos, uma lareira se encontrava, apagada, ao lado de uma porta de vidro que levava a um corredor, provavelmente a cozinha.

Tudo aquilo era magnífico. Era como se tivesse acabado de entrar em um palácio, na sala de jantar de um rei.

Sentiu a ironia daquilo assim que levantou os olhos para o homem sentado bem aos fundos, encarando os dois com um sorriso torto em seu rosto.

Melina ficou lívida e muda por segundos, sem conseguir nem sequer entender como Dorian conhecia aquele homem.

O terno muito bem alinhado, e parecendo extremamente caro, lhe caía muito bem dada sua estrutura robusta, os cabelos escuros eram densos, mas combinavam perfeitamente com os olhos cinzas. E mesmo que parecesse tão jovem, podendo facilmente ter a mesma idade de Dorian, usava uma bengala para se apoiar quando se levantou, mas nem mesmo aquilo foi capaz de tirar sua postura imponente, nem anular o poder que ele parecia exalar.

Ali. Bem a sua frente. Estava parado de pé Thomas Joseph Lancaster Belmok.

Duque de Hawley. Conde de Lawford... e não menos importante, Príncipe do país vizinho, Montanaris.

Ele estar ali, naquele país, não era exatamente o que surpreendia Melina, mas sim o fato de Dorian o conhecer.

"Olá, meus amores! Como vão?

Passando aqui rapidinho para dar um recado. Quem me acompanha ou já me acompanhou aqui na plataforma, certamente reconheceu o personagem que apareceu nesse capítulo. E sim, teremos esse crossover épico aqui sim! Para quem não conhece, Thomas Belmok é um personagem meu de outra série de livros que está aqui na plataforma " Escândalos na coroa", o livro dele é especificamente o terceiro, e tenho que dizer que entre ele e Dorian não sei quem é o pior. Mas podem ter certeza de que eles se entendem muito bem.

Esse encontro deles ficou bem grande, e por esse motivo tive que dividir em duas partes esse capítulo. No próximo vocês já saberão como eles se conheceram e o que são capazes de aprontar estando juntos.

Espero e conto com vocês no próximo capítulo (Já me contem aqui o que esperam).

Beijos,

Rafa."

PS: Sim, eu sei que na imagem da mídia o naipe do baralho é copas, mas não achei a imagem certa (Pinterest, por que me odeias?)

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