10| Paraíso - Parte 4

QUANDO chegou ao hospital no fim daquela tarde, a primeira coisa que ouviu foram as vozes de Dorian e Caíque no quarto, ao que parecia, o médico havia liberado a visitação. No entanto, o cenário que ela encontrou foi bem diferente do que esperava, Dorian caminhava de um lado para o outro, parecendo irritado, enquanto Caíque permanecia em pé, à sua frente, tentando se explicar por alguma coisa.

— Você tem que entender, filho...

— Entender o quê? Vocês mentiram para mim. Vocês sabiam! Sabiam o tempo todo e mesmo assim mentiram, esconderam, me manipularam como um idiota.

— Dorian, não é bem assim.

— E como é, pai? E como é?

Notando a presença de Melina ali, os dois se voltaram para ela e se calaram, mas aquilo não pareceu diminuir a raiva de Dorian, pelo contrário, ele deu as costas para Caíque, se virando para a parede e abaixando consideravelmente o tom de voz.

— Vai embora.

Caíque ainda tentou protestar e se aproximar, mas Dorian se desviou do toque dele, e tornou a dizer:

— Me deixa. Eu preciso de um tempo. Não quero você, nem a Helena aqui.

Sabendo que não conseguiria fazer Dorian mudar de ideia e não querendo piorar a situação, Caíque apenas anuiu com a cabeça e com a voz mansa respondeu:

— Tudo bem. Mas assim que se acalmar, se quiser conversar sabe onde estou. E eu espero realmente que entenda que fizemos isso para seu bem.

Daquela vez ele não se intimidou com a postura rígida do filho, se aproximou e deixou um beijo em sua têmpora. Melina não saberia dizer o exato estado de Dorian, mas ele não se afastou, tampouco se moveu, continuou virado para a parede, até que Caíque saísse do quarto, os deixando sozinhos.

Ela ainda estava confusa, e no fundo, mesmo que sem motivo, se sentia até mesmo constrangida por ter presenciado aquela discussão. Permaneceu em silêncio, parada sob o batente da porta, observando as costas de Dorian e como sua respiração ainda era pesada.

Pigarreando para limpar a garganta, ela quebrou o silêncio:

— Acho que não vim em boa hora, melhor eu ir.

Mais do que rapidamente, Dorian se virou para ela e, praticamente implorando, diminuiu a distância entre eles, segurando sua mão.

— Não, por favor. Fica.

— Tem certeza? Não quer um momento a sós?

— Não.

— Tudo bem. – Mais alguns instantes de silêncio foram feitos, até Melina se arriscar a perguntar – O que aconteceu?

Indeciso, Dorian mordeu os lábios e voltou a caminhar agitado pelo quarto, como se com aquilo pudesse clarear os pensamentos. Melina nunca o vira tão perturbado como estava.

— Meu pai e Helena sabiam. Eles sabiam que Corbeau é meu pai biológico, sempre souberam. E pior ainda, meu pai já o viu. Ele esteve aqui e os dois discutiram.

Aquela foi uma informação que capturou a atenção de Melina, principalmente pelo fato de Caíque já ter estado cara a cara com Corbeau. Todo aquele tempo os federais estavam atrás daquele homem, procurando o mínimo que poderiam encontrar de suas características, enquanto um professor universitário já havia estado frente a frente com ele. Se ela mesma já se sentia contrariada com aquilo, imaginava como Dorian estaria se sentindo.

Sabia que se demonstrasse qualquer reação de indignação, os sentimentos negativos dele só iriam piorar, e não era aquilo que ela esperava que acontecesse. Então, apenas tentou abrandar os sentimentos dentro de si, e tentar acalmá-lo.

— Eu nem imagino como deve estar se sentindo nesse momento, mas... e se eles quisessem apenas te proteger?

— Proteger? – Bradou ele, se virando rapidamente para ela e franzindo todo o rosto, visivelmente contrariado – Mentindo? Omitindo coisas sobre a minha vida?

Melina nada respondeu, sabia que nada que dissesse traria conforto a ele. Além disso, aquela última frase havia feito ela se lembrar de que sua família não fora a única que mentira para ele. Havia mais alguém, importante demais na vida dele. E essa pessoa também havia mentido, e ainda mentia. A pasta que estava em suas mãos era prova daquilo, e quando ela abaixou os olhos, encarando todos aqueles papéis, acabou chamando a atenção dele também.

— O que é isso na sua mão?

— Não é nada importante, coisas do trabalho. – Respondeu ela, ainda com os olhos baixos.

Dorian novamente se aproximou, tentando encarar Melina, ainda que ela mantivesse a cabeça baixa.

— Melina, não minta para mim. Você não. – A voz dele quase parecia embargada e banhada em desespero e expectativa – É sobre a Emily, não é?

Finalmente erguendo a cabeça, Melina concordou e resolveu que o melhor a se fazer seria estender a pasta para ele, mas assim que ele a pegou, não soltou de imediato. Precisou olhar no fundo dos olhos dele para ter certeza e perguntar:

— Tem certeza de que quer fazer isso?

— Tenho. É melhor receber a pancada de vez.

Quando ela soltou a pasta, Dorian se encaminhou para a cama e se sentou, permanecendo alguns segundos encarando os documentos, antes de abri-los e tomar uma das fotos que Melina havia anexado. A respiração dele aumentou e pareceu mais pesada, mas o semblante nada demonstrava, enquanto ainda mantinha os olhos fixos na foto.

— É ela. – Respondeu por fim – Os olhos e o cabelo estão diferentes, mas é ela. A encontrou então?

— Ela trabalha como corretora em uma imobiliária no centro. Usa o exato nome que você nos deu.

Deixando a foto de lado, ele folheou os outros documentos e parou para ler um relatório que Melina havia feito. Não se atreveu a erguer os olhos quando voltou a questionar:

— Você a seguiu?

— Segui. – Respondeu Melina, se aproximando e se sentando ao lado dele – A vi entrando em um carro e reconheci o motorista. Era o carro de Dimitri. – Dorian voltou lentamente o olhar para ela, focando toda sua atenção – Lembra-se dele?

— Lembro. – Foi tudo o que ele respondeu.

— Eu tentei segui-los, mas fui impedida.

— Fizeram algo com você?

— Não, não diretamente. Um carro fechou a passagem e não consegui mais alcançá-los.

Ela se levantou da cama, incerta sobre contar a Dorian a respeito do encontro com Corbeau, e sem perceber andou agitada de um lado para o outro, chamando a atenção dele e sendo seguida por seus olhos.

— Tem certeza de que não fizeram nada com você?

— Tenho é que... aquele carro não me deixou passar. Ficou parado na minha frente, tomando tempo.

— Por quê?

Ela sabia que Dorian havia pedido sinceridade dela, mas ele já estava tão abatido com tudo que se questionava se deveria mesmo dizer a verdade. No entanto, o semblante de expectativa dele, as sobrancelhas unidas, a testa franzida e os olhos avermelhados não permitiram que ela fosse mais uma pessoa a magoá-lo omitindo a verdade.

— Porque quem estava no carro... era o Corbeau. Eu o vi.

As sobrancelhas dele se uniram mais, demonstrando um momento de confusão, antes de se levantar rapidamente, deixando os documentos de lado, e se aproximar dela. Não parecia ter pensado direito quando questionou, preocupado:

— Se encontrou com ele? Ele fez alguma coisa com você?

Dorian parecia apavorado com a ideia daquele encontro e Melina entendia os motivos dele, Corbeau não era exatamente a pessoa com quem se encontrava e saía com vida depois. Tentando tranquilizá-lo, ela pousou as mãos em seus braços e disse:

— Calma. Não foi exatamente um encontro, ele apenas abaixou o vidro do carro e me encarou, nada mais aconteceu.

Parecendo se acalmar um pouco e tornando o semblante ainda mais confuso, ele voltou a questionar:

— Espera, mas nunca o viu. Como sabia que era ele?

Aquela era a questão que Melina não queria abordar, mas sabia que Dorian não desistiria de ter respostas. Saber que era filho de um dos criminosos mais perigosos do país o abalara de uma maneira quase desastrosa. O que poderia acontecer se ele soubesse que eram parecidos?

— É que... – Ela entrelaçou os dedos, um pouco insegura em continuar – Você se parece muito com ele. Por isso reconheci.

Os olhos de Dorian praticamente saltaram do rosto, a confusão havia dado lugar ao horror, beirando a incredulidade. Hesitante, ele deu alguns passos para trás, como se quisesse se afastar daquela ideia.

— Sou tão parecido assim com ele?

— É. – Melina confessou, balançando a cabeça – Com isso, pesquisamos por algumas imagens no banco de dados, comparando fotos suas. Com muito custo conseguimos encontrá-lo e sabermos quem ele é. Seu nome é Conrad Archambault, mas pouquíssimos são os registros sobre ele. É como se tivesse sido apagado de tudo.

Recuando mais até se sentar novamente na cama, Dorian manteve os olhos fixos no chão. Já não parecia ter forças para mais nada, a voz já praticamente não ecoava.

— E eu achando que agora estava com um alvo em minhas costas, mas na verdade está literalmente na minha cabeça.

— Não é assim, Dorian, as pessoas lá fora continuam não sabendo quem ele é.

— E acredita mesmo nisso, Melina? – Explodiu ele, se levantando bruscamente e a fazendo recuar – Acredita que agora não vão saber quem ele é? Acorda, Melina, vocês descobriram o rosto dele, que por sinal usaram o meu rosto para isso. Descobriram o nome e sobrenome dele e isso é o suficiente. Acha mesmo que isso não vai vazar? Que não vai sair da agência? Olha o tanto de inimigos que ele tem.

— Nós estamos tratando isso com extremo sigilo, Dorian.

Ele emitiu um riso debochado e pareceu relaxar a postura quando se atirou sobre o colchão novamente.

— É de uma extrema estupidez ou inocência acreditar que o sistema é incorruptível e que isso não vai estar nas ruas em questão de dias.

Ante aquela frase o silêncio reinou no quarto, enquanto Melina remoía e se sentia profundamente atingida por aquela última frase de Dorian, ele, no entanto, não parecia se preocupar nem um pouco, ou talvez não tivesse percebido o efeito que causou, continuava de cabeça baixa, resmungando coisas que Melina não tinha o menor interesse em entender naquele momento.

— Me acha estúpida então? – Questionou ela, depois de um tempo.

— Não foi isso que eu disse.

— Mas foi o que quis dizer.

— Melina, eu não...

— Quer saber, Dorian, acho melhor eu ir embora. Você claramente precisa descansar e pensar mais sobre isso e eu não estou nem um pouco a fim de entrar em uma discussão agora. Meu dia foi horrível e eu separei uma parte dele apenas para vir aqui te trazer informações que eu achei que merecia saber, mas está na cara que foi um erro. Então acho melhor pararmos por aqui e outro dia quando estiver mais calmo, voltamos a conversar.

Sem sequer dar tempo para que Dorian reagisse, Melina se encaminhou para a porta, sem se importar com os protestos dele.

— Mel, espera.

— Boa noite, Dorian. – Foi tudo o que ela respondeu, antes de bater a porta atrás de si.

Percebendo que havia passado dos limites, Dorian apenas bufou, irritado consigo mesmo, e atirou os papéis que Melina havia levado no outro lado do quarto. Se deitou sobre a cama, pensando sobre tudo que havia descoberto naquele dia. Perguntava-se quantas vezes mais descobriria algo sobre si mesmo que não sabia.

Naquele momento o sentimento que tomava conta de si era de que era uma marionete na mão de um ventríloquo bem perverso em suas histórias, no fundo, sentia como se sua vida não fosse de fato sua. Talvez fora sempre um expectador, pensando ser o protagonista, e se questionava o valor que tinha.

Passou a praticamente a noite toda acordado, até mesmo o sono parecia brincar com ele durante a madrugada, ora era vencido e acabava cochilando, ora se sentia insone, com os pensamentos o torturando.

Só soube que o dia havia raiado quando uma moça muito pequena entrou em seu quarto com uma pequena bandeja. Ela parecia assustada, principalmente porque aquela era a primeira vez que via Dorian e as feições dele não eram nada agradáveis. Admitia para si mesmo que manter aquela expressão enfurecida no rosto estando internado na ala psiquiátrica não ajudava nem um pouco, mas também admitia estar se divertindo com o jeito assustado da moça, principalmente quando ela se aproximou hesitantemente e disse:

— O doutor pediu para eu passar uma pomada nos ferimentos das suas mãos. – Quando ele não reagiu e continuou a encarando, ela constatou o óbvio – Estão machucadas.

Lentamente, ele estendeu as mãos para frente, ainda sem dizer nada, e continuou encarando a moça, que parecia ser estagiária, dada a forma insegura com que ela fazia o procedimento. Dorian tinha quase certeza de que deveria haver alguém ali com ela a monitorando. No entanto, não era algo tão difícil de se fazer, em poucos minutos ela terminou e guardou tudo o que havia usado, mas continuou ali parada, encarando Dorian. E sem entender o motivo da moça ainda estar ali, continuou a encarando fixamente.

— Está precisando de alguma coisa? – Questionou ela, na esperança de ter alguma resposta dele, mas Dorian continuou calado – O senhor podia ao menos responder algo.

Lentamente ele inclinou na direção da moça, parando com o rosto a centímetros dela, fixou os olhos ainda mais, se aproveitando da peculiaridade deles para causar estranheza e medo, levantou os cantos da boca, começando a rosnar, e no segundo seguinte simplesmente latiu rente ao rosto da moça, a fazendo se assustar e rapidamente sair do quarto.

Continuando ali parado, ele se divertia com o que havia causado, ria deliberadamente, sem remorso algum. A verdade é que não sabia bem o motivo de ter feito aquilo, talvez estivesse entediado demais e a moça o tivesse irritado. Talvez mais tarde pedisse desculpas.

Foi questão de minutos até Jonathan adentar o quarto com uma expressão irritada e talvez até cansada. A princípio não disse nada, permaneceu parado, encarando Dorian, como se esperasse que ele soubesse o exato motivo do médico estar ali. Quando Dorian apenas elevou as sobrancelhas cobrando alguma explicação, Jonathan disse:

— Assustou a estagiária.

— E ela não deveria estar sozinha.

— Francamente, Delyon, não tinha necessidade de fazer aquilo com a pobre moça. Ela pensou que você fosse atacá-la.

— Ela que entrou aqui parecendo um cãozinho medroso. Só mostrei quem era o cachorro maior.

— Latindo?

— E não é assim que os cães se comunicam?

Irritado, Jonathan virou as costas para Dorian, exalando uma grande quantidade de ar e passando a mão pelo rosto, não respondeu mais nada, apenas se encaminhou para a porta, resmungando:

— É extremamente difícil lidar com vocês. Deve estar no sangue. Malditos Vulpes.

Dorian não entendeu bem o motivo de Jonathan o chamar daquele jeito, mas imaginou que deveria ter algo a ver com seu pai. De toda forma, naquele momento não queria saber de mais nada relacionado a ele.

Pensou até que teria um dia tranquilo e monótono, não recebera sequer uma visita e sabia que a culpa era sua. Havia gritado, brigado e sido grosseiro com todos os que o cercavam. Teria acertado um soco em si mesmo se aquilo não fosse piorar sua situação.

Depois de tanto relutar, aceitou que permanecer ali e não fazer mais nada seria o caminho mais fácil para sair rapidamente. Se sentia como em uma armadilha, quanto mais se debatesse, mais preso ficaria, então resolveu desistir e se deixar ser "controlado".

Estava fazendo dobraduras com os documentos que Melina havia levado quando a porta do quarto se abriu naquela tarde. Não se atreveu a erguer os olhos para saber quem era, sabia que poderia ser um dos enfermeiros, o psiquiatra ou até mesmo Jonathan que retornara. Mas quando a pessoa permaneceu em completo silêncio, Dorian ergueu os olhos, curioso, notando o homem de costas para ele. O jaleco branco já lhe era muito familiar, mas os cabelos loiros eram desconhecidos.

— Você não é o Jonathan. – Disse.

— Não. Eu não sou o Jonathan. – Respondeu ele, se virando.

Quando Dorian avistou os olhos daquele homem, completamente iguais aos seus, se levantou rapidamente da cama, praticamente saltando para o outro lado do quarto, enquanto o rapaz ainda lhe observava, com o semblante austero, não dando sequer indícios do que pensava naquele momento. O corpo alto e robusto não o ajudava a parecer menos intimidador e as sobrancelhas um pouco caídas conferiam ao olhar certo estoicismo.

Mais o pior de tudo era a semelhança que ambos possuíam em seus traços.

Se aproximando vagarosamente, enquanto Dorian recuava, até se encostar na parede, ele disse com voz mansa:

— É um prazer finalmente te conhecer, irmãozinho.

Dorian ainda permaneceu alguns segundos sem reação, completamente em choque, e se espremendo contra a parede, como se quisesse se proteger. Esperou até que conseguisse regular sua respiração para perguntar:

— Quem... quem é você?

— Meu nome é Aquiles. Sou seu irmão mais velho.

— Irmão?

Um riso curto, e um pouco torto, se abriu nos lábios de Aquiles, que se aproveitou para diminuiu completamente a distância entre eles e parar bem em frente a Dorian.

— Não pensou que era filho único, não é mesmo? – Quando Dorian apenas balançou a cabeça, ainda permanecendo com os olhos arregalados, Aquiles completou se afastando – Se acalme, eu não vou te machucar.

— O que está fazendo aqui então?

— Jonathan nos comunicou que você está dando um pouco de trabalho a ele. Então nosso pai pediu que eu viesse ter uma conversinha com você.

Aquela última frase foi o que bastou para um tremor tomar conta de todo o corpo de Dorian, principalmente porque Aquiles era a primeira pessoa que ele não conseguia ler. E apesar do tom de voz dele ser tão calmo e a postura parecer pacífica, aquilo não serviu para deixá-lo mais tranquilo. Na verdade, toda aquela calma era alarmante.

Lutava para se manter de pé quando Aquiles se aproximou novamente e tocando seu ombro, o fez se desencostar da parede. Temia que a qualquer momento pudesse cair de tanto que sentia as pernas tremerem.

Ainda com a mão nas costas de Dorian, Aquiles o guiou de volta para a cama e o fez se sentar, enquanto permanecia de pé à sua frente. Quase sentia pena do irmão mais novo, ele estava realmente assustado e parecia ter perdido completamente a capacidade de falar.

— Eu quero que se acalme, Dorian, já disse que não irei te machucar. É só uma conversa, está bem? – Com os olhos fixos no rodapé da parede e nunca em Aquiles, Dorian apenas concordou com a cabeça – Eu sei que está impaciente e irritado, eu também estaria se estivesse preso aqui, mas acredite quando Jonathan diz que está te protegendo. As coisas estão realmente muito ruins lá fora, Dorian, e enquanto a bagunça não for concertada, não podemos dar garantia de que o protegeremos sempre.

Dorian continuou com a cabeça baixa, mas criou certa coragem para falar, ainda que sua voz fosse baixa e trêmula.

— Eu não preciso que me protejam.

— Você não faz ideia do quanto precisa. Nosso pai errou. Ele agiu por impulso, de cabeça quente, quando soube que você tinha sido atingido e acabou gerando tudo isso. Mas ele está tentando consertar.

— E eu tenho que pagar por isso?

— Acredite se houvesse outra maneira ele certamente o faria.

— Eu não sou um prisioneiro. Pelo menos não de vocês.

Deixando um riso divertindo escapar, Aquiles bagunçou os cabelos de Dorian, e respondeu:

— Não, não é. Mas já está quase acabando, tenha só um pouco mais de paciência.

Farto de as pessoas sempre dizerem aquilo para ele, Dorian se levantou bruscamente, se desviando do toque de Aquiles e bradando:

— E por que eu deveria confiar em você? Por que deveria obedecer? As pessoas sempre mentem.

— Porque eu sou seu irmão mais velho e é seu dever ter algum tipo de respeito. – Respondeu Aquiles elevando a voz. Percebendo que assustara Dorian e o fizera se encolher, retomou o tom de voz calmo – Escuta, Dorian, a sua vida não é mais a mesma. Nada vai ser como antes quando você sair daqui. Não poderá mais sair tranquilamente na rua sem correr o mínimo risco de ser reconhecido, terá que tomar cuidado redobrado com sua vida a partir de agora. E estamos tentando diminuir os riscos para você, para que não tenha preocupação o tempo todo. – Diminuindo a distância entre eles, Aquiles segurou Dorian pelos dois braços e o sacudiu levemente, como se quisesse fazê-lo acordar – E é isso que eu quero que entenda, irmão.

Sem ter mais nenhum argumento, Dorian continuou paralisado, mas acabou abaixando a cabeça e a balançando levemente, enquanto sua voz saía quase em um fiapo:

— Está bem.

Enfiando a mão no bolso, Aquiles tirou um celular e o entregou a Dorian, dizendo:

— Aqui, isso é para você. Sempre que precisar, pode me ligar ou até mandar uma mensagem e virei imediatamente. Pode chamar a hora que precisar. Se quiser falar com nosso pai, o contato dele também está aí. Ele só não entrou em contato com você antes porque acha que agora não é o momento, mas a escolha é sua. Se quiser se aproximar, estamos prontos para acolhê-lo. – Abaixando o rosto, até entrar no campo de visão de Dorian, completou – Não deixe que ninguém veja esse celular, nem mesmo suas amigas. Entendeu?

Mais uma vez, Dorian apenas balançou a cabeça, concordando, mas não se atreveu a levantar o olhar, muito menos a reagir quando Aquiles o puxou para um abraço, embora se sentisse estranhamente confortável naqueles braços. Relutava em admitir, mas Aquiles parecia ser pacífico e entendê-lo. E confessava, que no fundo, gostaria de conhecê-lo melhor.

Se recriminou por aquele pensamento assim que Aquiles passou pela porta, saindo do quarto e o deixando em completo silêncio. Demorou alguns segundos para reagir e quando finalmente conseguiu se mexer, se atirou sobre a cama, tapando os olhos com as mãos e deixando o celular de lado. Só conseguia imaginar o que seria de sua vida a partir dali, e estava odiando o fato de não ter nenhuma perspectiva de nada.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top