05| De volta a normalidade - Parte 2
PERMANECEU do lado de fora por pelo menos dez minutos até ver Helena chegar e se aproximar rapidamente. A moça parecia tão ansiosa que sequer a cumprimentou direito, foi diretamente ao ponto.
— Ele acordou mesmo? – Questionou.
— Acordou sim. A médica está o examinando agora e provavelmente deve estar conversando com ele.
O sorriso de Helena se alargou e até mesmo algumas lágrimas desceram por sua face, daquela vez demonstrando uma alegria sem tamanho.
— Graças a Deus. – Murmurou – E como ele estava? Ficou assustado?
— Um pouco. Mas se recuperou rápido, inclusive já está fazendo gracinhas e me irritando.
Com aquela informação, Helena acabou deixando escapar uma risada. Tentou disfarçar, colocando a mão à frente do rosto e abaixando a cabeça, mas foi em vão, o sorrisinho bobo teimava em preencher seus lábios.
— Me desculpe, agente, mas é que não consigo ver isso como algo ruim. Não agora. Significa que ele voltou.
— Concordo. Foi bom vê-lo recuperado.
A conversa de ambas foi interrompida quando a porta do quarto se abriu e Jane passou por ela, cumprimentando Helena com a cabeça, até daria algumas informações a ela, mas a moça simplesmente adentrou o quarto com tanta rapidez que foi quase impossível seguir seus movimentos. Se atirou em cima de Dorian, o abraçando apertado e arrancando um grande sorriso dele.
Do lado de fora Jane e Max observavam a interação dos irmãos e só depois de alguns segundos, a médica se voltou para a agente, dizendo:
— Ele é um dos pacientes mais intensos que já atendi.
— Ele fez alguma gracinha com você? Porque se fez é só me avisar que coloco ele no lugar rapidinho.
Jane emitiu um riso curto, porém, claramente se divertindo com a expressão que Max fazia.
— Não, ele não fez nada, só é muito agitado. – Com as sobrancelhas arqueadas e balançando a cabeça, indignada, Jane acrescentou – Não consigo entender, ele mal acordou e já demonstra uma disposição fora do comum.
— Bom, agora você de fato conhece o Dorian.
— Ele é sempre assim?
— Na maior parte das vezes.
Balançando a cabeça em concordância, Jane ajeitou o jaleco e se posicionou totalmente de frente para Max, a encarando no fundo de seus olhos.
— Bom, preciso voltar ao trabalho. Mas ele me pediu para chamar a Joana D'arc. Ele parece extremamente apegado a você.
— O que posso fazer? Ele não vive sem mim.
Diante do argumento convencido de Maxine, Jane abriu um sorriso provocativo, e a puxando pela lapela da camisa que usava, aproximou mais seus corpos e respondeu:
— E quem consegue, agente Blanchard?
Quando Max se inclinava um pouco mais para frente, Jane se afastou rapidamente, e tomou o lado direito do corredor.
— Aqui não, ainda estou a trabalho.
— Você é uma estraga prazeres, doutora Herrera.
— Meus pacientes sempre me dizem isso.
A agente ainda permaneceu parada, observando a médica sumir pelos corredores, antes de adentrar novamente o quarto e encontrar Dorian praticamente em pé de guerra com Helena.
— Helê, eu estou bem, não precisa ficar me bajulando assim.
— Eu não estou bajulando, Dorian, só estou cuidando para que você mesmo não se prejudique. Deixe de ser teimoso!
— O que está acontecendo? – Questionou Max, se aproximando.
Quem respondeu foi Dorian, que permanecia com uma expressão emburrada no rosto, enquanto os braços estavam cruzados sobre o peito.
— Helena não quer me deixar sentar.
— Você mesmo disse que a médica lhe mandou fazer repouso. – Rebateu a mais velha, com expressão mais contrariada ainda.
— Mas eu ainda estarei de repouso, só irei mudar de posição.
— A médica não autorizou que você se sentasse.
— Tampouco proibiu.
O bufo irritado que escapou de Helena foi o suficiente para fazer Max se intrometer no meio daquela briga. Ela entendia que não era nada fácil lidar com Dorian, mas se não fizesse nada, era provável que Helena agregasse mais alguns dias a ele naquele hospital. Era claro que ela estava irritada ao ponto de querer bater nele.
— Tudo bem, podemos resolver isso facilmente. Irei procurar por Jane e perguntar se Dorian já pode se sentar, assim acabamos de vez com essa discussão.
— Se importa se eu for procurá-la, agente? – Interrompeu Helena, mais calma – Assim poderei conversar com ela, ainda quero tirar algumas dúvidas.
— Claro, fique à vontade.
Silenciosamente, Helena saiu do quarto, mas não se antes lançar um olhar ameaçador para Dorian. Quando finalmente se viu sozinho com Max, ele deixou um suspiro escapar e encostou a cabeça nos travesseiros, parecendo cansado.
— Você precisa parar de causar tanta confusão. Ouviu o que Jane disse, acabou de acordar e precisa de repouso.
— Ah, Helena está exagerando.
— Ela está preocupada com você Dorian. Passou semanas desacordado, é normal que ela queira que você tenha uma boa recuperação. Deixe de ser ingrato.
— Mas eu não estou sendo ingrato! Só queria que ela não se estressasse tanto com isso. Helena é a mãe que nunca tive e não gostaria de vê-la ficar doente só porque se dedica a cuidar exclusivamente de mim.
— Eu entendo. Mas por acaso já tentou explicar dessa maneira para ela?
Encarando Maxine de modo monótono, Dorian franziu as sobrancelhas, como se discordasse daquela pergunta e apenas mudou de assunto.
— Me ajude a sentar, por favor.
— Ora, mas que homem mais teimoso!
Sabendo que ele não a deixaria em paz nem por um segundo, Max procurou pelo controle que aquela cama tinha e apertando alguns botões conseguiu fazê-las se erguer ligeiramente, deixando Dorian numa posição mais confortável.
— Melhor assim?
— Melhor. Sabe me dizer quando vão trazer água? Minha boca está seca.
— Vou pedir a alguém para trazer.
Maxine mal pôs os pés para fora do quarto quando notou Melina chegar correndo, esbaforida e com o rosto vermelho. Os cabelos então... era melhor não comentar.
Quando ela se aproximou da loira, não disse nada de imediato, apenas se inclinou sobre o próprio corpo e se apoiou nos joelhos, para tentar recuperar o fôlego.
— Correu uma maratona, foi?
— Eu vim de taxi. Mas o trânsito estava caótico, então resolvi terminar o caminho a pé. – Respondeu Melina, finalmente se recuperando e erguendo o tronco.
— Tudo isso para ver o Dorian?
— Ele está com alguém?
Notando que sua provocação não havia funcionado daquela vez, Maxine apenas apontou para a porta fechada e abriu espaço para sua amiga.
— Ele está sozinho.
Depois daquela frase, Melina não esperou sequer meio segundo para abrir a porta. Diferente do esperado, ela não adentrou de primeira, apenas parou sob o batente, encarando Dorian fixamente, enquanto ele a encarava de volta, com um sorriso no rosto.
A passos lentos, ela avançou pelo quarto, como se quisesse ter a plena certeza de que ele estava ali, e quando finalmente estava perto o suficiente, não esperou que ele dissesse nada. Avançou contra Dorian, colando sua boca à dele, sem se importar com qualquer circunstância, ou sequer racionalizar direito o que estava fazendo.
A princípio, Dorian pareceu surpreso e seus olhos arregalados atestaram isso, mas depois da surpresa inicial, ele cedeu, fechando os olhos e apreciando o beijo que Melina lhe dava.
Cedo demais ela pareceu criar consciência e se afastou. O rosto avermelhado revelava a vergonha por sua impulsividade, e constrangida, ela abaixou a cabeça, apenas perguntando:
— Como você está?
— Muito melhor agora, que praticamente acordei com um beijo. Me sinto uma princesa. A própria Branca de Neve.
— Me desculpe.
— Não, não precisa se desculpar... eu gostei.
Levantando os olhos, Melina o encarou por mais alguns segundos, e fez aquilo que deveria ter feito ao invés de beijá-lo. O abraçou. Tão apertado que parecia querer que seus corpos se fundissem. Dorian retribuiu o abraço, sentindo cada pedaço de Melina contra si, fazendo seu coração disparar dentro do peito de forma descompassada.
Do lado de fora, Max guardava a porta para que ninguém entrasse, depois de ver o beijo que Melina havia dado, soube que eles precisavam de um momento só deles, sem interrupções. Sabia o quanto sua amiga havia sentido a falta de Dorian e de como vê-lo acordado a faria se sentir melhor. Em todo o tempo em que conhecida Melina, Max nunca a vira tão abatida como ficara, nem mesmo quando ela terminou com Adam.
Começou a se sentir preocupada quando avistou Helena se aproximando novamente, tentou inventar qualquer desculpa para que ela não entrasse, mas nada lhe veio à mente naquele momento. Acabou tendo que dizer a primeira desculpa que lhe ocorreu, quando Helena levou a mão até a maçaneta.
— Ah, eu não acho uma boa ideia entrar aí agora, senhorita Delyon.
— Por quê?
— O Dorian precisa de um tempinho, sabe.
— Ele está bem? Aconteceu algo?
— Não, não aconteceu nada não, é que... – Entrelaçando os dedos nervosamente, Max tentou explicar – Ele... é...
— Tem alguém aí dentro com ele?
Ainda receosa, mas sabendo que não conseguiria mentir diante do olhar penetrante de Helena, Maxine mordeu os lábios, mas acabou confirmando com a cabeça.
— É uma visita especial.
Deixando a preocupação de lado, Helena cruzou os braços e fixou os olhos verdes ainda mais em Max, elevando uma única sobrancelha escura.
— Sua amiga?
— Você é boa em adivinhação, não é? É de família? – Max tentou desconversar.
— Não, eu sou boa em conhecer meu irmão. Ele está apaixonado por ela.
Arregalando os olhos e abrindo a boca, com uma expressão muito falsa de surpresa, a agente questionou:
— O quê?!
— Agente, não me leve a mal, mas você é péssima em mentir. Sei que já sabe do envolvimento dos dois. Se não soubesse, não estaria guardando a porta e sendo cúmplice deles.
Max corou violentamente, mas nada mais respondeu, mesmo com a frase de Helena soando como uma repreensão, um sorriso teimava em aparecer em seus lábios, demonstrando o quanto ela estava se divertindo com aquilo.
Quando a porta se abriu atrás delas e Melina passou por ela, parou sob o batente, encarando as duas de modo questionador. Não pôde esconder a vergonha que sentira ao ser encarada por Helena, um tom de rosa tingiu suas bochechas e os olhos se desviaram para Maxine, que apenas deu de ombros.
Nenhuma das três ousou dizer nada, principalmente porque naquele momento, Caíque chegou correndo, parecendo agitado e ansioso. Cumprimentou as agentes com um acenar de cabeça e deu um beijo na testa de Helena, se voltando ansioso para o quarto onde Dorian estava.
Quando parou sob o batente e encarou o filho, Dorian logo se agitou na cama e por alguns segundos até se esqueceu que ainda tinha alguns aparelhos em si e praticamente se levantou da cama, ávido por se aproximar do pai.
— Pai! – Ele praticamente gritou.
Caíque se apressou na direção de Dorian, o empurrando gentilmente de volta para a cama e aproveitando-se de sua aproximação para abraçá-lo, o apertando em seus braços e por consequência deixando algumas lágrimas escaparem.
— Meu garoto! Fiquei com tanto medo de perdê-lo. Obrigado, meu Deus.
Dorian também não resistiu e acabou deixando algumas lágrimas escorrerem. Se agarrava tanto em Caíque, que era como se tivesse medo de ser deixado. As outras três presentes ali, que assistiam àquele reencontro, não tinham dúvidas de que Caíque fora a pessoa que Dorian mais sentira falta.
— O senhor estava aqui. – Foi a primeira coisa que saiu dos lábios de Dorian, assim que se afastaram – Eu escutei, o senhor estava aqui.
— Estava. Podia ouvir?
— Não sei ao certo. Pode ter sido um sonho, mas tenho quase certeza de que ouvi o senhor. E tinha mais alguém, mas não sei quem era.
Aquela última sentença fez o corpo de Caíque se retesar e um olhar preocupado despontar nos olhos de Helena, as agentes, no entanto, pareceram confusas e não levaram tão a sério o que Dorian disse.
— Pode ter sido um sonho mesmo, Dorian. – Argumentou Caíque.
— É. Acho que foi.
Sabendo que ambos precisavam de um momento só deles e que ainda tinham muito que conversar, Melina se despediu de todos, alegando que deveria voltar para a agência e que ao final da tarde retornaria para ver Dorian novamente. Max, igualmente se aproveitou daquela desculpa, ainda que estivesse de folga naquele dia, e acompanhou a amiga para fora do hospital. E finalmente, não somente elas, mas os que cercavam Dorian puderam respirar aliviados, pelo menos momentaneamente, se esquecendo dos problemas que ainda teriam que enfrentar.
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