01| Enquanto reina o caos - Parte 1
MELINA poderia pensar em uma bela frase filosófica sobre como a vida é bela e efêmera, mas naquele momento tudo o que ela sentia, era que a vida não passava de um caminhão desgovernado, passando e atingindo quem estivesse pela frente.
Havia tirado a tarde para estar com Dorian, sentia o coração se apertar todas as vezes que se lembrava de Max falando como ele não reagia. A possibilidade de perdê-lo nunca pareceu um sentimento tão esmagador como estava sendo naquele momento e admitia a quem quisesse ver que aquilo a estava destruindo. O coma dele já durava tempo demais.
Pediu a Alex uma tarde de folga, queria estar junto de Dorian, queria ter a sensação de ter feito algo por ele, mesmo que nada mais estivesse em suas mãos. Tudo o que precisavam naquele momento era um milagre, cujo qual ela havia rezado a tarde toda.
Perdera a conta de quantos minutos ela estava ali ao lado dele, segurando sua mão e o observando. O semblante de Dorian era sereno, como se estivesse preso dentro de si mesmo, sem sequer fazer ideia de como o mundo exterior estava um caos.
— Eu não sei se pode me escutar. – Disse ela, se aproximando mais e apertando a mão dele – Mas está todo mundo muito preocupado por aqui. Estamos tentando nos manter fortes, mas a verdade é que estão todos devastados. O efeito que você causa é avassalador, Delyon, e não de um modo ruim... quero dizer, você cativou todos nós. Não espere que não sintamos sua falta. Não pode simplesmente fazer com que nos apeguemos a você para depois ir embora, não é justo. – Limpando a garganta e tentando fazer a voz parecer menos embargada, ela completou – O que quero dizer, na verdade, te pedir, é que se pode me ouvir, se existe uma ínfima força dentro de você, por favor, lute. Não desista, Dorian. Use tudo o que tem e volte para nós... volte para mim.
Melina mal terminou sua fala quando a porta do quarto se abriu, revelando Max, que acenava para que ela a acompanhasse. Inconscientemente, o coração disparou dentro do peito, e o semblante preocupado de sua amiga não ajudava os pensamentos negativos a se dissiparem. Voltou os olhos na direção de Dorian novamente antes de se levantar vagarosamente e caminhar a passos hesitantes para fora do quarto, onde encontrou Jane no corredor, parecendo tão preocupada quanto Max.
Particularmente, Melina não queria ouvir nenhum tipo de notícia, mas o medo e a ansiedade não permitiam que ela continuasse na ignorância. Por isso, decidiu que quanto mais rápido as duas lhe dissessem o que tinham para dizer, melhor seria.
— O que aconteceu? – Perguntou ela, assim que se aproximou.
— Jane disse que realizou novos exames no Dorian e notou algo estranho. – Explicou Max.
Jane balançou a cabeça, confirmando a resposta de Maxine e depois de mexer em algumas anotações no tablet que estava em suas mãos, voltou os olhos preocupados para as duas, se explicando:
— Bom, aparentemente não é uma notícia ruim, mas é preocupante de toda forma. Como toda manhã tenho monitorado Dorian, refiz alguns exames nele e constatei uma súbita melhora no estado de saúde dele.
— Mas onde isso é preocupante? – Interrompeu Melina – Isso é bom, não é?
— Em certas partes sim, o problema é que a melhora de Dorian foi muito repentina e muito rápida. Ele reagiu ao tratamento de um dia para o outro e isso não é comum. É quase um milagre!
— Milagres acontecem. – Constatou Max.
— E eu não duvido, Max, o problema foi o que encontrei nos exames do Dorian. – Virando o tablet na direção das duas, Jane começou a apontar a tela e explicar – Ao examiná-lo notei que poderia haver alguma coisa errada e algo me disse para fazer um exame mais completo. Admito que posso ter sido um pouco paranoica, mas foi justamente essa paranoia que me ajudou a descobrir o que havia de errado. Pedi um hemograma e encaminhei a amostra para que o laboratório analisasse. Encontraram algumas substâncias no sangue dele que nós mesmos injetamos, mas o problema foi essa outra substância. Ela é completamente proibida no país, tenho certeza de que ninguém aqui no hospital teria injetado isso nele! E mesmo que fosse legalizado, estaria anotado no prontuário de Dorian, mas nada consta.
As agentes se entreolharam assustadas, já suspeitando o que poderia ter acontecido. Não disseram nada a Jane, mas os olhares que trocaram foram suficientes para que elas já tivessem uma resposta. Sem perceber a reação delas, Jane continuou:
— Acredito que seja justamente essa substância que tenha sido responsável pela melhora dele, por isso eu disse que aparentemente é uma boa notícia. Mas não sei até onde isso irá ajudar. Isso aqui é tão forte que ainda está circulando pelo corpo dele, e não sei como isso irá afetá-lo.
— Se ninguém do hospital teria injetado isso no Dorian... – Cogitou Melina.
— Então alguém de fora o fez. – Puxando o tablet de volta e fechando sua capa, Jane deixou um suspiro escapar ao completar – Isso significa que a segurança foi comprometida e alguém invadiu o quarto de Dorian. Terei que relatar isso à diretoria do hospital. Se quiserem abrir uma investigação terão que falar com eles, mas acredito que irão colaborar.
Um suspiro cansado escapou de Max enquanto ela passava a mão pelos fios curtos, os deixando arrepiados.
— Não será preciso abrirmos investigação, já temos uma vaga ideia de quem pode ter feito isso.
— Quem?
— Acredite, Jane, quanto menos souber, melhor vai ser. – Se voltando para Melina, ela completou – Eu vou voltar para a agência agora, você vai continuar com o Dorian aqui?
— Não, deixe que eu vou para a agência, fique com ele.
— Tem certeza?
— Sim, preciso conversar com o chefe.
Com um aceno de cabeça, Max concordou e retirou as chaves do carro do bolso entregando para Melina e respondendo:
— Deixei no estacionamento.
Melina não quis esperar mais do que meio segundo para tomar as chaves e caminhar apressadamente na direção do estacionamento. Assim que adentrou o carro, precisou permanecer parada alguns segundos, buscando por uma calma que havia perdido há muito tempo. Ainda se sentia dividida com aquela notícia, não saberia dizer se era ruim ou não, e ainda que fosse contra todos os seus valores, se sentia grata pelo que Corbeau havia feito.
Resolvendo deixar os pensamentos de lado, deu partida no carro e dirigiu às pressas para a agência, quando chegou não fez questão de entrar no estacionamento, deixou o carro devidamente estacionado em frente ao prédio e se apressou em caminhar na direção da porta de entrada.
Quando estava quase se aproximando das portas automáticas, foi surpreendida por um homem, de estatura consideravelmente baixa e olhos arregalados, parecendo tomado de medo. A surpresa foi tanta, que institivamente Melina levou a mão ao coldre, se preparando para puxar a arma presa na cintura, enquanto o homem simplesmente agarrava seu braço e lhe questionava:
— Você trabalha aqui? É uma agente?
Estranhando aquela abordagem repentina, Melina ainda se manteve em posição de alerta, os dedos continuavam envoltos no cabo da pistola, enquanto ela puxava o braço bruscamente e se voltava totalmente para o homem.
— Sou. Agora me solte e não volte a me abordar desse jeito. Eu poderia ter atirado em você.
— Me desculpe. – Pediu ele, ainda assustado, olhando ao redor – Mas vim me entregar. Me prenda, por favor.
Aquele dia estava sendo mais estranho do que o comum, simplesmente um estranho se aproximava de Melina e pedia para ser preso. Quem em sã consciência pediria por isso?
Emitindo um riso desgostoso, ela retomou o caminho até a porta, esbravejando:
— Olha só, isso aqui não é brincadeira tá.
Parecendo beirar o desespero, o homem correu atrás dela e agarrou seu braço novamente, praticamente implorando:
— Por favor, eu não estou brincando! Me prenda, por favor.
— Olha eu não sei o que você andou usando, mas pare de me fazer perder tempo.
— Eu sou o responsável pelo que aconteceu no coquetel da Pandora! – Argumentou ele, em uma última tentativa desesperada.
Aquila informação fez o corpo de Melina paralisar e seus olhos se voltarem totalmente na direção dele, transpareciam toda a irritação que ela sentia naquele momento. Por alguns segundos, ela permaneceu encarando a expressão horrorizada daquele homem e o modo como ele olhava ao redor, parecendo procurar por algo ou alguém. Estavam tendo tanto trabalho para localizarem os culpados e de repente um louco simplesmente se entregava sem a menor resistência. Não fazia o menor sentido.
Sentindo a raiva ebulir por todo seu corpo, ela agarrou o braço dele e o puxando para mais perto de modo brusco, esbravejou:
— Escuta aqui, essa é uma investigação muito séria, um crime grave, e ficar brincando com isso só o colocará em grandes problemas, ouviu?
— Eu não estou brincando, por favor, acredite em mim! Fui eu, eu confesso, eu digo tudo o que quiser, só me tira daqui, eu imploro.
Por mais alguns segundos, Melina o encarou, sem dizer uma palavra, apertou mais o braço dele e o arrastou para dentro, o levando para um canto mais isolado e o revistando por inteiro. Se ele insistia tanto para ser preso e confessava o crime tão facilmente, ela o ouviria, embora sentisse que tudo aquilo era muito estranho.
Depois de constatar que ele não carregava nada, Melina o guiou por um corredor e parou em frente a um elevador, onde enquanto esperava, ditou:
— Você está preso por homicídio qualificado, tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser pode e será usado contra você não tribunal. Tem direito a um advogado, se não puder pagar um o estado o fornecerá. Entendeu?
— Entendi.
Se dando por satisfeita, Melina se calou novamente e com certa impaciência, empurrou o homem para dentro do elevador quando a porta se abriu. Apertou o botão, acessando o subterrâneo e entrando em um corredor revestido de puro aço, onde várias salas se organizavam uma ao lado da outra. Parou em frente a uma saleta, onde um agente estava atirado sobre uma cadeira.
— Lester, preciso que libere uma das salas para interrogatório.
Rapidamente o homem ajeitou a postura e se voltando para ela abriu um sorriso simpático, apertando um botão no painel à sua frente e respondendo:
— A sala nove está liberada.
— Obrigada.
Retomaram a caminhada até os fundos do corredor, onde adentraram uma pequena sala pouco iluminada, apenas duas cadeiras se acomodavam em frente a outra, separadas por uma mesa.
Ali, Melina acomodou o homem, fechando a porta e em seguida se sentando de frente para ele. Inspirou profundamente antes de começar:
— Muito bem, saiba que essa conversa está sendo gravada e tudo o que disser ficará registrado.
— Entendo.
— Qual seu nome e por que está se entregando?
O homem não respondeu de imediato, as mãos trêmulas se acomodavam em cima da mesa, enquanto os dedos rechonchudos se entrelaçavam, a pele morena parecia um pouco pálida e Melina não sabia se era devido ao pavor estampado em seu rosto, ou se algo havia acontecido a ele anteriormente.
Finalmente ajeitando a postura, ele confessou:
— Meu nome é Marcus..., mas me conhecem como Mac, e eu... eu confesso que sou um dos responsáveis pelo envenenamento da comida no coquetel da Pandora.
— Por que resolveu se entregar agora?
O nervosismo de Marcus pareceu aumentar, as mãos pareceram mais trêmulas ainda, os olhos se avermelharam enquanto as lágrimas desciam em demasia pelo seu rosto, quando ergueu os olhos para encarar Melina.
— Aqui é o melhor lugar para eu estar. Acredite, eu estou muito mais seguro aqui.
— Tem ideia de que vai ser preso e provavelmente vai passar o resto da vida na prisão?
— Sim, eu sei. Mas eu prefiro passar o resto da vida preso do que correndo o risco de ele me encontrar.
Aquela última frase fez um alerta se acender na mente de Melina, inconscientemente inclinou o corpo na direção de Marcus e questionou seriamente:
— Ele quem?
Ela nunca havia visto alguém tão desesperado e cheio de medo como aquele homem estava naquele momento, tinha a certeza de que ele havia até mesmo se urinado, diante da expressão apavorada dele. Parecia completamente fora de si quando levou as mãos até os cabelos grisalhos e bagunçou os fios ondulados.
— Ele matou todo mundo! Ele caçou e estraçalhou um por um. Mandou... mandou as cabeças deles para nós... era um recado.
— Escuta, eu preciso que seja claro. Se controle e me diga exatamente o que aconteceu.
— Não tinha como saber. – Respondeu ele, ainda parecendo completamente fora de si – Ele está furioso. Furioso!
— Ele quem? – Melina praticamente gritou.
— Corbeau!
Aquilo fez as palavras ficarem presas na garganta de Melina, sentiu a respiração se acelerar consideravelmente, enquanto Marcus ainda continuava a balbuciar coisas desconexas. A frase que mais se repetia na boca dele, era que seria morto por Corbeau. Ele estava apavorado.
— Não tinha como nós sabermos! Não tinha como adivinhar que um dos dele estaria naquele coquetel!
— Quero que me diga exatamente o que vocês fizeram.
Ainda incerto sobre o que dizer, e com os olhos nunca se fixando em nenhum lugar, Mac retomou:
— Era para ser simples. Como todas as vezes. Era só para ser um pequeno desastre, íamos fazer as ações da Pandora irem ao chão. E íamos ganhar milhões com isso.
— Matando várias pessoas inocentes. – Comentou a agente, amargamente.
— Nada do que já não houvesse acontecido antes. Mas aí... surgiu esse imprevisto. Nós não sabíamos que ele iria estar lá. A família dele nem mesmo se mete nessas ocasiões, nós nem o conhecíamos!
— Conheciam quem? Quem vocês atingiram para Corbeau ficar tão furioso assim?
Marcus hesitou ainda mais, puxou o ar várias vezes, buscando coragem, mas sua voz já vacilava, a cabeça se abaixou por alguns segundos, enquanto se apoiava em suas mãos. Melina esperou pacientemente que ele respondesse, em grande parte porque também se sentia hesitante em saber a resposta daquela questão. Não demonstrava o quanto estava inquieta com aquilo, mas dentro de si o coração retumbava tão fortemente que quase conseguia ouvir os próprios batimentos.
Quando finalmente ele ergueu os olhos e abriu a boca para responder, sentiu como se algo a tivesse atingido bem na cabeça.
— O filho dele. E nem sabíamos que ele tinha mais um filho. Conhecemos o mais velho e saberíamos se ele estivesse lá, mas aquele rapaz... quem poderia saber? Nunca o vimos, nunca tinha ouvido falar sobre ele. Só soube que era o filho mais novo de Corbeau quando o James começou a chegar em pedaços para nós. É isso o que acontece quando se mexe com o Corbeau... e agora ele está atrás de mim!
Dentre todas as palavras que haviam partido daquele homem, a única que ainda ecoava na mente de Melina era "filho". Aquela palavra se repetia mais e mais, seus pensamentos como uma verdade dolorosa de se ouvir. Sequer sabia se era realmente uma verdade, e se Mac sequer estava falando sobre Dorian, mas diante de todos aqueles fatos expostos à sua frente, não era difícil de se chegar a uma conclusão.
As peças se juntaram finalmente revelando o que estava de fato oculto e trazendo todas as respostas que estavam buscando. Nunca algo tinha estado tão claro como naquele momento. E ela nunca se sentira tão estúpida como estava se sentindo.
Um enjoo a tomou, a cabeça começou a girar e de repente perdeu as forças. Sem perceber, um tremor tomou conta de seu corpo e se forçando a se recuperar para continuar com aquilo, Melina apoiou as mãos sobre a mesa e disse:
— Como... como executaram o plano?
— Foi algo simples. Compramos o chef de cozinha e alguns ajudantes para que colocassem o veneno nos canapés. Alexander e Dimitri cuidaram de tudo...
— Espera. Dimitri?
— Kuznetsov o sobrenome dele.
— Porra. – Resmungou Melina, se recostando na cadeira.
O resto das forças que ela tinha se esvaíram com aquela informação. Kuznetsov havia sido o responsável por sequestrar Dorian meses antes. Depois que ele havia feito um retrato de seu sequestrador, conseguiram identificar Dimitri, mas nunca o localizaram devidamente.
Melina não conseguia sequer imaginar o tamanho da situação em que se encontravam envolvidos, parecia uma teia sem fim. Só notou que Marcus continuava falando quando ouviu a última frase dele.
— E eu arranjei o veneno.
Erguendo a cabeça lentamente, ela dirigiu o olhar repleto de ódio para o homem. Por alguns segundos, permaneceu o encarando daquela forma. Estava frente a frente com o responsável por envenenar Dorian e várias outras pessoas. Na verdade, admitia que os outros nem mesmo a interessavam, sentia o ódio tomar conta de todo seu corpo só de se lembrar de como Dorian estava naquele hospital.
Apoiou as mãos na mesa novamente e vagarosamente se inclinou para frente, com voz perigosamente ameaçadora, questionou novamente:
— Foi você o responsável por tudo?
— Não fiz sozinho, claro.
— Quero o nome de todos.
— Não sobrou ninguém. Se forem atrás encontrarão só os corpos, eu sou o último antes de chegar no Dimitri. Ele é o único que conseguiu se esconder.
— Não me interessa, eu quero os nomes!
Erguendo as mãos em rendição, ele concordou em passar todos os nomes. Porém, Melina não suportava ficar ali mais, buscou forças de onde não tinha para se levantar e manter a postura austera, enquanto se encaminhava para a saída da sala.
— Vai me deixar aqui? – Questionou Marcus, atrás dela.
Ela parou na entrada, mantendo a porta aberta, e antes de sair se voltou vagamente na direção dele, respondendo:
— Irei te deixar aos cuidados da divisão de homicídios, eles que estão cuidando do caso. Além disso, eu não suporto mais olhar na sua cara, sabendo que você se entregou somente por medo e por querer proteger seu próprio rabo, e não porque se arrependeu por arruinar a vida de vários inocentes.
Batendo a porta atrás de si, Melina passou novamente pela saleta, parando somente para comunicar a Lester que havia deixado Mac na sala.
— Por favor, pode avisar ao Hastings que há um suspeito do coquetel da Pandora o aguardando? Ele confessou o crime, mas está à disposição para interrogatório. Não deixe ninguém entrar ou sair da sala.
— Deixa comigo.
Caminhando para fora, Melina precisou até mesmo sair do prédio, precisava urgentemente de ar puro, pois sentia os pulmões se comprimirem dentro do peito. De repente o ar pareceu escasso e uma tontura a atingiu. Nunca imaginou que um caso mexeria daquela forma consigo, chegando até mesmo a fazer uma dor de cabeça se instalar insistentemente.
Respirou fundo várias e várias vezes, até sentir que começava a se recuperar do choque inicial, buscou o celular no bolso e mais do que rapidamente discou o número de Max, que atendeu no segundo toque. Sequer esperou a amiga lhe perguntar se algo havia acontecido.
— Max, vem para cá, preciso de você.
— O quê? Mas não posso deixar o Dorian sozinho, e se o Corbeau...
— Acredite, Max, Corbeau não fará mal algum ao Dorian, ele está mais seguro com ele por perto do que longe.
— Do que está falando, Melina? Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu, mas não posso te falar por telefone, preciso que venha até aqui.
Maxine ainda permaneceu hesitante do outro lado, mas logo soltou um suspiro desgostoso e estalou a língua, finalmente se rendendo.
— Tudo bem. Vou falar com a Jane e já chego aí.
— Obrigada.
— É melhor que seja algo muito urgente.
— Garanto que é.
Mal esperou a chamada ser encerrada para colocar o celular no bolso novamente. Melina ansiava por aquilo acabar logo, queria que tudo não passasse de um pesadelo horrível, mas observando a avenida movimentada diante de si, constatou que aquela era sua realidade atual. Ainda que os fatos fossem difíceis de engolir.
Como poderia Dorian ser filho de Corbeau? Quais as chances de isso acontecer? Sem saberem, haviam posto o filho contra o pai, praticamente o obrigando a caçar Corbeau, sem saber quem ele era na realidade.
Com todos os pensamentos percorrendo sua mente, ela se lembrou de uma fala de Dorian, ele havia lhe dito há muito tempo, mas ao relembrá-la, um alerta se acendeu na mente de Melina.
"A primeira coisa que precisa saber é que ele tem pessoas em todos os lugares. Absolutamente todos."
Rezava para que estivesse errada, mas algo dentro de si lhe dizia que toda aquela situação era muito estranha. Se levantou e correu para dentro da agência novamente, os corredores nunca pareceram tão grandes como naquele momento, o elevador nunca pareceu tão lento e ela nunca havia se sentido tão tola.
Quando alcançou a sala de interrogatório novamente, se deparou com uma enorme comoção de agentes, dentre eles estava Adam, parado na porta da sala, encarando seu interior. Quando ele voltou os olhos azuis na direção de Melina, pareceu contrariado e talvez até irritado.
Se aproximando vagarosamente, ela se juntou ao grupo, direcionou os olhos para dentro da sala, encontrando Marcus caído sobre a mesa, banhado no próprio sangue, enquanto o espelho da sala estava estilhaçado.
— Mas o quê...? – Balbuciou ela.
— Foi você quem o deixou sozinho? – Soou a voz de Adam.
Mas diferente do que imaginava, ele não parecia tão irado, na verdade, a olhava com certa preocupação.
— Sim, mas eu pedi para o Lester trancar a sala e não deixar ninguém entrar ou sair.
— E de fato ele fez o que pediu. Mas o tiro partiu da sala ao lado.
— Meu Deus..., mas o Lester.
— Está desacordado, mas vai ficar bem. Vou precisar do depoimento dele e seu mais tarde.
— Tudo bem, respondo o que quiser.
— Mas agora preciso trabalhar, assim que puder lhe procuro.
Aquela era a forma que Adam tinha de pedir que Melina se retirasse, ele nunca era direto, sempre se comunicara por entrelinhas, e ela aprendeu a lidar com esse lado dele.
De qualquer forma, estava agradecida de não ser obrigada a ficar ali naquele momento, estava tão entorpecida que sequer se considerava útil. Todas as informações haviam caído como bomba sobre si a deixando completamente desnorteada.
Acabou entrando em modo automático e quando notou, já estava do lado de fora novamente, com os dedos finos de Max balançando em frente a seu rosto.
— Mel – Chamou ela – O que aconteceu?
Em um ato puramente desesperado, Melina agarrou o braço da amiga e começou a caminhar para longe do prédio.
— Vamos sair daqui.
— O quê? – Perguntou ela, parecendo contrariada, mas ainda assim seguindo Melina para o outro lado da rua – Me chamou aqui e agora quer sair?
— Não podemos ficar na agência, nem correr o risco de alguém nos ouvir. Ninguém nesse lugar é confiável nesse momento.
— Melina, você está me assustando. O que está realmente acontecendo?
Max havia estacado no meio da calçada e puxado o braço de volta, impedindo que Melina prosseguisse sua caminhada. Ela nunca havia visto a amiga tão transtornada como estava naquele momento, os olhos castanhos estavam mais abertos que o comum, demonstrando um estado de alerta alarmante, os dedos trêmulos e frios dela também demonstravam que algo muito grave estava acontecendo. E a cada segundo que passava sem saber o que de fato estava acontecendo, fazia com que Maxine se sentisse mais receosa, odiava estar no escuro, sem saber como deveria agir.
Notando a relutância da amiga, Melina se voltou para ela e forçando uma calma que não possuía naquele momento, respondeu:
— Max, me escuta, nós estamos em meio a uma grande crise iminente e nesse momento não podemos confiar em ninguém. Eu vou te contar tudo o que está acontecendo, cada detalhe, mas não aqui. Precisamos de um lugar segundo, onde ninguém poderá nos ouvir.
Notando a angústia nos olhos de Melina, Max resolveu ceder e daquela vez foi ela quem tomou a atitude de arrastar a amiga pela calçada, explicando:
— Vamos ao bar da Josi, ela sempre deixa uma sala particular aberta para conversas mais íntimas.
— É seguro?
— Sim. A sala é à prova de som e a Josi é totalmente discreta. Vamos estar seguras.
Sem mais nenhum questionamento, elas seguiram marchando rapidamente pela calçada, atentas ao que acontecia ao redor delas.
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