CAPÍTULO XXIII

09/01/2014

"QUERIDO ROMEU,

Ontem recebi uma carta respondendo à uma das inúmeras cartas que escrevi a ti. Não parece-te estranho o fato de que alguém esteve a responder-me no dia de meu aniversário e usado o teu nome para assinar a carta?

Admito-te que por alguns instantes pensei se tratar de uma brincadeira de mau gosto realizada pelo o universo; afinal, não haveria como encontrarem minhas cartas; certo?

Errado, a carta que ele respondera veio dentro de um envelope e acompanhada da carta a qual ela respondia.

Terei de admitir que, em um primeiro momento, pensei que Elton havia descoberto minha localização e a carta era apenas um jeito inovador de perseguição... pelo visto não, a não ser que ele tenha feito muita caligrafia nesse tempo que passei fora.

Tu não fazes ideia do quão leve senti-me ao perceber que a carta não proveio de meu ex; foi como se uma brisa fresca estivesse a bater em minha nuca e uma voz conhecida estivesse a sussurrar em meus ouvidos que tudo ficará bem. Que há alguém, em algum lugar lá em cima, a me proteger.

Soou melodramático?

Creio que sim, todavia não consigo evitar de me sentir assim.

Ademais, meu aniversário não foi nada especial, não teve festa, nem bolo; tampouco foram me dados presentes. Antes que julgues meu pai e minha madrasta, eu optei por não ter nada de grandioso, apenas um "parabéns" me basta. Nunca fui muito de festejar esta data, de qualquer forma; todavia isto é assunto para uma outra carta.

Francesca e Bortolo estão de folga hoje e prometeram levar-nos às compras, provavelmente eles têm como intuito passar um dia descontraído e gostoso com a família. Preciso mesmo dizer que não me sinto parte da família?

Creio que deva finalizar a carta, visto que já me alonguei em demasia. Nos falamos amanhã.

Para sempre tua, Juliet."

ESPREGUIÇO-ME INSTANTES antes de tomar coragem para realmente levar meu corpo para fora da cama; há a grande possibilidade de eu estar enrolando no intuito de que Francesca, Bortolo e Edoardo acabem esquecendo de minha existência e saiam para seu passeio em família sem mim.

Apesar de Francesca e Ed fazerem de tudo para me mostrar que eu faço, sim, parte desta família ainda sinto-me deslocada, tal como se fosse uma intrusa, alguém que chegou de supetão e aconchegou-se na poltrona mais macia da casa, poltrona a qual obviamente não era para ela. Ouço a voz de Edoardo a chamar-me no piso inferior, pelos vistos não irão esquecer de mim como tanto almejei.

Respiro fundo contando até dez e mentalizando que eu não ser bem vinda aqui é tudo coisa da minha cabeça, afinal de contas, todos estão fazendo o possível — e, até mesmo o impossível — para que eu me sinta em casa. Talvez eu deva me dar uma chance de ser verdadeiramente feliz, talvez — mas apenas talvez — eu deva parar de me autosabotar.

Visto uma roupa confortável e desço a escadaria quase por completo, estagnando-me no último degrau enquanto vislumbro a imagem de Bortolo, Francesca e Edoardo rindo de algum assunto do qual não não faço a mínima ideia.

Então é assim que as famílias se comportam?

Minha madrasta faz um sinal com a mão, chamando-me para ir até eles. Confesso que, por alguns segundos, cogitei a hipótese de dar-lhes as costas e voltar correndo para o "meu" quarto; entretanto me atenho a estampar um sorriso genuíno em meu rosto e a caminhar até eles.

— Buongiorno. — Os saúdo, eles parecem me ouvir ainda que meu tom de voz tenha saído mais baixo do que o esperado

— Buongiorno. — Francesca é a primeira a responder, sendo seguida de Ed e Bortolo

Os três têm sorrisos radiantes estampados em seus lábios, sorrisos os quais, sem sombra de dúvidas, são responsáveis pelo aquecimento repentino em meu coração e pelo sentimento de acolhimento que volta a dominar meu ser.

Tudo bem, sou grande o suficiente para admitir que há uma grande probabilidade de todo aquele sentimento de deslocamento ser apenas coisa de minha cabeça; um jeito diferente de eu me autosabotar, de desistir de mais uma das coisas importantes para mim.

Ah, os parques, eu nunca fui em um deles, grande peste disto deve-se ao fato de entristecer-me todas as vezes nas quais eu via as crianças de minha idade junto de seus pais. Eu queria estar no lugar delas, viver a vida delas... queria ser elas e isso me fez um mal imensurável.

Isso me destruiu por dentro de tantas formas, foram tantos anos de terapia e, ainda assim, sinto como se este sentimento jamais tivesse me abandonado. E é exatamente este sentimento que me faz incapaz de acreditar que possa ter uma família algum dia, é este sentimento que me faz ver coisas aonde não tem ao pensar que os três não me querem por aqui.

É verdade que no princípio Bortolo não se sentia a vontade comigo por aqui, todavia eu posso ver seus esforços para me acolher, posso ver o quanto ele está tentando, o quanto está dando o seu melhor para que eu me sinta inclusa e isso é impagável.

— Tudo pronto ragazza? — É Bortolo quem quebra o silêncio confortável que havia se instaurado entre nós

— Sim. — Respondo em tom ameno e sorrio ao perceber que não havia um resquício sequer de dúvida em minha afirmação

Eu realmente quero estar junto deles, aproveitar o dia em família e conhecê-los ainda mais. Pensar que meus temores sem fundamento poderiam ter arrancado isso de mim é algo surreal.

Saímos de casa, o silêncio acolhedor voltando a nos rondar. Deito a cabeça na janela do carro, olhando para o lado de fora, a paisagem passando como um borrão por meus olhos, sinto-me em um filme de comédia romântica, onde a mocinha passa por muitos perrengues antes de — finalmente — encontrar o mocinho e ser feliz junto dele.

Gosto de pensar que, caso minha vida fosse uma comédia romântica, eu seria a mocinha que quebraria os paradigmas e clichês ao perceber que não precisa de um alguém para completa-la, que ela é completa sendo ela mesma.

Talvez a minha vida seja uma comédia romântica sem um final feliz para um observador externo, talvez seja um saques filmes com um final de autoconhecimento, que nos faz refletir sobre nossas vidas.

HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!

Comé que o cês tão? Espero que bem.

Não, eu não estou morta, tampouco abandonei a historia. A verdade é que eu passei por alguns altos e baixos, alguns problemas pessoais e somando isso com o início do TCC e do artigo para apresentação para a conclusão do curso não tive tempo; tampouco cabeça, para escrever e meus capítulos prontos haviam acabado.

Peço-lhes perdão pelo sumiço e deixo a promessa de que  atualizarei CPR o mais rápido possível.

O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, caso tenham, não esqueçam aquela estrelinha marota, ela me ajuda muito.

Deixem vossas opiniões e críticas construtivas nos comentários. Aceitarei todas de bom grado.

Nos vemos na próxima sexta.

Tia Bia ama vocês!

KISSUS DA TIA BIA!

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