CAPÍTULO XI
06/01/2014
"QUERIDO ROMEU;
Alguma vez já sentiste tal como fosses uma mera personagem de um livro inacabado? Onde o autor permite que a imaginação do leitor vague e crie o próprio fim?
Vivo a me sentir de tal maneira e parece-me que os leitores deram-me o pior final que eles puderam imaginar em suas mentes. O quão triste pode ser pensar desta maneira?
Estou sentada na cama, com os olhos a marejar e o coração a ficar cada vez mais acelerado. Francesca disse-me ontem que devo falar com meu pai hoje, sem falta, sabes, para tentar resolver as coisas entre nós.
Como farei tal coisa?
A verdade é que o simples ato de pensar nele me tira — bruscamente — de minha zona de conforto, afinal, tudo o que ele fez; até então, foi ignorar-me por completo.
Peço-lhe perdão pelas letras feias e borradas; isto se deve ao fato de que minhas mãos estão a ficar trêmulas.
Por vezes pego-me a desejar ser diferente. Diferente disso que sou, ser... normal. É demasiadamente ridículo entrar em uma crise de ansiedade somente por ter de conversar com meu pai; quero dizer, eu o conheço desde sempre. Não há necessidade alguma de sentir-me ansiosa e ter todo este ataque.
Todavia isto faz parte de mim, faz parte de quem eu sou e já usurpou-me diversas oportunidades, tanto quando estava à sua mercê quanto quando estava sob efeito das medicações.
Este transtorno sempre tirou algo de mim, não importa os meios. Não quero que ele tire-me a chance de reconciliação com meu pai também; mas, pelo visto, é exatamente isto que acontecerá.
Ah, Romeu, como eu queria que as coisas fossem mais simples! Creio que esta frase já tenha virado meu bordão; perdi as contas de quantas vezes já a disse/escrevi.
Queria que todos os dias fossem como ontem: descontraídos e cheio de amor e carinho. Sem nem um ataque de ansiedade ou pânico.
Porém, aprendi desde cedo, as coisas não são como desejamos que sejam.
Tenho de ir, minha madrasta está a chamar-me; nos vemos na próxima carta.
Para sempre tua; Juliet."
LEVANTO-ME apressada, minha madrasta me grita pelo que parece ser a quinta, ou sexta, vez. Estou um tanto quanto atrasada par o café da manhã e eles são extremamente pontuais, não é que eu não o seja, para ser sincera, estou apenas a postergar minha — inevitável — conversa com meu pai.
Limpo minhas mãos suadas em minha calça jeans e prendo meus cabelos em um rabo de cavalo alto, respiro fundo algumas vezes e só então sou capaz de abrir a porta à minha frente e sair do quarto; de minha zona de conforto.
Odeio me sentir desta forma, há uma grande probabilidade de meu médico estar certo ao dizer que devo voltar a tomar os medicamentos, provavelmente eles me ajudariam neste momento.
— Buongiorno. — os saúdo baixinho enquanto me sento à mesa
O cheiro de café que acabara de ser passado invade minhas narinas, me fazendo sorrir. Eu amo o cheiro de café logo pela manhã; pois isto é uma das poucas coisas capazes de me acalmar em uma crise de ansiedade.
— Buongiorno. — Francesca e Ed respondem em uníssono, eu costumava fazer a mesma coisa junto de mamãe
Pergunto-me se papai se lembra de como as coisas eram quando mamãe ainda estava entre nós, se ele lembra-se de que eu e ela fazíamos exatamente as mesmas coisas que Edoardo e Francesca fazem quando estávamos juntas.
Parece-me que ele se esqueceu daqueles tempos, tal como se relembra-los fosse a maior das blasfêmias.
Encho a xícara com café, tendo cuidado redobrado para que minhas mãos trêmulas não o derrubasse sobre a mesa.
— Buongiorno. — papai responde-me após algum tempo e eu sorrio minimamente
Levo a xícara para meus lábios, sorvendo o líquido que, há pouco, despejei. Pouso-a sobre o pires de porcelana e foco meu olhar em minhas unhas, elas me parecem a coisa mais interessante do mundo neste momento.
— Tens de falar com ele, figlia mia. — Francesca sussurra em meu ouvido, sua frase soa mais como um pedido do que uma afirmação — Os deixaremos a sós. — ela conclui, ainda em um sussurro
Mãe e filho se levantam e deixam a cozinha. Minha vontade era gritar e implorar para que não se fossem; porém decidi manter o resquício de dignidade que ainda me resta.
Coço as costas de minhas mãos em um claro ato de nervosismo; o silêncio tornou a se apaixonar pelo próprio instaurar no cômodo, tal como se ambos esperássemos o outro começar a falar e — talvez — a desculpar-se.
Nem um de nós parece querer dar o braço a torcer e iniciar um diálogo aceitável com o outro e isto me deixa ainda mais ansiosa. E se eu disser algo e ele simplesmente levantara-se e sair a andar; tal como eu não fosse nada? Não aguentaria passar por isso.
A única certeza que tenho é a de que jamais saberei onde isto daria se não abrir minha boca e dizer algo para ele.
— Senti sua falta. — é o que escapa por entre meus lábios
Não ouso levantar meu olhar, o medo de ver uma expressão debochada estampada em seu rosto é demasiado grande para que eu o faça.
Sou surpreendida por sua mão tocando a minha e a segurando com delicadeza, ele nada diz, apenas acaricia-me as mãos por um tempo. Lembro-me de que ele fazia o mesmo com mamãe quando ela estava em meio à uma crise de ansiedade.
Não consigo prender o sorriso que se forma em meus lábios e, finalmente, tomo coragem para olhá-lo nos olhos. Papai sorri de volta, um sorriso verdadeiro, muito ao contrário do que eu pensei receber.
— Também senti tua falta. — ele diz, sua voz soa mais séria do que eu gostaria que soasse, normalmente a frase se precede de um "mas" quando sua voz sai tão séria assim — Mas também não fizeste questão de comunicar-se conosco. Eu sei que errei, mas tu também erraste. — assinto levemente, tenho plena ciência do que eu fiz — Mas agora estás aqui, podemos tentar conhecer melhor um ao outro.
Assinto levemente e ele se levanta; dando-me um beijo na testa como despedida, papai deixa a cozinha.
Ao que tudo indica as coisas finalmente começarão a se ajeitar. Espero estar certa quanto a isto, afinal, preciso de meu pai junto à mim mais do que nunca.
HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!
Comé que cês tão? Espero que bem.
O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, caso tenham, não esqueçam aquela estrelinha marota, ela me ajuda muito.
Deixem vossas opiniões e críticas construtivas nos comentários. Aceitarei todas de bom grado.
Nos vemos na próxima sexta.
Tia Bia ama vocês!
KISSUS DA TIA BIA!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top