CAPÍTULO VI
05/01/2014
"QUERIDO ROMEU;
Hoje um novo dia se inicia e, junto dele, vem a promessa de que, no final; tudo ficará bem.
Não sei se ainda sou capaz de crer em promessas, todavia creio que possa tentar me ater à esta.
Não vi meu pai ontem, pelo visto tiveram pena de acordar-me para o jantar, ou ele apenas não quis olhar para minha face à noite.
Admito-te que prefiro acreditar na primeira hipótese, pois ela é menos dolorosa aos meus olhos; todavia eu sei que tal premissa jamais será verdadeira. Meu pai não faz a linha de pessoa que tem pena de acordar os outros.
Se ele quer falar contigo e lhe ver, certamente ele lhe acordará.
Estou sentada na cama, tomando a coragem necessária para levantara-me e caminhar rumo à cozinha; mas tudo se torna tão complicado e sufocante quando ouço a voz dele.
Sinto-me como se não fosse bem vinda aqui apenas por ouvir o tom de sua voz após anos sem nem ao menos trocarmos um SMS.
Ah, Romeu, como eu gostaria que as coisas entre nós dois fosse mais simples! E já lhe disse isso tantas vezes, não é mesmo? Estou a tornar-me demasiadamente repetitiva e sinto muito por isto, entretanto não consigo evitá-lo.
Já sentistes necessitado de um abraço de urso? Sabes, aquele super apertado. Estou a me sentir exatamente assim.
Creio que um abraço apertado e caloroso seja tudo o que eu preciso para sentir-me bem vinda, porém ele teria de provir de meu pai e, bem, nós dois sabemos que a probabilidade de isto acontecer é, praticamente, nula.
Minha cabeça dói um pouco e ainda sinto-me exausta, como se a noite bem dormida não tivesse adiantado de nada para apaziguar meu ser.
Penso que precisarei de muito mais delas.
Agradeço-te por me ouvir. Irei descer para o café, meu estômago está a roncar.
Para sempre tua, Juliet."
LEVANTO-ME, mesmo estando à beira de um ataque de ansiedade, eu precisarei ver meu pai uma hora ou outra, afinal. Melhor arrancar o bandeide logo, não é mesmo?
Respiro fundo algumas vezes e abro minha mala, ainda não a desfiz, pegando um vestido florido, não descerei antes de tomar um belo banho frio; que leve consigo uma pequena — porém significativa — parcela de minha ansiedade.
De banho tomado e um pouco mais apresentável, sigo rumo à cozinha, onde meu pai, Francesca e Edoardo, meu meio irmão — que está com seus seis anos — conversavam animadamente sobre como esperam que o dia seja.
— Bom dia. — os saúdo, mesmo que quase inaudivelmente
— Bom dia. — minha madrasta é a primeira a me responder — Junte-se à nós, Julie.
Desvio meu olhar para meu pai, tal como uma criança que espera a aprovação de seu responsável para realizar a mais simples ação; ele, por sua vez, apenas balança a cabeça em um sinal de afirmação.
"Nem ao menos um bom dia." — penso, frustrada
Não que eu esperasse ser recebida com um enorme sorriso por parte de meu progenitor, porém o jeito que ele está me tratando faz parecer que eu sou a culpada pelo clima extremamente pesado que se instaurou após minha chegada na cozinha.
— Conte-nos como é o lugar onde mora. — Francesca pede com naturalidade, ela realmente parece interessada em saber
— Bem — começo — é um distrito pacato, meio afastado de tudo, com ruas em paralelepípedos, uma igreja católica tão antiga quanto o distrito em si; pouquíssimos moradores e que tem apenas o básico de comércio. — a mulher morena de olhos verdes me olha com pena, tal como se lamentasse por meu "afastamento" do restante da humanidade — Mas, apesar de tudo, eu amo morar lá. — concluo
Minha madrasta sorri, aquele mesmo sorriso acolhedor que direcionou à mim na noite anterior.
— Eu sempre quis ir para lá, mas Bortolo vivia me dizendo que você não estava pronta para lidar com a situação; não é mesmo, querido? — ele murmura um "sim" — Imagine minha surpresa ao saber que você resolveu passar um tempo conosco! Estou tão feliz por finalmente te conhecer, sabe, ao vivo e à cores.
Sorrio, um sorriso amarelo, dado apenas por educação. Eu realmente aprecio toda a gentileza que ela esbanja e o fato de ela ser demasiadamente amistosa me encanta, entretanto não consigo ficar feliz em um ambiente onde estou sendo completamente ignorada por aquele que deveria me amar.
Apanho uma bruschetta enquanto despejo café na xícara. Minhas mãos ainda estão trêmulas e isto dificulta um pouco este ato tão simples de encher a xícara.
Edoardo me observa com seus enormes olhos castanhos, seus fios encaracolados caem sobre seu rosto de forma despretensiosa enquanto um pequeno sorriso ladino adorna seus lábios.
— Buongiorno, sorella! — ele solta, por fim
Sua voz soa animada aos meus ouvidos e o sorriso estampado em seus lábios parece-me verdadeiro. Sorrio de volta e levo a xícara de café aos meus lábios, tomando um belo gole.
— Buongiorno, fratello. — respondo com meu italiano mais carregado do que o normal, em uma tentativa falha de imitar o sotaque de meu irmão mais novo
Ele ri e, apesar de eu saber que o garotinho está rindo de minha falha, não consigo evitar rir junto dele.
Parece-me que meus dias se tornarão mais aceitáveis graças à Edoardo e Francesca... ao menos, assim o espero.
— Edoardo pode te levar para relembrar a cidade. — ela se pronuncia novamente — Se você quiser, é claro.
Como negar a sugestão sem parecer demasiadamente rude e sem pôr minha vida sobre a mesa?
Meu meio irmão me olha com expectativa, seus olhos brilham enquanto suas mãos se juntam em um pedido silencioso para que eu aceitasse a proposta de sua mãe.
Tem como negar algo à esses olhos pidões? Talvez um pouco de ar fresco faça-me bem, afinal. Pior do que estou não ficarei, então, por que não aceitar?
— Me parece ótimo, será bom passar um tempo junto de meu irmão mais novo e conhecê-lo melhor. — digo baixo, olhando para o líquido preto presente em minha xícara
Mãe e filho sorriem animadamente, sorrisos extremamente iguais e espontâneos que me fazem lembrar de como era minha vida quando mamãe ainda estava entre nós.
Peço-lhes licença e me levanto, rumando ao quarto onde dormi. Abro minha mala novamente e apanho as cartas que escrevi à Romeu nos últimos dias, é chegada a hora de elas irem para junto das outras cartas que escrevi em minha infância.
Saio da casa — sendo seguida pelo olhar curioso de Edoardo — e guardo as cartas entre as fendas do lado de fora do muro que adorna a casa.
É bobagem fazer isto, eu sei, mas meu objetivo é que ninguém as encontre — nunca. Sendo assim, creio que as fendas estão cumprindo bem os segredos que entrego ao seu zelo.
Adentro a casa uma vez mais.
— Edoardo, sairemos assim que eu acabar de desfazer as malas, tudo bem?
Ele assente e o sorriso ressurge em seus lábios. Sorrio de volta e, novamente, traço meu caminho para o quarto.
Começo a desfazer as benditas malas.
Creio que esteja na hora de eu começar — ou tentar começar — a ser mais positiva; afinal, já estou aqui. Sai do Brasil pra fugir de uma realidade triste, sendo assim, não faz sentido algum eu trazê-la para cá junto a mim.
Eu sei, não deixará de doer apenas por eu estar a ignorar o problema, mas uma hora tudo passa... não é?
Palavras italianas utilizadas no capitulo de hoje:
Sorella - Irmã
Fratello - Irmão
Buongiorno - bom dia
HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!
Comé que cês tão? Espero que bem.
O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, caso tenham, não esqueçam aquela estrelinha marota, ela me ajuda muito.
Deixem vossas opiniões e críticas construtivas nos comentários. Aceitarei todas de bom grado.
Nos vemos na próxima sexta.
Tia Bia ama vocês!
KISSUS DA TIA BIA!
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