CAPÍTULO IX

05/01/2014

"QUERIDO ROMEU;

Trago-te boas notícias, acabo de regressar de um passeio que fiz junto de Ed, meu irmão mais novo. Sim, aquele que eu não quis conhecer há alguns anos.

Ele é um doce de garoto, extrovertido e curioso; suas perguntas são difíceis, do tipo que lhe faz parar para pensar em uma resposta adequada que possa ser dada à uma criança de seis anos.

Seu sorriso é sincero e poderia iluminar, facilmente, um distrito como Colleferro e ele é um garotinho tão carismático que se torna impossível conhecê-lo e não amá-lo.

Sabes, Romeu, arrependo-me amargamente de não tê-lo conhecido antes. Certamente teríamos aproveitado muito há alguns anos.

Tenho ciência de que não posso recuperar o tempo perdido, todavia eu posso; e vou, aproveitar o hoje. O tempo que me está sendo dado para passar junto desta pessoa tão incrível e que despertou um amor muito grande em mim.

Quanto ao meu progenitor? Bem, ele continua a fingir que minha estadia nesta casa é inexistente, mas também não é como se eu tivesse tentado falar com ele, pois eu, certamente, não o fiz.

Não é que eu não queira conversar com ele, Romeu, por Deus! É o que eu mais quero, mas a verdade irrefutável é que eu já não mais conheço meu próprio pai.

Ele ainda torce para o mesmo time? Ainda gosta das séries que assistíamos juntos? Não faço a mínima ideia.

Não sei por onde começar uma conversa e, sinceramente, Bortolo não me parece muito a fim de se comunicar comigo. Ele já teria o feito se quisesse; não é mesmo?

Uma coisa é certa, sair para tomar um ar foi a segunda melhor coisa que fiz por mim mesma nestas últimas semanas. A primeira foi ter decidido vir para Roma.

É como eu já lhe disse inúmeras vezes, tudo parece mais belo quando estamos em Roma.

Tenho de ir, passei a tarde toda fora de casa junto de Edoardo, está quase na hora do jantar.

Nos vemos na próxima carta.

Para sempre tua; Juliet."

GUARDO a carta dentro de minha mala, o que me lembra que tenho de desfazê-la; não posso ficar procurando roupas dentro de uma mala durante toda a minha estadia na casa de Francesca, afinal, nem ao menos sei quando regressarei ao Brasil.

Creio que deixarei esta tarefa para a manhã do dia vindouro, estou cansada após tanto andar junto de meu irmãozinho. Não estou reclamando, muito pelo contrário, relembrar a arquitetura e os lugares de Colleferro foi ótimo para mim.

Respiro fundo e deito na cama, afundo minha cabeça no travesseiro exageradamente macio e fecho meus olhos. O silêncio chega a ser reconfortante, pois, ironicamente, ele está aquietando meus pensamentos.

Edoardo escolheu ir para seu quarto, algo sobre ele querer jogar RPG online com seus amigos; Francesca e meu pai estão no trabalho, o que resulta em um silêncio absoluto se instaurando por toda a casa.

Parece-me uma boa hora para ler um bom livro, torno a abrir meus olhos e apanho meu companheiro de longa data.

Vinte mil léguas submarinas, de Jules Verne, livro que me acompanhou desde a infância e me ajudou a passar pelos momentos mais difíceis de minha vida.

Abro-o e inspiro seu cheiro, amo o cheiro de livros antigos; ele me remete à felicidade e café e me faz refletir como o seu dono anterior foi feliz por tê-lo comprado.

Este livro, em específico, pertenceu à minha mãe; lembro-me de que ela costumava a lê-lo para mim todas as noites, antes de eu dormir. Quatro páginas e um beijo de boa noite segundos antes de eu cair em sono profundo.

A cada dia que se passa, mais falta ela faz.

Um sorriso cansado passa a adornar meus lábios, apanho meus óculos de leitura e me sento apropriadamente; iniciando, assim, a leitura de minha história favorita de Verne.

Fecho o livro no exato momento em que meu estômago reclama de fome pelo o que parece ser a centésima vez. Realmente preciso comer algo... pizza, talvez?

— Edoardo!? — chamo pelo garotinho por quem peguei afeição tão rapidamente

— Che c'è? — ele grita de seu quarto e eu rio

Costumava fazer o mesmo quando mamãe me chamava. Velhos tempos...

— Estou morrendo de fome, o que acha de pedirmos uma pizza, bambino? — pergunto com expectativa

Admito que eu preciso dele para que o pedido seja realizado, nisto que dá não praticar os idiomas que aprendeu a falar há algum tempo. Eles acabam se embaralhando em sua mente.

— Mi sembra una buona idea, Julie! — sua voz soa animada

Todo mundo ama pizza, no final da história e, bem, foram os italianos que a inventaram, certamente não seria diferente com eles.

Olho para a porta de meu quarto e o garotinho estava parado nela, com o telefone em mãos e um enorme sorriso nos lábios.

— Vai querer que sabor? Eu super recomendo margherita e bianca.

— Pede as duas, aproveita e pede a diavola também. — Ed me olha de uma forma estranha e eu rio — Não me olha assim, eu amo coisas apimentadas e eu pago as pizzas, pode pedir sem medo de ser feliz.

Seu sorriso se alarga ainda mais e ele deixa meu quarto enquanto disca alguns números no telefone. Pelo visto Edoardo é como eu, odeia que os outros o ouçam enquanto fala ao telefone.

Coloco o livro sobre o criado mudo e volto a me aconchegar na cama, as pizzas demorarão um pouco para ficarem prontas, então apanho meu celular e entro na Netflix a procura de algum filme — ou série — que seja capaz de matar meu tempo.

Acabo optando por assistir Bird Box, um filme original do serviço de streaming que foi baseado em um livro de mesmo nome. Pelo que ouvi dizer, o filme é tão bom quanto o livro.

Sinto um corpo ser jogado sobre "minha" cama e olho para o lado somente para constatar o óbvio. Se trata de meu meio irmão curioso.

— Posso assistir com você? — é tudo o que ele diz

Assinto levemente e o puxo mais para perto, o abraço e bagunço seus cabelos.

Algo me diz que nos meteremos em muita encrenca antes de eu partir e que as aventuras que vivenciarei junto dele serão memoráveis.

MINI GLOSSÁRIO:
Che c'è? — o que é?
Mi sembra una buona idea — me parece uma boa ideia

HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!

Comé que cês tão? Espero que bem.

O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, caso tenham, não esqueçam aquela estrelinha marota, ela me ajuda muito.

Deixem vossas opiniões e críticas construtivas nos comentários. Aceitarei todas de bom grado.

Nos vemos na próxima sexta.

Tia Bia ama vocês!

KISSUS DA TIA BIA!

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