CAPÍTULO IV

04/01/2014

"QUERIDO ROMEU;

Já lhe disse, alguma vez, que eu morro de medo de altura? Começo a pensar que há uma grande probabilidade de eu ter feito a escolha errada ao resolver regressar à Roma.

Sinto que estou prestes a ter um ataque de pânico. O que farias se estivesses em meu lugar, dentro de um avião, sobrevoando um oceano? Você entraria em pânico, tal como eu, ou serias corajoso, mesmo sentindo medo?

Gosto de pensar que serias corajoso e encontraria formas alternativas de enfrentar vosso medo, apenas desejo saber o que farias para enfrentá-lo.

Qual seria vossa ideia para espairecer a mente?

Minha mente continua um turbilhão de emoções, tal como estava nas últimas cartas que lhe escrevi. O meu medo de altura me consome cada vez mais e sinto que se não tomar meus calmantes acabarei por ter um ataque de pânico, fora isto, há o fato de o inesperado estar me aguardando em Roma.

Temo a reação de meu pai, madrasta e meio irmão. E se eles me tratarem tão mal quanto tratei papai ao descobrir que Francesca estava grávida?

Seria merecido, eu sei, todavia não tenho certeza se reagirei bem à frieza.

Por vezes queria ser tão corajosa quanto tu foste quando traçou o plano para ficar junto de vossa amada. Mas a verdade é que eu não consigo ser assim.

O medo é o que nos torna humanos.

Certa vez, um professor disse-me que, por mais corajoso que sejamos, sempre há algo que temeremos.

Tudo seria mais simples se, assim como tu, estivesse em um livro e minha história possuísse um final feliz.

Mas isto, Romeu, é a vida real e; por mais que me doa dizer tal coisa, finais felizes raramente acontecem por aqui.

Agora tenho de ir, a viagem será longa e creio que deva tentar encontrar algo que seja capaz de me acalmar.

Para sempre tua, Juliet."

PERCEBO QUE o rapaz me olhava com curiosidade pela segunda vez.

Eu entendo que deve ser estranho — e bem inusual — ver alguém escrevendo uma carta em um avião, mas não é muito legal; tampouco educado, ficar a encarar os outros. Sobretudo quando se trata de alguém que não conhece.

— Você me parece aflita, se importa se eu perguntar o que te incomoda? — sua voz irrompe em um tom baixo e calmo, ela era grossa e um tanto quanto rouca, combina, e muito, com sua aparência física

Pondero se devo, ou não, respondê-lo. Talvez uma boa conversa com um estranho seja o que eu esteja procurando para acalmar meus nervos e não precisar tomar os remédios que tanto me afetam.

Talvez isso esclareça algumas dúvidas e me anime um pouco mais; mas talvez ele seja apenas um louco querendo me sequestrar. Tá bom; admito que viajei — e não foi pouco — na maionese.

Qual é o meu problema? Ele só está sendo gentil e eu estou aqui, cogitando a hipótese de o rapaz querer me sequestrar.

"Pelo amor de Deus, Juliet. Ele é um estranho, provavelmente nunca se encontrarão novamente. Desabafa logo, mulher."— meu subconsciente implora

— Você, realmente, quer saber? — pergunto o olhando

Não vomitarei toda a merda que vem acontecendo comigo sem antes ter a absoluta certeza de que ele realmente quer saber sobre ela.

— Claro, quer dizer, se isso te fizer se sentir melhor e não for um problema para você; ficarei feliz em ouvi-la.

Sorrio com sua resposta, ela me deixou muito satisfeita, mais satisfeita do que eu realmente deveria ficar.

— Pois bem, mas lembre-se, foi você quem quis saber. — rio e ele assente — Terminei um namoro de seis anos e meio e estou indo pra Roma pra fugir de todo o remorso que estou sentindo.

— Entendo, mas, se o ama tanto a ponto de sentir remorso neste nível, por que não volta com ele?

"Pergunta bem válida." — penso

— Descobri que ele me traiu no começo de nosso namoro. Sendo assim, todo nosso relacionamento foi forjado sobre uma mentira. Eu não ligo que mintam para mim, de verdade, mas traição é algo sério, a confiança é completamente perdida. — digo em um fio de voz

Se bem me conheço, estou prestes a me debulhar em lágrimas perante à um completo estranho.

— Neste caso, não deveria sentir-se culpada por ter posto um fim ao relacionamento. Se ele escolheu forjar o relacionamento de vocês sobre uma mentira, não merece, de forma alguma, sua confiança.

O olho admirada, meus olhos lacrimejando, meu coração acelerando e meu medo de altura ainda gritando aos meus ouvidos. Um misto de sentimentos bons e ruins, uma confusão total que não desejo à ninguém.

Sua mão é posta, cuidadosamente, sobre a minha, creio que ele esperasse uma represália ou algo do tipo, porém, fico feliz em informar, que tal atitude não veio de mim.

Apenas me ative a segurar sua mão, ele me ofereceu ela, afinal.

— Medo de altura? — a pergunta sai enquanto seus dedos acariciam minha mão

"Curioso: sim ou claro?" — meu subconsciente pergunta em minha mente e agradeço por não ter dito isso de forma que me fizesse ouvir por ele

Assinto enquanto fecho meus olhos. Pavor de altura melhor descreveria meu problema, todavia, no final, pavor e medo acabam sendo a mesma coisa.

— Minha mãe costumava dizer que para o medo passar, a melhor solução é conversar com alguém, desabafar seus sentimentos. Eu sei que você não me conhece, mas, pense pelo lado positivo, eu também não te conheço e, bem, provavelmente nunca mais nos veremos. Então... minha boca é  um túmulo. O que acontece no avião, permanece no avião.

— Eu me sinto sufocada em lugares demasiadamente altos, me sinto minúscula e tenho a nítida sensação de que todas as células de meu corpo param de funcionar de maneira lenta. Isso está me corroendo aos poucos, junto de meu medo do inesperado e meu sentimento de culpa. É tudo tão confuso e isso me deixa louca.

— Eu entendo bem como é, não tenho medo de altura, como você tem, mas também temo o inesperado. Creio que esse seja o medo de quase todos nós, seres humanos. Mas, pense comigo, o inesperado pode trazer-nos coisas maravilhosas. Não concorda?

—Você deve estar certo. — sorrio — Porém o inesperado também pode machucar-nos e eu sempre trabalho com a pior das hipóteses para não me sentir mal caso as coisas não saiam como o planejado.

Ele ri, não um riso zombeteiro, de quem denigre e diminui os pensamentos alheios, mas sim um riso acolhedor, de quem promete, silenciosamente, que tudo acabará bem.

Que sua vida voltará aos trilhos, leve o tempo que levar.

Seus dedos continuam enganchados aos meus e este simples fato se torna o suficiente para que eu me acalme, mesmo que seja apenas um pouco.

"Estou sendo ajudada por um completo estranho... é, pelo visto ainda há bondade no mundo; Romeu." — penso

— Então, o Romeu para quem escrevia...

— Sim, é o personagem de Shakespeare.

Dizer isso em voz alta me faz refletir o quão ridícula estou sendo ao escrever cartas direcionadas à um ser inexistente. Mas cada louco com suas manias; não é mesmo?

— Me conta sobre você, sinto que já despejei minha vida toda sobre seus ombros. — peço o olhando

Nas últimas três horas apenas tenho falado sobre mim, em como minha vida está um rebuliço após o término com o dito cujo; até expliquei que dizer o nome dele ainda me machuca.

O voo durará, ao menos, mais oito horas e meia, não posso importuna-lo com o mesmo assunto por todo esse tempo.

Não seria justo com ele.

— O que deseja saber sobre mim? — sua voz soa brincalhona

— Não sei — penso um pouco — eu despejei meus medos e inseguranças sobre você, que tal me falar sobre os seus?

— Me parece justo. — ele sorri — Eu tenho medo de não viver o suficiente para concretizar todos os meus sonhos. É fato que nós, seres humanos, temos demasiados sonhos para a idade limite que podemos viver. Não tenho tantos sonhos assim, porém jamais saberemos o que o amanhã nos reserva.

— As pessoas normalmente diriam que temem a solidão. Gostei de sua resposta, me soou mais sincera do que as respostas "prontas" que a maioria usa.

— A solidão é subjetiva. Nascemos sós, continuamos sós durante a vida e morremos sós. Estarmos cercados de pessoas não quer dizer que sejamos, verdadeiramente, aceitos por elas. Entende o que eu digo?

— Acho que sim. Mas há pessoas que nos amam verdadeiramente, mesmo com todos nossos defeitos e falhas.

— Sim... mas nada dura para sempre.

— Me parece meio triste pensar assim.

— Não é. Garanto para você que sou tão feliz quanto qualquer pessoa; independentemente de minhas crenças e achismos.

Ele sorri novamente e creio que acabei de descobrir meu novo vício: o sorriso do estranho sentado ao meu lado.

HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!

Comé que cês tão? Espero que estejam bem.

O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, caso tenham, não esqueçam aquela estrelinha marota, ela me ajuda muito.

Deixem vossas opiniões e críticas construtivas nos comentários. Aceitarei todas de bom grado.

Nos vemos na próxima sexta.

Tia Bia ama o cês!

KISSUS DA TIA BIA!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top