Assunto: Danificado

Querido Theo de 18 anos,

Essa sem dúvidas é uma carta muito dolorosa, e também a mais difícil de escrever. Sei que não vou conseguir escrever tudo. E sei que não posso. O quanto mais me lembro daqueles dias, mais eu penso neles, e mais aquela confusão volta dentro da minha cabeça. Foi difícil aguentar aquilo, e houve momentos em que a confusão falou mais alto que a sanidade e eu tive que frear meus próprios pensamentos, para conseguir focar em alguma coisa.

Sempre que me sentia de determinada forma, eu ignorava. Se eu estou triste, vou caçar ficar feliz. Se estou pra baixo, então vejo desenhos, forço sorrisos e tais coisas. Não penso em coisas negativas. Ignoro a razão de tais pensamentos e procuro novas coisas para fazer.

Às vezes me sinto frustrado. Sinto que falta algo na minha vida. Sinto que tem algo errado comigo. Como se eu tivesse vindo com defeito. Como se eu fosse, de acordo com as palavras de uma fanfic que li, danificado. Só de pensar nisso eu fico assim. E estou assim agora.

A primeira vez que explodi, foi quando entrei em discussão com um babaca a respeito dos direitos dos animais. O atrito constante. A frieza dele, e a falta de sensatez me fizeram explodir. Eu já ouvia más coisas dele, e já sabia que ele não prestava. Segundo ele, os gays tem um defeito no cromossomo Y que faz com que a gente pense ser mulher - Uma completa besteira.

Comecei a socar o travesseiro, e a chorar de raiva. E eu não sabia o porquê. Mas alguém podia me ver assim. E nesse momento limpei as lágrimas, e parei de me exaltar. Eu só queria chorar. Mas o cara ainda veio me pedir desculpas e eu disse que não havia necessidade, que eu que me exaltei. Se eu aceitasse as desculpas dele, ele ia se sair bem. E eu não ia deixar, me mostrei humilde e esculachei ele na simplicidade. Ele ficou meio sem reação. Mas por dentro, eu ainda estava mal. Mas meu orgulho falou mais alto. Esqueci de tudo, e segui em frente como se não tivesse acontecido. Isso foi em 2018.

Nos primeiros meses de 2019, eu não estive nada bem. Eu voltava do curso de inglês de lotação e na volta, eu olhava para a janela. Via tudo passar. Olhava sem rumo. E me sentia mal.

Eu me sentia mal, pois talvez minha família nunca aceitasse minha sexualidade. Pois tinha medo de seguir meu sonho de ser professor e passar dificuldades, como minha família insiste que vai acontecer. Pois tinha medo de ser uma decepção por escolher minha felicidade em vez de algo que desse dinheiro. Pois tinha medo de falhar na tão esperada prova de Cambridge. Tinha medo pois eu não queria que 7 anos de inglês fosse um desperdício do dinheiro deles.

Quando a gente saía, eu não pedia nada, eu às vezes não comia, quando tinha vontade de algo eu não pedia, eu não aceitava algo que me oferecessem, eu nem mesmo cogitava na minha mente a possibilidade de eu estar precisando de algo. Porque eu não queria gastar o dinheiro deles.

Se eu visse uma roupa legal, eu não pedia. Já tenho roupas em casa, roupas são para se cobrir, não tinha porque querer só porque eu gostei. Quando a gente ia comer, eu pegava pouco, ou às vezes só aceitava bebida quando iam pegar pra todos. Queria evitar de pedir qualquer coisa.

Quando eu queria sair, era a minha pior situação. Pois se não fosse pra resolver alguma pendência, eu só estaria saindo pra me divertir e gastar o dinheiro deles.

Mas quando eu pedia, algo irônico acontecia. Quando era algo eu pedia por simplesmente me divertir, como ir sair com amigos, eles deixavam. Mas quando era por exemplo, cuecas novas porque as velhas rasgaram, eles reclamavam. Que eu estava estragando as coisas rápido. Eu hoje, tenho cuecas de mais de 5 anos atrás. E às vezes quando eu saia, eu gastava o dinheiro que eu guardava no natal que eu juntava, e o dinheiro que me davam eu usava para pagar o almoço no Colégio, para eles não terem que gastar muito com isso. Também teve a época em que eu comia só salgados de 1 real para economizar o dinheiro do almoço. Assim 50 reais para almoçar em vez de render 1 semana, renderia 3 semanas.

Tem mais.

Eu não consigo acabar de escrever essa carta.

Theo de 16 anos

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