Assunto: Visão de mundo

Querido Theo de 16 anos,

Como você vê o mundo? Como nós vemos aquilo que nos cerca?

O mundo é feito de injustiças. Isso é fato. Mas o modo como enxergamos o mundo é que pode nos dizer se concordamos com essa injustiça ou não.

Como eu vejo essas injustiças?

Por mais que eu e você sejamos a mesma pessoa, eu vivo no passado, é você quem tem a mente e os pensamentos mais evoluídos.

Onde já se viu um gay homofobico, que não enxerga o machismo, que pensa que o Brasil é um país bom de se viver em relação ao preconceito, um garoto que pensa que o terrorismo é culpa do islamismo e que só o catolicismo é o caminho correto? Isso é uma vergonha para mim, ter que admitir que já fui assim.

Minha mudança foi radical, no início do oitavo ano, um alienado. No fim do oitavo ano, uma mente aberta.

Essa carta é um agradecimento para aquela que me deu a iniciativa de mudança.

Essa é a carta de Rosa.

Rosa. A garota que com gentileza ganhou meu coração. Não no sentido amoroso. Mas no sentido de amizade. Minha primeira amizade aqui.

Rosa é feminista. Ela discutia e batia boca com os Macho Alpha constantemente. Sempre que os Macho Alpha desencadeavam o machismo dentro da sala, ela pregava o feminismo.

Ela me ensinou a diferença entre feminista, femista e feminaze.

Eu pensava que devíamos agradecer pelo Brasil estar melhor que a África e a Asia em relação ao Machismo.

Eu estava errado. Por mais que esteja melhor que antes, ainda não está bom. Devemos buscar a igualdade entre os gêneros.

Também passei a questionar a forma como a sociedade põe um padrão na nossa cabeça.

E passei a questionar uma das principais instituições de padronização e alienação social que conhecemos. A igreja católica.

Sou batizado na igreja católica, mas percebo como ela faz parecer que é errado ter outra religião. Passei a ver que não é todo mulçumano que é terrorista.

Reparei também em como a sociedade trata os negros diferente dos brancos, pensava que isso só ocorria na rua com ofensas. Mas ocorre sempre que se dá um privilégio a um branco, ou quando se vê os negros de uma forma inferior.

Com 13 anos meu desejo por outros garotos já estava mais evidente. Eu sabia que eu tinha algo de diferente dos outros garotos. Eu pensava que eu poderia ser bissexual, gostar dos dois, pegar garotos, mas só namorar garotas. Eu forcei uma paixão pela Rosa. Um erro. Só atrasou o a minha aceitação.

Eu via a minha homossexualidade como um pecado. Pra mim, eu era como uma espécie de defeituoso. Em uma fic os garotos heteros metidos a macho Alpha chamavam os gays de "Danificados". Eu me sentia como se eu fosse danificado sempre que ouvia as merdas que os Macho Alpha falam.

Eram três LGBT's na sala no oitavo ano e quatro no nono ano. Mas a Rosa e a Triz, duas meninas hetero eram quem mais militavam contra os macho alpha e a favor de nossa causa.

Acho que o contato com elas fez eu me sentir feliz em saber que existem pessoas que olham os gays não como um homem que gosta de homem, mas que nos veem como nada mais nada menos que seres humanos.

Quando parei de ter na cabeça a ideia de que eu poderia ser bissexual, eu levei cerca de dois meses para me aceitar.

No meio do ano resolvi boa parte de meus problemas com bullying  com a ameaça de minha mãe ir na escola. Isso quietou o David. No terceiro bimestre consertei minhas notas, e no fim do ano, com meus recém completos 14 anos, me aceitei como homossexual. Embora eu tenha mentido para meus pais quando viram resquícios de porno no meu computador(A bixa é tão burra que não apaga histórico). Aí eu tive que ir na psicóloga. Mas estou de boa. Nunca esqueça de se amar e amar os seus amigos, são eles que te dão força para encarar o mundo.

Agradeça à Rosa por nós, 

Theo de 14 anos.

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