Carta à Saudade
No emaranhado da vivência,
caminhando a passos exacerbados,
despedaçados,
pela saudade que me alcança
a cada instante,
me agarra,
me consome,
me deita ao relento,
enlaçando seus braços no meu peito.
Choro por amor, choro.
Por favor! Não deixe com que me consuma,
com que queime o resto de pavio
que guardei para sobreviver
nas noites escuras de um inverno sem fim.
Solidão que veste o manto negro
do entardecer melancólico
que entra manso pela janela do quarto,
revestido de folhas, e folhas, e folhas,
de um poema inacabado.
Também choro pelas correntes que puseram nas minhas palavras,
tímidas em grosseiro tom metálico,
em que lágrimas vão enferrujando aos poucos.
Nem sei mais o que são semanas ou meses;
nem sei mais se existe manhã em dias de noites sem fim.
Ah, saudade!
Será que um dia vai me soltar?
Será que um dia deixará eu caminhar sem tua presença enfadonha.
Sem tua crueldade avassaladora
de despedaçar-me tal como as árvores no final do outono
perdendo suas folhas,
uma a uma.
Sabe, você, sentimento incompreendido,
do meu desejo de ver o sol de verão
nascer no horizonte, de novo.
De amar como as aves amam o calor,
aconchegando-se em seus ninhos.
Por ora, mais uma vez, grande saudade,
não te odeio como parece.
Mas amo-te por fazer-me amar.
Amor que cresce em mim a cada instante,
fortalecido por tua presença.
Ainda que não venha entender meu sofrimento,
ou que nada venha entender,
pelo menos sinta o amor que guardo em mim,
pois um dia ele ocupará seu lugar,
e estará ao meu lado,
caminhando,
desfazendo o emaranhado
tecido por suas garras de solidão.
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