Samantha
Era fim de ano...
Eu estava convidado para uma festa da virada que aconteceria numa chácara mais ao Norte da cidade. Lá teria apenas convidados escolhidos a dedo pelo meu amigo, o responsável pela organização, e alguns poucos colegas famosos do ramo onde ele trabalha.
Aquela prometia ser a melhor festa de todos os tempos, sendo o único assunto comentado entre todos nos dias que antecedem o grande evento. Ela começaria na última semana do ano e iria até o fim da primeira semana do ano seguinte e enquanto esse tempo não passasse ninguém poderia sair dali, era a única condição imposta a todos.
Aquela chácara era grande o suficiente para comportar todos os convidados durante estas duas semanas e as despesas seriam todas pagas por Ramon, meu amigo de longa data que havia idealizado todo esse evento.
Ramon é produtor e empresário. Nós nos conhecemos numa seleção de elenco onde ele se ofereceu para gerenciar minha carreira, seu argumento para me convencer era de que eu tinha muito talento e ele devia ter razão, depois daquele dia eu vi minhas oportunidades de trabalho aumentar e uma forte amizade entre nós surgir.
E então lá estava eu, naquela chácara lotada de gente, a maioria eu não conhecia e outros eram colegas de profissão ou músicos. Até hoje eu ainda me pergunto porque inventei de entrar naquela furada, talvez tenha sido o destino que me empurrou para aquele lugar ou eu nunca teria conhecido Samantha.
Quando eu a vi pela primeira vez naquela chácara enorme e lotada era o terceiro dia de festa. Eu estava numa das poltronas no canto da sala do segundo andar e ela chegou acompanhada das amigas, que visivelmente estavam mais bêbadas que ela.
Todas sentaram no sofá e ela ficou em pé parada de frente à TV que coincidentemente estava ligada e transmitia um dos meus filmes mais recentes que Ramon havia me conseguido.
Samantha olhou para a tela no momento exato em que minha cena passava e ela encarou minha imagem com tanta atenção e ternura, que me cativou da mesma forma que a minha imagem a prendia de frente à TV.
Ela não me viu sentado logo ali vendo-a encarar minha imagem. Eu pensei comigo o que ela teria feito se tivesse me visto ao invés de voltar para a área da piscina acompanhada de suas amigas, isso teria sido uma situação um tanto inusitada.
Eu jamais imaginei que algo assim pudesse acontecer, eu fiquei com a imagem dela gravada na mente e a forma com que ela me olhava naquela tela como se pudesse me conhecer apenas ao me olhar. A única coisa que eu queria era poder saber o que ela pensava naquele momento e ter uma oportunidade de encontrá-la novamente em meio à toda aquela gente.
Era madrugada, eu estava sentado naquela mesma sala agora escura e vazia enquanto o resto do pessoal se divertia na piscina. Eu me preparava para ir dormir quando esbarrei com força em alguém no corredor. A luz não era suficiente para ver tudo com clareza, mas era certo que eu havia tido a testa cortada neste encontrão.
— Minha cabeça – disse, com certa dor.
— Me desculpe – falou uma voz delicada –, está escuro e não vi você aí.
— Acho que estou sangrando – comentei, ao ver um pouco de sangue na mão, pela fresta de luz do corredor.
— Venha – me pediu –, tem uma maleta de primeiros socorros aqui no banheiro.
Quando a luz acendeu lá estava ela. A mesma que encarou minha imagem na TV agora procurando pela tal maleta com agilidade e a única coisa que eu conseguia fazer era observá-la.
Após encontrar a dita maleta ela me olhou fixamente por alguns segundos e eu não consegui saber se tinha me reconhecido ou se apenas resolveu encarar o homem que havia ferido pouco tempo atrás no corredor.
Ela cuidou do pequeno ferimento com tanto cuidado que eu poderia ficar ali por horas apenas esperando e a observando como se tentasse desvendar seus pensamentos. Mas de repente Lúcia apareceu, minha amiga com quem fui acompanhando, e que me procurava com certa inquietação.
Samantha claramente entendeu errado a preocupação de Lúcia, com certeza achou que era minha namorada, pois sua forma mudou de repente e ela já se preparava para sair dali o quanto antes como se tentasse evitar complicações entre nós.
— Terminei o curativo – ela falou, ajeitando as coisas na maleta. — Me desculpe mais uma vez.
— Quanto tempo preciso ficar com isso? – perguntei, vendo-a sair sem nem mesmo guardar as coisas de volta no armário.
— Até que seque o corte – ela me orientou, já sumindo pela porta.
— Obrigada.
— De nada.
Eu não a vi mais depois disso até o dia da virada do ano. A festa reuniu todos na parte frontal da casa onde eu estava e de onde eu a vi na sacada do segundo andar, sozinha.
Eu fiquei olhando para ela apenas esperando pelo momento em que nosso olhar se cruzaria e não muito tempo depois lá estava Samantha, olhando para mim com aquele delicado sorriso e dando um aceno rápido.
Eu imediatamente prendi a atenção dela mostrando-lhe minha testa que já estava curada e isso fez ela rir. Mas então lá veio Lúcia novamente se aproximando, bêbada demais para se lembrar no dia seguinte e outra vez fazendo Samantha entender mal a situação.
Ela desviou o olhar imediatamente e foi se retirando da sacada entornando uma garrafa de vinho que roubou do garçom. Eu não estava disposto a perder ela novamente de vista então corri imediatamente para o segundo andar e a encontrei jogada no sofá.
— Você está bem? – perguntei, sentando ao lado dela.
— Não tenho certeza.
— Você não vai descer e aproveitar a festa com os outros?
— Eu até iria, mas não estou com ânimo para isso – ela falou, claramente se referindo ao que viu alguns minutos atrás.
— Você nem me disse seu nome.
— Samantha.
— Meu nome é Dylan – anunciei, tentando não deixá-la sair dali antes de conversarmos um pouco.
— É um enorme prazer... Fico feliz em ver que sua testa está melhor.
— Sim, está bem melhor – disse, rindo da forma como ela falou.
— Sua namorada não vai achar ruim em saber que está conversando comigo aqui?
— Lúcia não é minha namorada... É uma amiga que também está convidada.
— Mesmo? – ela perguntou, claramente aliviada em descobrir a verdade. — Pelo jeito dela eu pensei que fossem namorados.
— Ela é assim mesmo, somos próximos porque crescemos juntos.
Nós conversamos bastante naquele dia e eu pude conhecer mais sobre ela. Samantha era tão encantadora que eu não resisti em beijá-la no momento da virada. Nós passamos todos os dias restantes da festa juntos, estar com ela era realmente maravilhoso e era claro que estávamos nos apaixonando a cada dia.
Estar com ela era como em um daqueles raros momentos em que você se sente feliz e sortudo de ter encontrado uma pessoa que parece te completar em todos os sentidos, estar com Samantha era exatamente isso para mim e a cada dia se fortalecia mais.
Você deve estar se perguntando como essa história acabou, eu imagino. Bem, já vou lhe adiantando que Samantha e eu não estamos juntos agora, mas não porque a relação acabou e sim por algo bem menos esperado.
Faltando dois dias para o fim do período de festa o estoque de bebidas acabou e Ramon me chamou para acompanhá-lo nas compras, neste tempo em que ficamos fora uma briga começou entre os convidados e o dono da chácara vizinha, a polícia foi chamada e a festa foi encerrada rapidamente. Quando retornamos a casa já estava vazia e apenas dois amigos de Ramon haviam ficado para trás para explicar o que aconteceu.
Samantha foi embora junto com todos os convidados e ao menos tivemos a chance de falar sobre nós fora daquela chácara, nós aproveitamos cada momento ali que não parecia mais existir nada fora daquele lugar, eu ao menos tive a chance de dizer que queria mantê-la em minha vida.
Se eu tivesse que me despedir dela seria apenas com a certeza de que a veria no dia seguinte, porém, isso não aconteceu. Agora a única coisa que eu tinha era a lembrança do seu nome e de sua fisionomia, uma lista enorme de convidados que nem estava completa e uma escolha a fazer, procurar ou não por ela em meio a tantas incertezas.
Faz três meses que eu corro de casa em casa, pessoa a pessoa, em busca de qualquer informação sobre ela. Ramon não fez a lista com os nomes e telefones dos convidados que não eram famosos, o que dificultou todo o processo.
Ainda faltam cerca de 100 pessoas para procurar desde então e a única coisa que não me deixa desistir é a certeza de que uma delas será Samantha.
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