Há mais de ano venho falando

Do último que faria

E que ele viria quando estivesse

Prestes a morrer.

Mas isso é muita responsabilidade

Até para mim mesmo.

Primeiro, porque não sei

Quando virá o derradeiro suspiro.

Segundo, sob tanta pressão,

É difícil fazer bonito.

Último poema!

Entoando assim

Parece um final supremo

Para as glórias de toda uma série

De centenas de poesias

E de toda uma vida! (curta, fato)

Mas se sei dessas verdades

Por que ainda evoco o Último Poema?

A verdade não é lá tão obscura.

Melancolia reconforta, é um vício meu

E o peso da poesia final

É afinal uma esperança à alma coitada!

Mas esse título não é de todo errado.

Esse mesmíssimo poema

Ocupa a última página

Do meu primeiro caderno de poesias

Que ironicamente divide espaço

Junto de outras anotações mais antigas.

E garrancho sobre garrancho

Reconstruí uma visão de mundo

Depois de um término e de tantas outras coisas.

Descobri que não era a fantasia

Meu gênero ideal de escrita

É a poesia. Poder experimentar

Metalinguagem, neologismo,

Figuras de linguagem, narrar!

Expressar, fingir, criticar

Insultar e amar

Diversos "vocês"

Reais ou não.

E mesmo sendo ou não forçado

Estando infeliz em vários momentos

Dentro dessas anotações,

É impossível não agradecer.

Evoluí. Descobri

Outras partes de mim

Que julgava não existirem.

Aprendi até a rimar!

Difícil crer (acreditar fica feio aqui)

Dito isso,

Última coluna da página

E mais uma vez, menti.

Não é o último poema

Que escrevi no caderno.

Sou impaciente

Passei por cima

De outras páginas!

Isso diz tanto

Sobre quem sou!

Acho que me estendo

Além do necessário

Mas esse é meu caderno

Meu livro

Minha poesia

Que encerro

Ao meu modo

Com meus moldes

Com o intertexto

Que quiser

Na língua

Que desejar

Com quaisquer erros!

(Intencionais, não

Os que passaram

Despercebidos

Pela vigésima revisão!)

Não tenho verso

Ou cabeça

Pra dar ponto final a nada.

Talvez um "até logo"

Seja menos fatalista.

Pois muitas vezes

Vou revisitar

Recordar

Amar, odiar

O que escrevi

Escreverei, escrevo

Ladis, 12-11-24