Suas Quedas

Para minha mãe


O sono passa longe

Depois do dia longo

Várias léguas de trânsito

Peso e estresses diversos

Para logo dormir e ver pesadelos

De perder o filho dos outros

Na parada de ônibus

Não entregar o relatório a tempo

Ter o carro roubado, casa queimada

O pai de seu filho pirando e sumindo

E seu único arrasado

Quase todo dia depois da escola.

Bem podia ser exagero

Retórica besta de poema besta

Mas você sabe. Exaustão e Burnout

São mais outras de suas quedas

Sem vontade de buscar coisas suas

Para aquela jovem que sacrificou

A infância, adolescência e os vinte

Para cuidar da mãe e irmã criança

No vendaval dos anos noventa.

Mas parece que você ainda vive nesses tempos.

Você, suas quedas, invisível desalento

Você sempre sendo tão assustadoramente forte

Engraçada, poço de amor, super mãe

Que nunca para. De jeito nenhum.

Segue se sacrificando dia após dia

Nos olhos, mãos, boca de máquina.

Por favor, que não venha outra queda.

Falta pouco.

Logo seu filho vai garantir seu descanso.

Prometo.

Por tudo que você fez

Nesse amor que veio do acaso

Desde o útero, antes até do casamento.

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