Pelo calçadão
Correr pelo calçadão
Solidão na multidão
Entre os prédios
Que fazem sombra:
Alívio. Não sou obrigado
A fazer parte da vida dos outros
Descobri: amo fugir
2, 3, 4, 7, 11 quilômetros
As pernas queimam
A respiração falha
Mas vem a paz:
Eu e os quilômetros
Eu e as ondas
Caldo de cana no final
Repousando no sofá cama
Mas me chamou subitamente
Um bêbado cadeirante sem uma
Das pernas, cadeira de roda sem rodas.
Ralhou comigo por ir muito rápido.
Carregando ele. Finalmente deixei ele
No quiosque mais próximo, todo confuso
E, logo depois, subiu o fedor forte dos banheiros
Cannabis, pinga, som de brega
Plástico invadindo minha alma
E a gente toda igual. Já ouvi aquela voz
Já vi aquele corte de cria platinado
O musculoso todo tatuado sem camisa
Adolescentes da periferia, Enzos da cobertura
Eu me vi ali no meio, não devo ser tão único
Todos correm, fazem poesia, fogem
Amam, desamam, fingem, duvidam, fazem à noite
O que não pode ser dito. Relação espiritual
Com a corrida? Não só eu devo ter...
Mas devo lutar. Fingir que só existe eu no mundo
Não fazer parte da sociedade. Mas é mentira.
Bêbados vão me abordar uma hora ou outra.
Se sonho com fugas e maratonas
Cervejas brancas, camisas verbais
Tanto faz, é meu sonho.
Uma parte do calçadão
Com certeza é minha
Meu Recife borracho
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