Ensaio sobre mim

22h


Duvido de mim por nada

Ou é verdade?

Esqueci tanto

Não sei explicar bulhufas

De qualquer coisa.

Que eu tenho de especial?


Não, não, filosoficamente falando.

Se há sempre alguém melhor

Que eu em qualquer aspecto

Qual o ponto de um hobbie?

Se divertir, até surgirem

Infinitas comparações.


E mesmo em hobbies ou ações quaisquer

Sempre tem um cara mais legal

Mais bonito, mais pegador

Mais entendedor de qualquer assunto.

Aonde foi aquela criança prodígio?!

Meu microcosmo foi sufocado

Nem dos meus amigos

Sou tão amigo. Que ridículo!


Dito isso, o que sobre mim

Posso me orgulhar, realisticamente,

Se autoestima é um grande mito

Amor correspondido, utopia!

Se odeio mentiras

Se odeio o que fiz no passado

E o que deixei de ser agora

Namoro falho, amizades falhas

Como posso continuar vivendo?

O que ainda tenho a ganhar?

Digo isso sem drama de poesia.


Não sou religioso. Agnóstico!

Minha certeza de incerteza

Não me permite mentir na igreja.

Sim, Deus me acolheria

Mas qual deus? Não quero ser insincero.


Conhecer pessoas?

Nunca me senti tão paralisado

Tão inferior, envergonhado

Diante da menina da academia.

Internet, passo longe.

Trauma. Trauma.


Cuidar da minha beleza?

Quase nunca sou elogiado

Fora da família. Em listas

De colégio, quase nunca aparecia.

Timidez contribuía na feiura? Quem sabe.


Buscar conhecimento? Uma boa

Mas agora me sinto

Incapaz de discutir sobre

Qualquer coisa. Há sempre

Um melhor entendedor

Que vai me obscurecer.

Foi assim com história

Música, livros, filmes.

Desisti de assistir filmes

E passar por cinéfilo, tentando parecer

Falso, desagradável. Talvez desista

De desenhar, aprender música...


Quase sempre sou deixado de lado.

Mania de protagonismo?

Amava quando criança

Me inserir nos universos

Dos desenhos como protagonista.

Era filho único, muitas vezes só,

Mereço esse conforto.

Continuei fazendo isso

Durante a pandemia

E ei-me: desaprendi tudo.

Não tenho causas, crenças

Não tenho segurança

Ralei pra ter amigos

E agora, pós colégio,

Ralarei de novo.


Vou conseguir? Começo a duvidar.

Nessa crise existencial

Me apaguei por completo

Não me sinto alguém.

Não, Descartes. Já era

Me desorganizei

Sem me organizar.


Como ajustar esse rombo?

É véspera de Natal

E não tem ninguém pra falar.


Não digo tudo por autopiedade,

São simplesmente fatos.

Dar valor à vida, como dizem

Existencialistas, niilistas...

Qual valor? Sei lá. Sendo sincero,

Morrendo, não faço falta.


Todos vão seguir em frente

Enquanto descubro o segredo

Do que vem após a morte.

Só vitórias? Não. Amo a vida

Tem seus prazeres, momentos sim.

Quais? Besteiras

Que devo citar numa

Outra página.

Me falta espaço.


Aprox. 23h


Ia dizendo de prazeres da vida.

Vários. Trechos fodas de música

Amor de mãe, som de chuva

Banho quente, esses clichês

Que dizem no setembro amarelo.

Ah, esqueci de citar os sonhos

Sempre ótimos para poemas.


Ainda assim, são suficientes

Para me dar felicidade de Instagram?

Não. Não mesmo. Senão não estaria

Escrevendo agora. Dormiria

Ansioso pelos presentes,

Ceia de Natal. Mas não.


Se eu pudesse, pegaria uma

Bicicleta compartilhada e fugiria

De Recife até Olinda

Então Janga, Maria Farinha

Passaria o Rio, indo ao mar

Rodando o planeta, saindo

Da atmosfera e pedalando

Até o infinito do espaço.


Não é metáfora. Viajar

É minha paixão. Mas falta

Grana, segurança, tecnologia.


Que mais posso querer?

Se atolar em prazer

(inserir vícios aqui)

São tampões emocionais.

Uma hora estouram,

Como estouraram agora.


Então eu deveria mudar

Me obrigar a parar de pensar

E só agir em prol de mim:

Namorada, amigos, Insta ativo

Tiktok também, feliz, feliz!

... Com que objetivo?


Não vejo porque me valorizar

Se tenho dúvidas de Deus

Quem vai me impedir

De me depreciar?

Não o governo

Não a sociedade

Não você. Vocês.

Que raiva. Logo vão vir

Aquelas memórias, aquelas lágrimas

Do começo desse ano, 2024.


Eu na varanda chorando ao som

Dos Strokes em Petrolina

À noite. Meu amor sumiu, não me responde,

Fez pouco caso da minha saudade.

Porra! Quando que um amor

Vai dar certo pra mim?!


Não sei, Eu de janeiro.

Mas não quero morrer.

Não escrevo para me despedir

Ou competir com escritores

Anos luz melhores que eu.

Só quero me entender. Entender

O mundo que vejo do meu jeito

E explorar, viajar. Não as pessoas,

Mas essa vida à qual estou preso.

Talvez de fato sou egocêntrico

Como diziam no sétimo ano.


Mas não vou fugir. Uma hora

Vou estar na faculdade, trabalhando

E esta crise vai voltar. Vou duvidar

De tudo que evitei e construí,

A finalidade das ninharias.


Mas parece que me orgulho

De estar desse jeito.

Que saco! É chique.

Então em resumo: qual o

Sentido de dar um sentido,

Se ninguém depende de mim

E um dia vamos morrer,

Estando num mundo sem deus?


Como me valorizo?

E Por que deveria?

Se pergunto a alguém,

Temerão pela minha vida.

Mas é dúvida genuína!

Ter esperança em encontrar

Pessoas que dependam de mim

Afetivamente ou no trabalho:

Elas pressupõem que eu já me valorize,

Me considere digno disso.


Devo me amar,

Mas logo chegam os

Pronomes de dúvida.

Vivo incrédulo.

Viver só por curiosidade

De descobrir coisas novas

Sem ver pessoas

Não é o bastante.

E não sou máquina

Quero amar, preciso

De calor humano

Solidão mata, é ciência!


Então conclusão: não há.

Meu ensaio aos 17 anos

Chulo, infernal

Fica totalmente incompleto.

Não achei ou atribuí bons

Motivos para amar.


Pois sou pela ciência

Uma bola de hormônio

Sedenta por prazer.

Cacete! Ceticismo

Deveria ser proibido.

E de novo findou espaço!

Me falta. Preciso de sentido.


Meia noite, hora de dormir


Não irei mais me repetir,

Tudo já foi dito. Só preciso

Conversar sobre com alguém

Do motivo de se atribuir motivo

Às nossas vidas (e por que

As mais insignificantes como a minha

Têm alguma importância).

Deve ter. Algumas lágrimas saem dos olhos

Quando menciono isso. Insignificância.


Alguma parte de mim (desconheço qual)

Valoriza minha existência.

Talvez por ela devesse viver

Cada dia, vivendo

Atrás de um significado

Da rotina ou da falta dela,

Mas um significado falso,

Querendo ou não.

Ainda que pelo menos

Me faça seguir em frente

E parar de duvidar de mim.


Poxa, algum mérito tenho

Em minha tentativa de me entender

Estudar, produzir conhecimento,

Ainda que para ninguém ler.

Mas eu leio, por hoy basta.

Vou dormir sem resposta

E acordar buscando por respostas absurdas

Filosoficamente... me decidi, vou acrescentar

À minha lista de utopias.

Nela estão amor recíproco e a Verdade

Com esse V maiúsculo, quem sabe.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top