Causo da paixão

Paixão não é só enganação

Feita pela mente no desespero

De forjar alguém que a consuma

Por não se tolerar sozinha?


Que se unindo a ela

A faça esquecer quem é

E acredite então no que seria

Naquele quadro de romantismo

Fingido de início, mas terno

Tão terno? O sonho de achar

Quem me entenda. Em teoria

Qualquer pessoa que passe pelo filtro.

Qualquer amiga. Tantas paixonites

Possíveis, imagináveis, reprimidas por medo.

Expectativas, quem sabe. Não me entendo.

Essa pessoa que imagino, poderia me amar

Por mais que finja? Quando fingimento funciona?

Quando há segurança no outro? E quando não?


Condenado sou assim

A paixonites que levam a lugar algum

E delírios de uma namorada borrada

Filhos, netos, ainda piores.


De verdade? 

Só amei uma pessoa.

E por que só ela?

Foi uma hora certa

Dentre milhões de horas

E tantas milhares de meninas.

Se não ela, outra? Quem?


A carência omissa

Culminou nela. Uma musa

Que nunca de fato existiu.

"Menina mais linda da escola?"

Não. Com certeza não.

"Divertida, muito em comum comigo

Me ouve, realmente conversa!"

Que nada. Era mais no grupo

Depois de nos aproximarmos


E por que não foi recíproco?

Friendzone. Eu, feio na época,

Carente, inseguro?

Mais ainda, por que

Quem ela gostava

Não gostava dela por sua vez?

Explica, Drummond!


O momento certo

Pessoa certa, palavra certa!

Um acaso verdadeiramente

Divino, absurdo, arlequinal!


Minha primeira namorada

Achava que eu era comunista

Só por fazer piadas no clube do livro

Da nossa bela crise social.

Engraçado, não? E quantas outras

"Almas gêmeas" não se

Concretizaram assim? 

Enfim, enfim

Sorte no amor

Nunca foi tão verdade.

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