Autoterapêutico VI

Uma amiga revelou

Quão assustador é ser adolescente

E quanta dor pode existir.

Hoje, só tive medo.


Contou de certa menina

Que ria às escondidas

Relatando orgulhosa às amigas

Como tava iludindo um garoto

Fingindo estar apaixonada!

Fiquei horrorizado.

Quão vazio alguém pode ser

Quão insegura, pra desdenhar do amor?


Também relatou,

Que ela, minha amiga, sofreu ameaças, insultos

Que reviram os olhos diante dela

Só por ter opiniões diferentes

Na comissão de formatura!

Ela nunca fez nada de mal,

Uma das pessoas mais gentis que conheço!

Não imagino como eu lidaria com essa situação...


Nessa longa conversa

Só me deixou mais confuso

Sobre tudo o que vivi até então.

Expunha suas opiniões hobbianas

Das relações humanas, de forma

Tão eloquente. Pelo que entendi:

Meninas são capazes de ter tanta empatia,

Mas também podem ser tão egoístas

A ponto de, inconscientemente,

Deixarem a paquera flertar

E, na hora H,

Enrolar e então desistir.

Por que fazem isso?! Nem ela sabia

Apesar dela própria já ter feito isso!


Quem sabe eu também

Não presenciei isso?

Pior, vivenciei isso?!

Tive tanto medo

Mas não um medo de incel

E culpar todas elas.

Pois que sei eu

Da psicologia do outro gênero

E das teorias da amiga?


Fiquei deprimido

Dos seus relatos de assédio

Dentro do próprio colégio

Ao contar boatos de amigo meu

Que, sofrendo rejeição,

Ficava desmerecendo o corpo dos outros!


O que levou ele a fazer isso?

O quão doente não é

Essa geração...

De tantos gêneros

Hiperconectados em tantas dimensões

Em tempo jogado pra casa do caralho

Enquanto fico deprimido sem perceber

Ao ver os stories de colegas que saem sem mim

Para seus rolês nos restaurantes estratosféricos...


Minha própria amiga, vive sumindo,

Criatura confusa que julgava entender

Mas fala de coisas que nem imaginava

Serem perfeitamente possíveis.


Assédio desde nova. Invasão. Ameaça depravada.

Fofocas. Reviradas de olhos. Nojo.


Como identificar as maçãs podres

Depois de hoje?

Todos assumem aspectos grotescos

Até eu mesmo.

E só Deus sabe

O quão horrível poderia ser. E me assusto.

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