Autoterapêutico IX
A incapacidade de expressar
Sentimento onde se quer
Em outras palavras:
Por mais que te ame
Por mais que diga
Que você é luz em treva
Rousseau em Hobbes
Que tome cuidado no mundo
Pois na volta te espero
Com a mais intensa saudade,
Busco uma realização impossível.
Morro por dentro
Diante dessa insinceridade
Do pouco que deixo mostrar.
E se não for recíproco
Passo a duvidar de cada minuto
A gente junto e separado
Algo nos afasta.
A frieza reticente do outro
Parece ser questão de tempo
Inevitabilidade da progressão do contato
Parece ser por essa falta de sinceridade minha
Ou do excesso sufocante de afeto desesperado
Que muda por inteiro a forma como ajo
E sou percebido. Não é improvável.
Sou vítima de flanderização, quem sabe.
Alguns traços meus na relação ficam inflados
E devo parecer um desconhecido!
Que não atingiu suas expectativas
E projetando sobre a parte minha
Que conheceram.
Mesmo sob o álcool,
Admiro a sinceridade
Do amor dele.
Não passo de um idiota na timidez
Que nunca vai ter amor em troca
Um par na dança
Abraço, beijo na multidão.
Tenho vergonha de estar
Na minha pele.
Todos com quem falo
Têm lugares melhores para estar
E eis o retorno do coitado
Em fins de tolo verso
Vergonha.
Flanderizado.
Descartado.
Apanhador no campo de centeio.
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