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Novembro, 11

Havia ligado para a universidade umas vinte vezes nas últimas horas. Desde que recebi o comunicado de suspensão de matrícula, no dia anterior, meus nervos não acalmaram. Eu estava quase trancando Bardolf dentro do guarda-roupa para ele não ficar resmungando os seus "eu avisei".

Meus pais também estavam insuportáveis, brigando o tempo todo, enquanto vovô nem me deixava dormir em sua casinha. Ele tampouco estava aparecendo nas refeições. Eu ficava preocupada em saber o que comia, mas ele era esperto demais para, depois de tanto tempo, morrer por falta de nutrientes.

Por outro lado, Baxter e Hazel se demonstravam bastante prestativos em me ajudar com a confusão que o erro da Universidade de Glasgow estava cometendo. Avisei que teria de ir pessoalmente à secretaria, e eles, preocupados com a minha fúria, ajeitaram minha malinha na mesma hora.

Mas eu não queria ir sozinha. Muito menos levar um deles, apesar de tudo. Eu precisava de alguém mais centrado, mais responsável e mais gentil, porque eu, sem um apoio, acabaria mandando todo mundo tomar no cu e abrindo um processo que acabaria perdendo. Então, exatamente por aquilo e por outras, que o nome de Genevieve Welch aparecera em letras gordas na minha cabeça.

Em desespero tangível, voei para sua casa que seria praticamente grudada na minha, se não fosse pelas cercas e arames. Seu cachorro gigante, semelhante a um lobo selvagem e negro, tentou abocanhar meu tornozelo enquanto eu entrava sorrateiramente por uma passagem detrás do estábulo dos Welch. O animal, que de feroz não tinha nada apesar do seu tamanho, demorou a me reconhecer. Tive de acariciar suas orelhas por alguns minutos para ele ficar quietinho e não chamar a atenção de seus donos.

Os pais de Genevieve, como todos já sabiam, odiavam-me. Primeiro que eles achavam que eu havia abandonado a minha família para viver na luxúria em Edimburgo (eles já haviam visto o tamanho do meu apartamento?). Segundo que, uma vez, os velhos irritantes me viram em cima de Genevieve e alegaram que eu estava "corrompendo a menina", sendo que esta era apenas dois anos mais nova do que eu e havia entrado em outras vaginas por aí.

Eu não queria vê-los. Não queria bater na porta daqueles dois conservadores de merda e receber um "vaza daqui, sua endemoniada!". Então preferia aguardar que minha agridoce Genevieve, muito diferente daqueles imbecis, aparecesse para fazer algo do lado de fora.

E ela não se demorou. Talvez fosse por culpa do cachorro, que não parava quieto me trazendo diversos brinquedinhos, como se eu tivesse tempo de me distrair agora. Avancei pelo terreno proibido e a puxei para dentro do estábulo vazio. Genevieve, pensando que era um dos nossos encontros secretos, beijou-me com fervor e encontrou minha pele debaixo da minha roupa, apalpando-a.

— Não, não, não... — falei, ao passo que tentava me desvencilhar. Eu não estava mesmo no clima. Welch me soltou sem entender o meu ponto. — Preciso falar com você. É urgente.

— Se é urgente, fale logo. — Genevieve sorriu. — Não faça rodeios.

— Minha matrícula na U.G foi suspensa.

— Nossa, que bom! — Genevieve não escondeu sua felicidade. Eu aumentei meus olhos em indignação. Ela completou para se defender: — Eu disse que a ajudaria, mas não significa que estou aprovando isso.

— Não faz o menor sentido ter sido suspensa. Eu sempre tive as maiores notas daquela faculdade! — comentei, irritada. — Eu era um astro. Eu era o próprio Harry Potter. Por que fizeram isso?

— Talvez Aquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada tenha suspendido assim que viu seu sobrenome lá — Genevieve comentou, mas ela só parecia zombar do meu estado.

Mas fazia sentido, em partes. Agora que a Academia Roux estava sendo aberta novamente, Genesis Roux podia muito bem ter visto que a neta de um dos quais sofrera em sua mão estava ingressando na faculdade de novo e, para evitar maiores problemas, cortara-me de lá. Ela já havia feito aquilo com meu avô e com outras pessoas. Por que não agora?

— Mas como ela pode suspeitar que eu planejo algo? — perguntei sem fazer conexões acerca daquilo.

— Não sei. Você é diferente, né? Ela pode ter visto aquilo e pensado: "certeza de que essa aqui vai entrar na Academia Roux e não quero ter de lidar com ela". Então só cessou sua matrícula — Genevieve teorizou.

— Mas ela não tem razões para suspeitar!

— Ela tem...

— Não é como ela soubesse, né? — falei, seca. Eu já estava com a cabeça explodindo. Por que precisava ser tão burocrático?

— Por que não esquece isso de uma vez, Maddie? — Genevieve perguntou, aproximando-se. Ela sabia que tinha grandes poderes sobre mim. Colocou ambas as mãos nos meus ombros e apertou-os. — É um sinal do universo dizendo para você não ir.

— Eu sou cética demais para isso — respondi.

E, por outro lado, estava querendo encontrar Madame Mermaid de qualquer jeito, porque acreditei brevemente que o seu sumiço tinha a ver com toda a onda de azar que se apossara das cabeças dos Bewforest, sobretudo a minha.

— Só esqueça.

— Venha comigo — sussurrei. Meus lábios se contorceram em um sorriso que podia convencê-la. Afundei minha cabeça em seu pescoço, beijando-a de leve. — Eu e você. Em uma viagem à cidade. O que acha? Um hotel legal. Só eu e você.

— Maddie, pare... — Genevieve pediu, mas me apertou consigo. Ela dizia "pare" e mantinha-me perto? Beijei com uns estalos maiores. Prolonguei meus lábios colados em sua pele de amêndoas também. — Você... Você não pode.

Afastei-me momentaneamente. Eu não podia muitas coisas, mas queria ouvir o que ela estava tentando especificar. Suas mãos continuavam sobre minha cintura, trazendo-me para junto dela. Eu suspirei com desregularização.

— O quê?

— Ir — murmurou, devagar. Seus olhos estavam semicerrados e, muito provavelmente, a vontade de tirar a roupa tendia a crescer. Nem ligávamos para o clima impróprio. — Você não pode.

— Com você eu posso — falei, acariciando de leve seu rosto. Nossos corpos, pertinho assim, causavam formigamentos desconhecidos ainda. Era sempre novo me manter ao seu lado. — Eu não tenho outra alternativa.

Genevieve Welch umedeceu os lábios e travou, sem medo de mostrar seus pontos de hesitação. Tínhamos liberdade o suficiente para confiar uma na outra até mesmo naquilo. A aproximação, mentalmente falando, permitia-nos unir diversos outros laços que nem pensávamos que eram possíveis.

— Você vai me pagar tudo.

— Tudo.

— Suíte presidencial.

— Eu não sou rica — falei, mas seu olhar incisivo me fez concordar. Bom, eu não era rica, mas podia deixá-la feliz com algo superficial também. — Ok.

— E cappuccino de avelã. Sete horas em ponto todos os dias.

— Cappuccino de avelã. Certo.

Meu sorriso só crescia. E ela, sabendo que teria o controle apesar de tudo, porque faria qualquer coisa para que eu não perdesse minha cabeça, direcionou-me um sorriso ainda maior.

Novembro, 12

A viagem de ônibus havia sido rápida. Apenas uma horinha e meia. Nem pudemos aproveitar os amendoins e o pacote de jujubas, porque já estávamos em nosso destino. Welch, a melhor companhia da Grã-Bretanha, nunca esteve tanto tempo dentro de um ônibus gigante daqueles, tanto que amassara minha mão durante os noventa minutos seguidos, sem cessar. 

Achei curioso que, apesar da grande movimentação de costume em Glasgow, um táxi nos esperava. Sentei-me no banco traseiro. Genevieve veio na cola. A porta se fechou com um baque alto e olhei para minha amiga de infância como se quisesse dizer: "segura isso". Alguns taxistas daquela região não gostavam muito de passageiros folgados. Eles eram bastante rigorosos — e grossos — acerca daquilo. Eu não queria provar para sentir na pele, porque a minha paciência podia se esgotar a qualquer segundo.

Ainda havíamos nos demorado para chegar em Glasgow, porque não encontrei duas passagens para o dia anterior, quando finalmente pude convencer Genevieve de vir comigo. Por sorte (o que diz sobre isso, Bardolf?), uma nova companhia fora aberta para o dia doze de novembro e pude pagar pelas nossas poltronas nada confortáveis. 

Genevieve Welch não queria admitir, mas estava empolgada. Persistia em segurar com força a minha mão, mas eu sabia que ela só estava agitada com tudo. Seus olhos não desgrudavam da janela e seus dedos corriam para apontar cada prédio daquela parte da cidade.

— Duzentos e dezessete edifícios — falei, de repente.

— Como? — Genevieve se voltou um segundo para mim, mas seus olhos queriam muito se perder nas ruas que o carro passava.

— Esse bairro tem duzentos e dezessete edifícios.

— E como você sabe? — Genevieve falou. Mas ela ainda se surpreendia com a quantidade de informação que eu conseguia armazenar, ainda mais sendo inúteis, porque era o que mais o mundo estava cheio? — Deixa pra lá.

— Eu contei uma vez — disse mesmo assim.

— Uma vez? — Genevieve riu. — Sabe, às vezes eu acho que você nunca esquece das nossas discussões.

— E não me esqueço mesmo. — Pisquei, embora não fosse totalmente verdade. Eu não ficaria nutrindo rancor, sobretudo de Genevieve, graças a brigas sem fundamentos na maioria das vezes. Então eu abria a torneira no meu cérebro e tudo escorria para o rio do esquecimento. Qual era o nome mesmo? Lete, claro.

— Vocês já vieram aqui quantas vezes? — O taxista tentou puxar uma conversa. Aparentemente ele não fazia o tipo casca dura que ficava ali perto da Rodoviária Arnold Ween.

— Eu estudei por aqui — dividi, mas não quis me estender por muito tempo. Às vezes tinha a impressão que Roux ouvia em todos os lados. Estávamos virando a Rua Saunterton, partindo à Avenida Central, que dava a todas as vias importantes. — Não há muito tempo.

— Tem muitas paisagens legais, ainda mais nessa época do ano, sabem? Muitos viajam para os especiais de Natal. É incrível, incrível... — o homen falou. Pelo visto, ele não havia escutado que eu conhecia a cidade. —  O Beco do Pontilhado é meu lugar favorito. Tantas comidas! Tem muita coisa italiana lá. Eu vim da Itália, sabem? Grandioso país. Não de tamanho, claro, mas grandioso!

— Sei — falei, sem me importar muito.

Genevieve bateu o joelho no meu. Agora ela dizia, com seus olhos castanhos, algo parecido com: "seja mais gentil!".

— E qual lugar o senhor nos recomenda para essa noite? Vamos ficar até sábado — Genevieve informou. Eu quase bati meu joelho de novo, mas ela estava muito certa em conversar. Ela não entendia que eu, simplesmente, não confiava em ninguém?

— Até sábado, hein? — indagou o motorista. Ele era levemente calvo, mas seus olhos pareciam duas bolas de golfe, atentos em tudo: na estrada, nos carros, na gente. Aquilo me deu calafrios. Seria estranho achar que ele estava interessado na nossa estadia? Como se aquilo lhe valesse alguma coisa? — Vocês podem experimentar o Edifício Bacco. É o mais alto perto do hotel de vocês. Lá tem comidas muito boas e baratas. A vista... A vista é fabulosa!

— Como sabe o hotel que ficaremos? — perguntei, suspeitando.

— Está no endereço do GPS, querida. — Genevieve, sentindo a tensão, deitou a palma no meu colo.

É, maldito GPS. Por que não havíamos escolhido um lugar distante e ido de ônibus mesmo? A desconfiança nunca era pouca.

— Isso. — Riu-se o sujeito. Seus olhos malucos colaram no meu. — Não estou perseguindo.

Eu crispei os meus próprios. Era bom deixá-los arregalados, porque o amarelo das íris me fazia parecer uma gata selvagem, mas eu estava sob suspeitas grandes.

— Estou vendo.

Em seguida, estávamos de frente ao hotel, prontas para subir ao nosso quarto. Genevieve continuava bem animada. Eu não seria estraga prazeres em dizer que não me sentia bem. Algo no meu sexto sentido gritava que alguma coisa daria errada, porque já estava dando nos últimos dois dias. Talvez fosse o trauma bem instalado. Não sabia ao certo.

E a suíte presidencial estava impecável. Meu queixo caiu assim que pisamos na entrada. Parei com a mala pendurada na minha mão, enquanto meus olhos percorriam todo o perímetro. Genevieve estava igualmente admirada. Ela jogou nossas coisas no tapete felpudo branco e correu para perto do frigobar, retirando um champanhe de dentro.

— Vamos ficar bêbadas? — perguntou.

Eu ri, porque não fazia muito sentido. Quer dizer, eu nunca recusava bebida, seja qual fosse o horário, mas ainda queria me acomodar e bater nos portões daquela universidade fajuta que me entregara um diploma de Medicina.

— Nós não vamos sair? Experimentar o Edifício Bacco depois de ter xingado a administração da faculdade? — perguntei, genuinamente curiosa.

Genevieve deu de ombros.

— Só um golinho.

E, após o golinho e sexo sob o chuveiro, eu e Welch fomos em busca dos meus direitos. Novamente no hall do hotel, senti o estranho formigar pelo meu ombro, que escorria em direção ao cotovelo direito. Olhei para os lados e percebi que Genevieve sorria, mas eu estava desconfiada. Não me sentia bem e toda a história do meu irmão de sete anos realmente estava me impressionando.

Possivelmente era normal se sentir assim, uma vez que eu estava longe de casa e muito próxima de onde diversas merdas aconteceram. Não muito longe, no Hospital Mark Jowshet, mamãe mudava-se para o plano espiritual. E tudo porque, semanas antes, na mesma cidade, vovô Kobb perdia tudo o que conquistara durante seus dois anos cursando História — era mais do que qualquer outro Bewforest havia conseguido, exceto por mim.

Eu tinha apenas dezessete anos quando era obrigada a faltar na maioria das aulas da faculdade para acompanhar os procedimentos caríssimos de mamãe. Nenhum Bewforest — além de mim, papai e vovô — estava em Glasgow para dividir o tempo no hospital para não sobrecarregar, então eu fazia o máximo para tirar o peso dos ombros dos dois homens, que usavam tudo o que podiam no tratamento de mamãe. Papai já era casado com Dorothy e tinha um filho recém-nascido em casa para cuidar, no entanto se dedicava em manter a ex-esposa no nosso plano carnal.

Todas as economias foram usadas para tentar salvá-la, mas o destino já tinha algo reservado para Ruel. Havíamos entrado em um momento que sequer tínhamos dinheiro para comprar o seu caixão. Sabíamos que ela não se importaria com a versão barata de mogno que compramos para afundá-la sob a terra, mas doera perceber que não tínhamos capacidade de proporcionar, pela última vez, algo decente para mamãe.

Vovô Kobb entrara em profunda depressão que perdurara por anos. Perdera a melhor amiga, a dignidade graças à Academia Roux e a bolsa de estudos na Universidade de Glasgow. Tudo estaria perdido se eu não houvesse conseguido me formar e reerguer algumas ruínas para transformá-las em abrigos.

Obviamente havia muito mais sobre o meu passado. Nosso passado. Eu estava com as merdas do diário de mamãe! Naquela época, com a mente (ainda que astuta) de dezessete anos, não via o mundo da maneira que era necessário. Eu não poderia fazer muito, mas eu havia crescido. Talvez ninguém mais, depois de tanto tempo, aguardasse uma represália. Mas eu estava montando, afinal os Bewforest não esqueciam.

— Você está bem? — Genevieve me olhou de forma engraçada. — Você está pálida.

— Vamos de ônibus?

Genevieve concordou, mas era evidente, em seus olhos, a preocupação com o meu estado. Eu não era de mudar de humor aleatoriamente sem uma razão específica, ainda mais não me importando com a maioria das coisas que rolavam ao meu redor.

Os prédios menos importantes ficaram para trás. Era um dia agitado, porque nem tudo parava quando queríamos, e os feriados, para quem trabalhava mais de cinquenta e seis horas por semana, estavam longe de chegar. No menor sinal, os ônibus paravam, muito pontuais. As pessoas viam e iam, todas bem vestidas, porque ali era um ponto comercial. Eu via diversas culturas se misturando e escutava, com atenção, a cacofonia dos pneus raspando, das vozes, das buzinas.

Genevieve Welch agarrava-se no meu braço à medida que parávamos de frente a um homem alto de boina. Uma mulher idosa passou na nossa frente e o vimos ajudando-a subir nos degraus do ônibus. Fomos em seguida e tivemos de nos acomodar detrás de um adolescente com fones de led gigantes. Eu conseguia compreender perfeitamente o refrão agressivo da música que ele escutava.

O percurso até a universidade se deu calmo. As ruas, embora amarrotadas de automóveis, comportavam-se bem. Paramos no endereço que eu já conhecia e descemos com o coração açoitando as costelas. Genevieve agarrou minha mão. Assim sendo, motivada pelo calor dela, guiei-a para o prédio da administração.

Estava bastante parado. E aquilo porque as aulas sequer haviam sido finalizadas ainda. Via-se alguns jovens pelos corredores, mas ninguém estava muito disposto a nos olhar, ou tentar nos fornecer alguma informação. Eles estavam muito presos em seus próprios mundos, mas não era um problema, sobretudo para mim. Quanto menos pessoas soubessem que eu estava ali, melhor.

— Boa tarde — falei assim que me apoiei no balcão que dava para a secretaria. Um homem grisalho veio ao meu alcance. — Me chamo Madison Bewforest e ganhei uma bolsa integral para cursar História, mas minha matrícula foi travada. Eu gostaria de saber o que houve.

Ele me olhou com calma, mas suas mãos continuavam a mexer com os papéis. Grampeava alguns, pousava o objeto na mesa, organizava as folhas e pegava o grampeador de novo. Fazia tudo rapidamente, causando-me certo desconforto. Ele não podia dar uma pausa para me atender? Nem havia tanta gente na universidade para ter muito trabalho assim.

— Madison Bewforest. Vou olhar no sistema.

Ele se distanciou em alguns passos para verificar no monitor pousado na mesa. Eu já estava tamborilando meus dedos em cima do balcão gelado. Genevieve apoiou os cotovelos também, atenta na movimentação dele.

— Bom... — Ele não desviou os olhos da tela do computador. — Aqui consta algumas incoerências na inscrição. Renda familiar não foi comprovada. Você deu um valor que não bateu com o que puxamos. Alguns membros da família também não apareceram.

— Como assim? — falei, impaciente.

Ele girou o computador de leve e mostrou-me. Passei os olhos por todos os itens e notei que meu avô não estava, tampouco Timothy e Hugh. Estava quase me dobrando inteira sobre o balcão para ter a certeza daquilo. Eu lembrava muito bem de ter preenchido tudo com clareza e verdade, afinal eu sabia que eles conferiam tudo.

— Ela não pode refazer? — Genevieve tentou ajudar ao perceber que minha mansidão havia cessado. — E atualizaria o sistema.

— Receio que não — ele disse, erguendo-se de novo.

— Por que não? As aulas nem começaram — respondi, prestes a infartar. Então seria assim que tudo acabaria? — Eu vim de Lockton só para isso. Tem noção? Eu preciso resolver.

— Sinto muito — falou o cara maldito, que nem mesmo esboçava uma reação convincente de empatia. Eu queria pular lá dentro e atualizar a merda do sistema sozinha. — Quando isso acontece, não podemos fazer muito agora. Você tem que esperar o próximo período de inscrição para poder mexer nos dados. E aí alegará sobre a bolsa com o seu número do protocolo.

— Mas eu ganhei uma bolsa! — exclamei, indignada.

— Não tem como, sei lá, abrir uma exceção? — Genevieve, segurando-se para também não berrar, perguntou.

— Sinto muito — respondeu o sujeito.

Eu estava em choque. Seria isso o azar? Eu estava fadada a ele por quanto tempo? Dois meses?

— Quando é o próximo período de inscrição?

— Daqui oito meses — informou o secretário.

Oito meses? — eu e Genevieve falamos juntas.

— Você ainda tem direito de usufruir da biblioteca e dos espaços fechados — ele falou como se aquilo fosse minimizar toda a merda.

Meu peito ardia com a raiva dobrando de tamanho. Ele estava apenas fazendo o seu trabalho, mas eu não via nenhuma consideração. Eu tinha de recorrer. Não podia esperar oito meses! Tudo o que havia planejado não funcionaria com uma quebra daquele formato. Devia ser por isso que eu não fazia planos primeiramente! Era tudo muito incerto, e não dava para prever as dobras do destino, que só sabiam me foder.

Eu e Genevieve ainda tentamos conversar mais um pouco com o grisalho, mas ele não pôde aliviar nenhuma barra para nós. Saí transtornada pelos corredores e senti que tudo havia acabado, mesmo que tivesse esperanças de fazer alguma coisa, percorrer algum caminho. Eu tinha de usar a situação ao meu favor de alguma forma. Replanejar. Rever outras saídas e traçar mais de um plano, porque nem sempre daria certo o primeiro.

Genevieve me chamava, vindo logo atrás, mas eu queria chegar em um bebedouro o quão antes. Mas travei assim que dobrei o corredor. O cara de boina, o mesmo do ponto de ônibus, encarava um painel de informações grudado na parede. O apito voltou a soar forte no meu ouvido. Pus ambas as mãos contra as saídas e tentei abafar o quer que fosse, travando os dentes de dor.

— Maddie — Genevieve chamou. Ela não sentia o que eu sentia, tampouco via o que eu via. Minha amiga de infância só estava inquieta com o meu estado. — Maddie!

— Não — murmurei, mas para ninguém em específico.

O forasteiro de boina deslizou os pés com suavidade para poder me olhar bem. Ele já nem ligava para o painel, mas eu suspeitava que não houvesse se importado antes — era apenas uma distração. Genevieve tinha seus orbes em mim, de tal forma que não pôde ver quando o maluco sorriu maliciosamente, antes de escolher um corredor e sumir da nossa vista.

— Precisamos sair daqui — falei para mulher que encostava a mão na minha. De repente, tudo queria escurecer e nada parecia certo. Talvez fosse uma impressão muito doentia, mas não senti que estávamos seguras.

Agora algumas teorias já podem começar a rolar soltas hehehe. O que me dizem sobre esse capítulo? Muito para pensar.

Maddie não se conforma, e sabe que a história não está bem contada. Genevieve sempre do lado, mesmo que não concorde com algumas atitudes. Eu gosto delas juntas, confesso.

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Até segunda-feira!

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