Capítulo 02
Muitas coisas passavam pela cabeça de Ayato, e a única certeza que possuía era que nenhuma dessas tais coisas eram boas.
Na verdade, sendo bem franca consigo mesma, ela sabia que tudo ao que se referia à escola não poderia ser nada bom.
Não que ela não gostasse de estudar, muito pelo contrario, ela sempre foi muito inteligente, embora tivesse uma certa preguiça em usar sua inteligência para a maioria das coisas. O problema da escola, não era os estudos, era as pessoas, na verdade.
Ela realmente cogitou as inúmeras possibilidades de elaborar um plano e conseguir fugir daquele lugar ou desta situação extremamente desconfortável que havia se metido.
Ay, odiava muitas coisas e a principal delas era a escola. Ou melhor dizendo: pessoas da escola. Adolescentes, pré-adolescentes e qualquer outro tipo de interação social, era o suficiente para espantá-la.
Pessoas a deixava extremamente ansiosa e incomodada. Ela não gostava de quase ninguém, muito dificilmente era aberta a novas amizades, preferindo ficar presa na sua própria zona de conforto.
Ela ficou grande parte da sua vida sozinha. Ela não precisava de ninguém. Ninguém que não fosse seu pai.
E agora, cá, estava ela.
Parada diante dos portões de um grande prédio bem a sua frente.
Definitivamente seu dia seria muitas coisas, mas com toda a certeza do mundo, ele não seria bom.
Coisas novas, fora do habitual de Ay, sempre a assustou. Ela tinha uma certa obsessão doentia com controle, se algo acontecia sem que ela pudesse prever ou evitar, a garota se desesperava e sentia aos poucos a ansiedade lhe tomar.
Ela precisava se sentir no controle, mas naquele momento ela jamais se sentia no controle de algo.
A escola era assustadora.
Começando pelo uniforme apertado que estava vestindo contra sua vontade, de alguma forma aquela roupa a fazia se sentir completamente presa, sufocada e extremamente desconfortável, sem mencionar que ela praticamente teve que entrar na internet para assistir a um vídeo no youtube para aprender o passo a passo para realizar um nó em sua gravata, ela nunca era boa ou se saia bem quando o assunto era vestimenta social.
Ela mal se lembrava do antigo uniforme da sua antiga escola, mas sabia que provavelmente o odiava.
E isso não havia mudado, pois o atual uniforme que estava vestindo, também a fazia o odiar.
O uniforme consistia em camisa social branca, blazer e saia plissada todos na cor preta, as meias que iam até o joelho eram na cor branca e os sapatos desconfortáveis eram pretos. Ah ela não podia esquecer da gravata na cor preta que mais lhe parecia uma corda para lhe enforcar. Ela odiava ter qualquer coisa presa e envolta de seu pescoço, incontrolavelmente ela lembrava de como seus irmãos biológicos a enforcavam com lenços e gravatas, pressionando seu pescoço, de uma forma que a fazia perder completamente o ar em seus pulmões só com o mero pensamento.
As vezes, Ayato se questionada como havia sobrevivido a tantas crueldades e torturas que seus irmãos biológicos a proporcionaram. Uma parte dela acreditava fielmente que só tinha sobrevivido coisas que pessoas comuns com individualidades comuns, jamais sobreviveriam, isso porque a individualidade que Ay herdou de sua mãe era a Adaptação Reativa, uma individualidade que não respeitava as leis da física, se tratava de um poder de desenvolver adaptações, poderes e habilidades em resposta a ameaças imediatas.
Talvez ela só tenha sobrevivido graças a individualidade de sua mãe.
Talvez toda vez que seus irmãos tentavam machuca-la ou mata-la, Ayato só não morreria por causa da individualidade, que nem ela mesma tinha consciência que tinha.
Entretanto, Ay não controlava sua individualidade. Quando seu OverAll, a individualidade de seu pai e que ela havia aprendido a controlar um pouco, desapareceu completamente, Ay apenas ficou com a individualidade de sua mãe, porém, adaptação ninguém no mundo inteiro tinha tal habilidade, sendo apenas sua mãe e ela registrada com tal poder, então pela ausência de informações e alguém que pudesse lhe ensinar, Ayato não conseguia controlar. Sendo bem sincera, ela nem sabia como sua individualidade era ativada. Geralmente ela aparecia do nada, sem ela querer, só quando seu inconsciente achava necessário.
Sua individualidade embora na teoria parecia ser algo extraordinário, Ay sabia de suas limitações, as adaptações poderiam temporárias ou permanentes, pois ela não as controlava, as vezes quando estava com as emoções desequilibradas, ou Ayato surgia com uma aparência monstruosa ou ela perdia completamente sua individualidade, seu poder geralmente era ativado diante de uma ameaça direta a ela e as vezes sua adaptação poderia ter uma resposta atrasada e pior poderia acontecer de sua habilidade não conseguir reagir à certas ameaças ocultas.
No fundo, Ay apenas rezava para que no primeiro dia não fosse submetida a mostrar sua individualidade, pois seria extremamente constrangedor ter sua individualidade posta a prova e seu inconsciente optar por não manifestar. Deus... Ela estaria ferrada, seria o novo centro das atenções e certamente um novo alvo de bullying.
Respira, Ay e tenta manter as emoções no controle. — Repetia para si mesma em pensamento, se esforçando para manter o controle emocional, para que não aparecesse do nada em seu braço uma pinça de caranguejo ou que sua pele não ficasse verde, consequências do desequilíbrio emocional com sua individualidade em conjunto.
Ela só precisaria manter a calma.
Com isso em mente, a garota tentou se distrair com outras coisas em seu pensamento. Ela se lembrou das regras que havia lido do manual do colégio e tentou se manter distraída com isso.
Uma das regras e também fazia parte do código de vestimenta da escola, era nada de uso de cores chamativas ou tampouco unhas pintadas e maquiagem no rosto, cabelo deveria estar perfeitamente limpo e penteado.
Ayato por sorte havia conseguido retirar seu esmalte no dia anterior e bem em relação à maquiagem... Ayato não era muito fã de maquiagem, ela gostava de usar sua pele natural, embora não poupasse esforços para cuidados com sua pele, pois quando se tem uma individualidade tão bizarra quanto a sua, é necessário ter uma pele bem cuidada para evitar o aparecimento de espinhas ou pior: que seu rosto vire uma pedra literalmente devido ao alto grau de ressecamento. Talvez no fundo, bem lá no fundo sua individualidade fosse só uma coisa inútil e indecisa.
Embora gostasse muito de maquiagem, ela evitava o uso continuo simplesmente porque achava trabalhoso demais o processo de se maquiar e depois tirar toda sua maquiagem. Pele natural dava menos trabalho, embora deixasse suas imperfeições aparecer, as sardas nas bochechas, a pele clara que constantemente ficava vermelha devido sua rosácea e as olheiras que apareciam levemente, a sorte era que graças aos cuidados que tinha, isso evitava que espinhas aparecessem frequentemente em seu rosto ou que seu rosto se transformasse em outra coisa.
Todas essas características à mostra poderiam deixar grande parte das garotas inseguras em relação ao se sentir bonita ou não. Mas Ayato se sentia bonita de qualquer jeito, ela sabia que ela era bonita independente de tudo e acreditar nisso todos os dias, fazia com que se sentisse confiante, logo consequentemente as pessoas a achariam bonita, como era muita das vezes.
Ela se lembrou de uma história de uma princesa que era tratada feito empregada pela madrasta e pelas irmãs postiças, ela era humilhada constantemente e sempre sofria insultos por praticamente nada. E então uma fada madrinha apareceu, lhe deu um belo vestido de baile, ela conheceu um príncipe e viveram felizes para sempre.
Era engraçado pois Ay pensava constantemente que essa seria sua vida quando criança, sendo constantemente maltratada pelos irmãos biológicos, com um pai emocionalmente distante e frio, ela pensava que um dia uma fada madrinha ia aparecer, ia lhe dar sua individualidade, seus irmãos iriam finalmente aceita-la e seu pai a amaria. Se lembrava do quanto era insultada pela sua aparência também pelos próprios irmãos, isso a fez ter problemas e inseguranças em relação a sua aparência, principalmente depois que a adaptação apareceu, mas All Might a salvou. Ele foi a primeira pessoa que a ensinou a gostar de si mesma e de sua aparência, ajudando relativamente em sua autoestima.
Por isso Ay se achava bonita aos seus olhos, porque All Might havia dito isso a ela, o que a deixava feliz.
Mas os problemas de autoestima de Ayato não eram físicos, na verdade era interiores. Ela sabia que era bonita fisicamente, mas em seu interior, ela se sentia como a criatura mais podre dentre todas. A rejeição constante de sua família biológica a fez se sentir dessa forma, embora All Might lhe fizesse se sentir menos podre por dentro, era impossível que tais pensamentos desagradáveis não passassem pela sua mente.
Ayato amarrou seu cabelo em um rabo alto, ela sempre amarrava o cabelo quando estava nervosa, pessoas a deixavam nervosa, adolescentes a deixavam à beira de um surto e escola com adolescente a deixavam próxima a um colapso.
Sentindo um leve desconforto nos pés, sentindo que o sapato apertado, assassinava lentamente seus dedos dos pés, algo que instintivamente fez com que utilizasse sua individualidade de adaptação para que pudesse diminuir o tamanho de seus dedos, o que fez a tensão em seus ombros relaxarem por um curto momento.
Entretanto, a garota segurava fortemente a alça da sua mochila, tentando disfarçar o nervosismo, rapidamente os olhos rosa com as pupilas em forma de grandes estrelas encararam diretamente seu pai que estava ao seu lado, ambos parados de frente para o portão do colégio.
A maioria dos jovens ficariam envergonhados de serem levados à escola por seus pais, mas Ayato ao contrário dos demais, se sentia mais segura se seu pai estivesse ao seu lado.
Se sentindo completamente ansiosa e nervosa, a garota entreabriu os lábios para dizer para seu pai:
— Não quero entrar, pai. Quero voltar para casa. — Suplicou, quase choramingando.
All Might em sua forma normal após a luta contra All For One, que lhe deixou sequelas irreversíveis referente a sua aparência, tornando seu pai com uma aparecia irreconhecível, totalmente magricela, baixinho, com os cabelos loiros espetados e os olhos azuis ainda mais com intensidade devido as olheiras, arregalou os olhos e começou a gesticular com as mãos.
— Mas você nem chegou a entrar! — Ele exclama perplexo.
Ayato faz uma careta.
— Isso já basta para eu não gostar daqui.
All Might, balançou a cabeça para os lados e colocou sua mão no ombro de Ayato.
— Filha você precisa se socializar mais, fazer amigos, escola não é só um lugar chato onde se aprende sobre várias coisas, pode ser uma forma de encontrar companheiros para que você não se sinta sozinha.
— Não preciso de amigos e nem de ninguém. Só ter você, pai, me basta. Só preciso de você.
— As... Me preocupa você ser extremamente apegada a mim. Sei que sou seu pai e juro que vou sempre estar ao seu lado, mas quero que você saia um pouco dessa sua bolha. Quero que faça amigos com quem possa contar e te apoiar, assim como eu, sei que é difícil para você confiar e gostar das pessoas, mas nem todas são más ou vão fazer maldade com você. — All Might diz lhe encarando nos olhos. — Agora que você decidiu se tornar uma heroína, é importante ter companheiros em quem pode contar e confiar. Promete para mim que vai se esforçar dessa vez para fazer amigos?
Ayato revirou os olhos.
No fundo a garota sempre foi desesperadamente apegada ao pai adotivo, algumas vezes ela tinha crises de ansiedade quando seu pai estava longe dela. Era como uma abstinência de uma droga. Quando All Might estava fora, Ay perdia o controle de suas emoções e sua individualidade a deformava, transformando-a num monstro, ela só conseguia voltar a ser normal quando seu pai voltava.
Ela acreditava e temia que ele um dia pudesse abandoná-la. Ir embora e nunca mais voltar quando percebesse que ela era uma inútil e um peso morto.
A verdade é que Ay nunca fez amigos e nem queria fazer, só de ter seu pai, era o suficiente para ela. Isso a bastava. Ela não precisava de mais ninguém.
Talvez fosse problemático para ela não ter nenhum amigo, ou alguém para conversar que não fosse seu próprio pai. Afinal o ser humano era alguém que necessitava de socializar frequentemente com outros semelhantes, isso ajudava até mesmo psicologicamente, mas Ayato não conseguia confiar nas pessoas. Ela simplesmente não conseguia se abrir, conversar e tentar se socializar. Ela não confiava em ninguém.
Era extremamente difícil confiar em alguém.
Ay pessoas eram cruéis, malignas e traidoras. Ayato preferia ficar na sua zona de conforto ao invés de se permitir confiar em alguém.
Ela só confiaria em All Might, só ele era o suficiente. Ela não precisava de mais ninguém.
Se tornar uma heroína... Se seu pai soubesse...
Ayato odiava os heróis, todos eles, exceto seu pai adotivo. O motivo do seu ódio era seu pai biológico, o Sr. Supremo. Ele era a razão do seu ódio, havia vivido um completo inferno naquela casa por causa dele e por causa dos malditos filhos dele, todos queriam ser super heróis. Só o fato de ser um super herói não te tornava automaticamente no mocinho ou muito menos em uma boa e nobre pessoa, afinal, o salario e os benefícios que os heróis recebem do governo eram o suficiente para todos quererem ser um, e não por motivos nobres e certos.
Tenha apenas um poder inabalável que pronto, você era um herói apenas por isso. Não existia algo que proibisse alguém de ser um herói por ser um completo cretino, mal caráter e ter um coração podre, ser nobre e gentil não era um requisito obrigatório, desde que você fosse forte, era o suficiente.
O Sr. Supremo e seus filhos eram os exemplos disso.
Era verdade que Ayato jamais queria ser uma heroína, ela preferiria a morte. Mas recentemente, ela havia mudado de ideia, com o convite do seu pai para dar aulas na UA, ela decidiu que iria se inscrever para a o colégio e ser uma super heroína.
Ayato não queria ser uma heroína pelos motivos certos. Ela queria ser uma heroína por motivos extremamente egocêntricos. Um ano atrás, quando viu All Might quase morrer pelas mãos All For One, isso a traumatizou completamente. Ayato ficou deformada por seis meses, sempre chorando e dando constantes crises de ansiedade. Ela estava apavorada. Nunca havia sentindo tanto medo em toda sua vida, ela preferia morrer do que perder seu pai.
Ele quase havia morrido... Isso ainda a assombra até mesmo os dias atuais.
Ela se lembra que ficou sob os cuidados de Gran Torino, enquanto seu pai passava por diversas cirurgias, ele perdeu parte do seu pulmão e seu estomago, a cicatriz gigante em seu peitoral sinalizavam exatamente isso.
Ay, não conseguia dormir. Tinha pesadelos e mais pesadelos, acordava chorando, gritando e consequentemente sua aparência estava deformada.
Quando seu pai deixou o hospital, Ay voltou a forma normal, mas o grande All Might agora tinha seus poderes limitados. Ele só conseguia ficar na forma normal agora por apenas três horas, depois desse tempo, ele voltava a definhar ficando na sua forma esquelética.
A noticia do ataque não foi noticiada, porque ele pediu.
Mas, mesmo assim, o sentimento de medo e ansiedade jamais deixou Ayato. Ela ainda temia pelo seu pai. Tinha medo de perde-lo completamente, medo de ficar sozinha de novo, medo de perder sua única luz e esperança que teve em sua vida miserável: seu pai.
All Might aceitou ser professor na UA, justamente para que pudesse encontrar seu substituto perfeito e Ay então tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre: ela decidiria se tornar uma super heroína e se matricular no curso de heróis da UA. Claro que ela ainda não havia mudado seu posicionamento e ódio pelos heróis, principalmente da família Suprema, mas Ayato decidiu se tornar uma heroína por motivos egocêntricos. Ela não queria salvar o mundo, proteger as pessoas ou muito menos fazer justiça pelos menos afortunados, o objetivo de Ayato era só um: se tornar uma heroína para proteger o símbolo da paz, para proteger seu pai e nunca mais sentisse o que sentiu quando ele ficou no hospital.
Ela só poderia proteger e zelar pela segurança de seu pai, se fosse uma heroína. Se pudesse agir dentro da legislação para heróis e ainda se soubesse como derrotar super vilões que viriam atrás do seu pai, colocando a vida dele em risco.
A única razão para ela se tornar o que tanto odiava era: proteger a pessoa que amava. E ela estava disposta a isso. Inclusive estava disposta a morrer pelo seu pai.
Ayato não pensaria duas vezes antes de morrer pelo seu pai.
All Might se assustou com a decisão de Ayato no início, pois sabia do ressentimento que a garota sentia, afinal, o antigo herói número um antes do All Might surgir era Karl Moonel, o Sr. Supremo, que se aposentou para poder virar político, se tornando o primeiro ministro do Japão, deixando o posto de herói número um para All Might, fez coisas horríveis com ela.
Mas Ayato decidiu ocultar a verdade egocêntrica de seu pai a respeito da sua motivação para ser uma heroína. Ela apenas decidiu se manter em silêncio, dizendo que agora queria ser uma super heroína tão incrível quanto ele.
A garota não sabia controlar sua individualidade de adaptação e como sua individualidade OverAll havia desaparecido, Ayato pediu ajuda a Gran Torino para que ele a treinasse, bem como também pediu para que seu pai a treinasse para que pudesse fazer o exame de recomendação da UA, dessa forma, a garota conseguiu aprender algumas coisas que pudesse lhe ajudar a pelo menos a se defender e a passar no exame.
Seu pai havia ficado orgulhoso da decisão de Ayato, a garota acreditava que All Might pensava que ela havia tomado aquela decisão por motivos nobres, o que não era verdade, mas ela jamais contaria à ele.
Até mesmo, seu pai cogitou que Ayato poderia ser sua sucessora, mas de imediato a garota recusou. Ela não queria ser o próximo símbolo da paz, porque ela não se importava com a paz, ou com as pessoas, ela só se importava consigo mesma, com seu pai e talvez com algumas pessoas especificas como Gran Torino, Sir Nighteye, Naomasa Tsukauchi, Nezu. O resto, era o resto. Seu pai havia lhe contado sobre sua individualidade e sobre cada um dos feitos de seus antecessores, principalmente de sua mestra, Nana Shimura, eles eram incríveis, verdadeiros heróis e Ayato não era uma heroína. Ela não merecia ser a próxima sucessora do One For All, certamente existia alguém mais capacitado do que ela. Mais merecedor e que tivesse um coração puro e nobre. E por isso ela ajudaria seu pai a encontrar seu sucessor perfeito, pois ao ter um sucessor, All Might teria mais alguém além de Ayato que iria protege-lo.
A segurança de seu pai, era mais importante do que tudo.
Ela sabia que era dependente emocional de seu pai, sabia que ele tinha consciência disso, ao ponto de tentar incentiva-la a criar novas conexões e quem sabe, novos amigos.
Ele realmente estava tentando e talvez, ela deveria tentar também, por ele. Só por ele.
— Isso te deixaria feliz?
All Might acenou.
— Eu ficaria muito feliz se você, dessa vez, fizesse um ou pelo menos dois amigos nessa escola.
— Tudo bem, pai... Por você, irei me empenhar em fazer novos amigos.
— Isso! — All Might comemorou fazendo um joinha com seu polegar. — Agora vou ao mercado fazer algumas compras para nossa casa, no jantar nos encontramos, tudo bem?
Ayato acenou.
— Certo!
Quando All Might iria se virar para ir embora, Ayato o impediu, o abraçando com força.
— Tome cuidado, pai. — Ela suplicou com uma voz chorosa referindo ao seu trabalho de herói.
Ela não queria que ele se colocasse em perigo de jeito nenhum, mas esse é o trabalho de herói: arriscar sua própria vida pelo bem comum. No fundo Ayato só desejava que seu pai se aposentasse logo e ficasse ao seu lado em segurança, entretanto, ela sabia que isso era quase impossível de acontecer. Então a única coisa que poderia fazer era: torcer para que ele tomasse cuidado e que chegasse vivo em casa.
All Might acariciou sua cabeça com gentiliza.
— Pode deixar que tomarei.
[...]
Ayato nunca quis ser uma heroína, principalmente depois do trauma que passou pela sua família de super herói biológica, entretanto, há cinco anos atrás, quando presenciou a luta mortal de seu pai contra All For One, a luta pela qual quase seu pai foi morto pelo vilão, Ayato decidiu se tornar uma heroína.
Não só porque queria ajudar as pessoas e ser totalmente gentil com elas, mas principalmente porque queria proteger seu pai. Queria nunca mais sentir todos os sentimentos horríveis de medo, terror e impotência que sentiu no dia em que presenciou seu pai quase ser morto. Ela iria protege-lo de todas as formas possíveis e nunca mais All Might iria correr algum risco.
Foi por esse motivo egoísta que Ayato decidiu se tornar algo que pensou que jamais seria: uma super heroína.
Ela estava disposta a fazer tudo pelo seu pai, inclusive encarar uma sala cheia de adolescentes irritantes, como era o caso.
Seja legal, Ay, seja amigável e faça amigos como seu pai lhe pediu. — Era o que pensava, tentando manter a calma.
Assim que havia encontrado sua turma, por algum milagre divino, a sala estava totalmente vazia, os alunos não haviam chegado ainda. Isso era ótimo, pois significava que ela não chamaria a atenção. Ayato tentou se sentar bem ao fundo da sala, torcendo para que ficasse escondida e no momento em que o professor começasse sua aula, ela passasse despercebida por ele e ele não a submeteria a vergonha de ir até o quadro se apresentar para toda turma.
Aos poucos a sala foi se enchendo e lotando cada vez mais de alunos extremamente barulhentos e irritantes, por sorte eles estavam tão distraídos pela sua vida insignificante, que sequer notaram sua presença, o que era um ponto positivo.
Ayato fixou seu olhar na janela ao seu lado, vendo claramente o pátio do colégio que cada vez mais ficava vazio de estudantes que corriam desesperadamente para chegarem até suas salas antes do sinal tocar. A vida deles pareciam tão pacata e calma, talvez fosse a vida que Ay queria ter com seu pai.
Queria que as coisas fossem normais, fora dos padrões de super-heróis, quem sabe essa coisa de sempre arriscar a vida por pessoas desconhecidas não acabasse logo. Todos tem individualidades, eles podem muito bem se defender sozinhos.
Talvez, assim como os alunos, o professor fosse um idiota e não percebesse a sua presença de aluna novata ali.
Porém, seu plano de não chamar a atenção foi totalmente por água a baixo quando o professor alto, atravessou a porta, dando um alto e irritante "bom dia" super animado a turma, que o respondeu de volta em uníssono. Os olhos famintos do professor percorreram a sala inteira, como se eles pudessem olhar no fundo de cada alma de cada aluno, era estranhamente bizarro, até que os olhos se fixaram completamente na garota, que mordeu fortemente o interior de suas bochechas, se dando conta que havia sido vista.
Ay engoliu o seco e cerrou os punhos, talvez o professor fosse só mais um idiota e nem percebesse que ela era uma aluna nova, talvez, ela passasse despercebida. Afinal, sua individualidade era adaptação, ela poderia se adaptar para não ser vista, correto?
Que os deuses tivesses piedade dela. Ela não queria ser o animal de circo logo no primeiro dia.
O professor sorriu ainda a encarando.
Droga! Ele percebeu!
— Ora! Parece que temos uma aluna nova! — Ele anunciou para sala inteira ouvir, logo diversas cabeças se viraram bruscamente para trás, a encarando-a completamente espantados e alguns estavam segurando a risada.
— Ei! Porque o Midoriya está usando uniforme feminino?! — Alguém gritou, entre os risos.
Um garoto de cabelo verde, sentado bem no meio da sala, estava de costas para Ayato, antes ele estava cabisbaixo parecendo concentrado em anotar algo em seu caderno, mas após um aluno gritar aquilo, estranhamente ele parecia familiar para Ay, talvez ela já tivesse o visto em algum lugar, mas não conseguia se recordar.
Então, o respectivo rapaz de cabelo verde se assustou, erguendo sua cabeça de forma exagerada, olhando para todos os lados, gritando:
— O que?! — Ele mexeu a cabeça para todos os lados, de forma desesperada, até que os olhos dele se fixaram em Ayato sentada há duas fileiras atrás dele.
Ayato arregalou os olhos ao reconhecer o garoto de cabelo verde e uma súbita raiva tomou conta de si, ao se lembrar do ocorrido há três dias atrás.
Ela se levantou de uma só vez, batendo com força total suas mãos sob a mesa, irritada.
— EI! VOCÊ ESTRAGOU MEU CARDIGÃ! — Ela ponta seu dedo indicador na direção do garoto cabelo de alface, gritando, mas a voz que atravessa a sua garganta não era sua, na verdade, ela era bem masculina, o que a assusta ao ponto de arregalar os olhos, perplexa, a fazendo colocar as duas mãos envolvendo seu pescoço, abismada.
Ah não. Não. Não.
Tudo menos isso.
Ela não poderia ter mudado a aparência de novo.
Ayato olhou através do canto do olho para seu reflexo no vidro da janela ao seu lado, foi inevitável a garota não dar um salto para trás e foi impossível conter um grito que rasgou ferozmente sua garganta, pois ao invés de se deparar com seu próprio reflexo, Ay estava olhando para o reflexo do próprio garoto sardento de cabelos verdes vestindo um uniforme feminino, diante do reflexo do vidro.
Ay tocou o próprio rosto, totalmente incrédula. Seu cabelo havia mudado, sua pele também e seus olhos, Ay sempre teve sardas, mas ao menos sua pele era mais bem cuidada do que daquele garoto e até mesmo suas mãos estavam mais rígidas e grossas. Ela estava idêntica ao garoto que destruiu seu cardigã outro dia. O único diferencial era que ele estava usando o uniforme masculino, enquanto ela, com a aparência dele, estava usando o uniforme feminino.
Foi impossível evitar uma cara de nojo e desgosto por estar com aquela aparência.
Devido ao fato de estar nervosa, sua individualidade deveria ter ativado inconscientemente, mudando sua aparência para de um aluno comum da sala, com o intuito de fazê-la se misturar com os demais e o professor não a fizesse chamar atenção.
Sua individualidade poderia tê-la feito assumir a aparência de alguma garota da sala para se misturar e passar despercebida, mas não, ela tinha que assumir a forma de um garoto e pior do avoado que manchou seu cardigã favorito de chocolate quente.
Que ótima individualidade. A fez assumir a aparência de um garoto enquanto usava um uniforme feminino, é claro que ela chamaria atenção desse jeito e o pior de tudo é que aconteceu, sem que ela se desse conta.
A sala inteira se explodiu em risadas uníssonas.
— Eu pensava que já tinha visto de tudo, mas o deku em um uniforme feminino, consegue ser uma visão pior do que a de qualquer inferno. — Um garoto loiro com cabelos espetados e olhos vermelhos, debruçado sob a cadeira, com os pés sob a mesa, diz em voz alta entre as risadas da turma.
O verdadeiro garoto de cabelo verde fica com o rosto vermelho e se encolhe em meio a tantas risadas, se debruçando completamente sob a mesa, enquanto Ayato só sente raiva, ao ponto de querer socar a cara do loiro.
Não sabia o que era. Mas só de olhar para aquele maldito, uma súbita e furiosa raiva tomava conta de si.
— Certo, certo. Chega de confusão. — O professor adverte a todos e logo as risadas vão acabando uma por uma. — Você é Ayato, não é? A aluna nova, sua individualidade é adaptação, é o que está em sua ficha de matricula. Seu pai nos avisou que em situações de estresse sua individualidade pode se ativar, alterando sua aparência.
— Sim, sou Ayato. — Diz cruzando os braços e com sua voz masculina, o que a faz assumir um semblante irritado
— Muito bem... Porque você não desativa sua individualidade e vem aqui n frente, se apresentar pela turma, explicando sua individualidade e o que gosta de fazer? Pois sendo sincero, não estou muito confortável em ver duas vezes o mesmo aluno na minha sala, principalmente com uma versão dele usando saia na minha aula.
Ay não tinha certeza, mas acreditava de alguma forma que o professor havia dito aquilo de maneira proposital e extremamente ácida, com a intenção clara de fazer chacota com o garoto de cabelos verdes, que enterrava com mais força sua cabeça na mesa e murmurava algo sobre a individualidade de Ayato.
E novamente as risadas voltaram.
Ayato apenas respirou fundo, agora não havia mais opções, tinha que ir até a frente do quadro, se apresentar e falar um pouco sobre si mesma. Realmente, se seu plano inicial era não chamar a atenção, ela acabou falhando miseravelmente graças a sua individualidade. Ela sabia que se continuasse com os nervos a flor da pela, algo do tipo poderia vir a acontecer e foi o que aconteceu de fato.
Aos poucos Ayato tentou manter sua respiração sob controle, então enquanto caminhava, a garota passou assumir sua verdadeira forma e quando isso acontecia, as risadas foram desaparecendo para dar espaço a suspiros e expressões surpresas.
O cabelo verde de Ay se tornou seu original longo cabelo preto, ainda preso em um rabo, seus olhos voltaram a cor rosa intensa com pupilas em forma de estrelas, bem como sua real face.
Ay ajeitou sua postura e respirou fundo quando se virou para sua turma.
Foi totalmente automático o olhar de Ayato se fixar no garoto de cabelos verdes, que agora havia erguido a cabeça e a encarava perplexo, mas com o rosto levemente corado. Talvez aquilo significava que ele havia se lembrado dela e se lembrado que havia estragado seu cardigã.
Ay direcionou um olhar zangado para ele, o que fez o rapaz tremer um pouco e desviar o olhar para qualquer outro canto da sala.
O plano de não chamar a atenção havia ido por água a baixo, e agora ela estava parada diante de vários adolescentes que a encaravam como se ela fosse a atração de um circo.
— Muito bem... — O professor começou. — Se apresente para turma e informe sua individualidade, explicando-a e nos diga do que você gosta.
Ayato reprimiu a vontade revirar os olhos e tentou se manter calma. Falar para várias pessoas que a encarava como se fosse o centro das atenções, não era fácil. Na verdade, era intimidador, mas mesmo assim, ela tentou demonstrar confiança e se esforçar para não gaguejar.
— Meu nome é Ayato Yagi. Minha individualidade é adaptação, posso me adaptar a qualquer lugar, situação ou circunstancia, desde que isso preserve minha sobrevivência. Gosto de ficar em casa com o meu pai. — Disse cerrando os punhos, se esforçando para que nenhuma palavra saísse gaguejada.
— Então assumir a forma daquele perdedor ia preservar sua sobrevivência? Que piada! — Novamente o loiro de cabelo espetado grita com certo deboche.
Aquilo a irritou.
— Tem razão. Eu estava muito nervosa com o meu primeiro dia, por isso minha individualidade assimilou que estivesse em perigo e mudou minha aparência sem que me desse conta. — Ay força sua voz, a distorcendo o suficiente para que parecesse mais doce e fofa, com um sorriso falso. — Mas acredito que aparência dele ali. — Apontou para o garoto de cabelo verde. — Agradou mais a minha individualidade, do que essa sua cara feia de porco espinho amarelo. — Após tais palavras saírem de sua boca, a sala começa a dar inicio a inúmeros cochichos e murmúrios.
O garoto de cabelos loiros espetados imediatamente ajeita sua postura sob a sua carteira e levanta rapidamente, encarando Ayato de forma assassina, com uma veia saltitando em sua testa.
— O que você disse sua figurante de merda?
Era como se faíscas saíssem dos olhares de Ayato e se chocassem com faíscas que saiam dos olhos vermelhos do loiro. Ela estava impassível e se mantinha firme.
Claro que não seria agradável para All Might saber que em seu primeiro dia de aula já tinha arranjado briga com um colega de turma, mas Ayato pensava que a vida infelizmente tinha dessas situações, onde as vezes era necessário chutar alguns traseiros para que você fosse respeitada.
Ayato estava prestes a retrucar o loiro, porém, o professor a interrompeu:
— Bakugo e Yagi já basta! Se não quiserem ficar de castigo após a aula é melhor se sentarem e ficarem de bico calado! — Ordena o professor e Ayato apenas faz uma careta, retornando a seu lugar inicial ao fundo da sala, se sentando.
O loiro chamado Bakugo, totalmente contrariado, se sentou também.
Ela estava furiosa. Sentia aquela sensação horrível de adrenalina e ansiedade por não ter brigado, ela queria brigar com o tal Bakugo, pelo menos para aliviar todo o misto de emoções estava sentindo, mas como o professor interferiu, Ayato foi submetida a voltar a seu lugar. Como queria brigar agora... Estava louca para chutar a cara do loiro, mas agora tudo que lhe restou foi a sensação hormonal péssima de um possível estado de perigo e a vontade incubada de brigar com alguém.
Esse certamente vai ser um longo e exaustivo dia, sem sombra de duvidas.
Sentindo um olhar pairando sob si, Ayato direcionou seu olhar imediatamente para o garoto de cabelo verde, que ao ser pego em flagrante a encarando, este se tremeu completamente e um leve rubor tomou conta do rosto cheio de sardas do rapaz. Ayato o encarou de forma assassina devido ao grande estado de nervoso que se encontrava, fazendo o rapaz se assustar se encolhendo em sua mesa, desviando o olhar.
Qual era o problema daquele garoto? Ele era extremamente esquisito.
Pelo que ela havia ouvido por alto quando sem querer assumiu a aparência dele, o nome do garoto deveria ser Midoriya...
Não... Midoriya era o sobrenome dele... O primeiro nome deveria ser outro.
[...]
Algumas aulas já haviam passado, até que o professor gritou para a sala que tinha preparado para que todos ali fizessem um relatório a respeito de seus planos futuros, mas que ele tinha desistido da ideia porque já sabia que todos ali queriam entrar no curso de heróis.
Então houve uma grande comoção na sala inteira, onde todos começaram a comemorar em voz alta, exibindo todas suas individualidades, exceto um: Midoriya.
Os olhos de Ayato se fixaram no garoto que pareceu se encolher mais na mesa, cada vez mais cabisbaixo.
Ayato encarou Bakugo com puro desprezo enquanto ele falava, novamente com os pés sob a mesa e completamente debruçado sob a cadeira, como se estivesse em sua própria casa.
Folgado. Era isso que aquela bombinha era.
Ela não sabia o porque detestava tanto aquele garoto, era a primeira vez que tinha o visto em toda sua vida, mas tinha algo nele... Algo que a irritava, que a fazia odiá-lo desesperadamente ao ponto de sempre revirar o olho toda vez que ele abria a boca para falar algo.
Certamente aquele cara tinha algum problema de autoestima. Não era normal alguém abrir a boca toda hora apenas para dizer que ele era o maioral e todos ao seu redor eram apenas figurantes, ou ele dizia essas coisas em voz alta apenas para se convencer a si próprio de que aquilo era verdade, porque era muito inseguro ou ele era apenas um narcisista maldito.
Ayato infelizmente suspeitava que fosse a última opção.
Aquele cara ali no colégio UA? Ele não duraria dois segundos, principalmente com a arrogância e ego dele. E o que fazia ele pensar que era melhor do que todos para ser apenas o único da turma estar apto para entrar no colégio? Esse cara... — Ayato pensou cerrando os punhos.
Talvez ela deveria provoca-lo dizendo que os verdadeiros fracassados só entram na UA pelo exame de admissão, enquanto as verdadeiras estrelas, como ela, entram por recomendação. Claro que ela realmente não acreditava nessa segregação de um ser melhor que o outro só pela diferença de admissão, porém, no fundo, bem lá no fundo ela queria dizer aquilo só para arrumar briga com Bakugo.
Aquele cara a tirava do sério.
— O colégio UA? Pelo o que eu sei, o Midoriya também quer entrar nele. — O professor diz e então a sala inteira congela, direcionando todos seus olhares para o rapaz de cabelos verdes, ainda mais encolhido em sua mesa.
Porque ele agia daquela forma? Sempre demonstrando medo e sem qualquer indicio de autoconfiança?
— O que??! — Todos os alunos da sala gritam em conjunto inicialmente em choque e depois caem na gargalhada, algo que faz o rosto do garoto de cabelos verdes arda em chamas.
Ayato mantem seu olhar fixo no garoto, tentando procurar alguma resposta para aquela situação toda e principalmente pelo comportamento do Midoriya.
— Mas o Midoriya sequer tem individualidade! — Ayato ouviu alguém dizer e isso a fez arregalar os olhos, perplexa.
Seu pai também não tinha nenhuma individualidade, ele dizia que na geração dele era algo comum e a outra única pessoa que conhecia e não tinha nenhuma individualidade, era Melissa, filha do tio David. E até mesmo Ayato, houve uma época que acreditava fielmente que não tinha individualidade, que havia nascido com defeito como seus irmãos biológicos sempre ressaltaram, mas sua individualidade só apareceu aos 10 anos, diferentemente do comum, que se manifestava aos 4 anos.
Então era por isso que aquele garoto era tão inseguro ao ponto de sempre se encolher em sua mesa? Porque não tinha individualidade? E principalmente, era por isso que ele era constantemente alvo de piadas e bullying de seus colegas de classe?
Talvez por não ter individualidade, ele fosse como Ayato, não tinha amigos. Afinal nos dias de hoje ser diferente do comum sempre era motivo para exclusão e isolamento, disso Ay entendia bem... Pois sempre se sentiu dessa maneira dentro de sua própria casa.
A garota estava perdida em seus pensamentos, quando foi rapidamente desperta pelo som de uma explosão, rapidamente seus olhos foram direcionados para o fundo da sala, onde o tal Bakugo estava de pé, com as duas mãos erguidas, provocando explosões, das quais fumaça saiam desesperadamente de seus dedos, então essa era a individualidade do porco espinho... Não... Na verdade Bombinha seria um apelido muito melhor. Ayato pensa.
De fato, parecia ser uma individualidade poderosa, entretanto, Bakogo ainda era um idiota e isso jamais mudaria o conceito de Ayato sobre ele tão cedo.
Porém, o que chamou a atenção da garota mesmo foi ver que Midoriya estava jogado no chão da sala, completamente encolhido, ele parecia estar com medo, pois falava com a voz tremula que mesmo sem individualidade, ele iria tentar entrar para UA, porque seu sonho era ser um grande herói, isso pareceu deixar Bakugo mais irritado, ao ponto de mais explosões saírem de seus dedos e fazendo o loiro soltar um grito irritante contrariado, questionando o garoto de cabelos verdes como assim ele iria tentar.
Subitamente, Ayato entendeu o motivo pelo qual não gostava de Bakugo e a raiva que sentia pelo garoto. Era porque ele a lembrava de seu irmão biológico, Asuka Moonel, ele era horrível com ela, sempre fazendo com que ela se sentisse inferior, sempre dizendo que ela era uma fracassada e outros insultos. A verdade era que esses insultos sempre vinham acompanhados de tapas e mais tapas contra seu rosto, Asuka só parava quando Ayato estava cuspindo sangue, antes disso, ele só continuava e continuava.
Ayato cerrou os punhos. Ela odiava se lembrar do seu passado, por isso sempre que podia, reprimia as memorias de uma forma ou de outra. Ela não queria se lembrar de nada que existiu antes de All Might aparecer em sua vida, apenas ele importava, seu pai importava.
Midoriya involuntariamente a fez se lembrar de si própria. Naquela época, Ayato apenas queria que alguém a defendesse e a protegesse de seus irmãos abusivos, mas ela não tinha voz para pedir ajuda e mesmo se pedisse, ninguém viria a salvar.
Os olhos de Ayato fixaram em Bakugo, cuja aura abrasiva despertou uma fúria latente dentro dela. As lembranças de sua infância, marcadas por humilhações e crueldades, dançavam diante de seus olhos, como sombras de um passado que ela jamais poderia esquecer, deixando-a com raiva.
Então seus olhos por um curto momento encontraram com os de Midoriya, foi inevitável não sentir algo dentro dela se remexer, pois era como se estivesse olhando para si própria quando criança.
Sem hesitar, Ayato se levantou rapidamente de sua mesa, como se seu corpo estivesse se movendo sozinho e então, num piscar de olhos, ela interveio, colocando-se entre Bakugo e Midoriya, seu corpo estava tenso como uma lâmina pronta para cortar. Seus olhos faiscavam com uma determinação feroz, desafiando Bakugo, que a principio aparentou estar surpreso por vê-la ali se atrevendo a cruzar seu caminho.
— Chega! — Sua voz soou como um trovão, carregada de autoridade e indignação. — Porque você não dá meia volta e senta no seu lugarzinho como um bom cãozinho obediente que você é?
Bakugo lhe lançou um olhar de desdém, mas algo na expressão de Ayato o fez recuar, uma sombra de incerteza passando por seus olhos flamejantes, talvez fosse sua individualidade se manifestando com o objetivo de fazer com que Bakugo se sentisse intimidado com seu olhar.
— Quem você pensa que é para me dizer o que fazer? — Ele retrucou, sua voz repleta de desafio.
— A pessoa que vai chutar seu traseiro na UA, pois também tenho o objetivo de entrar para o colégio também. — Respondeu Ayato, sua voz como aço temperado. — Você... — Cerrou os punhos. — Não tem ideia das batalhas que os outros enfrentaram. Não tem o direito de esmagar aqueles que já foram quebrados, ou muito menos tem o direito de dizer se alguém é capaz ou não de entrar para o curso de heróis da UA, só porque tem ou não individualidade. Acredite, ser um herói não é só medido pela força da individualidade, mas pela generosidade e empatia em seu coração para proteger aqueles que não podem fazer o mesmo.
Nem mesmo Ayato compreendia de onde havia saído tais palavras, nem mesmo a garota acreditava no que havia dito. Mas foi aquilo que All Might havia lhe ensinado quando a adotou, ele sempre se esforçava para demonstrar para ela que nem todos heróis eram corrompidos como sua família biológica, entretanto, Ay, não acreditava nos heróis, ela só acreditava em seu pai como herói, porque ele sim, era a luz que surgiu em meio a escuridão que a garota carregava em seu peito.
Ele cuidou das cicatrizes de Ay e a tornou feliz pela primeira vez em sua vida toda.
Era por isso que queria ser uma heroína para proteger aquele que protegia todos.
Para proteger não só o símbolo da paz, mas seu pai.
Um silêncio pesado pairou sobre a sala, carregado com a tensão de uma tempestade iminente. Bakugo encarou Ayato, seus olhos faiscando com uma mistura de raiva e perplexidade, como se estivesse lutando para compreender a determinação inabalável diante dele.
Se ela queria arranjar briga com o loiro, Ay havia acabado de conseguir.
Isso era ótimo para seu primeiro dia, seu pai tinha lhe pedido para fazer amigos, mas ela optou por fazer inimigos em seu primeiro dia.
Ayato ignorou a presença de Bakugo na sua frente, se virando para Midoriya, que ainda estava sentado no chão com as costas apoiadas na parede. Ela o encarou intensamente com raiva, o que fez o pobre garoto de cabelos verdes, tremer e se encolher.
Ela queria gritar com ele. Perguntar como alguém que quer se tornar um herói pode ficar se rastejando sob o chão como um inseto. Aquilo não era o posicionamento de um herói.
Mas ao invés de brigar, Ayato apenas estendeu a mão para o garoto de cabelos verdes.
— Anda, levanta. — Ela resmunga, desviando o olhar. — O lugar de um futuro aluno da UA não pode ser no chão. — A garota torce os lábios.
Ayato desvia o olhar, olhando para qualquer canto da sala que não fosse o rosto de Midoriya. Ela estava com vergonha. Suas bochechas ardiam, porque se deu conta do que havia acabado de fazer: entrar no meio de uma briga que nem era sua e chamar desnecessariamente atenção indesejada para si própria.
Ela nunca tinha feito algo tão estupido como defender alguém que nem conhecia, se o tal Midoriya estava sofrendo bullying, deveria ele resolver seus problemas sozinho não?
Por que ela tinha que se meter?
Porque é isso que um herói faz. — A voz de seu pai ecoou em sua mente e a deixou contrariada.
Não. Ela não era uma heroína. Ela só queria ser uma heroína por motivos egocêntricos.
Ayato sentiu sua mão ser apertada pela mão de Midoriya, o que fez seu rosto arder mais, subitamente ela o puxou, o ajudando a se levantar.
Ainda sem olhar diretamente para o garoto, que parecia ser mais baixo do que ela, Ayato ouviu Midoriya dizer:
— O-Obrigado. — Ele gaguejou.
Antes que Ayato pudesse falar algo, a voz severa e rígida do professor a interrompeu:
— Yagi! — Ele berrou. — Que baderna é essa que você está provocando em minha sala? — O professor grita mais uma vez, com uma veia saltitando em sua testa, parecendo ignorar tudo, inclusive o fato de Bakugo ter usado sua individualidade dentro de sala para intimidar um colega.
Se tinha alguma duvida sobre Bakugo ser o aluno favorito do professor, aquela duvida tinha acabado ali.
Ayato se vira para o professor, prestes a protestar, entretanto, os dois colegas que sentavam ao lado de Bakugo, se levantaram e disseram juntos:
— Foi ela que começou, professor! Ela estava usando sua individualidade para intimidar o Bakugo. — Disseram os dois apontando seus dedos podres para Ayato, que sentiu vontade imensa de quebra-los.
— Idiotas! Ninguém me intimida, ouviram?! — O loiro berra, totalmente enfurecido.
E então uma avalanche de conversas surge em meio a sala de aula, todos estavam conversando ao mesmo tempo.
— CHEGA! — O professor grita, fazendo todos se calarem. — Yagi quero que vá para a direção agora! Você ficará de castigo depois da aula por causa dessa confusão.
Ayato cerrou os punhos.
— Mas...
— Saia da minha aula agora! — O professor grita.
A garota apenas torce os lábios, totalmente enfurecida, sai pisando duro da sala, indo em direção a sala do diretor.
Que ótimo primeiro dia.
E aí o que acharam? Espero que tenham gostado <3
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Beijos e até o próximo capítulo <3
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