Capítulo 5
Próximo do Carnaval (2019) eu aceitei novamente um convite seu para sair. Rafa demonstrava estar com muita saudade, pois sempre dizia que eu era uma pessoa difícil de tirar do casulo.
— Credo, preciso estender um pano vermelho pra atrair esse touro! — ele comenta ao entrar no meu Gol. — Hum lavou o carro? Tá limpinho.
Eu sequer tenho vontade de retrucar que ele sempre esteve limpo, embora empoeirado às vezes. Como ele diz, capricorniano acha que as pessoas devem supor as coisas sozinhas, para que não percamos tanto tempo explicando coisas que para nós são óbvias.
— Ganhou peso né? — eu pergunto e ele abre um sorriso satisfeito. Comenta que ganhou seus desejados cinco quilos e que ainda quer mais cinco. — Eu perdi oito. Perdi rápido.
— Sim, notei mesmo.
— Quero mudar mais pra frente, fazer academia.
— Ia ficar bom, tu tem perna e braço grosso, só precisa definir.
— Sou um negócio meio desajeitado.
— Dani, tu é bem charmoso. Eu prefiro homem moreno, mas se não fosse teu amigo, quem sabe.
Assim ele deixava claro para mim que realmente não esperava nada além de amizade.
E foi só voltarmos com nossa amizade mais grudenta que ele logo tratou de me colocar num programa, desta vez um pouco mais legal, numa ideia de nossos colegas em comum do mercado de acampar no norte do estado.
Área de camping, cada um responsável por suas coisas é diferente de festinhas onde você circula e ninguém fala muito contigo, no caso em geral as reuniões com os amigos dele. Por sorte que André não foi cogitado e nem fez falta nas conversas e nos pensamentos.
O grande defeito foi que Rafael me avisou isso durante o horário de almoço no sábado.
Onde que eu ia arrumar uma barraca?
Sua desculpa foi como sempre: "eu me esqueci de avisar, os rapazes me convidaram na quinta".
Avoado e esquecido, Rafael na essência.
Para não perder o lance, porque eu estava estranhamente disposto, falei em dormir no carro mesmo e ele adorou. Disse que as demais coisas, ele ficaria responsável e eu achei melhor abraçar a responsabilidade para ter um pouco de paz na cabeça. Esquecido como é, já sabe...
Em Jaraguá nos ajeitamos numa área com restaurante, montanhas à volta, banheiros e natureza com seus pernilongos. Porém foi divertido que melhorou ainda mais conforme bebíamos um pouco.
— Dani vou achar um banheiro, não tô passando muito bem. — Rafael me avisa. Desde que chegou começou a sentir mal e fiquei superpreocupado oferecendo-me até para leva-lo pra casa. — É só dor de barriga, só.
Por sorte esse grupo era formado pelos meninos da empresa onde trabalhamos. Alguns ficaram preocupados com ele querendo fazer algo pra ajudar. Mas um deles, que não lembro bem do nome, trabalha numa das filiais, se chegou em mim nessas ausências do Rafa.
— E o Rafa?
— Quando ele sair do banheiro, vou dar uma volta pela cidade pra procurar uma farmácia de plantão. — respondo enciumado.
— Tá sozinho?
— Sim. Até onde eu sei sim. — com aquele cara muito perto, sem querer eu tive que olhar o peitoral estufado, sentir o cheiro de perfume e encarar os braços fortes... as coxas, os pés grandes e volume marcado em sua região pélvica.
— Tu... — ele disse simplesmente.
— O que que tem?
— Tá sozinho?
— Eu?
— Meu Deus cara, não sacou ainda? — ele ri. Nessa hora dá uma daquelas ondas "tsunâmicas" que varre toda a costa dos bons pensamentos em mim. — Posso pegar teu número?
— Depois eu te passo. — eu queria guardar ele como possibilidade para mais tarde, não tinha cabeça no momento.
— Só pra conversar... eu perguntei pros rapazes, tu não namora. Estranho...
— Porque não achei um cara que me aturasse. — ele ri junto comigo — Meninos bacanas têm muitos.
— Eu tava querendo falar contigo há mais tempo, mas o outro lá não desgruda.
— É meu amigo. Não fale isso dele...
— Vou tirar teu "amigo" da jogada então.
— Não sei se "isso" vale uma amizade.
— Não? Acho que quando tu me pegar de jeito vai esquecer essa frase.
— Eu te pegar?
Mas com a proximidade do Dani, já pálido, o rapaz da filial deu uma desculpa e se afastou.
— Vamos achar uma farmácia de plantão?
— Já nem precisa mais. Foi o X-Bacon de ontem, eu não posso comer coisa com tanta gordura.
— Sem barraca vamos ter que nos ajeitar no carro. Tô preocupado contigo.
— Não precisa não, Dani. Só o nosso corpo vai ficar dolorido. Mas o que vale é a diversão né?
— Vou tomar um banho.
— Ei posso ir junto? — rindo, explico que eles não deixariam, mas repondo — Vamos.
Se fosse permitido seria apenas com propósito de economizar água e a taxa do banho que pagamos. Rafael e eu ficaríamos nus um diante do outro e eu sei com a certeza mais clara de que acabaria rolando alguma coisa. Na frente do banheiro, o cidadão responsável que nos aborda estende duas chaves e cobra separado, óbvio que devíamos tomar banho separados e foi o que rolou. Passamos repelente e nos ajeitamos incomodamente nos bancos deitados do carro.
— Tá de cueca?
— Eu trouxe uma limpa.
— Eu tô sem. — ele comenta. — Acabei esquecendo um monte de coisas...
— Nem me surpreende.
— Preciso de um capricorniano que tem memória boa. — A primeira fagulha então. Primeira alfinetada de paixão entrou na minha carne. Mas Rafa ameniza — Tu é todo certinho, tá até de camisa polo. Tira isso.
— Não mesmo. Nem que eu fosse malhado. — ele mesmo não havia tirado a sua que era uma regata (que ele trouxe para dormir)
— Foda é que vamos pagar a taxa como se tivesse uma barraca aqui.
— Deixa pra lá. Como tu disse: "o que vale é a diversão".
— Tua cara não é de diversão. Ei, posso falar uma coisa pra ver tua reação?
— Aiai, tu é um perigo quando quer. — acabo rindo e ele diz que está com dor de barriga outra vez e precisa de um banheiro. Dou uma debochada. — Uau que sexy isso!
Ele pergunta se eu duvido do seu poder de sedução.
— Sou canceriano, cuidado comigo. — Rafinha comenta quando volta.
— O que que tem isso? Qual a diferença?
— Que nós de Câncer somos muito safados perto dos capricornianos que são parados.
— Não sou de falar muita besteira, isso confere, mas não sou parado.
— Anticlímax, tu és.
— Fala aí alguma coisa bem sensual então. — provoco com expectativa
— Tipo... ai não sei... — Rafa ri alto. — pressionando assim não sai nada.
— Palavras não dão tesão. Atos sim. Quer ver...
Sem esperar que ele correspondesse ou quisesse, cheguei bem perto e dei-lhe vários selinhos correspondidos imediatamente e uma cheirada no seu pescoço onde rocei minha barba de propósito. Rafa se encolheu no banco, arrepiado deu um risinho e segurou minha cabeça para que eu não parasse. No fim pediu-me um beijo capricorniano.
Tem diferença?
E eu quis que o mundo todo parasse durante aquilo. Lutei para ignorar minhas suposições sobre o que passaria na cabeça do Rafa e me doei por segundos. Ao abrir meus olhos peguei os seus fechados. Ouvi sua respiração ficar mais pesada e seu abraço me apertar mais. Os sons dos beijos a seguir me deixaram quase louco, mas ali não conseguimos nos sentir a vontade para o que quer que tivéssemos em mente. Nem tinha como, Rafael passou mal o sábado inteiro e parte do domingo.
Por mim seria melhor se não houvesse mais beijos ou ficaria inteiramente apaixonado.
— Demorou hein? Nós dois. O André ficava só perguntando: "e aquele cara?" "e aquele cara?", eu cheguei comentar com ele que éramos só amigos. Jurei de pé junto e olha... a gente se beijou.
— Ele ficou com ciúmes de ti?
— Quando perguntava sobre você me dava um aperto sabe. Ele é um cara que eu adoro, sempre senti aquela coisinha, mas juro que se ele desse em cima de você, eu ia odiar... os dois. Quer dizer, tu não teria culpa.
— Isso nunca. — que mentira de merda. Eu senti uma massagem imensa no ego quando ouvi as últimas frases do Rafa. André, o belíssimo e gatíssimo haveria de se interessar por alguém bosta igual a mim?
Eu tinha que me decidir, mas antes queria a estabilidade da certeza de que Rafa estaria no mínimo dentro porque eu não tinha a menor vontade de plantar algo em terreno que não me pertencesse.
— Que sono. Me abraça. — ele me dá as costas e eu o abraço protetor. Deixarei para pensar nas atitudes de amanhã conforme o amanhã chegar.
*****
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