Escute.

A música estava mais alta que seus pensamentos. O gosto do cappuccino estava mais forte que suas memórias.
Suas lembranças se amontoavam num aglutinado vertiginoso e espiralado que caía para sempre nos confins da memória. Tudo o que restava eram pensamentos sobre como por mais que o tempo tenha se alongado porquanto vivia tais coisas, agora não passava de uma fina linha que resumia tudo aquilo num filme elétrico; tanto ligado tanto apagado, imagens eram vistas e esquecidas, para apenas depois serem relembradas e reesquecidas, tudo de novo.

Via as memórias se formarem dentro da caneca, na superfície marrom-bege do cappuccino. Era café o que as memórias diziam? Nas profundezas daquela cabeça afogada em mágoas e remorsos e arrependimentos, ou alegrias e vitórias e contentamentos, alguma coisa ali era formulada, ou reformulada, adquirindo o sabor de um novo tempo, de uma nova memória nova, de um pouco de café amargo.

Um sabor obsceno, sobre como as coisas eram... era perdido em meio à música que oscilava em sua altura e intensidade, seu volume e timbre tensos, que desatinavam num frescor na mente, como uma resplandecência na alma, uma nova conquista e ardor, da música com gosto de café e novas memórias novas.

Tudo ascendia, era esperançoso, até aquele ponto crítico da música, aquele trecho fatal e violento, horrivelmente macabro e tenebroso, tão tenso como do violino as próprias cordas, que choravam a melodia da discórdia e a harmonia da decepção, numa sonata de desprazeres e uma orquestra de desgraça. Tudo ocorria para que aquele momento, do trecho crítico, estagnasse a parábola e em seguida despencasse em cascata, aos fundos do abismo da imaginação, aos fundos do abismo do que é o que poderia não ser, aos fundos da existência memorial.

Tudo se acumulava numa expansão da tristeza e depressão, uma memória puxada dos fundos do sótão da cabeça, e então explodia em estilhaços quentes, que queimavam e repartiam sua então alma sombria. O gosto das memórias se tornava mais forte que o gosto do cappuccino e então podia somente se sentir desaparecer, implodir e explodir, impelir para fora a vida e cuspir da miséria que sorria com olhar recriminador. Descendia a música em staccato e se sucedia a forma das lágrimas brilhosas. Desfazia-se em fragmentos e então tudo o que queria era esquecer o som da música e se desfazer em ondas sonoras. Não mais sorria, chorava e se despedaçava.

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