Oblíqua e Dissimulada
O dia foi longo, passei uma boa parte do meu tempo ao lado de Dream, para que ele assinasse minha carteira de trabalho e que eu tivesse todos os direitos de uma secretária comum com o intuito de que Amy não desconfie de nada.
Obviamente ele mentiu sobre meu salário, porém isso é o de menos comparado a toda a mentira que já contei.
Fingi estar bem, feliz e ingênua enquanto todas as palavras de Grace passavam pela minha mente como filme. Me juntar a ela pode ser perigoso, mas necessário. Ela me contou mais sobre o plano e a organização.
"Você estando trabalhando diretamente com ele, aos poucos você pode ter acesso a contas, e-mails e até conversas que nos ajude a provar as coisas que ele está metido. A boate é onde é feito a lavagem de dinheiro, ninguém até hoje conseguiu descobrir, pois as notas são perfeitas. Ninguém sabe quem é o chefe, mas nós sabemos bem quem é, alguns até suspeitam, mas ele é bom em esconder evidências. Se conseguirmos fazer com que a parte boa da polícia o pegue, conseguimos aos poucos fazer justiça pelas meninas e acabar de vez com a boate. Não confie na Ruby, ela é ruim porque quer, ela gosta do que faz e de quem é, a mais coisas sobre ela do que sabemos, melhor não aprofundarmos nela no momento. Seja você, mas seja diferente, tudo que você precisa é se tornar alguém pelo qual ele pode confiar, torne a obsessão dele por você a sua arma e quando der, atire"
Ruby chega já se olhando no espelho e se certificando que está bonita para toda a ocasião. Vou até ela me certificar que estou fazendo uma atuação.
— Estou com medo, muito medo Ruby, e se não for a escolha certa? — Será a primeira e última vez que tentarei fazer com que ela me diga a verdade.
— Confie em mim, ele vai suprir suas necessidades. Além do mais, é uma concorrência a menos.
Ela ri esperando que eu também ria de sua piada fajuta e assim o faço, mas faço com tanto rancor dentro de mim que estou prestes a explodir. Saio de seu lado pensando o qual idiota sou ao cogitar que talvez ela fosse uma pessoa verdadeira.
Vou até Grace que está colocando seus sapatos e me sento ao seu lado.
— Grace, como ela pode ser assim? Já a considerava amiga. — Sussurro me certificando que ninguém está ouvindo.
— Se quiser sobreviver, não faça amigos, é como se fosse um jogo e para vencer você tem de usar a falsidade. — Normalmente essa frase não faria sentido. Mas ela gosta de usar analogias. — Mas aqui não é lugar de conversar sobre isso, ok?
— E como nós vamos conversar?
— Você tem dinheiro, compre um celular novo. — Ela diz em tom de brincadeira, mas nem tanto.
Somos interrompidas por Ruby e reviro os olhos antes de olhar para ela.
— O que as pombinhas estão conversando?
— Eu estou morrendo de medo. — Desvio do assunto com a famosa frase que estou usando para qualquer coisa em relação a ela.
— Não aguento mais essa vadia falando isso, muda o disco, ninguém aqui teve uma oportunidade igual você está tendo.
Só queria poder socar a cara dela.
— Ninguém mesmo? — Faço a pergunta sugestiva a deixando sem palavras. Grace e eu levantamos e a encaramos e percebemos até que ela desvia o olhar.
— Você acha que eu mentiria pra minha vadia preferida? — Fala me empurrando de leve com a mão esquerda.
— Nunca, eu só estou... — Volto a ser fragilizada.
— Com medo, já saquei. Agora termina de se arrumar logo, jaja o homem da noite chega.
— O sonho da noite.
— Já tá sacando em.
Ruby se direciona às outras meninas.
— Você é ótima, devia tentar ser atriz um dia.
Dou risada da afirmação de Grace.
— Espero que sua resposta seja sim. — Dream diz assim que me sento ao seu lado.
— Você só me fez a proposta, não me explicou como será definitivo, gosto de detalhes.
Ele tenta me tocar, mas me levanto e vou para trás do sofá. Começo a fazer massagem em seus ombros, uma nova forma de evitar ser encostada.
— Meio expediente, cinco mil dólares por mês, de segunda a sexta, na empresa Parker e claro minha presença.
— Você está dizendo a Parker? A maior empresa de arquitetura da cidade?
Estou pensando seriamente em fazer teatro.
— Segunda maior, mas que bom que pensa assim.
Dream passa sua mão sobre meus braços e delicadamente o puxando para que eu voltasse a ficar do seu lado. Sem nenhuma alternativa eu volto para seu lado do qual o deixo tocar em minhas pernas.
Não é fácil o que está acontecendo aqui, eu sentia que queria Dream a todo custo e agora é estranho querer tanto esse homem, pois ele matou pessoas, mulheres inocentes, as iludiu e eu seria a próxima. É confuso só de pensar que já dormi com esse cara e que foi bom, tão bom que eu poderia ter feito várias vezes.
Mas o modo que ele falou comigo naquela noite, como se eu fosse sua propriedade e me deixou aflita, ali começou a confusão dos sentimentos. Minha avó antes de falecer sempre me disse para que eu não fosse tão dependente de homens como ela e minha mãe, por isso descobrir tudo que Dream fez e tudo que Grace me disse naquela noite, me faz acreditar que eu tive sorte de ter ouvido as últimas palavras da minha avó.
— Tentador... Mas, irei poder voltar ao Club sempre que quiser. — Exijo.
— Se for apenas visita...
— Não, eu quero dançar.
— Você não vai fazer isso.
Ele diz tão sereno, continuando a me tocar e como eu odeio ter que ouvir isso calada, mas preciso continuar com a personagem.
— Não seria sempre e eu prometo me comportar, não quero ficar longe das meninas, principalmente da Ruby. Aliás, quero vir às vezes apenas como cliente, quero que todos me sirvam, acesso vip. — Acho que incorporei a pose de madame.
— Quando foi que se tornou essa pessoa? — Ele pergunta sorrindo, como se gostasse desse outro lado, pena que ele não pode conhecer o lado que o daria um belo chute no pênis nesse momento.
— Eu sempre fui assim, só você que nunca viu.
— Tudo bem... Tudo bem, sua condição não me é ruim, podemos partir para algo como uma dança?
— Se me liberar agora, prometo recompensar depois de uma forma bem melhor. — Dou um sorriso.
Para ele não desconfiar chego perto de seu ouvido e lhe dou vários beijos até chegar em sua boca, mordo seu lábio inferior e me afasto lentamente.
— Ok, irei cobrar. — Dream diz baixinho. — Não se esqueça de ir até Layla.
— Você não fez isso de novo? — Pergunto arregalando os olhos.
— Terá de se acostumar com meus mimos, prometo que dessa vez só tem uma bolsa.
Me dirijo à saída e assim que percebi que não estou mais em seu alcance, limpo meus lábios.
Volto ao camarim e Ruby totalmente eufórica vem até mim, obviamente já estava me esperando, não era para ela estar aqui, porém agora sabendo de tudo, faz todo sentido.
— Como foi? Aceitou?
— Claro, ele ainda me deixou vir aqui às vezes para ficarmos juntas! — Transpareço uma grande empolgação.
Noto que se esforça para se empolgar, mas sei que é uma farsa, visto que ela achou que "seus serviços" haviam acabado.
— Que bom! Mas agora eu tenho que ir, meu cliente predileto acabou de chegar, a Babi me avisou.
— Vai lá garota, arrasa.
Ruby deixa a sala e Grace vem até mim.
— O cliente dela tem um B de inicial realmente. — Falo a ela.
Amy sempre foi a minha única amiga e achei que Ruby acrescentaria em minha vida, mas não foi isso que aconteceu. Ninguém nunca viu meu lado sombrio, e se a barra do palco que fica ao meio é a coisa mais importante para ela, vou me esforçar muito para que seja minha.
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