Capítulo 5
Os olhares curiosos faziam a barriga de Jimin se revirar. Nesse momento, ele estava cercado por um grupo com cerca de 20 homens e todos, sem exceção, olhavam em sua direção. Irritado, o jovem tritão bateu a cauda com força contra sua jaula e rosnou para o grupo.
— Abram uma pequena fresta na tampa — Jeongguk ordenou, sem tirar os olhos da criatura — Não sabemos como esse homem-sereia respira, mas não podemos nos dar ao luxo de matá-lo sufocado.
— Sim, capitão! — Os marujos responderam em uníssono, mas somente Hoseok teve coragem o suficiente para se aproximar do tanque.
Sem se preocupar em ser atacado novamente e vendo o quão fragilizada aquela criatura parecia, imaginou que não sofreria nenhum outro ataque. Então, como havia sido ordenado pelo capitão, pegou o livro de bolso que carregava consigo e colocou entre a tampa e a borda do tanque. A fresta criada não era muito grande, mas serviria para a passagem do ar.
— Como vamos fazê-lo cooperar, Capitão? — O contramestre, Min Yoongi, indagou com um semblante confuso. Ele não acreditava que conseguiriam se comunicar com a criatura.
— Essa, certamente, é uma excelente dúvida — Namjoon foi quem respondeu em seu lugar, olhando fixamente para o homem-sereia — Não há dúvidas que existem várias barreiras que podem impedir a nossa busca pelo tesouro, mas a comunicação será a pior delas porque posso lhe garantir, capitão, que nem um dos nossos homens fala a língua dos peixes.
Jeongguk escutando aquilo, revirou os olhos e suspirou pesadamente. Metade do plano tinha dado certo, ao menos isso o deixava contente. Sem se dar por vencido, devido às adversidades do momento, o capitão do Indomável ergueu a cabeça, cheio de orgulho e caminhou, rompendo a barreira de homens ao redor do tanque. De frente para a criatura, ele se ajoelhou para olhá-la diretamente nos olhos.
— Você consegue me entender? — perguntou, olhando firmemente para as íris cinzentas que o encaravam, naquele momento, com uma curiosidade quase infantil.
Por alguma razão, depois de ver o seu rosto, o homem-peixe tornou-se cada vez mais manso, como se estivesse tentando decifrá-lo aos poucos. Se não fosse um homem completamente lúcido, poderia jurar que aquela criatura parecia conhecê-lo, mas Jeongguk nunca tinha visto uma sereia de perto, apesar de tê-las visto de longe.
Mas, em resposta a sua pergunta anterior, a criatura apenas aproximou do o rosto do vidro e o analisou com cuidado e atenção.
— Você me conhece? — perguntou de uma vez, querendo entender aquele comportamento estranho e curioso. Mas novamente, a criatura não deu uma resposta plausível — Porra, não me diga que são surdas também...
Jimin, por outro lado, ainda estava fascinado em encontrar o homem que havia salvado há muito tempo atrás. Certo, olhando de perto, conseguiu notar algumas diferenças, mas ainda havia várias similaridades.
Ele conseguia ouvir atentamente as palavras que o outro dizia, mas pouco entendia seus significados. Então, forçou sua mente a lembrar das falas que ouvia quando nadava perto das embarcações — algo bem frequente na sua vida, visto que desde aquele primeiro encontro quando era um jovem tritão, tornou-se cada vez mais atraído pela espécie terrestre.
Mas no pouco tempo que esteve refém daquele grupo humano, percebeu que assim como em sua vila, existia uma hierarquia bem clara e definida entre eles. Notou também que o líder era, ninguém mais, ninguém menos, do que aquele homem que um dia havia salvado da morte certa.
— Na-não... — O tritão respondeu a primeira palavra que veio em sua mente. Não sabia o significado, nem mesmo se estava pronunciando certo, ou quiçá se ela poderia ser usada naquele momento — Não...
Escutando aquela voz quase doce, hesitante e um pouco rouca, o grupo de piratas se afastaram imediatamente aturdidos.
— Então, ele sabe falar! — O timoneiro, Kim Seokjin, concluiu um tanto admirado.
Ele, diferente dos outros marujos, não gostava daquela ideia mas apoiava o capitão quase cegamente. Agora, olhando curiosamente para a criatura, o Kim se aproximou do capitão.
— Precisamos traçar nossa próxima rota, capitão — Avisou, respirando fundo em seguida — Não acredito que seja uma boa idéia permanecer aqui. Não sabemos se outros deles virão buscar esse peixinho que capturamos.
— Sim, eu penso da mesma forma — Jeongguk concordou, ajeitando o chapéu que usava na cabeça — Seguiremos viagem à noroeste, indo para a ilha Virgin Gorda!
Ouvindo o destino dito pelo capitão, os marujos gritaram eufóricos por terem uma rota traçada, além é claro, de conseguirem cumprir uma parte do objetivo necessário para aquela grande jornada.
— Levantem a âncora, marujos!— O Imediato Kim ordenou, olhando ao redor. Quando os piratas atenderam ao pedido, prosseguiu: — Içar velas! Soltem as amarras!
Jeongguk, assistindo a coordenação de seus homens, se sentiu levemente orgulhoso pela tripulação que tinha. Então, deixando aquela movimentação de lado, o capitão do grandioso Indomável virou-se novamente para a criatura. Percebeu que o homem-sereia parecia intrigado, olhando curiosamente para todos os lados.
Ele quis se aproximar, queria conversar com aquele ser, mas algo o impediu. Não soube o motivo da hesitação crescente em seu peito, mas era impossível evitar aquele sentimento um tanto opressor como o medo. Entretanto, o Jeon não temia a sereia, não, muito pelo contrário...
Jeongguk estava com medo do futuro. Ele, em todos os seus anos como capitão, nunca cometeu um erro que custasse sua embarcação ou a vida de seus homens mas, naquele momento, a incerteza do futuro deixava uma sensação intragável na boca.
Com 29 anos e sendo capitão de um navio há quase dez anos, ele tinha visto todas as coisas inacreditáveis e críveis, estando em alto mar. Sendo pirata, o perigo estava presente em cada parte do oceano, fossem lutando contra a marinha mercante, encarando os seres místicos e até mesmo, guerreando contra homens com os mesmo ideais. Entretanto, aquela era a primeira vez que aceitava partir em uma jornada tão perigosa, colocando tanto a perder.
Talvez fosse o seu sangue e a honra pirata falando alto.
Talvez... talvez fosse culpa daquela ambição desenfreada que consumia o coração de cada pirata existente em todos os sete mares.
Mas agora não era o momento certo de ficar hesitante. Então, Jeongguk tentou recobrar o controle da situação e balançou a cabeça levemente para os lados, tentando dispersar aqueles pensamentos incômodos, totalmente desconfortáveis.
Assim, após todo aquele momento de reflexão, o Jeon caminhou lentamente, mas de forma vagarosa em direção ao tanque onde estava a sereia capturada.
— Você consegue compreender minhas palavras? — Perguntou, após ajoelhar-se na frente da criatura e olhar profundamente nos olhos cinzentos do ser místico. A resposta demorou a chegar e por isso ele suspirou profundamente, totalmente frustrado — Vejo que não consegue me entender — disse, com a voz carregada com desdém.
Jimin, por outro lado, tentava de todas as formas compreender o significado daquelas palavras que lhe eram dirigidas. Sentia que de alguma forma era importante, mas não era uma tarefa fácil aprender outro idioma em poucas horas.
O tritão, se movimentou de forma desconfortável naquela prisão apertada, sentindo-se levemente irritado. Sua cauda estava dolorida de ficar tanto tempo encolhido, a água também estava incomoda e apesar da fresta, pouco oxigênio conseguia chegar aos seus pulmões, deixando-o levemente tonto.
Era difícil ser capturado, ainda mais quando não conseguia se comunicar adequadamente com seus raptores a fim de entender suas razões.
— Iskäs abdah alējas — Jimin falou, após colocar a boca na abertura da prisão. Seu pedido era claro, apesar de ser incompreensível aos ouvidos humanos, dizia "Liberte-me, por favor".
Ele não queria implorar, mas naquela altura, tudo era válido para sobreviver mais um dia e retornar para o recife, para a sua família e amigos
Jeongguk ouviu. Claro que ouviu, mas a careta formada em seu rosto denunciou a sua confusão, implicando o fato de que não entendia nenhuma daquelas palavras esquisitas, num idioma totalmente desconhecido.
— Preciso de cinco homens para levar esse tanque para baixo! — Ele gritou, atraindo a atenção dos homens que estavam ao redor.
— E onde iremos deixar a criatura, capitão? — Indagou Yoongi, o contramestre.
— Deixem-no perto da cozinha, marujo.
— Ótima ideia, capitão! — Kim Seokjin foi quem falou, sorrindo ladino. Sua expressão era audaciosa e Jeongguk esperou por algum comentário sórdido por parte dele, pois suas brincadeiras eram conhecidas por ultrapassarem alguns limites — Se ficarmos sem alimentos, podemos comer o peixinho em último caso.
— Não digas asneiras, Jin — Jeongguk repreendeu, apesar dos outros homens ao redor terem gargalhado, compreendendo o humor do timoneiro.
— É apenas uma brincadeira, Jeongguk — O Kim deu de ombros novamente, sorrindo abertamente — Não precisa levar a sério, sabe que eu odeio frutos do mar.
Ignorando as palavras dele, Jeongguk assistiu Hoseok, Namjoon e outros três homens levantarem o tanque e descerem a escada do convés.
— O que faremos caso a criatura resolva não colaborar com o plano, Jeongguk?
O capitão do Indomável ouviu um de seus piratas perguntar. E aquela pergunta, querendo ou não, caiu pesada bem no fundo da consciência dele.
— Se ele não colaborar, vai morrer — Brien foi quem respondeu prontamente.
Quatro dias depois, a viagem por alto mar estava quase chegando ao destino final, a ilha Virgin Gorda, localizada bem na região noroeste do mar do Caribe. O local, apesar de ser frequentado por piratas, ainda era isolado e seguro o suficiente para ficarem alguns dias, antes de finalmente retornarem ao plano original.
Eles, claro, não planejavam ficar muito tempo ali. Na verdade, o plano era conciso e consistente desde o início: precisavam de um lugar seguro, até conseguirem organizar todas as ideias. Obviamente, fazia sentido eles buscarem por águas mais calmas e longe de qualquer indício do povo marinho.
— Vamos atracar aqui! — Namjoon gritou para a tripulação — Depois de arrumarmos o convés, aproveitem dê um descanso merecido, marujos!
Os homens, ao ouvirem a voz do segundo comandante, urraram alegres e comemoraram sem pausa. Fazia dias que eles estavam exaustos e a verdadeira jornada nem ao menos tinha começado.
Jeongguk, apesar de estar atento ao que acontecia no convés, deu as costas ao grupo e desceu as escadas, indo até o fundo do navio. Seu objetivo era um: visitar o homem-sereia.
Fazia alguns dias que não mantinham contato com a criatura, dono de uma beleza extrema. Afinal, sendo o capitão, seus deveres iam muito além de tentar ser amigável com aquele ser.
Todo o lugar estava escuro. Quase não havia homens ali embaixo, com exceção de um pequeno grupo que se mantiveram acordados na noite anterior, prezando pela segurança do navio durante a vigília noturna.
Jeongguk, obviamente, não esperava encontrar nenhuma reação carinhosa, um sorriso amigável, ou até mesmo, um olhar surpreso ou amedrontado; todavia, foi surpreendente ver sua "sereia" com aquela aparência tão deplorável e vulnerável, após acender um lampião que estava ao redor.
Seus olhos escuros percorreram aquele cômodo nervosamente, enquanto seus pés abriram caminho de maneira ligeira, tão apressada que seus pés batiam pesadamente contra a madeira escura do piso — fosse pelo tempo, ou imundície, não dava para saber ao certo.
Rapidamente, ajoelhou-se diante do tanque e observou o rosto daquela criatura. A respiração do capitão naquele momento era apressada. Seu coração batia desenfreadamente enquanto pensava sobre a situação.
A criatura estava mais pálida do que era possível considerar normal. Seus lábios, que antes possuíam uma bela coloração rosada, agora estavam azuis. Seus olhos cinzentos, que antes possuíam um sentimento de profundidade, estavam completamente desfocados e quase opacos.
Jeongguk, sem compreender o que estava acontecendo, agiu impulsivamente e jogou a tampa do tanque para o lado, fazendo o vidro se estilhaçar no chão de madeira. Rapidamente, o homem jogou metade do corpo pra dentro da água e abraçou aquele corpo gélido e escamoso sem pensar duas vezes.
E ainda sem raciocinar plenamente, apenas buscando a salvação daquela chave importante, puxou-o para fora com toda a força que tinha no corpo, mas tendo o cuidado de mantê-lo dentro de seu abraço apertado.
— Porra! — Ele xingou, rangendo os dentes em frustração e raiva — Acorde! O que está acontecendo? — gritou com a criatura desacordada em seus braços.
Balançando o corpo flácido dele, o Jeon mordeu os lábios com força, arrancando seu próprio sangue no processo. Suas íris escuras fitaram ao redor desesperadamente, procurando por alguém que pudesse ajudá-los.
— Me ajudem! — Gritou, aflito. Seus braços fortes trabalhavam em balançar levemente o homem em seus braços, enquanto olhava fixamente para as escadas — Inferno! Ei! Acorde... eu estou mandando você acordar, porra!
Jeongguk estava pronto para dar alguns tapinhas no rosto da criatura, até que seus olhos capturaram uma reação incrível de metamorfose. Assustado, ele quase deixou aquele em seus braços cair no chão, quando viu a cauda repleta de escamas se desfazer diante de seus olhos.
A pele escamosa parecia papel dissolvido em água, caindo lentamente aos pedaços. A boca do capitão estava totalmente aberta em perplexidade, enquanto assistia a cena com um olhar assustado e aflito. Em seus braços, o pequeno corpo do homem-peixe se encolheu e gemeu suavemente, como se estivesse sentindo um pouco de dor pela transformação.
O Jeon, abismado com a situação, engoliu em seco enquanto observava aquele corpo se transformar em humano. Agora, ao invés da cauda, duas pernas fortes e saudáveis estavam ali, no corpo da criatura. Não havia pelos, nem cicatrizes, apenas uma pele alva, branca e brilhosa coberta por uma camada gosmenta de algo que ele não entendeu o que era.
Além das pernas, o órgão genital masculino também estava presente e agora a criatura não era nada além de um homem comum, apesar da beleza inigualável que certamente, dizia isso com plenitude, não pertencia ao mundo comum.
Jeongguk estava tão absorto naquela análise curiosa sobre o corpo do outro, que nem mesmo percebeu que ele havia acordado em seus braços.
Jimin abriu os olhos alguns momentos depois, sentindo um frio inigualável e uma dor excruciante. Sua respiração naquele momento era apressada e dolorosa. O tritão soube, naquele momento, que havia se transformado pela primeira vez na vida.
Ele estava temeroso e também curioso, por isso, levantou a cabeça que estava apoiada no ombro do humano e encarou as duas caudas esquisitas por um longo tempo em silêncio.
Ele não iria acasalar, então... por que elas apareceram? Era por estar fora da água? Ele não sabia, pouco entendia sobre aquele processo.
— Você... — Jeongguk murmurou rouco e baixinho por causa da proximidade entre eles. Sua mão direita segurava o ombro macio e molhado criatura, enquanto a esquerda estava fixa na cintura curvilínea, o abraçando, mantendo ele perto.
Então, passos apressados foram captados pelos ouvidos de ambos os homens. Jeongguk não teve tempo para digerir as informações daquele acontecimento antes que um grupo grande estivesse ali, os olhando. Alguns dos caras pareciam assombrados e faziam o sinal da cruz, antes de iniciar uma prece silenciosa.
Outros pareciam curiosos o suficiente para se aproximar e até mesmo tentar tocar nas pernas do tritão. E teve alguns que continuaram impassíveis, olhando para a cena com total desinteresse.
Kim Namjoon, o imediato do navio, abriu caminho entre os outros homens da tripulação, e se aproximou dos dois que permaneciam sentados no chão frio. Ele olhou a cena com um tipo de divertimentos nos olhos, antes retirar a própria camisa e jogar sobre o corpo pequeno do ser, cobrindo parcialmente sua nudez.
— Bom, podemos concluir que ele irá andar, a partir de agora — O imediato disse, sorrindo satisfeito com aquela conclusão.
Pensou que talvez a sorte estivesse do lado deles, a partir de agora.
Eu voltei e com sorte, para ficar e finalizar essa história!
Eu sei que muitas pessoas encontraram essa fanfic no tempo que estive longe e estou imensamente feliz por isso!
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Enfim, é isso! Até o próximo capítulo
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