Capítulo 1
Cinquenta anos depois
Mar do Caribe, 1645.
O balanço e o cheiro do mar eram extremamente reconfortantes para Jeon Jeongguk. Sendo um grande pirata de 29 anos, ele era mundialmente conhecido não somente por seus feitos na pirataria, como também por ser o capitão do Indomável, uma das embarcações mais prestigiosas e temidas de todos os setes mares.
Jeongguk, assim como toda a sua tripulação formada por quase vinte homens, tinham a fama de serem implacáveis e impiedosos com todos os seus inimigos. E claro, os marinheiros do Indomável gostavam de fazer jus às histórias que o povo contava a seu respeito.
Eles eram especialistas em saquear mercadores e os postos da marinha, além disso, eles também lutavam contra outros piratas por poder. Mas é claro, ainda havia alguma honra entre os ladrões e por essa razão, não roubavam dos mais pobres.
Nascido em uma família mundialmente conhecida pelos feitos na pirataria, Jeongguk trazia consigo todos os ensinamentos do pai e do avô, que um dia navegaram por todas aquelas águas bem antes dele. Rapidamente, logo após atingir os seus quinze anos, partiu em busca das aventuras que somente os mares poderiam lhe entregar.
Começou de baixo assim como qualquer outro. Limpava o convés, as latrinas, ajudava na cozinha descascando batatas, fazia tudo o que lhe era ordenado pelo capitão do barco em que estava, sem ligar para orgulho ou tecer algum preconceito pelas tarefas que lhe eram incubidas.
Viveu assim por longos sete anos, até que foi subindo gradualmente a cada posto. Aproveitou os frutos de seu trabalho árduo e guardou dinheiro; conquistou aliados e um dia, depois de muito esforço e dedicação à pirataria, conseguiu comprar o seu próprio navio, tornando-se o capitão do Indomável, logo após completar os 22 anos de idade.
O início foi difícil, assim como para qualquer outro homem que desejava viver da pirataria. Seu nome não fazia nem uma mosca tremer de medo, mas sua perseverança e determinação eram fortes o suficiente para abalar as estruturas de todas as ilhas em que colocava os seus pés.
Movia-se pela ânsia de explorar o inexplorável. Queria chegar aos lugares que poucos conseguiam; desejava encontrar os maiores tesouros escondidos e felizmente, sua fiel tripulação partilhava da mesma determinação.
Pouco a pouco, o Indomável foi ganhando mais e mais espaço naquele mundo com o passar dos anos e conforme seus feitos foram aumentando. Seu capitão, apesar de carregar o sobrenome pesado e o legado da família Jeon, trilhou seu próprio caminho, sem depender da influência do pai ou do avô. E Jeongguk se orgulhava muito desse feito.
Queria ser lembrado pelo seu próprio esforço e dedicação, não somente porque era descendente de dois grandes piratas.
Olhando para a imensidão azul do mar, relembrou de todo o caminho que percorreu para chegar até aquele momento. De tudo o que havia enfrentado, os perigos, dos monstros marinhos, aqueles que ouvia falar nas histórias contadas por sua mãe, mas que seus olhos capturaram a imagem deles anos depois, certificando-se de que eles eram reais.
Ainda focado nas águas e nos pensamentos, Jeongguk nem ao menos percebeu a aproximação repentina de seu imediato, Kim Namjoon.
— Está muito pensativo hoje, capitão — Ele disse, sorrindo de maneira debochada.
Ouvindo aquilo, Jeongguk repuxou os lábios num sorriso torto, antes de se virar para olhar o amigo de longa data. E, apenas por costume, sua mão pousou na espada presa na bainha.
— Estamos retornando para casa depois de tantos anos longe — Pronunciou sério, voltando seus olhos para o mar calmo — É claro que isso me deixa pensativo.
— Realmente... — Namjoon falou, com um suspiro cansado — Me sinto nostálgico.
Jeongguk riu daquela informação mas não podia negar que se sentia da mesma forma.
— Em poucas horas atracamos na Ilha de São Martinho... — O capitão murmurou, repassando na cabeça seus próximos passos — Deixe que os homens aproveitem os dias de descanso, mas que estejam sempre preparados para a nossa volta para o mar.
— Não se preocupe. Seus homens querem apenas alguns dias em bordéis e muito rum para encher a cara.
— É, certamente eles precisam — O Jeon concordou, olhando para a feição meio irritada e cansada dos homens no convés.
— Nós precisamos decidir nosso próximo destino — O imediato resmungou, recostando-se na borda do navio — Tenho certeza que conseguimos despistar a marinha mercante, mas eles vão acabar chegando em São Martinho em breve.
— Não se preocupe com isso — Jeongguk disse, balançando a cabeça levemente — Meus planos não incluem ficar por muito tempo, de qualquer forma.
E de fato não incluirá. Na verdade, se não fosse por causa da carta que havia recebido semanas antes, ele não estaria retornando para casa tão cedo. Mas verdade fosse dita, a mensagem enviada por sua mãe Maria, avisando-o sobre a saúde do pai o deixou preocupado. Preocupado o suficiente para deixar tudo de lado e retornar para a ilha.
Os curandeiros diziam que o infame Jeon Minhyuk não sobreviveria até o fim da primavera e por isso, o capitão decidiu voltar para casa. Ele, obviamente, queria ver o pai uma última vez, antes que o pior acontecesse.
E ele torcia para que nada tivesse acontecido durante o tempo que levou para chegar aos mares do Caribe. Não se perdoaria, caso seu medo fosse real. Se conhecia bem o suficiente para entender isso.
Jeongguk já carregava culpa demais consigo, depois de descobrir sobre a morte do avô. Ele era um rapaz de 20 anos quando as notícias trágicas chegaram, no final, nunca se perdoou por não tê-lo visto e falado com ele uma última vez.
Mas o Jeon havia aprendido com os seus erros do passado e não queria repeti-los agora. Por esse motivo, não foi preciso muito esforço para cessar todas as buscas que fazia, a fim de traçar o curso diretamente para a Ilha de São Martinho.
— Estamos no Caribe — Namjoon pronunciou alegremente a frase, com um riso divertido nos lábios — Devemos ir para Tortuga!
— Tortuga? — Jeongguk repetiu, pensativo — Tudo bem. Nosso próximo destino será Tortuga, então.
— Ótimo, agora capitão, o que me diz de mais uma partida de dominó?
— Está preparado para perder mais uma vez, imediato Kim? — Indagou, com a voz carregada com um desdém quase palpável.
— Há! — Namjoon riu — Estou pronto para levar até as suas calças na minha vitória. Prepare-se para a pior derrota da sua vida, meu amigo!
Ouvindo aquela ameaça, a única reação possível do capitão foi gargalhar alto, completamente desacreditado do que tinha acabado de escutar. Ele nunca, em todos os seus 29 anos havia perdido uma partida de dominó e não seria hoje que perderia.
— Terra à vista!
Jeongguk estava focado no mapa que tinha em mãos, quando ouviu a voz do contramestre gritar, atraindo sua atenção completamente.
Levantando os olhos cor de ônix do papel amarelado, fixou sua atenção no horizonte e rapidamente identificou as montanhas da Ilha de São Martinho. O seu antigo lar. O lugar onde havia crescido ao lado da mãe e do avô, enquanto seu pai desbravava o mar juntamente de sua tripulação pirata.
Fazia anos que não voltava ali. Oito anos, para ser mais exato. Por essa razão, todas as suas emoções se misturaram, deixando-o perdido em meio a todas elas. Estava feliz, ansioso, triste, temeroso, amedrontado... não conseguia negar e muito menos esconder, devido a careta desconfortável que exibia no rosto.
— Preparem as velas! — Ordenou, fechando o mapa com brutalidade — Virem o navio a estibordo!
Rapidamente e sob os gritos do capitão, toda a tripulação começou a se mover no convés. Alguns puxavam as cordas, outros cuidavam das velas e aqueles, de baixa posição, rolavam os barris de bebida para fora do caminho dos outros que corriam.
Levou vários minutos, mas finalmente atracaram na baía da ilha. E todos os moradores rapidamente reconheceram a bandeira do Indomável, uma caveira dourada com uma espada e uma pistola atrás. O povo sabia exatamente quem tinha voltado para casa.
Mas apesar de conhecerem toda a fama daquela tripulação, nenhum dos moradores temeu por suas vidas e riquezas. Não, todos ficaram muito felizes quando Jeon Jeongguk desembarcou do navio e logo foram saudar o homem robusto.
Ele tinha crescido naquele lugar, conhecia cada uma daquelas pessoas e devido a história da sua família, os Jeon's tinham contribuído muito para a prosperidade e segurança da ilha, conforme os anos foram passando. Então, obviamente, ninguém ali tinha motivos para os temer, somente para agradecê-los.
— Olhem só o que o mar nos trouxe hoje, rapazes!
Jeongguk ouvindo aquilo, parou imediatamente no lugar e virou a cabeça em direção a voz. Seu rosto sério, suavizou imediatamente quando encarou o senhor que o fitava com braços cruzados.
— Barbosa! — O Capitão cumprimentou o homem com um sorriso de canto — Vejo que continua vivo! Estou surpreso, preciso admitir. Imaginei que estaria morto a esta altura, engolido por algum tubarão.
— Bom, você não está completamente errado, meu garoto — O senhor disse, contendo a risada — Um quase conseguiu esse feito, há alguns anos — falou, apontando para a perna de pau que usava para se locomover.
— Impressionante.
— Para mim, por ter sobrevivido ou para o tubarão que levou minha perna?
— Para você, obviamente.
— Há-há! — Barbosa gargalhou — Nem mesmo um tubarão-branco consegue me derrubar, rapaz! Sou ou não sou o maior pescador do Caribe?
— Sim, com certeza que é.
— Ótimo, era exatamente isso que eu queria ouvir! As pessoas desta ilha estão caducando, tentando me impedir de voltar ao mar!
— "Essas pessoas"? — questionou, olhando com confusão para o velhote.
— Meus filhos, garoto!
— Entendo, talvez eles estejam preocupados com você perdendo a outra perna.
— Ou a vida — Namjoon completou, ao passar pelos dois.
— Besteira! — Barbosa replicou, revirando os olhos — Aquele tubarão me pegou num momento de distração! Se não fosse por esse detalhe, eu teria arrancado os olhos do maldito e bebido o seu sangue!
— Com certeza — Jeongguk forçou-se a dizer — Eu preciso ir... tome cuidado ao entrar na água, senhor. Pode haver tubarões à sua espera.
— Nesse caso, são eles quem têm que tomar cuidado, meu rapaz!
Rindo de leve, Jeongguk acenou para o homem e seguiu seu caminho.
Enquanto andava pelas ruas, conversou com os rostos conhecidos e, apesar da ansiedade de chegar em casa, havia uma parte dentro de si que temia aquilo que o esperava lá. Talvez meu pai já estivesse falecido, ele pensou com pesar. Talvez encontrasse o grande Jeon Minhyuk num estado tão ruim, debilitado e moribundo, que somente essa visão poderia lhe atormentar por meses em seus pesadelos.
Eram muitas possibilidades, não podia negar.
Mas mesmo que tentasse evitar o inevitável, a vila era pequena demais e logo avistou a casinha pequena em que havia crescido junto da família.
A fachada continuava a mesma. Branca, com uma porta vermelha que combinava com o telhado. Sorrindo um pouco, lembrou da infância, de quando era um menino atentado que adorava passar correndo por ali. Jeongguk ainda conseguia ouvir os gritos da mãe chamando-o, enquanto o menino se perdia nas ruas, indo em direção ao porto e esperando de alguma forma, ver a bandeira do navio do pai.
Respirando fundo, o capitão do Indomável encarou a porta vermelha por longos minutos, antes de ter coragem para bater e anunciar a sua volta para casa.
E lá estava ele: o grande Jeon Jeongguk, conhecido por ser um homem implacável em batalha, mas que temia aquilo que estava dentro daquela casinha de telhado vermelho.
Com a mão trêmula, bateu levemente na madeira torcendo para que ninguém abrisse a porta. Assim, poderia negar a realidade que o atingiria de uma forma ou de outra.
Veja bem, ninguém poderia chamá-lo de covarde por temer a morte do pai. Isso era algo completamente natural, afinal de contas, todos os filhos temem esse momento e ele não era diferente.
Mesmo sendo um homem adulto, conhecedor de todos os setes mares; um capitão que enfrentou o perigo várias vezes, chegou perto da morte, a encarou e gargalhou na cara dela, ainda tremia de medo com a possibilidade de seu próprio pai ter falecido enquanto estivesse vivendo suas aventuras ao lado dos companheiros.
Agora ele estava ali, perdido em pensamentos e foi assim que a mãe o encontrou, quando abriu a porta vermelha.
Surpreso, Jeongguk não conseguiu reagir imediatamente quando a mulher diminuta o agarrou num abraço desesperado, cheio de saudade e molhado pelas lágrimas que ela própria derramava sobre os dois.
Levou quase dois minutos para ele corresponder ao afeto e apertá-la em seus braços fortes, devido a todo o trabalho duro de anos atrás.
O cheiro dela era exatamente como se lembrava há alguns anos, mas agora, diferentemente de antes, percebeu que Maria estava mais magra. Seus longos cabelos pretos, tão conhecidos e amado por ele, agora tinha tantos fios brancos que o mais novo não conseguia contar, sem se sentir perplexo e baqueado.
— Meu filho! — Ela disse, entre os soluços enquanto se agarrava as roupas dele — Você voltou, voltou para mim!
— Mãe... — sussurrou, acariciando os cabelos lisos dela — Estou em casa.
— Venha, você deve estar tão cansado... entre! Rápido.
Sentindo-se estranho, o Jeon entrou na casa com passos hesitantes. Tudo estava exatamente como há quatorze anos, quando deixou aquela ilha para ir em busca do seu sonho de ser pirata.
— Olhe só para você — Maria disse, segurando o rosto do único filho entre as mãos — Está tão lindo! Parece tão adulto agora, capitão.
Ele riu e a puxou para outro abraço.
— Senti a sua falta, mãe.
— Eu também senti a sua, meu filho.
— E o papai? — perguntou, mas estava receoso com a resposta que receberia.
— Seu pai... — Maria suspirou derrotada, antes de pegar na mão direita do filho — Os medicamentos têm ajudado com as dores, mas o curandeiro disse que não há muito o que fazer.
— O que ele tem?
— Acreditamos que seja consequência do escoburgo.
A doença dos marinheiros, ele concluiu com um suspiro.
— Onde ele está?
— Está no nosso quarto, meu filho.
— Tudo bem — Ele pronunciou pausadamente, tentando reunir coragem para ver o pai — Irei vê-lo.
Sorrindo para confortar a mãe, Jeongguk respirou fundo e seguiu pelo corredor que dava para os quartos. O dos seus pais era o último, mas pelo caminho passou por aquele que era seu. A porta entreaberta deu ao capitão a visão completa de seu antigo reino naquela ilha.
Curiosamente, empurrou a madeira e entrou no pequeno cômodo. Estava tudo conforme havia deixado, nada tinha sido tirado do lugar e todos os móveis estavam limpos e impecáveis, sinal de que sua mãe continuava limpando por ele, mesmo que Jeongguk estivesse longe de casa.
Sorrindo um pouco, o capitão saiu do cômodo e seguiu para o outro. Não era distante um do outro, por isso com apenas seis passos, ele alcançou o dormitório de seus pais. Respirando fundo, o Jeon segurou a maçaneta, tomou a coragem necessária para abrir a porta e enfrentar o seu maior medo da vida inteira.
Espero que tenham gostado do primeiro capítulo!
Por favor, peço que deixem o voto 🌟
Até a próxima!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top