Capítulo 6 - "Uma terra cheia de vida."
Não era possível dormir naquele calor. A garota pensou virando o resto da bebida alcoólica da garrafa na sua boca e se jogar para trás bufando.
Nadja e Khalil tinham sido obrigados a amarrar panos ao redor do seu rosto e tentaram criar de alguma forma uma sombra. Ainda assim, o Sol tinha atingindo o seu ápice e nada poderia mudar aquilo. Talvez está bêbada, mas não teve o efeito desejado.
- Como você passava o dia na sua travessia?
- Tentava dormir. - ele bufou - Não acho que beber é uma boa ideia.
- Não te perguntei isso.
Khalil riu e respirou fundo, até isso causava dor, cansaço e suor. Suspirou vendo através das pálpebras fechadas a luz forte entrando.
Nadja sentiu o suor em todo o seu corpo. Já tinha feito viagens pelo deserto, porém sempre tinha sido levada por caravanas e casas móveis, onde se escondia nos momentos mais frios da madrugada e os mais insuportáveis do dia. Exposta como eles estavam, parecia ser algo insano!
Mexeu para achar uma posição mais confortável e se arrependeu armagamente disso. Sentiu mais suor descer por suas costas e uma dor de cabeça quase enloquecedora começou. Está vivo era exaustivo e, por algum motivo, o corpo parecia lutar para mentê-la assim.
A mente dela foi para a última viagem e lembrou que estava indo para o reino Ma'an. A primeira e maravilhosa coisa que ela viu quando o deserto acabou foi o mar, quilômetros e quilômetros de água. Zayn, o príncipe, não tinha ideia do que era passar calor ou sede.
- Meu pai falava que aqui era uma terra cheia de vida. O resto da magia ainda permanecia por causa dos antigos habitantes que domava os dragões. - ela apertou a areia nos dedos - Isso é ridículo! Está tudo morto!
- Não acredita nessas histórias?
- Você acredita?
- Não sei o que pensar. - ele riu - Conhece alguma interessante?
Nadja passou a língua nos lábios secos e pensou o que ela poderia falar. Puxou o ar e sentiu a dor do ar seco dentro de si para falar:
- A areia e esse calor faz com que os corpos humanos não se deterioram, ao mesmo tempo que raramente um cadáver vai ser reverenciado aqui. Então, cada vez que um nômade larga um ente querido para trás, uma criatura sem nome e rosto assume a sua forma. - ela sorriu e sentiu o lábio rachando - E mata outros seres humanos para ter um disfarce melhor.
- Seus pais contavam esse tipo de história?
- Meu vovô.
Khalil pensou no velho e na hostilidade de olhares que os dois viviam trocando. Tentou imaginar a garota pequena e com grandes olhos âmbar brilhantes rindo enquanto ele contava uma história. Ainda que fosse uma de terror. Foi estranho.
- Vocês já se gostaram?
- Crianças não tem antipatia.
O rapaz pensou em perguntar, mas já tinha compreendido o quanto a garota não gostava desse tipo de abordagem. Pensou um pouco e lembrou da técnica que ela usava de falar fiado até fazer o outro dizer o que queria. Ele teria capacidade disso? Ela perceberia?
- Teria histórias mais tranquilas?
- Uma terra cheia de vida. - Nadja repetiu - Você só não pode ver. Como em uma caverna antiga, um tesouro só se encontra quando nela entrar. Mas cuidado coração desejoso há pecados que não se pode carregar.
- O que isso significa?
- Não lembro nada além disso. Meus pais morreram quando era muito nova, são poucas e valiosas coisas que carrego deles.
Khalil riu baixo.
- Para quem não conhece lendas deve conhecer muitas.
- Conheço. - ela fez um longo silêncio enquanto passava a língua pelo sangue de seus lábios - Mas não disse que não acredito.
- Nem que acredita.
Durante um longo tempo o barulho do vento fez Khalil crer que a moça finalmente havia caído no sono exausta, mas um sussurro veio até ele.
- Esse é o espírito da coisa.
🔪
Durante vários dias eles cavalgavam desde o momento que o Sol desaparecia, até as primeiras horas da manhã, quando o calor começava a ficar insuportável. Nadja bebia até cair e Khalil tentava entender a moça quase que em vão. O macaco não parecia muito animado com essa rotina, mas todos os dias a moça gastava uma quantidade considerável de água para mantê-lo fresco e de noite passava frio para que ele não sentisse.
Então, quando os suprimentos estavam pela metade uma cidade apareceu no horizonte, os estrangeiros entraram nela. A garota parou o cavalo de forma brusca e xingou bem alto.
- O que foi?
- Essa é Rahah. - ela apontou para as muralhas de pedra - Os governantes odeiam a minha família e fizeram amizade com os estrangeiros.
- Achei que ela era mais distante do que isso... - Khalil admite olhando as estrelas mais uma vez - Podemos dar a volta.
- Não, não podemos. - a moça começou a mexer na bolsa acordando o macaco - Ainda está escuro e não vou olhar eles nos olhos.
A moça amarrou o lenço na cabeça com presa e olhou para Khalil.
- Tem alguma coisa em você que pode fazer eles te reconhecer?
- Não. - o rapaz engoliu seco tentando pensar se sua família tinha algo como os olhos de Nadja.
- Ótimo. - ela deu um sorriso malandro - Marido. Caso eles perguntarem. Estamos tentando encontrar os nômades para...
- Comprar joias por causa de nosso casamento? - ele disse quase rindo.
- Pode ser. - ela bufou - Não tem nada para fazer além dessa cidade, além de morrer no deserto.
- De onde viemos?
- Do reino de Ma'an.
O rapaz concordou com a cabeça e o macaco pulou para o ombro da menina, as primeiras luzes do Sol começaram a parecer e os dois correram até a entrada da cidade. Para Nadja, era ridículo ter que se manter em silêncio e olhos baixos, com um cavalo um pouco atrás de Khalil, mas aquele era o comportamento esperado de uma boa esposa.
Sua cabeça ficava repetindo para si mesma ficar tranquila e não levantar seus olhos de modo algum. Quase que quebrou isso quando Khalil fez os dois soldados, que estavam o questionando, ri.
- Vimos que tinha pessoas importante na nossa frente... - Khalil disse casualmente.
Nadja teve vontade de gritar ou fazer o seu cavalo dar um encontro com o dele, mas isso significava chamar muita atenção para si. Torceu para que os soldados não achasse aquela pergunta muito estranha ou evasiva.
- Sim, os estrangeiros, meu amigo. - um deles riu - A cidade está cheia deles!
- Bem, me preparar para ver aqueles cabelos cor de areia para todos os lados. - Khalil deu de ombros e fez o cavalo entrar pelo vão estreito.
Nadja fez o mesmo e sentiu os olhares dos soldados cravados nela, o Sol estava quase terminando de nascer e ela conteve o impulso de se encolher diante daquilo. Naquele lugar, um passo em falso ela seria a primeira morrer e, estranhamente, naquele momento não estava muito animada para isso.
Assim que estava do lado de dentro, Khalil se voltou para os soldados mais uma vez.
- Desculpa, mas sabe onde posso encontrar um lugar para repousar?
- Claro! - um deles disse sorrindo - Só tem uma pensão na cidade, mas eles sempre dão um jeito de colocar mais gente para dentro!
Ele explicou mais ou menos onde era e os dois começaram a adentrar mais e viram os primeiros sinais de vida da cidade. Homens e mulheres vestido roupas de cores vivas, indo em seus barracas, sentando no chão ou arrumando as mercadorias para o longo dia que ia começar. Duas crianças esfarrapadas passaram na frente dos dois rindo de algo.
- Foi muito estúpido perguntar dos estrangeiros para os guardas! - Nadja resmungou.
- Deu tudo certo.... - ele deu um sorriso que iluminou todo o seu rosto.
Aquilo assustou a moça. Khalil era estranho, principalmente todas as vezes que ela comparava com as pessoas que ela conhecia. Alguém sorrindo de forma tão aberta e honesta era raro, ainda mais desse modo despretensioso. Parte da beleza dele residia ali.
- Vamos tentar acha-los! - ela disse desviando o olhar.
- Acho que isso não seria possível... - Khalil disse olhando para o palácio surgindo aos seus olhos, era pequeno em comparação ao de Nadja.
- Os soldados disseram que só havia um lugar para descansar. - ela levantou a sobrancelha - Não vamos encontra-los só se eles tiverem quem acolherem. O que existe uma chance...
Chegando na pensão, Khalil entrou pedindo um local para os cavalos no estábulo, enquanto Nadja os segurava observando o movimento. De fato, havia muitos estrangeiros pelas ruas, mas diferente de sua cidade, ali eles usavam roupas típicas e pareciam mais relaxados.
- Eles disseram que tinham bastante espaço... - ele riu e dando uma chave com um número - Pode ir entrando que vou colocar esse cavalo no estábulo.
Nadja concordou com a cabeça e entregou as rédeas para Khalil. A parte de dentro do estabelecimento estava cheia de homens, que encararam Nadja quando entrou. Os olhos baixos e o lenço na cabeça foram automaticamente realizados para que seu rostos estivesse mais coberto.
Engoliu seco e subiu os degraus para entrar no quarto. Ninguém poderia vê-la e reconhecê-la, sua cabeça repetia isso várias vezes. Não viu quando o macaco no seu ombro voltou para a bolsa, nem quando tombou com alguém.
- Perdão, senhorita... - um homem com um sotaque muito forte chegou aos seus ouvidos.
A mão clara em seu pulso e o cheiro forte de viagem que chegou indicava quem era o homem. Não respondeu, apenas acenou com a cabeça e entrou no quarto correndo. Encostou as costas na porta do quarto fechado e ouviu os risos dos estrangeiros, falaram alguma coisa, mas Nadja não entendeu.
Seria eles? No fundo ela achava que todos os estrangeiros eram iguais, mas existia essa chance. Além disso, eles tinham um cheiro forte, assim como o dela. Engoliu seco e viu o macaco sair para explorar o quarto animado, podia ser também apenas o medo e ansiedade.
Respirou fundo mais uma vez e disse a si mesma que era ridículo está naquele estado. Já sabia controlar as emoções, não tinha motivo entrar em pânico por algo do tipo, puxou da bolsa o ópio e decidiu acender próxima a janela.
- Os cavalos dos estrangeiros estão no estábulo. - Khalil disse entrando e com uma bandeja de comida - Conversei com o dono do local e eles estão dormindo há dois quartos do nosso.
Nadja manteve o rosto neutro e tomou da mão dele a bandeja para colocar na pequena mesa que ficava no meio do quarto. Pegou de uma mala uma garrafa de álcool e sentou, ainda preocupada de como ele conseguiu essa informação.
- Espero que isso não acabe com nos dois com a garganta cortada!
- Perguntei sobre os cavalos mestiços deles... - Khalil riu - Disse que tinha interesse de comprar, mesmo que os meus fossem de raça pura. O dono começou a falar sobre esses estrangeiros.
- Continuou com a minha posição inicial! - Nadja disse pegando a comida com a mão - Quer dormir primeiro ou eu?
- Achei que nos dois poderíamos dormir? - ele riu - Acha mesmo que eles tenham nos reconhecido?
- Não. Só que não sabemos quando esses caras vão dar o fora! - ela encheu a boca - Tudo bem que eles devem ter que abastecer, mas melhor não arriscar.
- Durma primeiro. - Khalil disse sorrindo - Acho que cair bêbada não descansa.
Nesse momento, a boca de Nadja se encontrava no gargalo da garrafa. Decidiu não descer o líquido pela garganta como tanto planejava, de qualquer forma, o ópio já estava subindo para a cabeça.
- Não vou negar sua proposta. - ela encheu mais a boca e indo para o meio das almofadas - Mas tem certeza que vai ficar acordado?
- Sim, descanse! - o macaco tinha subindo no ombro de Khalil e mexia nos cabelos dele.
- Fique perto da janela! - ela indicou com a mão enquanto deitava.
- Vá dormir!
Em um ambiente confortável e longe do calor insuportável, Nadja não viu quando seus olhos fecharam.
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