vinte e oito

Isla tinha aprendido algumas coisas desde que expandira seu mundo para além da Ilha da Rocha:

Uma delas é que detestava festas chiques. A outra é que adorava festas casuais na praia.

Quando chegou à Malibu naquele fim de tarde com Lino e Sally, todo seu nervosismo se dissolveu assim que colocou os pés na areia. Lino parecia animado com a promessa de algumas horas com os amigos também, mas Sally, que geralmente era a mais animada entre eles quando o assunto era música, dança e bebedeira, tinha ficado calada durante boa parte da viagem.

Isla tentou não se preocupar muito. Ela queria se divertir sem preocupações. Hali a estava encobrindo com a desculpa de que a tinha levado para dormir na casa de uma amiga com ela, então podia relaxar sem medo de ser pega.

Eles se encontraram com Dean, Luke e Zack na praia, que já estavam devidamente servidos com latas de cerveja. Dean sorriu e deu um beijinho no rosto das meninas, exibindo seu colar de flores que alguns adolescentes estavam distribuindo por aí.

- Bem havaiano, né? - ele falou.

- Bem brega, você quis dizer - Zack disse, fazendo uma careta depois de beber um gole de cerveja. - Essa coisa é horrorosa.

- Você é fresco para caralho, sabia? Mas tem água de coco lá atrás. Quer?

Zack assentiu e os dois sumiram em meio às pessoas.

Isla mal respirava. Seu olhar ia de Luke para a areia em intervalos regulares. Queria se atirar nos braços dele. Queria poder beijá-lo sem ter medo que alguém os visse. Depois daquele dia no farol, Isla quase sentia que não havia mais segredos entre eles. Com exceção dos seus.

- Como está o tornozelo? - ela perguntou baixinho quando a música ficou mais alta e Sally conversava com Lino.

- Novinho em folha. Mas admito que estou cansado da vida tentando me derrubar.

Isla riu e Luke brincou com a barra da blusa dela, puxando-a para mais perto.

- Quer ir lá para trás? Perto da fogueira?

- Sally vai notar que a gente sumiu.

- Você ainda não confia nela a respeito da gente? Não acho que ela espalharia pela ilha que estamos juntos.

O coração dela deu um salto.

- Então... Nós estamos juntos?

Luke sorriu de lado e seus olhos azuis gelo ficaram mais escuros.

- Já não era óbvio? Eu disse que nunca mais te soltaria.

A pele dela se arrepiou. Os dedos dele estavam em seu pulso, subindo pelo seu antebraço.

- Isla, para mim isso não é mais mentira.

- Da minha parte, nunca foi.

Ele a olhou com atenção.

- Mesmo antes do nosso acordo, parte de mim já gostava de você - confessou. - E agora eu só gosto ainda mais.

Ele soltou a respiração devagar, como se estivesse perdendo o controle dos pensamentos e de si mesmo.

- Eu quero te beijar.

Ela sorriu, convencida. Gostava do modo como ele parecia louco por ela, como sua pele ficava mais quente quando a tocava.

- A Kombi deve estar vazia - ela disse, se sentindo ousada e viva.

Sem ouvir duas vezes, Luke a guiou pela areia até a rua, onde Mônica estava estacionada. Com um puxão ele abriu as portas e conduziu Isla para dentro. Antes que ela pudesse se virar, ele a abraçou por trás e beijou seu pescoço. Ela suspirou.

Dali, eles podiam ouvir o barulho da festa e do mar ao fundo, mas aos poucos todos os sons sumiram e foram substituídos pelas batidas do coração dela.

Quando Isla precisou se afastar um pouquinho para respirar, Luke riu e beijou com carinho sua testa.

- Vem cá.

Ele puxou uma coberta que estava sobre um dos bancos e a estendeu no corredor da Kombi junto com algumas almofadas. Na ponta dos pés, ele abriu a claraboia que ficava no teto, permitindo que um pedaço do céu já salpicado de estrelas fosse visto.

Isla riu e se deitou no chão com Luke ao seu lado. Ele passou um dos braços por seus ombros e ela deitou a cabeça em seu peito, ouvindo o coração bater. Com um dedo, traçou a cicatriz sobre a camisa.

- Eu fico triste pelo que você teve que passar - ela disse baixinho, olhando as estrelas. - A sua avó, todo o tempo no hospital, Sally... Queria apagar isso tudo.

Luke brincou com o cabelo dela e seu peito subiu e desceu quando respirou fundo.

- Às vezes, eu também. - Ele cobriu a mão dela sobre seu coração. - Mas, por um lado, tudo que aconteceu me trouxe até aqui. E eu admito que queria que tivesse doído menos, que fosse mais fácil, mas me lamentar não adianta de nada. Eu seria outra pessoa se a vida tivesse sido diferente.

Isla se apoiou no cotovelo para olhar para ele. Seu rosto era mais bonito que mil estrelas.

- Eu gostaria de você em qualquer uma das suas versões, Luke Mosheyev.

Ele acariciou o rosto dela com um sorriso.

- Você não preferiria a versão sem um coração defeituoso?

- Seu coração não é defeituoso - ela disse com firmeza. - Ele reflete quem você é. O quanto sente. Por isso quase parou de bater quando perdeu alguém que amava tanto. - Ela encostou a testa na dele, seus narizes se tocando. - E eu amo seu coração.

Acho até que amo você.

Luke fechou os olhos e a beijou. Quando se afastaram, ela percebeu que os olhos dele estavam úmidos.

- Isla, acho que corro o risco de gostar mais de você do que gosto do mar.

Ela riu baixinho.

- Eu nunca vou me sentir mais apreciada que isso, então.

Ela voltou a se aconchegar nos braços dele e olhou para o céu noturno, suspirando satisfeita. Conversaram sobre tudo e nada por pelo menos uma hora, até ele dizer:

- Ainda faltam dois lugares para completar a lista da sua mãe, não faltam?

Ela assentiu.

- Sabe, eu amei ir para cada um deles com vocês, mas parte de mim ainda diz que a minha mãe ficaria contente se eu e as minhas irmãs compartilhássemos essa experiência. Se eu ao menos tivesse coragem para confrontar meu pai...

- Isla, conversa com ele.

- Eu já tentei. Mas ele não escuta. - Ela mordeu o lábio com força. - Já me envolvi em tantas confusões por ele não entender. Tantas mentiras...

Luke a segurou mais perto, só com aquele gesto demonstrando que entendia, que estava ali por ela.

- Você não tem nenhuma lembrança dela? Da sua mãe?

- Não. Ela morreu quando eu tinha um ano.

Ele deve ter notado a emoção na voz dela.

- Quer me contar? Como foi?

Ela engoliu em seco, as estrelas borradas no céu.

- Foi um assalto armado em Los Angeles. Saiu nos noticiários da época. Os bandidos a usaram como refém e... - Ela parou de falar e Luke sussurrou palavras de conforto em seu ouvido. - Minhas irmãs me contam que era para ser uma viagem curta. Ela logo estaria de volta. Mas então aquilo aconteceu. Minha mãe não reagiu, nem tentou escapar, mas a balearam mesmo assim. Conforta só um pouco o fato de os responsáveis por isso estarem presos até hoje.

- Eu sinto muito, Isla. Muito.

Ele enxugou o rosto dela.

- É por isso que o seu pai tem tanto medo.

Ela assentiu.

- Papai ficou doente com a morte dela. Ele era muito aventureiro quando era jovem, mas depois nunca mais quis sair da ilha. Ele nos criou para desejar o mesmo, para só querer o seguro. Mas eu não saí como o planejado.

Luke abriu um sorriso triste.

- Não. Você deu um jeito de atravessar o mar e ver o mundo. Deu um jeito até de me encontrar.

Ela sorriu de volta e olhou para baixo. Não podia dizer que, na verdade, o havia encontrado no meio do caminho entre duas vidas muito diferentes.

- As coisas vão se resolver, Isla. Eu sei. E você vai realizar todos os seus sonhos. Eu só espero ser o cara sortudo que vai estar ao seu lado vendo tudo de camarote.

Não havia mais palavras para ela. Só o que sentia. Por isso o beijou com tudo que tinha nela, e Luke retribuiu com o mesmo fervor.

Poderiam ficar ali para sempre, um nos braços do outro, por mais horas.

Mas, naquele exato momento, com a boca dele na sua e suas mãos em seu corpo, a porta da Kombi foi aberta de uma vez.

Zack cuspiu a Vodka na areia.

- Eu não entendo por que alguém, por livre e espontânea vontade, bebe uma coisa dessas - ele disse com o rosto vermelho, ingerindo o máximo que podia de água de coco em seguida, para tirar o sabor da outra bebida da boca.

Dean riu.

- Você não gosta de álcool mesmo, né?

- Não. Nem um pouco.

Dean deu de ombros e bebeu sua própria batida de morango. Bom, pelo menos ele tinha feito a sua parte tentando introduzir Zack à drinks diferenciados. Infelizmente, agora também era sua responsabilidade garantir que ele não passasse mal como da última vez.

- Vou pegar mais água de coco para você.

- Não, tá tudo bem. - Dean parou no lugar quando Zack o segurou pelo braço. - Fica aqui.

Com as sobrancelhas franzidas, Dean seguiu o olhar de Zack e viu Rudy se aproximar com os amigos. Seus olhares se encontraram e por um momento Dean achou que o babaca viria até eles, mas pelo jeito ele era mais esperto do que pensava e estava cansado de apanhar. Porque Dean acabaria com ele de novo. E socaria aquela cara estúpida mais mil vezes se fosse preciso.

- Não arruma confusão - Zack pediu, e Dean notou que ele estava pálido.

- Eu não vou. Por mais que o babaca do Thompson mereça apanhar até dezembro. - Dean olhou para Zack. - Vou ter que te ensinar a como nocautear alguém, sabia? Não vou estar por perto toda hora.

Zack revirou os olhos.

- Nem tudo se resolve com socos, sabia?

- Tem certeza? Sempre foi uma solução para mim.

Zack riu e o empurrou, abrindo caminho entre as pessoas que bebiam e dançavam na areia. Isla e Luke já tinham sumido há pelo menos uma hora, e Dean vira Sally e Lino conversando perto da fogueira. Não tinha sido a sua intenção passar a festa só com Zack, mas lá estava ele, seguindo-o como um idiota.

- Onde você acha que eles se meteram? - Zack perguntou.

- Quem?

- Isla e Luke, óbvio.

Ele deu de ombros.

- Devem estar conversando em algum lugar.

- Claro, conversando...

Dean sorriu depois de dar mais um gole da bebida.

- Eles estão se pegando, né?

- Com certeza. E há tempão.

- Luke te contou isso?

- Não. Mas não é preciso ter mais que dois neurônios para saber o que tá rolando. Prova disso é que até você percebeu.

- Seu riquinho arrogante...

Dean o empurrou, mas Zack riu e o empurrou de volta.

- O que você tem contra ricos arrogantes?

- Tudo. - Dean chutou areia para cima dele. - São todos insuportáveis, com narizes empinados que nem esse seu. Além de serem muito sem graça.

- Por que você anda com o Luke, então?

- Ele é uma exceção da espécie.

- E por que anda comigo?

- Porque você não sobreviveria em Malibu se não tivesse ajuda.

- Há! Vai nessa!

Zack fez menção de empurrá-lo de novo, mas pareceu perder o equilíbrio, seu corpo pendendo para frente.

- Ei! O que foi?

- Nada. - Zack balançou a cabeça, uma cortina de cabelos pretos caindo sobre seus olhos. - Eu só não posso com álcool mesmo. Um pouquinho e já fica enjoado.

- Se você passar mal, não vou segurar seu cabelo enquanto vomita na privada.

- É claro que não.

Mas Dean estava blefando. E os dois sabiam disso.

Ele suspirou e revirou os olhos.

- Você só dá trabalho mesmo, hein? Cansei de ser sua babá, cara. Vou ligar para o Luke e ele que se entenda com a Isla depois. - Dean o pegou pelo pulso com cuidado. - Vem, aquele quiosque ali tá vazio e tem bancos na parte de dentro.

Eles se afastam do mar. O quiosque era uma construção de madeira com um barzinho no interior. Mas agora o bar já tinha fechado para o dia e o local estava escuro, os bancos e mesas pregados ao chão, vazios.

Zack se sentou em um dos bancos e jogou a cabeça para trás. Dean reparou na pele muito branca do seu pescoço enquanto ele engolia.

- Festas são demais para mim, eu acho - admitiu. - Nunca consegui me divertir em uma.

- Festas são ótimas. Você que é um antissocial esquisito.

- Eu sei.

Dean ficou em pé na frente dele. Estava escuro ali, mas não tanto que ele não conseguisse ver seu rosto.

- Zack?

- Hummm?

- Meu pai vai abrir outra loja de artigos de praia. Os negócios estão indo bem e ele achou um ponto ótimo em uma praia mais ao norte de Malibu. Ele vai precisar de um atendente, alguém que tome conta de lá.

Zack, que estava com os olhos fechados, abriu um deles.

- Como é?

- Você ouviu. Como disse que pretende ficar na cidade e precisa de um emprego...

- Espera um pouco, você tá me oferecendo um trabalho?

- Meu pai, na verdade.

- É sério?

- Porra, claro que é. - Dean abriu um sorrisinho. - Você já conhece meu pai das vezes que foi lá em casa com o Luke, mas ele queria conversar com você de novo para combinarem tudo. Você topa?

Zack se levantou de uma vez.

- É claro que eu topo! Caramba, topo demais!

Ele estava andando de um lado para o outro agora, e Dean não teve alternativa a não ser rir da animação dele.

- Quero só ver o riquinho da cidade grande precisando acordar cedo para trabalhar. Vai ser incrível.

- É claro que você só está me arranjando esse emprego para poder encher o meu saco depois.

- É emocionante o modo como você me conhece tão bem.

Zack riu como uma criança.

- Vou ter a minha vida! Uma longe de todo aquele inferno, onde ninguém me olha como se eu fosse uma espécie de erro. - Ele se apoiou nas grandes do quiosque, os olhos brilhantes. - Não consigo acreditar.

- Você não é um erro - Dean resmungou.

Zack riu baixinho.

- Diz isso para o meu pai.

- Pensei que já tínhamos concordado que o seu pai é um idiota.

Zack se virou para ele.

- Dean, por que tá fazendo isso?

- Isso o quê?

- Me ajudando.

Ele abriu a boca para responder, mas a resposta não veio tão rápido quanto esperava.

- Porque é isso que pessoas decentes fazem?

- Você não é decente.

- E você tem uma língua afiada demais.

Zack deu um passo em sua direção.

- É só que... a gente vive discutindo. O tempo inteiro.

- Não o tempo inteiro. Para de ser dramático.

- Você me detestava.

Dean suspirou. Por que aquele garoto tinha que tornar tudo tão difícil?

- Bem, você é uma pedra no sapato às vezes. Precisamos concordar nesse ponto.

- E você não? Além disso, é cheio de teimosia e orgulho.

- E você é todo superior e arrogante! - Dean se aproximou mais. Não sabia por que, mas suas mãos estavam tremendo. - E você... Você me tira do sério. Me faz duvidar de tudo.

- Duvidar?

- É, duvidar!

Dean correu as mãos pelo cabelo loiro.

- Duvidar até de quem eu sou.

Houve um segundo de silêncio em que tudo ficou suspenso no ar.

- Dean...

- Não fala meu nome.

Ele cerrou as mãos em punhos apertados. Seus ombros tremiam.

Zack deu outro passo na direção dele, mas Dean recuou um para trás, com os olhos fixos no chão.

- Olha para mim - Zack pediu. Dean não se moveu. - Olha para mim.

Devagar, ele ergueu o rosto, e sua expressão atingiu Zack bem no peito.

- Tá tudo bem.

- Não, não tá - Dean disse, mas não conseguia respirar direito. - Eu quero... Eu não...

Zack entendeu tudo, bem naquele momento.

- Você tá com medo - disse, a voz falhando. - Tá morrendo de medo, Dean.

- Eu disse para você não...

- Por quê? - ele continuou, mais alto agora. - Está com medo de querer um cara? Ou de me querer?

Dean segurava a cabeça como se não quisesse ouvir. Mas, naquele instante, uma gota solitária despencou pelo ar e molhou o chão do quiosque.

Para Zack, nada mais importava. Aquele garoto à sua frente estava caindo aos pedaços diante dele. E ele não deixaria aquilo acontecer.

Com a voz rouca de emoção, disse:

- Dean, por favor me deixa...

Mas Zack não conseguiu completar.

De uma vez, Dean veio até ele.

De uma vez, o beijou.

Em um segundo, suas mãos estavam em seu rosto, sua boca na sua. Zack suspirou e bateu contra uma das pilastras do quiosque, o corpo grande de Dean cobrindo o seu enquanto o beijava.

Zack pousou uma das mãos na sua nuca e a outra na cintura, com cuidado, com ternura. Porque Dean já estava queimando o suficiente pelos dois, o beijando como se o mundo estivesse por um fio, tão forte que machucava.

Zack desceu a mão pelos músculos das costas dele, sentiu os cabelos macios com as pontas dos dedos. Queria se lembrar de cada detalhe daquilo, porque era como se o depois não existisse.

Ele sentiu o gosto salgado nos lábios.

- Dean?

Devagar, Dean deslizou suas mãos do rosto para o pescoço dele. Sua cabeça pousou, pesada, em seu ombro enquanto ele tremia.

E Zack sabia que, em parte, eram tremores de desejo. Seu corpo sobre o dele contava tudo o que precisava saber. Mas Dean não conseguia entender aquilo. Não conseguia aceitar.

- Dean, tá tudo bem. Ouviu? Tá tudo bem.

- Eu não entendo. Não entendo nada.

Zack segurou seus ombros e o fez olhar em seus olhos. As lágrimas desciam pelo rosto lindo dele. Aquele rosto que sempre permeava seus sonhos.

- Eu sei o que você tá pensando. Mas não, não tem nada de errado com você.

- Eu nunca... - Dean balançou a cabeça - Nunca pensei que eu...

- Você não precisa dizer. Tá tudo bem.

Juntos, eles deslizaram até o chão do quiosque. Ficaram em silêncio por tanto tempo, que Zack pensou serem horas.

- Zack? - Dean disse por fim.

- Oi?

- Desculpa.

- Pelo quê?

- Eu não devia ter... você sabe.

- Me beijado?

Dean assentiu, o rosto vermelho.

- Não é errado se eu queria também.

Dean, que estava de olhos baixos, os levantou de uma vez.

- Você queria?

Zack sufocou a vontade de zoar com a cara dele.

- Por incrível que pareça, sim.

Dean suspirou. Era como se um peso tivesse saído das suas costas.

- Eu ainda tô tentando entender. Essa voz está na minha cabeça há algum tempo agora, mas eu estava lutando contra ela. Não queria aceitar.

- Isso é normal - Zack garantiu. - Se descobrir é complicado para a maioria das pessoas.

Dean suspirou.

- Eu nunca pensei que poderia... beijar um garoto.

- Então você só quis me usar como sua primeira cobaia?

- Você é um idiota, sabia?

Zack riu baixinho, mas ficou sério depois, tomado por insegurança.

- Você... gostou?

A cada segundo que Dean ficava em silêncio, mais Zack desejava por uma morte rápida.

- Eu acho que sim - ele respondeu finalmente. - Mas tem coisa demais na minha cabeça agora. É como se eu mesmo me desprezasse, um pouco.

Outra lágrima rolou pelo rosto dele.

- Eu sei, Dean.

Zack o puxou para perto.

- Eu quero... outra vez. - Dean suspirou, ainda com medo das palavras, do sentimento. Zack passou os dedos por sua nuca.

- Tudo bem. Aqui ninguém vai ver a gente.

Dean se aproximou. Ele, que era tão confiante, parecia não saber o que fazer.

- Não sei como te tocar do jeito certo - confessou, envergonhado. - Com as mulheres é mais fácil.

- É aí que você se engana. - Zack sorriu contra os lábios dele. - Me toca como você gostaria de ser tocado.

Dean suspirou, as pupilas dilatadas. Ele tomou a boca de Zack na sua, no início ainda inseguro, temeroso, mas aprendendo depressa, aceitando a ideia aos poucos.

E Zack se espantou com o quão rápido ele o reduziu a nada. Dean, que nunca havia tocado em um homem antes, o deixou completamente sem ar.

Mas não era só do seu corpo que Dean tomava posse, mas de todo o resto também. Porque seu coração, antes já entregue, agora parecia para sempre perdido, colocado nas mãos de um garoto loiro e bronzeado do litoral, que o tirava do sério, que ele detestava e adorava na mesma intensidade.

- Seus amigos estão te olhando como se você tivesse enlouquecido de vez - Lino disse enquanto Sally e ele estavam sentados em um tronco perto da fogueira. Havia pessoas bebendo, dançando e se beijando ao redor dela, e apesar de gostar do clima daquela confusão, se sentia desconectada de tudo naquela noite.

Sally ergueu os olhos para os antigos colegas de sala, para as pessoas que sempre estavam com ela quando o assunto era uma festa na piscina ou um passeio de lancha ao redor da ilha, e se sentiu livre. Porque ela não gostava deles. E eles não gostavam dela. Sabia que estavam ressentidos pelo seu afastamento, mas podia apostar que o sentimento tinha mais a ver com as coisas que eles não teriam mais acesso agora que ela rompera aqueles laços, do que com sua companhia em si.

- Acho que posso ter enlouquecido - Sally falou, abrindo um sorrisinho por cima da borda do seu copo. - Certo garoto míope andou mexendo com a minha cabeça.

Lino riu e ajeitou os óculos.

- Você lança flertes como se estivesse lançando facas.

- E eu atinjo o alvo?

- Toda vez.

Ela sorriu para si mesma. Eles estavam assim agora, brincando, flertando (embora a ousadia viesse inteiramente da parte dela) e tentando entender as coisas. Ela gostava dele? Achava que sim. Porque com ele, Sally podia ser quem era. E tudo era tão mais fácil. Tão mais feliz.

Então por que...

- Qual é o problema, Sally?

Ela ergueu os olhos para Lino. O fogo produzia padrões na sua pele escura, acendendo seus olhos e o tornando ainda mais lindo.

- Todo meu acordo com Isla foi para nada. Luke não chega perto de mim, nem quando eu tento. Não consegui conversar com ele.

Lino engoliu em seco e Sally soube que se seus fortes o acertavam como facas, aquela frase havia sido uma flecha direto no seu coração.

- Lino...

- Você se arrepende, então? De ter começado tudo isso? De ter se envolvido com a galera? Comigo?

- Não! Eu... - Ela engoliu em seco. - Eu só sinto como se não tivesse feito nenhum progresso com o Luke.

- Você queria estar com ele. - A frase não era uma pergunta, mas uma afirmação.

Sally não conseguiu responder. Nem ela própria sabia o que queria.

De um lado estava seu passado, as coisas boas que costumava ter com Luke e que jogara fora por puro medo. E do outro... Bem, do outro estava o que poderia ser dali para frente. Algo que ela também evitava pelos mesmos motivos.

Por que não se permitia arriscar? Por que não se permitia se entregar, pelo menos um pouco?

- Eu sou grata por ter conhecido você - ela disse, porque aquela sim era uma das suas certezas. - Lino, eu sou muito grata por realmente ter conhecido você.

Ele ficou em silêncio. E aquele silêncio a reduziu a pedaços ainda menores.

- Mas eu imagino que não seja o mesmo para você. Eu só provei que sou a mesma garota superficial da ilha de sempre. Que toma todas as decisões erradas pelos motivos errados.

- Sally...

Ele segurou a mão dela, fazendo com que seu corpo se arrepiasse. Ela encarou os olhos de Lino, aqueles olhos castanhos profundos e amáveis, que nunca demostravam ódio ou rancor.

- Você não é superficial. É confiante, corajosa e obstinada. É tudo o que eu queria ser e não sou. Além de ser divertida a ponto de me fazer rir como um idiota sempre que estou com você. - Sally sorriu e piscou depressa, porque estava prestes a chorar como uma criancinha. - Mas você também é confusa para caramba. E tentar te entender é tão difícil quanto aquelas nossas antigas aulas de cálculo. - Ela riu e balançou a cabeça. Aquele palhaço. - E eu gosto mais de você do que gostava antes. Te admiro mais agora que te vejo como alguém real, ao invés da garota que eu idealizava desde os treze anos. Mas, mesmo antes, eu já gostava de você. Sempre gostei. Mas eu não posso, eu não vou, implorar por uma chance. Porque eu sei o que eu quero, mas e você?

Sally não pensou.

- Te beijar. Eu quero muito te beijar agora.

Lino a olhou com toda a inocência do mundo, surpreso, e aquilo só a fez se apaixonar ainda mais por aquele menino doce e perfeito.

Então ela o beijou.

Ali, no meio da festa, com seus amigos de alto escalão assistindo como paspalhos. Uma garota deixou um copo cair na areia, outros pararam no meio da conversa para olhar e o cara que estava controlando o som até baixou o volume.

E o mundo inteiro podia estar pegando fogo, que Sally não perceberia.

Quando se afastaram, Lino estava com a boca inchada e o rosto quente.

- Esse foi o melhor beijo da minha vida - ele disse sem ar.

Sally limpou a mancha de batom do queixo dele.

- Como você não teve muitos, vou tentar não me achar demais.

- Ei, quem disse que eu não tive muitos?!

Ela riu e deu um selinho nele. Então se virou para as pessoas do outro lado da fogueira e atirou:

- Perderam alguma coisa?

No mesmo instante todos se dissiparam, a música voltou estalando e as bebidas rodaram.

Sally não conseguia parar de sorrir. Todo o seu mau humor devido ao colar que achara na bolsa de Isla tinha ido embora.

Ela sabia o que iria fazer:

Daria um jeito de conversar com Luke e se desculpar pelo modo como agira anos atrás. Colocaria um ponto final naquela história e faria de tudo para superar. Conversaria com Isla, aliás, elas eram amigas, e devolveria o colar. Sally apostava que havia uma explicação razoável do motivo pelo qual Isla guardava aquilo com ela.

Tudo ficaria bem. Ela tinha feito amigos. Amigos de quem gostava e confiava. Só precisava ajeitar algumas coisas e seguir em frente.

- A gente podia... ir para um lugar mais reservado - ela disse para Lino, o coração batendo forte. Porque ela queria mais dele. Agora que admitia para si o que sentia, queria mostrar o quanto ele estivera na sua cabeça.

- Você age como uma predadora às vezes, sabia? - ele disse, rindo, mas um dos seus braços envolveu sua cintura. - Aposto mil pratas que o cabeção do Dean deixou a Kombi aberta.

Sally soltou um risinho e puxou Lino pela mão.

- Vamos conferir.

Eles correram pela areia e passaram perto de um quiosque meio abandonado. Pararam quando ouviram vozes vindas de lá.

Lino e Sally se entreolharam.

- Nós somos muito fofoqueiros - Lino sussurrou quando entraram em um acordo tácito e se aproximaram para espiar.

Estava muito escuro, mas viram o que parecia ser duas pessoas se beijando no chão do quiosque. Assim que seus olhos se ajustaram, Lino exclamou:

- Puta que pariu!

Sally colocou uma mão sobre a boca dele e os jogaram na areia para não serem vistos.

- Fica em silêncio! - sibilou, enquanto Lino se rebatia debaixo dela com os olhos arregalados. Devagar, ela liberou sua boca.

- Dean e Zack! - Lino disse, sem emitir som. - É o Dean e o Zack!

- Eu sei. Não sou cega.

Lino segurou Sally pelos ombros.

- Como você não está surtando?!

- Porque qualquer pessoa com o mínimo de senso já percebeu que eles estão querendo se pegar há séculos!

- Mas... mas... - Lino levou as mãos ao cabelo. - O Dean não é gay!

Sally revirou os olhos.

- Você sabe que não existem apenas pessoas hétero e gays no mundo, né? Ele pode ser bi.

- Bi?

- É. Vem de bissexual, sabia?

- Eu não sou idiota!

- É idiota o suficiente por não ter notado o lance entre eles. - Sally riu. - Eu sou bi, aliás.

- Eu sei.

- Sabe?

- Já te vi com meninas antes. Eu era um tantinho obcecado por você. Só um tantinho.

Sally sorriu e ajudou Lino a se levantar. Ele espanou a areia da roupa.

- Quem mais sabe?

- Acho que a Isla desconfia. O Luke não deve fazer nem ideia.

- Quando ele descobrir...

- Você não vai dizer nada - Sally ameaçou com um dedo em riste.

- Não vou! Eu só... Uau. Não esperava por isso. Eu achei que eles se odiavam!

- Por isso mesmo. Todo aquele ódio só podia ser amor.

Eles riram e continuaram fofocando como duas velhas do interior enquanto andavam até Mônica. Quando chegaram perto do carro, Lino roubou um beijo de Sally e fez menção de abrir a porta.

Mas parou. Porque ele tinha ouvido o mesmo que ela.

A Kombi não estava vazia.

Sally franziu as sobrancelhas. Dean e Zack estavam no quiosque. E Lino e ela ali. Então...

Sally passou por Lino de uma vez.

- Sally...

Ele a segurou pelo pulso com delicadeza, mas ela se desvencilhou.

De alguma forma, já sabia. Sempre soube. Só se recusava a enxergar como a grande idiota que era.

Idiota. Era isso que ela era. Uma idiota que estava sendo enganada por uma pessoa que chamava de amiga, uma pessoa com quem se importava.

Com um puxão, Sally abriu a porta.

E, ali, no corredor da Kombi, Isla interrompeu o beijo com Luke para olhar para ela.

_______________________❤️_________________

Dedicado a _mariaderbal_

Oii gente, como vocês estão???
Eu sumo, mas volto, viu? Hahaha
Como estou planejando também o conto de Natal desse ano, o tempo anda meio apertado.

Enfim...

Estou MUITO ansiosa para saber o que vocês acharam do capítulo de hoje! Principalmente em relação aos primeiros beijos que rolaram...

E já tivemos o prelúdio de uma treta, hein?

Vejo vocês em breve com mais atualizações dos últimos capítulos do livro!

Um beijo e fiquem bem,

Ceci.

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