trinta e dois

- Cara, isso é tão chique.

Luke olhou para Dean, que estava sendo servido por uma funcionária contratada pela organização do torneio. Ele estava atirado em uma cadeira reclinável na tenda montada para os competidores, bebendo uma limonada gelada no canudinho.

- Promete que quando subir de nível, vai continuar me levando para as suas competições.

Luke tentou sorrir apesar do nervosismo misturado com expectativa. Ele já tinha sido fotografado com alguns dos organizadores da competição perto do palanque. Quanto tempo até que alguém postasse as fotos nas redes sociais e seus pais percebessem que ele estava envolvido naquilo?

Ele só esperava que tivesse tempo suficiente para competir em paz...

Luke estava dando um trato na sua prancha, tentando não pensar nos pais, na condição do mar ou em Isla. Principalmente em Isla.

Ele devia estar doente. Pensar em alguém daquele jeito não era saudável.

Deus, como ele odiava estar apaixonado.

Nunca mais se envolveria daquele jeito de novo. Nunca mais. Morreria solteiro e sem filhos e...

- Você tá legal?

Ele se sobressaltou com a voz de Zack. O amigo, ao contrário de Dean, não estava aproveitando as acomodações da tenda. Na verdade, desde que iniciaram aquela viagem, Zack observava Luke como uma babá preocupada.

- Só um pouco nervoso. - Luke deu de ombros. - O mar está mais agitado do que eu esperava.

Zack abriu um meio sorriso.

- Isso nunca foi um problema para você. Não tem onda que consiga te derrubar.

- Falando assim, vou ter azar. - Mas ele sorriu. - Valeu, Zack. Por... tudo. Você participou de cada fase eliminatória comigo, me ajudou a fugir dos meus pais o ano inteiro em Los Angeles e sempre acreditou que daria certo. - Luke coçou a nuca. Por que era tão difícil se permitir ser sensível com outro cara? - Só... valeu. Valeu, mesmo.

- Não precisa agradecer. Na verdade, sou eu quem devia estar fazendo isso. - Ele suspirou. - Los Angeles teria sido um inferno se a gente não tivesse se conhecido. E esse verão... Caramba, não acredito que estou dizendo isso, mas foi o melhor da minha vida. Eu aprendi a gostar de Malibu. Não quero mais ir embora.

- Que bom, porque você não vai - Dean interferiu da sua cadeira. - Agora tem um emprego, esqueceu? E... Bom, tem amigos também.

Luke ergueu as sobrancelhas.

- Um emprego, é?

Zack assentiu. Por que diabos as bochechas dele estavam ficando vermelhas?

- É. O pai do Dean me ofereceu. Na loja nova.

Luke se levantou.

- Caralho, Zack! Isso é incrível! Por que não me contou?

- Você estava ocupado - Dean disse se aproximando deles. - Chorando pela Isla e tal...

Luke abriu a boca para dizer que não tinha chorado, mas naquele momento um homem de terno e gravata entrou na tenda e disse que a primeira bateria iria começar em dez minutos e que os competidores deveriam ir pra areia.

Meu Deus, vou passar mal.

Dean deu um tapa nas costas de Luke, que pegou sua prancha e a colocou debaixo do braço.

- Esse lugar tá cercado de profissionais - ele murmurou, mais para si mesmo do que para os amigos. - Se eu quero entrar no surfe competitivo, essa é a minha chance...

- Vai dar certo, cara - Dean garantiu. - Você surfa praticamente desde que começou a andar. Relaxa.

- Não é tão simples. Imagina se eu sou expulso de casa por nada? - Luke massageou as têmporas. - Se for para ir parar no olho da rua, que pelo menos seja por algo que eu fiz direito.

- Você não vai morar na rua enquanto tiver um quarto sobrando lá em casa. Ou uma casinha de cachorro. Agora para de cagar nas calças e vai pro mar.

Luke respirou fundo com os olhos fechados.

- Tá bom.

Zack deu um tapinha nas suas costas e Dean o empurrou para fora da tenda. Lá fora, o sol da Califórnia brilhava como nunca, o cheiro do sal do mar e a areia quente sob seus pés o fazia sentir vivo.

Sim, Luke estava com um coração partido, e sim, já tinha se encontrado em posições melhores na vida do que no fundo do poço onde estava agora.

Mas ele ainda podia fazer aquilo. Ele ainda tinha sonhos, vontade e talento.

Além disso, tinha uma prancha sob os pés. Sempre uma prancha sob os pés.

- Puta merda, a gente vai morrer! - Isla gritou, sua voz sendo levada pelo vento conforme Sally acelerava pela PCH.

- A gente vai morrer - Lino repetiu no banco de trás, paralisado e se balançando para frente e para trás. - A gente vai morrer. A gente vai morrer!

Sally riu. Em resposta, acelerou ainda mais.

Isla duvidava que a amiga que tinha emprestado o carro faria algo do tipo de novo quando soubesse que Sally estava prestes a contrair multas de milhares de dólares. A garota corria pela rodovia como se o próprio diabo estivesse atrás deles.

- Você quer ou não chegar até o Luke a tempo? - ela perguntou, ajeitando seus óculos escuros no rosto.

- Quero, mas não dentro de um caixão!

Sally ligou o rádio, mas Isla gritou para ela colocar as duas mãos no volante.

- A competição deve estar sendo transmitida - ela disse. - Tenta sintonizar na rádio de Huntington Beach.

Isla fez aquilo.

Ela estava quase morrendo de nervosismo.

Será que chegaria a tempo de torcer por Luke? Será que ele estava pensando nela tanto quanto ela nele? E se ele não a perdoasse? E se toda aquela correria fosse pra nada?

- Isla, vai dar tudo certo - foi Lino quem disse, ainda agarrado ao cinto com os nós dos dedos brancos, mas mesmo morrendo de medo tentando confortar a amiga. - Você e o Luke vão conversar e vão se resolver.

- Ah, Lino, eu queria ter essa certeza...

- Se continuar com essa negatividade, eu paro aqui mesmo - Sally ameaçou. - Anda, levanta a cabeça e coloca um sorriso nesse rosto.

Isla quis retrucar que era meio difícil sorrir quando se está em um carro prestes a capotar, mas naquele momento ela encontrou a estação de rádio que transmitia o torneio.

Seus ouvidos zuniam em expectativa.

- Daqui a pouco os competidores entram no mar para a primeira bateria do torneio anual aqui em Huntington Beach - o narrador disse, animado - Lembrando para você, nosso ouvinte, que as eliminatórias aconteceram ao longo do ano e hoje estamos assistindo a final do torneio. Quatro jovens talentos brigam pelo troféu deste ano! Vamos ter duas baterias de trinta minutos para cada dupla e aqueles que tiverem a melhor pontuação avançam para a bateria final. Nesse momento, vemos os primeiros dois competidores avançarem para o mar. Temos Daniel Hunt, de vinte anos, e Luke Mosheyev, que com apenas dezoito anos já encara a semifinal da mais importante competição de surfe regional. Atenção... A sirene tocou. A bateria acaba de começar!

- Merda - Sally xingou. - É bom que o Luke não perca de primeira. Ainda podemos chegar para a final. - Ela olhou de esguelha para Isla. - É melhor você apertar o cinto.

Isla não contestou.

Juntos, eles voaram pela rodovia.

O mar não estava para brincadeira.

As ondas vinham em rápida sucessão e eram altas o bastante para que Luke pudesse usar a criatividade nas manobras.

Seu adversário tinha pegado a primeira onda, o que lhe dava prioridade para a próxima. Ele remou contra a maré. Quando a onda veio, girou e pegou impulso, ganhando velocidade. De uma vez, ficou de pé em cima da prancha. A praia ao longe tinha desaparecido para ele, assim como o palanque dos jurados e a multidão que tinha se reunido para assistir.

Nada mais existia.

Só ele e o mar.

Luke estava com os braços abertos, se equilibrando sem problemas. Aquela era a hora da manobra. Garantir uma onda perfeita logo no começo era importante, e ele tinha um repertório vasto...

Sem pensar, redirecionou a prancha para a crista da onda e deu um giro completo em torno de si mesmo, caindo na água e continuando na mesma direção, para o lado da espuma.

Seu coração retumbava no peito.

Ele tinha acabado de realizar um 360º bem sucedido.

Caralho.

Luke pulou da prancha para o mar, remando e assistindo seu adversário fazer uma rasgada simples, mas perfeita.

Luke desviou o olhar. Ele não tinha tempo a perder. No mar, trinta minutos passava rápido demais.

Ele sorriu para si mesmo, felicidade genuína correndo por suas veias.

Ele queria se exibir mais um pouco.

Luke sempre gostou de aéreos. Era a manobra mais linda para ser feita no mar, mas seu nível de complexidade podia ou arrasar sua pontuação ou garantir uma vitória fácil.

Ele tentou pensar.

Já tinha pegado boas ondas, mostrou aos jurados o seu repertório e não caiu nenhuma vez.

O tempo estava acabando. Se quisesse fazer história, aquele era o momento.

A onda veio e Luke tentou se lembrar de todas as vezes que tinha praticado, nas inúmeras horas que tinha assistido em replay os atuais especialistas em aéreos, os brasileiros Gabriel Medina e Ítalo Ferreira, voarem sobre as ondas.

Ele podia fazer aquilo. Se ao menos seu coração batesse em um ritmo mais ou menos normal e o nervosismo não fizesse sua adrenalina atingir níveis estratosféricos...

Luke surfou pela parede da onda. Agora era tarde demais para mudar de ideia.

De uma vez, utilizou a crista como trampolim e girou no ar.

Foi alto demais, e a aterrissagem era sempre o mais difícil. Se caísse agora...

Seu peito doía.

Sua visão ficou turva.

Tudo em um segundo. Tudo enquanto ainda estava no ar.

A transmissão no rádio estava péssima. Caía toda hora e Isla precisava se controlar para não socar o aparelho.

- Quanto tempo ainda falta? - ela perguntou em desespero.

- Só mais um pouco. Vamos chegar durante a bateria dos outros dois competidores. Se o Luke passar dessa fase, vamos estar lá para assistir a final completa.

- Ele parece estar indo muito bem pelo que a gente ouviu - Lino falou, colocando a cabeça entre o espaço dos bancos da frente. - E o outro cara que está com ele, esse tal de Hunt, caiu uma vez.

Luke vai conseguir, Isla pensou consigo mesma, torcendo. Sei que vai.

- É um aéreo que Mosheyev pretende executar? - a voz do locutor berrou na rádio naquele momento. Isla levou as mãos à boca, os olhos arregalados. - Uma coisa não dá para negar: o garoto é ousado. E tem estilo. E lá vai ele, ganha velocidade, pula sobre a onda, faz um giro completo, um giro perfeito e...

A transmissão foi cortada.

- Não!

Os três gritaram ao mesmo tempo.

Sally deu soquinhos no rádio e se amaldiçoou por ter esquecido o celular com Internet ilimitada em casa.

- Não acredito nisso! - Isla reclamou. - Será que ele aterrissou certo? Ouvi dizer que é super difícil se equilibrar depois de um aéreo. E se...

Ela ficou quieta quando o rádio voltou à vida.

- A sirene tocou, sinalizando o fim da bateria, mas parece que temos um problema no mar - o narrador disse, a voz muito menos animada. Houve uma pausa que pareceu durar uma eternidade. - É, temos um problema. Um dos competidores submergiu. O que está acontecendo? A equipe de resgate está a caminho. Meu Deus. Onde ele está?

Isla não sabia o que era medo.

Não até aquele dia.

Ela olhou para Sally, a boca seca, o mundo se afunilando e encolhendo ao seu redor.

Luke.

Ela pensou na cicatriz sobre seu coração, no aparelho de metal que o mantinha vivo.

Não, Deus, por favor, não. Eu faço qualquer coisa, por favor.

A transmissão foi cortada de novo.

Isla estava chorando. Chorando e mexendo no rádio sem parar, suas mãos tremendo tanto que apertava os botões errados.

- Por favor, Luke. Não.

Lino tocou o ombro dela, mas Isla se afastou.

- Sally?!

A amiga mantinha os olhos na estrada, segurando com força no volante.

- Estamos indo, Isla. Fica calma.

Fragmentos de narração vieram até eles.

- O resgate... Tiraram ele do mar. A ambulância está aqui. Os paramédicos correm para...

E a transmissão foi perdida de vez.

______________________❤️__________________

Dedicado à RuteOliveira352
e BeatrizIrlndes1

Oii, gente!

Eu sou má. Perdão.

Essa é minha última semana de aula e pretendo ter tempo para (finalmente) entregar o final do livro para vocês. Enquanto isso, me contem o que acharam desse capítulo! Por que será que sinto uma vibe um tanto hostil aí do outro lado?...

Se você estiver em abstinência com a demora para as atulizações de Canto de Malibu, você pode ficar com o coração quentinho lendo meu conto de Natal enquanto isso rsrs... Ele está quase completo <3

bjs e vejo vocês em breve com a reta final desse livrinho!!

ceci.

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