quatorze

Depois que os meninos finalmente chegaram com a escada, Isla pensou que a partir do momento que deixasse aquela casa da árvore, um pouco de senso voltaria tanto para ela quanto para Luke. Quem sabe quando os dois estivessem com os dois pés firmes no chão, cercados de outras pessoas, a realidade voltaria e os faria perceber que aquele plano de namoro de mentirinha era ridículo.

Isla poderia até rir com ele de toda aquela história. Poderia dar boas gargalhadas de todos aqueles planos e mentiras mirabolantes.

Mas foi só voltar para Kombi e ficar sozinha com Luke em um dos bancos do carro, que ela se deu conta de que ele ainda estava planejando seguir com tudo que tinham combinado.

- Ei, Isla, não quer vir no banco da frente para admirar a vista da cidade? - Dean gritou, sorrindo para ela pelo espelho retrovisor.

Isla revirou os olhos e decidiu entrar na brincadeira.

- Acho que a única vista que você quer que eu aprecie é a sua.

Dean levou uma mão ao coração em um gesto dramático.

- Não seja tão direta. Assim você acaba com todo o meu charme. - Ele virou bruscamente em uma esquina. Isla precisou se agarrar ao banco da frente para não tombar. - Além do mais, desde quando você tem essa língua afiada?

- Ah, você não conhece a Isla mesmo - interferiu Lino, aquele estraga prazeres. - Agora que estamos mais íntimos, vocês não gostariam de brincar com ela. Vão sempre perder.

- Isso não é verdade - Isla tentou se justificar.

- Eu adoraria perder pra você, ruivinha.

Luke lançou um olhar aborrecido para Dean pelo espelho. O amigo de infância pigarrou e voltou a prestar atenção no volante.

- Tem certeza que já não quer contar para todo mundo agora? - Luke sussurrou para Isla. - Assim quem sabe Dean para de dar em cima de você.

- Eu não acho que Dean esteja interessado em mim - Isla falou, e sorriu para si mesma quando algo lhe ocorreu. - Não acho mesmo.

Luke se remexeu no lugar.

- Tudo bem, do jeito que você preferir. Posso contar para eles quando você já estiver de volta à ilha.

- E diga ao Dean...

- Sim, já sei. Se ele nos encher com piadinhas, vou matá-lo.

- Obrigada.

- Disponha.

Eles olharam um para o outro e riram ao mesmo tempo. Luke deitou a cabeça no encosto do banco e ficou olhando para ela. Ele estava contra a luz do sol, e toda aquela claridade tornavam seus olhos azuis ainda mais impressionantes. Isla podia ver cada traço dele, cada mínimo detalhe do seu rosto. E de repente soube que, não importava quanto tempo ficasse sem vê-lo, aquelas feições agora estavam gravadas a ferro na memória.

- Mas, sabe, o nosso namoro de mentira não te impede de ver outras pessoas - Luke disse baixinho, agora evitando encará-la. - Não foi isso que eu quis dizer quando falei do Dean. Só achei que ele abaixaria um pouco a bola.

- Eu sei. - Isla tinha certeza que estava corando. - Também não te impede de ver outras pessoas.

- Você está saindo com alguém? - Luke perguntou de uma vez.

- Não. Você está?

- Achei que a minha situação em cárcere privado fosse resposta o suficiente.

Isla riu e também deitou a cabeça no banco, se virando para olhar para ele. Tentou esconder o alívio que sentiu ao ouvir aquilo em um lugar bem no fundo do seu peito.

- Mas seria estranho, né? - ele continuou, passando uma mão pelos grossos fios do cabelo castanho. - Se alguém em Malibu me visse com outra garota depois que eu te apresentasse para os meus pais. Eles acabariam desconfiando também.

- Bom, acho que no fim depende do quão bem vamos fingir. - Isla abriu um sorriso enviesado. - E não vai ser nada fácil fingir com você.

Ele lhe deu uma cotovelada nas costelas. Ela riu e se afastou.

- Não sei se gosto desse outro lado seu.

- Que lado?

- Um não tão tímido, com uma língua afiada e completo descaso pelos meus sentimentos. Você fere o meu orgulho.

- Achei que se submeter a um namoro de mentirinha já te deixasse com orgulho nenhum.

- Isla!

- Essa é a revanche pelas piadas na casa da árvore. Aguente.

Luke suspirou como um santo em mártir.

- Se a minha namorada mandou...

- Ah, como eu odeio você!

Mas aquilo não era verdade. Não chegava nem perto. E Isla tinha a impressão de que ele sabia muito bem disso.


Luke tinha ligado para a diretora do museu a caminho dali. Como imaginava, foi só ouvir o nome dos seus pais que ela imediatamente disse que acionaria os seguranças de Adamson House para que os deixasse entrar sem problemas.

Era estranho o modo como Luke via seus pais abusarem do seu dinheiro e influência o tempo todo sem nem hesitar, mas quando chegava a vez dele de fazer algo do tipo, se sentia um babaca de primeira.

Mas foi só ver o rosto inteiro de Isla se iluminar ao avistar a grande construção em estilo espanhol para Luke perceber que tinha valido a pena. E que ele faria tudo de novo só para vê-la feliz daquele jeito.

- Tá, por que Adamson House mesmo? - Dean perguntou depois que eles atravessaram o caminho pavimentado que levava até a casa. Os jardins ao redor eram lindos, e Isla tinha tirado tantas fotos só da entrada que ele suspeitava que sua Polaroid já estava ficando sem filme.

- Eu adoro lugares históricos - Lino interferiu quando Dean olhou para Isla em busca de respostas. - Enchi o saco da Isla até a gente vir. E ela é nerd também, então pode apostar que está feliz.

Luke observou Isla lançar um sorriso agradecido para o amigo. Foi só aquilo que bastou para Luke confirmar suas suspeitas de que Lino sabia sobre a lista da mãe dela, e que também faria qualquer coisa para não deixar a amiga desconfortável se ela não quisesse falar sobre aquilo com os outros.

- Talvez esse seja um bom passeio para você - Zack disse a Dean quando eles atravessaram o portão que levava à entrada principal da Adamson House. - Sabe, não seria nada mal colocar algum conhecimento nessa sua cabeça oca.

- Não seria nada mal quebrar esse seu maldito nariz empinado - Dean rebateu na mesma velocidade, fuzilando Zack com o olhar. Ele se virou para Luke. - Me lembra por que você se tornou amigo desse babaca mesmo?

Porque Zack estava sozinho na turma, Luke pensou, porque ele nunca conseguia se aproximar de alguém com a mesma facilidade com que as outras pessoas se aproximavam. Porque ele era bom mesmo tendo todos os motivos do mundo para não ser.

- Te conto outra hora - Luke disse, dando um tapinha nas costas de Dean. - Agora cala essa sua boca antes que a gente seja expulso.

Enquanto eles discutiam, Isla já estava longe. Luke a observou atravessar os portões e admirar a casa de janelas azuis e detalhes em azulejos coloridos, os jardins e a enorme porta de entrada feita de madeira maciça.

Ele deixou Lino, Zack e Dean para trás. A conversa mal passando de um ruído ao fundo quando ele ficou ao lado dela.

- Alguma ideia do por quê sua mãe colocou esse lugar na lista? - ele perguntou, tendo certeza que estava longe o suficiente para que ninguém mais o ouvisse. Isla se sobressaltou, como se estivesse muito perdida em pensamentos para se dar conta da presença dele.

- Eu não sei - ela disse, puxando nervosa a ponta do cabelo ruivo. - Meu pai nunca falou sobre Adamson House comigo. Para ser sincera, ele nunca falou sobre nenhum lugar longe da ilha.

Luke notou a mágoa nos olhos castanhos dela. Seu rosto ficou sério de repente, e ela pareceu muito pequena de pé diante daquela casa enorme. Luke queria dar a ela respostas de coisas que nem ele sabia, só para que aquela expressão fosse embora.

- Quer entrar? - Luke chamou, quando um guia conduziu um pequeno grupo de turistas casa adentro. - É bem interessante lá dentro. E um pouco assustador.

Isla esboçou um sorriso.

- Acha que os antigos donos da casa ainda estão por aí? Escondidos atrás de um armário velho?

- Eu não sei. Mas, se sim, fique sabendo que não vou ser nada cavalheiro quando te usar como escudo humano para me proteger.

Isla revirou os olhos de maneira exagerada.

- Muito charmoso, Luke Mosheyev.

Eles seguiram o grupo de turistas. Os meninos, vendo que estavam ficando para trás, se apressaram também.

A casa toda era mobiliada com móveis requintados e antigos. A grande maioria das paredes era cobertas por azulejos coloridos e chamativos, enquanto os móveis permaneciam em tons terrosos e apagados. Candelabros brilhavam em mesinhas de madeira e ladeavam a lareira em uma sala de jantar. Havia pinturas nas paredes e roupas em perfeito estado de conservação expostas em manequins nos quartos da propriedade.

Luke ouvia o guia contar uma história que já conhecia. Sobre como aquela casa havia sido erguida por Rhoda Adamson e seu marido, Marritt. Rhoda era filha de May e Frederick Rindge, os primeiros proprietários de Malibu, quando aquele lugar era um paraíso isolado entre o mar e as montanhas Santa Mônica.

Por anos, May e o marido viveram em paz ali com os três filhos, mas a beleza de Malibu não conseguiu ser mantida em segredo por muito tempo. Com a era dos automóveis e das autoestradas sobre eles, aquela parte da Califórnia antes tão difícil de acessar foi chamando a atenção de pessoas locais e mais tarde de estrelas de Hollywood. Depois da morte de Frederick, May lutou por décadas para manter seu paraíso particular longe de visitantes e homens gananciosos, mas com a construção da Pacific Coast Highway e a fama subida entre celebridades da época, Malibu logo passou a não pertencer somente a ela.

May ainda era chamada de a rainha de Malibu, apesar de ter vivido o suficiente para ser obrigada a vender e entregar para o Estado mais da metade dos acres de terra que sua família possuía antes.

- A casa foi atingida por um incêndio no século passado - Luke sussurrou para Isla enquanto o guia mostrava um dos quartos de dormir. Ela observava tudo com aqueles grandes e assustados olhos castanhos. - As chamas se espelharam pela costa.

- Malibu sempre está envolvida em algum incêndio - Dean interferiu. Ele tinha erguido um vaso ornamentado de uma mesinha no corredor para observá-lo melhor, mas Zack deu um tapa na sua mão e colocou o objeto de volta no lugar. - Os que se espalham pela terra e entre as pessoas.

- O que diabo isso quer dizer? - Lino perguntou, depois de uma série de espirros por ter mexido em uma das cortinas empoeiradas.

- Quer dizer que as pessoas daqui gostam tanto do mar quanto gostam de algum escândalo - Luke esclareceu. Isla olhou para ele com curiosidade. - É uma cidade pequena, afinal.

- Uma cidade pequena com pessoas ricas e famosas demais para o seu próprio bem - completou Zack.

Eles terminaram o tour pelo interior da Adamson House cerca de trinta minutos depois. O guia deixou o grupo de turistas nos jardins do outro lado da propriedade, dizendo que estavam livres para fotografar e explorar antes que o tempo da excursão acabasse.

Luke observou quando Isla pegou sua Polaroid, tirando fotos de vários ângulos da casa e deles reunidos. Ela caminhou em direção ao mar que se estendia logo ali, além da Malibu Lagoon Beach e seus bancos de areia.

Era como se um ímã o atraísse a ela. Luke observou seu cabelo vermelho ser balançado pelo vento, a silhueta desenhada contra o azul do céu e do mar.

- Essa pose dá uma foto legal - ele disse quando se aproximou. Isla o olhou por sobre o ombro.

- Não estou fazendo pose.

- Ainda sim, dá uma foto legal. - Ele sorriu e segurou a Polaroid pendurada no pescoço dela. - Posso?

Ela o encarou por um segundo, mas então assentiu e o entregou a máquina. Isla voltou a olhar para o mar quando ele deu alguns passos para trás para pegar o melhor ângulo.

- Como eu fico? - ela perguntou, se mexendo.

- Só fica parada aí, como se ninguém estivesse te fotografando.

- Mas tem alguém me fotografando.

- Para de mexer os braços. - Luke riu. - Só fica normal.

- Assim?

- É. Agora olha para o lado. Só um pouco.

Sem lhe dar tempo para se mexer outra vez, Luke bateu a foto.

Isla correu na direção dele para ver como tinha ficado.

- Meu cabelo está parecendo um ninho de passarinho - ela disse depois de uma longa inspeção.

- Está ótimo.

Isla riu, mas dava para ver que não acreditava nele. Luke a entregou a Polaroid junto com a foto. Os olhos dela tinham sido atraídos pelo mar outra vez.

- Quero te ver surfar um dia - ela disse. A declaração surpreendeu Luke, mas de um jeito bom.

- Se o nosso plano der certo, vamos ter algumas oportunidades.

- Você sempre gostou disso?

- Desde os nove, eu acho. Minha avó me deu a minha primeira prancha de surfe e eu aprendi vendo os outros e cuspindo um monte de água salgada. O sentimento cresceu aos poucos. Agora, acho que metade do meu tempo eu fico pensando nisso, na sensação de estar no mar.

- O seu acidente... - Isla hesitou, olhando para os próprios pés. - O acidente que você sofreu há alguns dias não te deixou com medo de voltar?

Luke parou para pensar na pergunta por um momento.

- Não sei. Acho que não. Eu sei que o mar é perigoso, mas ele sempre foi e na maior parte do tempo depende de mim não me meter em uma enrascada enquanto estiver brincando com as ondas. Mas não consigo ter medo da coisa que eu mais amo, não dá.

Isla sorriu e Luke a viu se agarrar com mais força na sua bolsinha.

- Você está legal? - ele perguntou, e sua voz saiu rouca sem querer. Havia uma tensão nela que não estava lá um momento antes.

- Sim. Eu só estava pensando que deve ser bom saber o que você quer com tanta certeza. E lutar por isso de todas as formas possíveis.

- Você não sabe o que quer?

Isla deu de ombros, mas suas sobrancelhas estavam franzidas em concentração.

- Eu... quero completar a lista da minha mãe. Ser mais próxima do meu pai. E ver o mundo.

Luke abriu um sorrisinho e encostou seu ombro no dela, a empurrando de leve para o lado.

- Eu acho que você sabe muito bem o que quer, Isla. E está sendo corajosa por buscar isso.

Ela ergueu o rosto para olhar para ele. Isla tinha sardas espalhadas pelo rosto todo, olhos castanhos grandes e vivos. Luke podia se ver refletido neles, suas sardas o fazia pensar na areia da praia, iluminada pela luz laranja do pôr do sol.

- Acho que não conseguiria sem a sua ajuda.

- Você conseguiria - Luke afirmou. Ele tinha certeza daquilo. - Mas, ei, tenho que admitir que fico feliz em te acompanhar por aí.

Isla sorriu de um jeito lindo, vivo. Algo nela parecia familiar e novo ao mesmo tempo, como descer pela quinta vez em sua montanha russa preferida. Você sabe que já sentiu aquela mesma animação e frio na barriga, mas cada vez acaba se tornando melhor do que a anterior.

- Continue sendo legal assim, e meus pais vão te amar quando almoçarmos juntos.

A cor no rosto de Isla se esvaiu por completo. Se Luke não tivesse ficado preocupado com ela, teria rido.

- Almoçar?

- Tenho que apresentar vocês. É parte do plano.

- Eu sei, mas... - Ela respirou fundo e se encolheu toda. - Deus, estou aterrorizada.

- Olha, eu sei que eles não te deram uma boa impressão aquele dia no Geoffrey's, mas eles não são tão ruins.

- Droga, tinha me esquecido disso! E se eles se lembrarem de mim como a garota que estragou seu almoço em família?

- Tá, isso é um exagero. Você não estragou nada.

- E se eles fizerem um monte de perguntas que eu não souber responder?

- Isla, isso não é nenhum teste de escola. Você não tem que gabaritar nada.

- Mas e se eles me detestarem e te proibirem de me ver?

- Ok. Já chega.

Luke a segurou pelos ombros sem se importar com quem estivesse olhando, dando as costas para o mar.

- Eu vou estar lá com você, ok? Não vou deixar eles te tratarem mal. Eles nem vão te tratar mal, para começar. Você é incrível, esqueceu?

Ela revirou os olhos.

- Tá bom, não precisamos fingir quando estivermos sozinhos.

- Eu não estou fingindo. - Luke tentou não a olhar com raiva. Por que ela não acreditava quando ele dizia coisas legais sobre ela? Eram todas verdadeiras. Cada sílaba. - Só relaxa, tá bem? Vai dar tudo certo.

Isla olhou para a mão dele em seu ombro. Luke a soltou no mesmo instante, sem jeito.

- Tudo bem. Posso fazer isso. - Ela respirou fundo e deu um sorriso que parecia tentar ser corajoso. Luke riu.

Eles já estavam pensando em voltar para ver onde os amigos estavam quando Dean apareceu correndo.

- Ei, Isla. Acho que você vai gostar de ver uma coisa.

Ela e Luke se entreolharam e seguiram Dean quando ele deu a volta na propriedade, voltando para a entrada onde eles tinham começado o passeio. Ali, ele viu Lino e Zack debruçados sobre uma espécie de livro apoiado em uma mesinha ao ar livre.

- O que é isso? - Isla perguntou.

- Parece ser uma espécie de livro de memórias. O Turner perguntou ao guia e ele disse que toda celebração que acontece na Adamson House vai parar no livro. Casamentos, festas de aniversário...

- Eu nem sabia que dava para fazer eventos aqui - Luke disse. - Mas faz sentido. As pessoas devem alugar o tempo todo por conta da paisagem e do espaço.

Isla se aproximou dos amigos. No mesmo instante, Zack e Lino lhe deram passagem.

- Olha, Isla, a gente achou isso. São os seus pais, não são? O Rodrigo mais novo é a mesma coisa do Rodrigo mais velho, só que forte! - Lino riu e apontou para um casal em uma fotografia antiga.

Luke viu choque e emoção tomarem conta do rosto de Isla. Ela levou uma mão ao peito e se curvou para o livro.

- Rodrigo é seu pai? - ele perguntou baixinho.

- É sim. E essa é a minha mãe. Eles... se casaram aqui, pelo jeito.

Luke encarou a fotografia em uma das primeiras páginas do enorme livro. Uma mulher ruiva sorridente vestida de noiva estava de braços dados com um rapaz alto de terno escuro, cabelo penteado para trás e um sorriso enorme. Eles olhavam um para o outro, como se nem se importassem com a câmera que os fotografava. A mulher... Deus, ela era linda. E igualzinha a Isla, só que um pouco mais alta e magra do que a filha.

No rodapé da página, estava escrito:

Michelle e Rodrigo Maciel. 12 de julho de 1992.

- Você não sabia que seus pais tinham se casado aqui? - Zack perguntou a Isla.

- Não sabia. Nunca perguntei.

Luke sentiu um nó na garganta. Agora percebia quantas coisas Isla não sabia sobre os pais. Será que Rodrigo não conversava com ela sobre nada do seu passado com a mãe? Pelo que Isla contou, ele parecia ser um homem traumatizado pela morte da esposa, mas mesmo assim. Ela merecia saber. Merecia ter mais da mãe do que só algumas informações jogadas.

- Ela era muito bonita - Luke disse a Isla. - E se parece com você.

Isla sorriu sem jeito.

- Ela era mesmo. Metade das minhas irmãs é ruiva como ela, e a outra metade igualzinha ao meu pai. Fico imaginando que a pessoa que tirou essa foto teria que dar alguns passos para trás se quisesse capturar a família inteira hoje em dia.

Ela se calou quando a voz fraquejou. Luke não fazia ideia do que dizer, ou fazer. Isla tentou disfarçar uma lágrima.

- Toma - Zack disse então, lhe estendendo um lencinho branco.

Dean o olhou assombrado.

- De onde você tirou essa coisa?

- Do meu... casaco?

- Por que você anda com lenços?

- Sei lá. Parece importante ter um à disposição.

Isla, que estivera enxugando uma lágrima aconchegada nos braços de Lino, soltou uma risada.

- Vocês dois são impossíveis.

- Você não pode esperar que eu veja Turner conjurar um lencinho do nada e passe sem fazer um comentário.

- É só um lenço, caramba!

- Você chora muito por aí?

Zack lhe mostrou o dedo do meio, mas Dean só sorriu convencido, como se ficasse feliz por tirá-lo do sério. Isla devolveu o lenço a Zack com um sorriso doce.

- Obrigada.

Zack tentou sorrir de volta. Ele não sorria muito, e Luke podia apostar que os músculos do rosto deviam até estar tensos pela falta de uso.

- Não foi nada.

O tempo acabou passando rápido demais depois daquilo. Eles deixaram Adamson House para trás e todas as memórias que os pais de Isla podiam ter compartilhado ali. Ela ficou calada durante todo o trajeto de volta ao píer onde o barco estava atracado, e só voltou a sorrir quando Luke pulou da Kombi e voltou com um sorvete.

- Isso vai fazer você se sentir melhor?

Ela riu e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.

- Sim, obrigada. - Ela provou uma colherada cheia de sorvete de flocos, os ombros relaxando no mesmo instante. - Foi um dia incrível. Eu só fico pensando sobre os meus pais e tudo que eu não sei. É o suficiente para desanimar qualquer um.

- Eu sei. Sinto muito. Mas, sabe, foi um dia muito legal para mim.

- Mesmo com todo o incidente na casa da árvore?

- Especialmente pelo incidente na casa da árvore.

- Luke!

Ela parecia dividida entre esconder o rosto de vergonha e empurrá-lo no mar. Luke não se importava com nenhuma das duas alternativas.

- Te vejo em breve para o nosso almoço em família? - ele perguntou quando a acompanhou até o barco. Os meninos tinham ficado mais atrás, discutindo alguma coisa sobre o novo filme de super-herói que tinha saído no cinema.

- Sim. A gente combina por mensagem. - Isla suspirou. - Vou tentar não me matar até lá.

- Não ouse se matar até lá.

Eles se despediram, e quando o barco partiu, Luke o observou do píer como tinha feito daquela primeira vez.

Por mais que quisesse, não conseguiu se afastar até o perder de vista.


O cais da Ilha da Rocha sempre fervilhava com atividade. O som das ondas quebrando contra as pedras da baía, vozes altas dos trabalhadores e o canto estridente das gaivotas era o suficiente para fazer alguém não acostumado com a agitação ficar com dor de cabeça. Montfort podia ser uma cidade pequena e a única em uma ilha que até algumas décadas atrás mal aparecia nos mapas, mas o fluxo de turistas e a quantidade de pessoas que iam e voltavam para o continente por dia acaba tornando o cais um lugar caótico.

Porém, todo aquele barulho, toda aquela agitação, pareceu parar no momento em que alguém virou a esquina, os olhos afiados caindo direto no espaço vazio entre duas lanchas pesqueiras atracadas no píer.

Costumava haver um barco ali. Um barco que, raras vezes, deixava aquele cais.

Mas agora ele tinha sumido, e, com ele, Isla Maciel.

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Dedicado a moreiragabie

Oii, gente!!
Como vocês estão??

Infelizmente não consegui postar no domingo, mas fiz de tudo pra liberar esse capítulo hoje. ❤️

Vcs gostaram?? Quero saber todas as opiniões sobre o que está rolando no livro kkkkkk estou me divertindo mt escrevendo e espero que vcs tbm estejam tendo uma leitura prazerosa!

Vejo vcs em breve!
Bjs,
Ceci.

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