nove
- De jeito nenhum que eu entro aí - Dean disse, colocando os pés em cima do porta-luvas da Kombi e cruzando os braços. - Nem fodendo.
- Tá recusando comida grátis? - Luke perguntou. - Sério?
- Nada no Geoffrey's é grátis. Nem o ar que a gente respira.
- Meus pais vão pagar. Eles te convidaram, lembra?
- Só porque você pediu.
- Não pedi, não.
Zack, que estava jogado em um dos bancos da Kombi com seus fones de ouvido, olhou para Luke.
- Tá brincando? Você praticamente os chantageou.
Luke lhe lançou um olhar aborrecido.
- Você não estava escutando música?
- A bateria acabou. - Zack tirou os AirPods e deu de ombros diante da cara feia de Dean. - O que foi? É verdade. A Sra. Mosheyev disse que você tem tanta classe quanto um trasgo.
Luke pegou a bola de vôlei que estava soterrada na bagunça do carro e jogou em Zack. Infelizmente, errou o alvo por uns bons dois centímetros.
- Às vezes - Luke disse para o amigo - você é melhor calado.
- Como se eu já não soubesse de toda essa merda - Dean falou, olhando pela janela da Kombi. Luke tinha insistido em ir no carro do amigo, enquanto os pais dirigiram até ali no conversível prata que mantinham na casa em Malibu. Nicholas e Sandra tinham acabado de estacionar no amplo pátio do Geoffrey's enquanto os três conversavam. - Nossa amizade é disfuncional, Luke. Meus colegas do colégio me enchem o saco o verão inteiro por eu andar tanto com você.
- Eu deveria me sentir ofendido?
- Pessoas como eu não se misturam com a galera da Carbon Beach. É um fato. Você e o playboyzinho aqui almoçam nos restaurantes caros nos fins de semana e eu faço bicos como garçom nesses mesmos restaurantes sempre que aparece uma vaga.
- Para com essa merda de divisão - Luke pediu, se levantando do banco e dando um tapinha na cabeça de Dean. - Somos amigos. Que se dane o que os outros pensam. Inclusive meus pais.
Dean ainda parecia relutante, mas por fim assentiu.
- Certo. Vamos ver qual é a desse lugar, então. Mas só dessa vez. E fica sabendo que não vale nada o restaurante ser chique se a comida for uma porcaria.
Os três adolescentes pularam da Kombi verde e se juntaram aos pais de Luke. Assim que chegaram ao segundo piso, Dean deu uma espiada nas mesas próximas.
- Sério? Essa é a comida? Não cobre nem metade do prato!
Sandra soltou um arquejo escandalizado e Zack riu quando o casal na mesa torceu o nariz para Dean, o olhando de cima a baixo e arrastando as cadeiras um pouquinho para o lado.
- Ah, essa vai ser uma tarde engraçada...
- A única coisa engraçada aqui é a sua cara, Turner.
Luke se colocou estrategicamente entre os dois. Por mais que quisesse se divertir com uma boa cena, sabia que se os amigos se lançassem um no pescoço do outro no restaurante mais chique da cidade, o resultado seria um possível desmaio vindo da mãe. E, sinceramente, aquela família já tinha visto desmaios o suficiente nos últimos cinco dias.
- Vocês podiam fazer um favor à minha cabeça e pelo menos aturar um ao outro - Luke falou, apelando para o drama.
- Sua cabeça está doendo? - Zack perguntou.
- Agora está.
Eles olharam para o curativo na nuca de Luke ao mesmo tempo, como se para garantir que não estava encharcado de sangue ou algo do tipo. Luke estava detestando andar para baixo e para cima com aquela coisa, mas era melhor do que exibir uma cicatriz nada discreta e ainda sensível por aí. Ele não se importaria em carregar uma marca da sua monstruosa estupidez no corpo se já não soubesse que tinha cicatrizes o suficiente.
Luke esperava encerrar a cota.
- Tenho certeza que você consegue se comportar durante um almoço, não é, Dean? - Sandra falou quando os Mosheyev, Zack e Dean se sentaram à mesa de frente para o mar. - É importante manter a postura em certos lugares.
- Sra. Mosheyev, eu sou um exemplo de decoro e etiqueta - Dean disse com um sorriso charmoso, a insegurança que ele tinha demonstrado no estacionamento desaparecendo por trás de uma máscara. Luke engoliu um palavrão. Ele odiava o modo como os pais tratavam o amigo.
- É mesmo? - Sandra perguntou, torcendo o nariz.
- É claro. - Dean sorriu de orelha a orelha. - A senhora nunca vai conhecer alguém com tanta classe quanto eu. Sei todas as regras. - Ele então abriu o guardanapo com um floreio e com um gesto exagerado o pendurou no pescoço. Luke, que estava bebendo um gole d'água, cuspiu parte na toalha de mesa. - Viu?
Sandra lhe deu um tapinha no ombro e puxou o guardanapo de volta, mas Luke viu que ela também estava se esforçando para não rir.
Seus olhos sem querer foram atraídos para o oceano. Ele queria estar ali na praia com os amigos, ou dirigindo a Kombi de Dean sem rumo por Malibu. Qualquer coisa que desse a sensação de que era livre, pelo menos por um tempo.
Desde que ele voltara para casa do hospital, os pais não tiravam os olhos dele. Luke sentia como se estivesse sendo monitorado por vinte e quatro horas, o que era mais ou menos o que estava acontecendo mesmo. Ele entendia a preocupação dos pais, sabia que tinha agido como um idiota e que quase acabara morto por isso, mas, por Deus, estava prestes a sofrer um colapso!
Todos os seus passos eram vigiados, as saídas por aí tinham ficado para trás e ele precisou esconder sua prancha preferida na casa de Dean para não correr o risco do pai a jogar no lixão. O seu primeiro verão em Malibu depois de completar dezoito anos parecia estar destinado a ser o pior de todos.
E o campeonato...
Merda, Luke não queria nem pensar sobre o campeonato.
The Summer Surf Competition, o evento pelo qual ele tinha se preparado o ano inteiro, sempre fugindo de Los Angeles e se lançando nas praias da costa para que ficasse melhor depois de cada tombo, de cada manobra executada que não chegasse à perfeição.
Como ele podia ter uma chance de ganhar o campeonato, ou de pelo menos ser visto por alguém importante, se não treinasse naquelas últimas semanas? Que chance ele teria contra os outros competidores, a maioria muito mais velhos e experientes que ele?
Tinha acabado. Fim da linha. Ele podia começar a pensar na possibilidade de seu futuro seria tão cinza quanto o do pai, estudando na faculdade de Los Angeles matérias que não tinha interesse, depois passando anos trancado em um escritório na sede da Mosheyev Interprese em uma Los Angeles caótica.
Não tinha mar no futuro de Luke, nem sol nem areia. Não tinha surfe.
Ele engoliu em seco e sacou o celular do bolso. Olhar o oceano era como ter uma faca cravada no peito. Algo que ele sempre almejara. Algo que talvez nunca fosse ter.
Tudo bem?
A mensagem apareceu na tela de Luke. Ele olhou para Zack por sobre a mesa, erguendo uma sobrancelha.
Mais ou menos, Luke digitou de volta. Tô pensando sobre o campeonato. Acho que não vai rolar.
Por quê?
Porque agora eu sou a versão masculina da Rapunzel trancada numa torre.
Zack soltou uma risadinha e Dean olhou para ele. O amigo, sem cerimônia, xeretou as mensagens trocadas pelo celular de Zack.
Você parece mesmo a Rapunzel, Dean digitou depois de criar em um segundo um grupo entre os três. Só falta saber quem vai vir te tirar da torre.
Talvez seja a garota misteriosa do mar, a mensagem de Zack pipocou na tela.
Ah, claro, porque ela é tão real quando a torre imaginária onde Luke está preso...
- Ela é real - Luke disse em voz alta, chamando a atenção dos pais e dos amigos, que abandonaram os celulares.
- Luke? - a mãe falou, uma sobrancelha erguida em questionamento.
- Não é nada.
- A cabeça, Sra. Mosheyev - Dean sussurrou, alto o suficiente para que todos ouvissem, traçando círculos imaginários no ar ao lado da própria cabeça. - Não anda das melhores.
Luke o chutou na canela.
Você devia parar com isso, Zack escreveu. Não vai dar em nada, Luke. Você tentou. Não deu certo. Bola para frente.
Eu não chamaria a minha conversa de dois minutos com a enfermeira de plantão no dia do meu acidente de tentativa, Luke digitou de volta, e ele queria que as palavras transmitissem tanta irritação quanto a que ele estava sentindo. Não vou desistir tão fácil.
Foi uma ligação anônima, Luke. A enfermeira disse que esse tipo de coisa é confidencial. Seja lá quem for a garota que te ajudou (isso se for mesmo uma garota) você não vai conseguir encontrá-la a não ser que ela queira ser encontrada.
- Sem contar que isso não tá te fazendo bem nenhum - Zack sussurrou, largando o celular quando Nicholas e Sandra se envolveram em uma conversa com um casal da mesa ao lado. - Você tinha que se olhar no espelho quando fala sobre essa garota misteriosa.
- É quase como se estivesse apaixonado - Dean completou. - Apaixonado por uma ilusão.
- Essa é a coisa mais ridícula que eu já ouvi, mesmo vindo de você, Dean. - Luke balançou a cabeça e baixou a voz outra vez depois que um garçom veio e foi embora com seus pedidos. - O único motivo para eu querer encontrá-la e para agradecer. Eu não estaria sentado nessa mesa aqui hoje se não fosse por ela. Não vou esquecer isso. - E seu tom dava a conversa como que por encerrada.
Porque, afinal, Luke não conseguiria esquecer nem se quisesse.
A voz da garota vinha para ele em sonhos, noite após noite. Aquele canto se misturava com o som das ondas e os flashes das lembranças daquele dia da tempestade. Mar, areia, canção. Ele tentava afastar a névoa, tentava ver seu rosto todas as noites, mas quando parecia prestes a desvendar o mistério por trás da garota, ele acordava, os lençóis encharcados de suor e a boca seca.
Se ele pelo menos pudesse voltar à ilha... Se fizesse as perguntas certas para as pessoas certas, talvez...
- Boa tarde. Suas bebidas
Ele foi surpreendido pela bandeja prateada diante dos seus olhos. Luke piscou e encarou a garçonete ruiva de rosto sardento parada diante da mesa. Os olhos castanhos se encontram com os dele e o sorriso simpático no rosto dela congelou e se desfez por completo.
Luke se remexeu no lugar, desconfortável.
Caramba, sua aparência de quase morte estava tão ruim assim a ponto de começar a assustar garotas da sua idade? Que humilhante...
- Obrigado - ele falou quando a garota pegou sua limonada da bandeja. Luke se apressou em ajudá-la, percebendo que ela pareceu pálida e trêmula de repente.
Será que estava passando mal? Talvez estivesse há muito tempo em pé servindo as pessoas, ou quem sabe...
Os pensamentos de Luke foram interrompidos quando o copo de vidro escapuliu da mão dela. Em menos de um segundo a limonada que ele pretendia beber ensopava sua camisa.
- Ai, meu Deus!
Luke estava tão atordoado que mal notou o copo se estilhaçando no chão. Os pais se viraram para a garçonete, a mãe já pronta para fazer um escândalo.
- Luke! Ah, Senhor, olha o estado da sua camisa... - Ela começou a se erguer, o rosto vermelho. - Foi a isso que se reduziu o atendimento desse lugar? Talvez eu devesse ter uma conversa com o dono sobre o tipo de gente que anda contratando!
- Mãe, para com isso. Não é nada.
- Eu sinto muito - a garota balbuciou pelo que devia ser a quarta vez em um curto espaço de dois segundos. A palidez do seu rosto foi substituída por um vermelho escarlate. - Me deixa ajudar.
Ela se aproximou para pegar um guardanapo da mesa, mas Luke arrastou a cadeira para trás e a segurou pelo cotovelo.
- Os cacos de vidro.
O chão estava coberto deles, e Luke não tinha certeza se as sandálias de dedo da garota impediriam que ela acabasse se cortando.
O pai e a mãe continuavam reclamando enfurecidos e a garota tremia tanto que era como se a qualquer momento fosse desmontar no chão. Luke se inclinou para ela.
- Você tá legal?
Ela ergueu o rosto assustado para ele, os grandes olhos castanhos refletindo a imagem dele com perfeição.
- Estaria melhor se pudesse sair daqui.
Luke viu um garçom com cara de poucos amigos se aproximar da mesa. A garota se encolheu ainda mais, como se quisesse virar fumaça.
- Eu gostaria de uma água, por favor - Luke pediu ao garçom antes que ele abrisse a boca.
- É claro, senhor. Só me deixe levar nossa nova funcionária para os fundos e...
- A água é para ela - Luke o interrompeu, e não se importou em ser gentil daquela vez.
O garçom assentiu e correu na direção do balcão, voltando um instante depois com a água.
- Toma - Luke disse. - Você parece estar precisando.
A garota pegou o copo das mãos dele, um tanto incerta. Não era como se Luke pudesse culpá-la. Tirando a si mesmo e os amigos, todos naquele maldito restaurante a encaravam com raiva ou chacota.
- Eu já volto - Luke disse aos pais, conduzindo a garçonete na direção do jardim. De alguma forma ele sabia que ela não aguentaria nem mais um segundo daqueles olhares hostis.
- Luke, pelo amor de Deus, deixa a garota ir - o pai falou com desprezo.
- Eu disse que já volto.
E, sem esperar por outra repreensão, Luke a acompanhou para longe dali.
Isla sempre pensou que gostaria de viver até a velhice, mas depois de derrubar um copo inteiro de limonada em Luke Mosheyev na frente da família dele em um dos restaurantes mais requintados de Malibu, ela pensou que talvez sofrer uma morte rápida e indolor não fosse uma ideia tão ruim assim.
Isso se a morte fosse naquele instante. Cair dura no chão e ser impedida de enfrentar aquele constrangimento.
Mas enquanto ainda estava pensando em fazer aquela barganha com quem quer que seja que controlasse o universo, Luke Mosheyev a segurou pelo braço a levou até os jardins, longe de todas aquelas pessoas e seus olhares assassinos.
Agora ela tinha outro olhar sobre ela. Um que, de alguma maneira inexplicável, a deixava ainda mais nervosa do que os dos clientes do Geoffrey's.
- Você tem certeza que está bem? - Luke perguntou quando os dois ficaram sozinhos atrás das sebes altas do jardim.
Não.
- Sim!
Isla bebeu sôfrega sua água, pensando que talvez aquilo a impedisse de falar mais.
Mas Luke esperou, e quando não havia nem mais uma mísera gota no copo, ele disse:
- Sinto muito pela minha mãe e pelo meu pai. Eles são... - o garoto suspirou, como se não conseguisse encontrar a palavra certa - esnobes. Demais.
- A culpa foi minha - ela disse. - Eu não devia ter jogado limonada em você.
Ele abriu um meio sorriso, o que fez Isla congelar no lugar. Aquele sorriso não combinava com as lembranças que tinha dele. Não chegava nem perto.
- Quer dizer que você me molhou de propósito? - ele perguntou, a voz brincalhona. - Não consigo imaginar o que eu possa ter feito para você querer se vingar tão rápido. Geralmente eu levo pelo menos cinco ou dez minutos para irritar uma pessoa.
- Tudo isso? O meu recorde é melhor.
Ele a olhou sem piscar, então riu, o som balançando ainda mais o mundo já frágil onde Isla se encontrava.
- Você é Stephanie, certo? - ele perguntou, seus olhos no avental de Isla, onde o nome bordado em graciosas letras cursivas a identificava.
- Ah, não - ela disse, desamarrando o avental e o jogando na grama. - Foi tudo um grande mal entendido. Eu nem sou garçonete, para início de conversa. E depois do meu show lá trás, não é muito difícil imaginar o por quê.
- Um mal entendido? - Luke Mosheyev franziu as sobrancelhas grossas e escuras. Aquele traço contrastava tanto com seus olhos azuis gelo que Isla ficou tonta. - Parece um dos grandes.
- E é. Eu estava só de passagem quando um funcionário do restaurante me viu e me confundiu com essa tal Stephanie. Aposto que ela é tão ruiva e cheia de sardas quanto eu. Um erro compreensível, mas mesmo assim... - Isla tomou fôlego, percebendo tarde demais que estava tagarelando. - Bom, sinto muito pela garota que sem querer eu roubei o lugar. Depois do que aconteceu com a limonada, não acho que ela vai pisar no Geoffrey's de novo.
Isla olhou para ele, mas prendeu a respiração quando percebeu que Luke a encarava de um jeito esquisito, quase como se...
- Eu te conheço de algum lugar?
Do oceano, ela pensou, mas as palavras ficaram presas na garganta.
Ela podia contar a ele, não podia? Não tinha motivos para não contar. Mas ele a acharia maluca, não acharia? Talvez nem acreditasse nela. E se ele acabasse contando aquilo para outras pessoas? E se a informação chegasse aos ouvidos do seu pai?
Bem, pelo jeito Isla já tinha encontrado alguns motivos para ficar de boca fechada, pelo menos por enquanto. Pelo menos até digerir o fato de tê-lo encontrado de novo por acaso e estar tendo uma conversa com ele. Uma conversa de verdade, não uma criada por sua imaginação nos últimos cinco dias.
- Acho que não - ela falou de uma vez, engolindo seu segredo. - Eu não sou daqui. Sou da ilha.
- Da Ilha da Rocha? - Ela assentiu. - E qual é seu nome de verdade?
- Isla.
Luke ficou em silêncio outra vez.
- Eu sei. Isla da ilha. É ridículo.
Ele piscou depressa e abriu um sorrisinho, como se afastasse outros pensamentos de repente.
- Pelo menos você não tem nome de cachorro.
Isla riu, o nó de tensão na sua barriga se desfazendo um pouco. Luke então deu um passo na sua direção, e ela notou pela primeira vez o curativo na nuca dele.
As lembranças vieram depressa demais.
Um corte, sangue tingindo o mar, molhando seus dedos e descendo pelo seu pulso quando ela o segurou junto ao peito. O sangue que ela precisou lavar na cachoeira antes de ir para casa, o líquido viscoso se misturando com suas lágrimas.
Isla recuou, batendo forte na árvore atrás de si.
- Ei, tudo bem?
Os olhos claros dele a encararam com alarme, e Luke não se aproximou mais. Isla umedeceu os lábios e assentiu.
- Sim. Mas eu preciso ir. Tenho que chegar na El Matador.
Ela viu as escadas escondidas pela vegetação logo ali. Aquele acesso daria na praia, e depois Isla só precisaria dar a volta e encontrar Lino no estacionamento.
Sem cerimônia, ela se livrou do uniforme do restaurante e tirou seu celular do cós do short, onde o tinha escondido.
- Você disse que estava só de passagem - Luke disse de repente, sua voz impedindo Isla de dar o primeiro passo para longe dele. - Mas El Matador fica muito longe daqui se você não tiver alugado um carro.
- Você já esteve lá?
- Um monte de vezes. - Luke Mosheyev franziu as sobrancelhas. - A praia fica a uns dez quilômetros. Você tem um carro, certo?
Isla negou com a cabeça.
- Mas vou dar um jeito - ela disse, mais para si mesma do que para ele. - Eu tenho um amigo esperando por mim no estacionamento. Vamos tentar pegar um táxi.
- Durante a alta temporada? - Luke pareceu não conseguir disfarçar o escárnio em sua voz. - Boa sorte com isso.
- Bem, eu não tenho outra escolha - ela disse determinada. - Não vou voltar à ilha antes de chegar lá.
- Você tem outra escolha. Eu posso te levar. Você e o seu amigo.
Isla o olhou desconfiada.
- Obrigada, mas não precisa. Não quero te incomodar mais.
- Incomodar? - uma voz masculina soou perto dali. - Tá brincando? Luke vai te oferecer dinheiro se você encontrar uma desculpa para ele fugir para praia.
Um garoto loiro, seguido de outro um pouco mais baixo, moreno e carrancudo, surgiu no jardim. Isla prendeu a respiração. Eram os mesmos garotos que ela tinha visto na mesa do restaurante e no hospital no dia seguinte ao acidente.
Luke suspirou audivelmente diante da aparição dos dois.
- Por acaso agora você é minha babá, Dean?
- Se eu fosse sua babá, jamais deixaria você se esgueirar pelos jardins com uma moça bonita, pode ter certeza.
Isla ergueu uma sobrancelha diante do comentário, mas não pôde deixar de sorrir. Aquilo era sério?
O garoto, Dean, se aproximou dela.
- Adorei seu cabelo, aliás. É natural?
- Não responda - Luke avisou. - Se der trela, Dean nunca mais vai parar de flertar com você.
- Eu não estava flertando.
O garoto moreno bufou e cruzou os braços na jaqueta de couro.
- É claro que não. Se isso é flertar, não me espanta que as mulheres pareçam estar desistindo dos homens.
- Cala a boca, Zack.
- Olha, eu agradeço muito pela ajuda - Isla disse, dando outro passo na direção das escadas quando Dean deu um tapa na cabeça do garoto moreno. Ela não tinha certeza se queria fazer parte daquela bagunça, e ficar perto de Luke por si só já a estava deixando confusa e ansiosa o suficiente. - Mas eu dou um jeito de chegar lá. Obrigada.
- Na El Matador? - Isla mal tinha dado meia volta quando a voz de Dean a impediu de continuar. - Fica do outro lado da cidade, pela rodovia! Pode ser perigoso.
- Perigoso como?
O coração dela disparou quando de repente as várias recomendações do pai surgiram na sua cabeça. Segundo ele, podia ter tantas coisas terríveis do lado de fora da ilha... Um milhão de perigos escondidos, prontos para acabar com ela. Isla nunca tinha dado muita atenção àquilo, mas agora que estava ali... Talvez o pai estivesse certo. Talvez ela não estivesse pronta para aquilo.
- Ladrões, motoristas malucos na rodovia... - Dean começou a citar. - E o pior de todos: turistas. Você nunca sabe direito o tipo de maluco que vai encontrar.
Isla suspirou aliviada diante daquele último.
- Eu sou da Ilha da Rocha. Sei lidar com turistas.
- Mesmo assim - foi a vez de Luke dizer, se aproximando dela. - Não custa nada pra gente ajudar.
- Pra gente? - Zack olhou para o amigo. - Eu pensei que Dean e eu daríamos uma carona para ela. Não você.
- Por que ele não pode vir junto? - Isla perguntou. Não que ela estivesse considerando a ideia, não que ela se importasse...
- Luke está em cárcere privado. Por tempo impreciso - Dean contou, mas aquilo não explicava muita coisa.
- Merda nenhuma. Eu vou junto. Mando mensagem para os meus pais no caminho.
- Ótimo, agora vamos os três morrer hoje! Não é como se eu tivesse planos para o fim de semana...
- Para de ser covarde, Dean.
- Covarde? Covarde? Você por acaso já esteve cara a cara com Sandra Mosheyev puta da vida?
- Ela é minha mãe. A vejo puta da vida todos os dias.
Luke começou a descer as escadas até a praia. Isla tentava acompanhar o diálogo dos amigos, mas, para ser sincera, já estava ficando tonta. Nem sabia mais se era uma boa ideia recusar a carona quando Luke parecia tão disposto a ir embora daquele restaurante quanto ela.
- Vocês são estranhos - ela disse mais para si mesma quando os quatro chegaram à praia lá embaixo. - Eu não devia confiar em estranhos.
Luke a olhou e sorriu.
- É verdade. Mas somos os estranhos mais legais que você vai conhecer.
- E os mais bonitos também - Dean disse, se apoiando nos ombros dos amigos e sorrindo para ela daquele jeito cafajeste. - Tirando o Zack aqui.
- Sabe, Dean, você ficaria ainda mais bonito de boca fechada.
Isla riu e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha quando o vento vindo do mar a acertou em cheio.
- Obrigada - ela sussurrou, encarando a areia por um momento antes de erguer o rosto para Luke quando os dois ficaram um pouco para trás. - Pelo que você faz lá trás e pela ajuda.
- Não foi nada - ele disse, e os olhos azuis refletiam o mar.
Não foi nada.
Isla suspirou.
Então por que para ela parecia tanto?
_____________________♥️___________________
https://youtu.be/4Lq3s5saKN0
Música do capítulo, tradução:
Imagine que nós tínhamos tudo
Você poderia prender o trovão
Com suas mãos
E me segurar quando eu caísse
Me segurar quando nada
Fosse de acordo com o plano
Assim envolver seus braços em volta de mim
Bem apertados
E não deixe ir de novo
E eu não sei como você
Me encontrou, mas finalmente
É hora de fugir outra vez
Então fuja, fuja, fuja
Fuja comigo
E deixaremos o mundo para trás
E vamos tornar impossível nos encontrar
Então me procure quando
Brincarmos de esconde-esconde
Fuja, fuja
Fuja, fuja
Comigo
Imagine que nós tínhamos tudo
Cada dedo faria
Ponto para nós
Você terá que confiar em nós
Porque podemos correr e
Foda-se, sim, nós podemos nos esconder
Então fuja, fuja, fuja
Fuja comigo
E deixaremos o mundo para trás
E vamos tornar impossível nos encontrar
Então me procure quando
Brincarmos de esconde-esconde
Fuja, fuja
Fuja, fuja
Comigo
Você não pode amar sem um risco
E deixaremos o mundo para trás
E vamos tornar impossível nos encontrar
Então me procure quando
Brincarmos de esconde-esconde
Então fuja, fuja, fuja
Fuja comigo
Oii, gente!!! Como vocês estão?
Sinto muito pela demora em atualizar o livro, mas eu estava um tanto travada na escrita e demorou mais que o esperado para escrever esse capítulo. Mas agora estou de volta e super ansiosa para saber o que vocês acharam!
Gostaram do "primeiro" encontro da Isla e do Luke? E o que acharam dessa primeira interação dela com o trio de Malibu? Estou muito curiosa para saber!
Nos vemos em breve em um novo capítulo!
Beijos,
Ceci.
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