Eu estava eufórica e preocupada. Nunca tinha trabalhado e estudado ao mesmo tempo, e a ideia de conciliar tudo me deixava nervosa. Mas, para ser sincera, eu estava amando o serviço. Desde que comecei a trabalhar, tenho orado todos os dias para conseguir dar conta do trabalho, dos estudos e, quem sabe, da vida pessoal.

- Como se eu tivesse uma agenda lotada - ri comigo mesma, tentando descontrair.

- Isso tudo é alegria por voltar à faculdade? - A voz de Laís me pegou de surpresa, me fazendo dar um pequeno salto.

- Talvez... - sorri. - Já estou saindo. Fique com Deus.

- Vai com Deus e boa aula pra você. - Ela me deu um abraço rápido e voltei para o caminho.

Eu não queria arriscar chegar atrasada no primeiro dia, então fui direto do trabalho para a faculdade. O ambiente familiar me trouxe uma sensação boa. A faculdade Unievangelica, é dividida por blocos. Cada bloco é uma letra do alfabeto.

Sorri ao passar próximo a biblioteca. Ully dizia que só pela biblioteca valia a pena estudar aqui.

Pessoas andavam de um lado para o outro, algumas acenaram para mim e, sorrindo, entrei na minha sala.

Conversei com alguns colegas até o professor entrar. As aulas do trimestre seriam intensas: recursos humanos, contabilidade e direito administrativo. Só de pensar na parte de exatas, minhas mãos tremiam.

"Jesus, o Senhor vai ter que fazer um milagre!"

Penso, olhando para o céu enquanto esperava o ônibus para voltar pra casa.

No balanço suave do ônibus, o cansaço veio como uma onda. Estava difícil manter os olhos abertos, mas eu precisava aguentar.

Quando chego em casa, encontro minha mãe no sofá, uma manta quadriculada sobre suas pernas, lendo a Bíblia. Seus olhos se voltaram para mim, e seu sorriso habitual deu lugar a uma expressão de preocupação.

- Filha, tudo bem? - A voz dela trouxe lágrimas aos meus olhos. Queria deitar no colo dela, como fazia quando era criança.

- Só cansada, mãe. - Tentei manter a pose. - A vida de adulta não é tão glamourosa quanto pensei.

Ela sorri e coloca a Bíblia e os óculos sobre a mesinha de vidro, antes de vir até mim e me dar um beijo carinhoso na bochecha.

- Deus vai te dar forças, querida. - diz com firmeza. - Estava esperando você chegar. Seu prato está no micro-ondas.

Minha primeira reação foi tentar recusar, mas ela semicerra os olhos, me lançando aquele olhar de quem não aceita "não" como resposta.

- Vai comer sim, depois toma um banho e vai dormir.

Suspiro, acenando em concordância.

Após o jantar, li um versículo e fiz uma rápida oração debaixo das cobertas. Parecia que mal tinha fechado os olhos quando o som irritante do despertador ecoou pelo quarto.

"Senhor, seja minha força... foi só o primeiro dia!"

Oro, enquanto me arrasto para o chuveiro, buscando forças para encarar mais um longo dia.

Sergio

Alguns dias depois, enquanto termino de me vestir, o cheiro de café invade meu quarto. Pego minha pasta e vou à cozinha. No corredor me pego cantarolando mais uma das canções da lista.

Paro a porta e observo dona Margarida se movimentando pela minha cozinha. As bancadas brancas se destacam em meio aos armários pretos. Pães, bolos, biscoitos, café, suco, ovos sobre a ilha central. Amo a forma que essa pequena senhora cuida de mim.

Margarida trabalhou na casa dos meus pais desde que eu tinha sete anos. Foi nela que encontrei afeto, aceitação e amor verdadeiro. Não sei se seria o homem que sou hoje sem seus conselhos. Por isso, quando fui morar sozinho, a trouxe comigo.

Ela vem três vezes na semana. Por ela viria todos os dias, mas não permito. Não tem necessidade. Eu queria que ela se aposentasse, pois já tem 60 anos. Porém não sou louco de tocar novamente no assunto. Um arrepio passa por mim ao lembrar da surra que me deu com o pano de prato. Margarida disse que só se aposenta quando eu me casar e tiver alguém que cuide de mim como mereço.

"Mulher teimosa!" Nem sei se vou me casar um dia.

- Bom dia filho! Se sente e tome seu café direitinho, não vou aceitar você sair correndo sem comer direito. Sorrio com sua voz carinhosa.

- Bom dia mulher da minha vida! Falo indo até ela e deixando um beijo estralado em sua bochecha.

- Guarde seu charme seu mequetrefe! Você está carente demais, precisa arrumar uma boa moça e se casar.

-Está querendo se livrar de mim? Ai! Ouviu esse barulho? Foi meu coração se partindo. - Dramatizo levando mão ao peito.

Margarida solta sua gargalhada rouca. Sua alegria é contagiante. Ela não apresenta a idade que tem. Exala vida... Margarida é uma senhora ativa que ama cuidar das pessoas. Ela divide seu tempo entre sua família e as atividades de sua igreja. Essa que já me convidou para ir milhares de vezes. E eu.

Penso em conversar com ela sobre as músicas que tenho ouvido, mas ainda não me sinto pronto.

- Vou preparar lasanha, nhoque, galinhada e congelar. E não pense que não sei que você deu alguma das comidas para TJ. E sei também que as frutas que deixei foram para o lixo.

Quando criança achava que ela tinha super poderes. E até hoje de vez enquanto penso isso.

- Você tem uma bola de cristal?

- Hoje o senhor está impossível. Deixe de lero lero e me diga como está se saindo a menina Vanusa!

O sorriso que dá ao citar Vanusa me deixa um pouquinho com ciúmes.
" toma tipo Sérgio você é um homem de 26 anos!"

- É impressão minha ou até o tom de voz mudou ao falar dela.

Cruzo os braços e a encaro. E como se fosse possível, o sorriso dela aumenta. E seus olhos me analisam.

- Também te amo, querido. Agora me fala. Tem tratado bem a moça?

- Claro que tenho! - Retruco ofendido. E mordo um biscoito que está maravilhoso.

- Vanusa e uma moça preciosa.

"- É uma moça louca e desastrada isso sim." Murmuro sorrindo e meditando se conto a ela sobre como a conheci, mas logo descarto a ideia..

- O que disse?

- Que ela está indo bem. A Laís tem ajudado ela.

- Outra moça preciosa. Queria que o TJ abrisse os olhos... Termina a última parte baixinho.

- O que? - Me engasgo. Não é possível que eu tenha entendido certo.

- Nada. Preparei uma salada de frutas para você levar para o trabalho. E fiz uma para Vanusa também. Ela me dá aquele olhar que diz;" estou esperando que diga o contrário ."

-Obrigado! Respondo e aproveito o banquete à minha frente enquanto Margarida me fala de sua família.

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Genteee! Eu amo dona Margarida ❤️
O que acharam dessa interação?