dificuldade

Eu mal conseguia focar nas páginas à minha frente. Eram quase três da manhã, e os livros e anotações estavam espalhados em uma bagunça caótica sobre a escrivaninha. A luz do abajur era a única coisa que quebrava a escuridão do quarto, enquanto o silêncio da madrugada pesava em meus ombros, junto com o cansaço que parecia crescer a cada minuto.

havia começado a trabalhar recentemente e tentava equilibrar o emprego com as provas da faculdade. A cada linha que lia, a mente parecia fugir para o medo de fracassar. O telefone vibra, quebrando o silêncio. Suspirando  pego com as mãos trêmulas. Era uma mensagem de Laís:

"Oi, amiga. Como você tá? Espero que esteja tudo bem. Boa noite!"

Tento ignorar o peso que sentia no peito, mas acabo apertando o botão de chamada, precisava desesperadamente ouvir uma voz amiga.

— Alô, Nuza? — A voz de Laís soa tranquila, mesmo que um pouco sonolenta.

— Sim... Não... —  suspiro, olhando para a confusão de livros, apostilas e xícaras vazias de café na mesa. — Acho que não vou conseguir, Laís.

As palavras saíram como um desabafo, acompanhadas por um soluço que  não consegui conter. As lágrimas começaram a rolar silenciosamente , enquanto seguro o telefone com força, como se aquilo pudesse aliviar a angústia.

— Ei, calma. — A voz de Laís era firme, mas doce. — Você é inteligente, amiga. Filha do Rei dos reis. A Bíblia diz em Tito que, se precisamos de sabedoria, é só pedir. Lembra?

Fecho os olhos, sentindo o calor das palavras da amiga envolvendo meu coração. Era como se algo dentro  finalmente tivesse encontrado descanso. Me esqueci do essencial: não estava sozinha nessa jornada. Por mais que a pressão parecesse esmagadora, havia Alguém muito maior sustentando tudo.

— Estava me sobrecarregando tanto... —  murmuro, limpando as lágrimas. — Esqueci de entregar minhas preocupações aos pés dEle.

— Isso. Você fez sua parte, estudou, se esforçou. Agora é hora de descansar, confiar e colocar tudo no altar. Toma um chá de camomila, vai dormir. Amanhã vai ser um novo dia.

Meu peito ficou mais leve, como se aquela angústia que a esmagava tivesse se dissipado de repente.  Respiro fundo, finalmente sentindo paz.

— Obrigada, Laís. Eu precisava mesmo ouvir isso.

— De nada. Agora eu vou desligar, preciso dormir. A beleza, você sabe...

A risada escapa, a primeira em horas.

— Boa noite, sua vaidosa.

— Boa noite, amiga. Vai dar tudo certo, confia!

E com isso, o silêncio da madrugada voltou, mas dessa vez, sem o peso. Com firmeza fecho os livros, vou fazer o chá que Laís havia sugerido e, pela primeira vez naquela noite, senti que conseguiria dormir em paz. Amanhã seria um novo dia, e  sabia que não estava sozinha.

            🎶🎶🎶🎶🎶🎶🎶

— Pare de roer essas unhas, Vanusa!
Repreendo-me e sorrio, lembrando de quando era criança. Minha mãe ameaçava passar pimenta nas minhas unhas, e eu respondia que amava pimenta. No final, acabávamos gargalhando. Bons tempos, suspiro.

O som de notificação do meu celular me traz de volta. Desbloqueio a tela e abro o e-mail imediatamente. Mal respiro. Arregalo os olhos e, em um sussurro, agradeço:

— Obrigada, Deus... Consegui! Além da nota que precisava.

Sinto a emoção invadir meu peito, e meus olhos ficam úmidos. Um sorriso explode no meu rosto enquanto encaro os números na tela. Uma música surge na minha mente. Incapaz de me conter, salto da cadeira e começo a cantar, meu corpo entrando em sintonia, dançando num vai e vem.

Meu coração transborda gratidão.

— Fazendo festa e nem me convida?

Paro de dançar na hora.

— Minha nossa! — levo a mão ao peito ao reconhecer a voz de Laís.

— Consegui, amiga! — grito e corro para abraçá-la.

— Sério, Nusa? Parabéns! — Ela me abraça apertado, e começamos a pular como pipoca. Laís sabia o quanto eu precisava dessa nota, pois orou e estudou comigo durante várias noites.

— É uma comemoração particular ou podemos participar?

Meu coração erra uma batida. Ao olhar em direção ao elevador, vejo o senhor Sérgio e TJ nos observando.

— A Vanusa conseguiu a nota que precisava na prova da faculdade — responde Laís, sempre mais extrovertida do que eu.

— Não sabia que estava com dificuldade — diz meu chefe, cruzando os braços e inclinando levemente a cabeça, me analisando.

— Não precisa se preocupar. Graças a Deus, tudo já se resolveu — respondo, sem jeito, desviando o olhar. Sempre que ele me encara assim, não sei como reagir.

— Isso merece uma comemoração — TJ anuncia, esfregando as mãos com um sorriso ladino que me faz desconfiar das suas intenções.

Preparo-me para negar, mas Laís se adianta:

— Isso mesmo!

— Isso? — questiono, franzindo o cenho em sua direção.

— Quando sairmos, vamos tomar sorvete!

— Sorvete? — TJ resmunga, incrédulo.

— Sim! Abriu uma sorveteria do Cerrado, e estou louca para experimentar!

A expressão de TJ é impagável. Sérgio tenta segurar o riso, mas eu já estou salivando só de imaginar aquelas delícias geladas, cremosas, com muita calda.

— Nem pensar!

— Boa ideia, estou dentro —  declaro ao mesmo tempo que TJ rebate.

— Problema seu! Vanusa concordou, então vamos nós duas — Laís bate palmas, virando-se para mim antes de continuar: — Parabéns, amiga! Até mais tarde.

Ela me abraça apertado e segue para o setor dela.

— Laís, volta aqui! — TJ grita, mas ela continua andando até desaparecer no corredor. — Como assim vão só vocês duas? A ideia foi minha!

Ele passa a mão pelos cabelos, alternando o olhar entre mim e Sérgio, buscando apoio, mas nenhum de nós diz nada. Por fim, ele sai apressado atrás da secretária.

— Laís, me espere! — escuto sua voz enquanto ele desaparece no corredor.

Uma gargalhada me distrai, e viro o rosto para ver o senhor Sérgio rindo do desespero do amigo. Quando seus olhos encontram os meus, sinto meu rosto queimar.

Junto as mãos na frente do corpo e viro em direção à minha mesa, mas, na pressa, empurro a cadeira com mais força do que o necessário. Ela bate na parede, produzindo um som alto. Fecho os olhos com força, tentando recuperar a compostura enquanto me sento.

Com certeza pareço um pimentão maduro agora.

— O que essa coitada fez para você? — Ouço sua voz logo à minha frente.

Levanto o olhar lentamente. Ele está parado ao lado da minha mesa.

— Desculpe... — murmuro, desviando o olhar, torcendo para que ele volte logo à sala.

Mas ele permanece ali, o silêncio nos envolvendo, pesado como uma corrente de ar frio. Engulo em seco, endireito a postura e levanto o rosto.

Seus olhos ainda estão em mim, as mãos nos bolsos da calça.

— O senhor precisa de algo? — pergunto, com a voz um pouco trêmula.

— Quando tiver dificuldade, peça minha ajuda — ele diz com firmeza antes de se virar e ir para sua sala.

Fico encarando a porta que se fecha atrás dele por um longo tempo, tentando processar suas palavras.

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🤣🤣🤣🤣🤣 Imagino a cara do TJ

Amo a sorveteria do cerrado! O sorvete de jabuticaba, o picolé de caja-manga.

A música que cantou está acima!

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