04. Orgulho
Hope caminhava despreocupadamente pelos campos de flores, uma pequena lavanda em sua mão.
Seus pés descalços em contato com a terra, seus cabelos voando conforme o vento.
Ela gargalhou quando Will passou voando por ela, puxando uma mecha do cabelo dela, resmungando com diversão.
ㅡ Você vai ver só. ㅡ ela ameaçou o pássaro.
Will zombou, voando até ela novamente e puxando outra mecha de cabelo.
ㅡ Estou vendo Hops. ㅡ ele zombou de volta.
Hope sorriu e se preparou, quando Will voou até ela uma outra vez, ela o agarrou enquanto o puxava para um abraço apertado.
Will a bicou na orelha e escapou pouco tempo depois.
ㅡ Você quer me matar? Me esmagando desse jeito! ㅡ ele resmungou gritando revoltado.
ㅡ Eu avisei. ㅡ ela brincou enquanto se deitava nos campos de flores, sua lavanda meio destruída, por causa da brincadeira com Will, em suas mãos.
A melhor coisa que ela havia feito era se mudar de cidade, agora ela tinha sol na maior parte do tempo, sua nova casa ficando na floresta, onde ela passava a maior parte do tempo isolada de tudo e todos, vivendo feliz em contato com a natureza.
Hope esperou por ele.
Esperou que ele voltasse, que ele a visitasse e se desculpasse.
Entretanto, os dias se tornaram semanas e as semanas se tornaram meses.
E depois de dois anos esperando por ele, ela decidiu ir embora.
Decidiu que não valia a pena esperar por alguém que nunca viria.
Will apoiou a ideia, ele realmente não gostava da antiga cidade.
Ele também estava cada vez mais triste antes de se mudarem, esperando por Jessamy. Mas ela nunca viria, porque seu Mestre nunca iria até Hope.
Morpheus.
Hope pensava mais nele do que gostaria.
Sua voz ecoando em sua mente, seus olhos azuis uma lembrança constante.
Hope nunca odiou alguém antes, nem mesmo Medo e Ódio.
Entretanto, parte dela queria desesperadamente odiar o Perpétuo.
Ela não o odiava, pelo menos, não inteiramente.
Porém, ela odiava a prepotência dele, odiava o orgulho dele, odiava como ele se incomodava com coisas tão pequenas, como ele se achava superior a tudo e todos.
E acima de tudo, Hope se odiava por ter conversado com ele. Por ter permitido que ele a intrigasse.
ㅡ Você ficou quieta. Está tudo bem? ㅡ Will perguntou pousando na barriga de Hope.
ㅡ Está sim. ㅡ ela garantiu acariciando a cabeça da gaivota.
ㅡ Estou apenas pensando. ㅡ ela confessou.
ㅡ Naquele idiota? ㅡ Will perguntou indignado enquanto se afastava do carinho de Hope.
Hope suspirou olhando para o céu azul que aos poucos ia escurecendo.
ㅡ Posso lembrá-la que ele a abandonou do lado de fora de casa apenas porque as coisas não saíram como ele queria que saíssem? ㅡ Will acusou antes que Hope pudesse dizer algo. ㅡ Sério, ele é muito esnobe, mais esnobe do que qualquer outra ave que eu já conheci. E você sabe que eu conheci muitas aves esnobes.
ㅡ Eu não te pertubo quando você pensa em Jessamy. ㅡ Hope retrucou tentando acariciar Will novamente, a gaivota a bicou, balançando as asas indignado.
ㅡ Nome proibido. Assunto proibido. ㅡ ele resmungou um pouco histérico.
Hope riu levemente.
ㅡ Senhorita Hope! ㅡ uma voz feminina gritou, Hope se levantou e sorriu ao ver Eloise Wendel correndo até ela.
Eloise morava na floresta com seus pais e irmãos, a alguns quilômetros da casa de Hope. A jovem de longos cabelos castanhos havia sido extremamente gentil e adorava visitar Hope em sua casa.
Will gostava da presença da humana, o que era bem surpreendente, porque Will não gostava de nada nem de ninguém.
ㅡ Olá Eloise. ㅡ Hope voltou a se sentar, Will se aconchegando em seu ombro, agindo como se fosse uma ave normal. ㅡ No que posso ajudá-la nesse belo entardecer?
Eloise deu uma risadinha e se sentou ao lado de Hope.
ㅡ Passei na casa da senhorita e não a encontrei, então vim procurá-la. ㅡ a jovem explicou. ㅡ Haverá uma festa na cidade, queria saber se a senhorita iria.
Hope ficou em silêncio por um momento debatendo, ela não gostava muito de ir à cidade, ela preferia ir lá apenas quando era estritamente necessário.
ㅡ Eu não havia pensado nisso Eloise. ㅡ Hope foi sincera. ㅡ Mas não gosto muito de sair do conforto do meu lar.
Eloise ficou visível chateada.
ㅡ Mas será tão bom senhorita Hope. Haverá música, haverá comidas deliciosas e os jovens solteiros estaram procurando por uma noiva. ㅡ a humana disse como se isso fosse fazer Hope mudar de ideia.
Hope riu levemente.
Entretanto, sua risada morreu quando ela sentiu algo.
Uma presença se fez presente, algo que Hope nunca havia sentido antes.
Ela se levantou rapidamente, Will ainda pousado em seu ombro.
ㅡ Senhorita Hope? ㅡ Eloise perguntou se levantando confusa.
Uma figura estava parada na frente das duas.
Um homem. Ou pelo menos tinha a aparência de um homem.
ㅡ O que jovens tão bonitas fazem aqui, sozinhas, tão próximo do anoitecer? ㅡ a voz dele era sedutora, mas havia maldade nela, muita maldade.
Eloise ofegou surpresa.
ㅡ Você. ㅡ ela sussurrou aterrorizada.
Hope a olhou por um momento.
ㅡ Você conhece esse homem, Eloise?
ㅡ Sim, e-eu acho. ㅡ a jovem humana disse com dificuldade. ㅡ Mas não é possível-
ㅡ Onde você o viu? ㅡ Hope perguntou enquanto empurrava Eloise para ficar atrás dela.
ㅡ E-eu o vi em um...ㅡ Eloise ofegou quando o homem deu um passo a frente e falou junto à ela:
ㅡ Pesadelo.
Hope ofegou e empurrou Eloise para o caminho que levava para a floresta.
ㅡ Corra! ㅡ Hope gritou e Eloise o fez sem pensar duas vezes. ㅡ Não olhe para trás! Apenas corra! ㅡ Hope completou quando a humana se virou para ver se Hope estava fugindo junto à ela.
ㅡ Isso foi estúpido. ㅡ o ser disse, seu rosto agora deformado, parecendo o ser maligno que atormentava os pesadelos mais terríveis de Eloise Wendel. ㅡ Eu não pretendia fazer nada com você, entretanto, você fez a garota fugir.
Hope o encarou inabalável, não se movendo nem mesmo quando o ser deu um passo à frente.
Pesadelo.
Não foi muito difícil para ela adivinhar o que aquele ser era, apesar de diferente, sua energia lembrava muito um certo Perpétuo que havia a intrigado tempos atrás.
ㅡ Você não está com medo, bela dama? ㅡ ele deu um sorriso cruel para ela, sangue nas roupas dele, em seu rosto deformado. Maldade emanando dele.
Hope se manteve inabalável, o Pesadelo estendeu a mão para acariciar o rosto dela, porém Will o bicou fortemente arrancando um pedaço de sua pele, o Pesadelo deu um passo para trás segurando a mão contra o peito.
ㅡ Parecemos estar com medo de você, seu idiota da cara feia? ㅡ a voz de Will ecoou, desprezo nela.
ㅡ Seu mestre sabe que você está aqui, assombrando uma garota humana inocente? ㅡ a voz de Hope era fria e cortante.
O pesadelo deu outro passo para trás, totalmente surpreso.
ㅡ Quem é você? ㅡ ele cuspiu a pergunta, furioso com essa estranha que não temia um Pesadelo, com essa estranha que tinha um pássaro idiota, com essa estranha que sabia sobre seu senhor.
ㅡ Isso não interessa à você. ㅡ ela deu um passo à frente enquanto estendia a mão direita pronta para usar seus poderes no pesadelo, pronta para usar a esperança que ele sentia e o fazer desejar nunca ter saído dos domínios do Perpétuo que ela agora tentava odiar.
Então ela o sentiu.
Foi como levar um soco no estômago.
O arfoi foi tirado dela, seu coração estúpido acelerou instantaneamente.
E saindo do nada, em meio à areia, estava ele, com seu elmo, um rubi em sua mão e um certo corvo em seu ombro.
Hope engoliu em seco e ela não se orgulhava de dizer que suas mãos estavam tremendo.
Will resmungou surpreso enquanto observava Jessamy que voou do ombro do Perpétuo que se aproximava.
Hope praguejou em pensamento, sua mão se abaixando rapidamente.
Ela o observou.
Três anos depois ele havia finalmente aparecido.
Mas ele não estava lá por ela.
Morpheus se pegou pensando que apesar de seu orgulho ferido e a forma que ela havia sido tão desrespeitosa com ele, ele nunca conseguiria a odiar como queria.
Aquela humana havia feito algo com ele, e Morpheus odiava que isso não havia o abandonado mesmo depois de três anos.
Ela estava na mente dele sempre, o confundindo, o estressando. Seu estúpido sorriso nunca o deixando.
E ela nunca havia visitado o Sonhar em todo esse tempo, ela simplesmente nunca havia sonhado.
Como isso poderia ser possível?
Ele não sabia, e Morpheus odiava não saber.
Ele odiava não conseguir odiar a humana estranha.
Odiava não saber se ela era humana de fato ou se era uma outra coisa.
Imagine a surpresa do Perpétuo ao vê-la, tão linda como da última vez que ele a tinha visto, estendendo sua mão para o pesadelo que ele havia vindo buscar, parecendo inabalável, poderosa e totalmente não humana.
ㅡ Meu senhor. ㅡ o pesadelo murmurou assustado assim que o viu, logo se colocando de joelhos, medo em sua voz.
Morpheus sentiu a raiva se iluminar em seu ser.
Aquele pesadelo miserável havia tentado machucá-la.
Justo ela.
Morpheus estava tentando a odiar e gostaria muito de conseguir isso, entretanto, ele não queria que ela se machucasse ou até mesmo morresse por culpa dele, por culpa de algo que ele controlava.
ㅡ Meu senhor, eu lamento muito, eu juro que não prejudiquei ninguém. ㅡ o pesadelo murmurou. ㅡ Não me mande de volta, por favor. ㅡ ele implorou.
ㅡ Não prejudicou mas pretendia. ㅡ Will murmurou, não conseguindo controlar sua língua.
Morpheus olhou para a gaivota no ombro da mulher que ele tentava odiar, curiosidade e surpresa enchendo a mente do Perpétuo.
ㅡ Pesadelos não pertencem aqui. ㅡ ele falou pela primeira vez, olhando para o Pesadelo e não para ela.ㅡ Volte para o Sonhar. ㅡ ele ordenou e apontou o rubi para o Pesadelo.
Logo, o Pesadelo não estava mais lá.
Morpheus a encarou por um momento e tirou o elmo para que pudesse a ver direito.
Ela parecia a mesma, ainda a mulher mais linda que ele já havia visto, ainda com os pés descalços, ainda fazendo o coração dele acelerar.
Entretanto, dessa vez ela não o olhava com curiosidade, dessa vez ela olhava para ele com desgosto. A gaivota no ombro dela voou para longe, indo para onde ele havia visto Jessamy ir.
Curioso.
ㅡ O que é você? ㅡ foi a primeira coisa que ele disse para ela, depois de três anos, não uma desculpa ou uma explicação para o que ela havia acabado de presenciar.
Ela o olhou com indignação, raiva.
ㅡ Isso não é da sua maldita conta. ㅡ ela disse, ódio em sua voz.
Morpheus não pôde deixar de perceber como esse sentimento não combinava com ela.
ㅡ Diga-me. ㅡ ele deu um passo à frente enquanto insistia. ㅡ Eu ordeno.
Hope ofegou surpresa e deu um passo a frente tomada pela raiva.
ㅡ Você ordena? ㅡ ela perguntou indignada e incrédula. ㅡ Você acha que eu sou um de seus Pesadelos estúpidos aos quais você pode ordenar coisas?
ㅡ O que é você? ㅡ ele deu outro passo a frente. Seu rosto muito próximo do dela para o próprio bem dele.
Tudo que Morpheus queria era beijá-la alí mesmo. Tudo que ele queria era nunca ter partido três anos atrás.
Mas seu orgulho o impedia disso.
Ele não a deixaria ganhar.
Ele era um Perpétuo.
Ele não iria se submeter a essa pequena humana que não parecia tão humana assim.
ㅡ Eu vou repetir uma última vez: isso não é da sua maldita conta. ㅡ ela respondeu, seus olhos lindos nunca deixando os dele.
Dito isso, ela se virou e começou a caminhar para longe dele, em direção à floresta.
ㅡ Onde você pensa que vai? ㅡ Morpheus perguntou indignado.
ㅡ Pra minha maldita casa. ㅡ ela disse ainda de costas para ele. ㅡ E não, você não é bem vindo.
O Perpétuo a observou partir.
Seu coração almejando seguí-la.
Mas ele não a seguiu.
Ele se virou e voltou para o Sonhar.
Entretanto, ele voltaria.
Para descobrir o que ela era, e não porque sentia saudade da companhia dela.
Não.
Ele apenas queria descobrir o que ela era na verdade.
Não tinha nada haver com seu coração acelerado.
Nada.
I. Olá pessoal. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Sim, houve uma passagem de tempo de 3 anos.
III. Morpheus o maior orgulhoso de todos kkkk. Não pensem que a Hope vai esquecer da forma que ele agiu tá.
IV. Por hoje é só, mas nos vemos em breve.
Byee ♡.
03.09.2022
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