Capítulo Vinte e Quatro
Estava a chover torrencialmente e eu estava sozinha em casa. O inverno tinha chegado com todas as suas forças em meados de dezembro, com chuvas e tempestades que me acordavam sempre mais cedo do que eu gostaria. Muitas das vezes, tinha Harry ao meu lado para me abraçar e servir como o meu abafador de som pessoal mas, naquela manhã, não tinha. Faltavam cinco dias para o Natal mas nem isso significava um abrandamento dos nossos horários; Harry não pudera passar a noite porque passara o dia anterior no estúdio e saíra já depois de eu adormecer. Naquele dia, terminaria as gravações definitivamente.
O seu próximo álbum estava gravado e pronto para ser lançado dia vinte e três, sexta feira, como que numa prenda de natal adiantada para todos os seus fãs. Como consequência, Harry estivera irregularmente ocupado desde o início do mês; eu estranhara a sua ausência, claro, mas sabia que eventualmente aquela altura chegaria. Os meses entre as duas digressões tinham terminado e o seu horário voltara a encher como uma avalanche, numa onda de sessões de gravação, sessões fotográficas, horas a pré-assinar álbuns e entrevistas promocionais. Para um cantor, tudo aquilo era obviamente mais intenso do que para uma escritora e eu sentira o cansaço descomunal todos os dias em que ele trabalhava perto de quinze horas.
Naquela manhã, estava nos meus planos atingir a metade do meu próximo livro. Ainda não tinha como saber se seria algo que Jodie gostaria de publicar, mas ainda não tinha atingido nenhum beco sem saída com o enredo, então estava motivada. Quando me apanhava sozinha, como acontecia tantas vezes antes do meu reencontro com Harry – que já parecia tão distante embora só tivessem passado cinco meses -, muitas vezes não sabia o que fazer para ocupar todo o meu tempo, mas as coisas resolveram-se aos poucos.
Anna ia até minha casa imensas vezes, para planearmos o percurso da minha própria digressão promocional. O livro já tinha sido lançado há três meses e atingido uma mão-cheia de primeiros lugares que me deixavam imensamente orgulhosa de mim própria, mas eu preferia viajar no inverno e isso não era negociável. Durante o verão, eu tinha mais tendência a sair de casa e a querer passear pela cidade, de visitar a minha família e de organizar jantares nas traseiras da minha casa como fizera tantas vezes nos últimos meses. No inverno, era-me mais fácil estar fora de casa durante semanas seguidas, porque estaria sempre fechada de qualquer forma.
Levantei-me com um grunhido, espreguiçando-me, e decidi abrir os estores e começar finalmente o meu dia. Ao olhar para o meu telemóvel, vi que já tinha passado do meio dia e fiquei chocada, não sabendo que tinha estado tão cansada na noite anterior. Vi uma mensagem de Harry a atualizar-me no processo de gravações e respondi animadamente, feliz por ele estar feliz com o resultado do seu trabalho árduo. Tomei um duche com a água bem quente, recusando-me a deixar o meu corpo perder a temperatura confortável com que acordara e, depois de secar o cabelo, decidi fazer o meu almoço.
- Tens de parar de acordar tão tarde, Lizzie. – disse para mim mesma, olhando o meu reflexo à minha frente. Revirei os olhos e ri distraidamente, atravessando a casa com as minhas meias quentinhas e chinelos.
Ao passar na sala de estar, aproveitei para ligar a televisão e colocá-la num volume suficiente para conseguir ouvir na cozinha. Não me apetecia fazer nenhum tipo de comida saudável então não resisti à vontade de fazer panquecas como um almoço improvisado. Acordara com vontade de comer panquecas e não queria comer o pequeno-almoço ao meio dia e depois um almoço completamente fora de horas. O volume do grunhido do meu estômago quando imaginei panquecas cheias de chocolate foi som suficiente para eu ceder aos meus desejos pouco saudáveis.
«Harry Styles, cantor de vinte e oito anos, lançou hoje de manhã um novo single, publicando o seu vídeo no seu canal. Aqui está ele...»
Poucos segundos depois, a voz melodiosa de Harry ecoou por toda a minha casa e eu sorri abertamente. Tinha-me esquecido completamente que naquele dia ele lançaria o primeiro single, como preparação para o álbum, e a surpresa foi definitivamente bem-vinda. Cozinhei as panquecas enquanto dançava com a música cuja gravação eu tinha presenciado e sorri para mim mesma, apreciando a música na sua totalidade. Não sabia como era o vídeo e faria questão de o ver com atenção de seguida, mas sabia que Harry se tinha divertido imenso a gravá-lo. Viajara para o gravar e, quando voltara, vinha com um brilho especial nos seus olhos.
Não querendo almoçar sozinha, liguei à única pessoa que sabia que estava disponível naquele dia: Jason, que já tinha decidido tirar férias por duas semanas, até ao Ano Novo.
- Lizzie, meu amor, o que posso fazer por ti?
- Não quero comer sozinha. – admiti, cortando um pouco de panqueca e levando à boca.
- Só acordaste agora, não foi?
- Acordei há quase uma hora, na verdade. Mas, pela tua voz, eu é que te acordei.
- Apanhaste-me. A Rachel passou a noite e acordei brevemente quando ela foi trabalhar, mas depois adormeci outra vez.
- O meu tipo de rapaz...
Depois de confirmar que estava sozinho em casa, Jason prometeu comer qualquer coisa e passar a tarde comigo. Geralmente, tardes passadas com ele davam-me a oportunidade de ser produtiva também, porque Jason era uma pessoa muito calada. A sua companhia era maravilhosa porque só falávamos ocasionalmente, não o suficiente para eu me sentir realmente distraída, e funcionava para os dois. E, apesar de estar de férias, Jason tinha sempre coisas a fazer também, trabalhando na empresa de publicidade que trabalhava – precisava de manter o contacto com todos os seus clientes, para eles não se sentirem renegados. Podia acordar mais tarde, mas não significava que poderia abandonar totalmente o seu emprego.
Na minha televisão, passava um canal de música e eu diverti-me a desafiar-me a mim própria a saber todas as letras, enquanto comia e bebia da minha água. Menos de meia hora depois, ouvi a campainha distinta do meu portão e, sabendo que era Jason, corri até ao botão que o deixaria entrar. Três minutos após isso, ouvi o seu carro a parar em frente a minha casa e, de seguida, ele a abrir a porta da frente da casa.
- Lizzie? – chamou, para o qual eu gritei que estava na sala de estar. Ouvi o seu riso. – Panquecas, a sério?
- Não me julgues. – encolhi os ombros. – Queres um bocadinho?
- És maravilhosa. – e apressou-se até ao sofá em que eu estava sentado, aceitando a garfada que eu já tinha preparado. – O Harry?
- Estúdio. – encolhi os ombros, sorrindo.
- Ouvi a nova música pelo caminho, está muito boa.
Sorri, assentindo. Tinha a boca cheia de panquecas.
- É sobre ti, não é? – inclinei a minha cabeça, completamente confusa. Jason começou a rir da minha cara. – Não me digas que não percebeste.
- Ei! – repreendi, batendo na sua perna – Não é sobre mim...
- Claro que é! Lizzie, pensa um pouco. Caminhos cruzados...muito tempo sem se verem...não são as mesmas pessoas...queres que continue? – assenti, com olhos arregalados. Ele revirou os olhos e continuou a lançar pequenos versos da música, acabando por me converter à sua opinião. – Uau, consegues ser tão alienada.
- Eu tenho uma faca. – apontei a faca na sua cara, fuzilando-o com o olhar.
Continuámos a conversar sobre tudo e sobre nada até Jason alegar ter fome. Dei-lhe permissão, embora tal coisa não fosse precisa, para cozinhar o que quisesse, e informei que iria para o meu escritório. Posicionado no primeiro andar da casa e virado para o lado do mato atrás do condomínio, a janela daquela divisão proporcionava-me uma ótima vista. Conseguia ver o topo das árvores e, ao fundo, a continuação da cidade, com todos os seus prédios e moradias. Sorri, embora estivesse a chover e o céu estivesse nebulado o suficiente para não me permitir apreciar toda a paisagem do costume. Encolhi os ombros e decidi ligar o portátil, colocando-o de lado enquanto colocava uma folha de papel na máquina de escrever.
Na máquina de escrever, eu preferia escrever as ideias para frases que tinha. Uma espécie de rascunho do que viria a ser o capítulo desenvolvido, por assim dizer. Naquela tarde, no entanto, ao ouvir Jason cantar no andar abaixo enquanto cozinhava, fui trespassada para uma onda de inspiração para uma possível cena entre as minhas personagens principais. Quando Jason apareceu, não sei bem quanto tempo depois, tudo o que se ouvia no escritório era o tic-tac rápido das teclas da máquina de escrever. Eu estava completamente focada naquilo e só vi a sua figura pela minha visão periférica, não me focando demasiado nele.
Terminando de escrever naquela página em questão, retirei-a da máquina de escrever e virei-a ao contrário, para poder continuar a escrever. No entanto, um levantar inconsciente da minha cabeça mostrou-me Jason sentado no sofá individual que tinha na divisão, com o telemóvel nas mãos e um sorriso enorme no rosto. Percebi automaticamente que ele estava a falar com Rachel, a sua namorada que nós ainda não tínhamos conhecido oficialmente – eu encontrara-a por acaso num café e ela sabia que eu era amiga de Jason e apresentara-se, mas nunca tínhamos contado ao meu amigo -, devido à pequena vermelhidão nas suas bochechas.
________
- Izzy, bebé, feliz Natal! – foi a primeira coisa que ouvi, assim que atendi o meu telemóvel. Sorri instintivamente.
- Feliz Natal, vovô. – olhei para o lado, vendo Harry a esfregar os olhos e a espreguiçar os seus braços. Quando abriu os olhos, viu-me e sorriu, puxando-me para mais perto. – A avó?
- Sabes como é, Izzy, quando a família vem cá a casa, ela passa horas a cozinhar.
- Então, não a chateies. Deseja-lhe um Feliz Natal por mim e diz-lhe que nos vemos no jantar!
- Claro, Izzy. Deseja um Feliz Natal aos teus amigos por mim. – e, depois de mais um pouco a falarmos, desligámos a chamada.
- De certeza que não queres ir lá a casa?
- Não, Lizzie. – Harry respondeu, ainda com a cara no meu pescoço. – A minha mãe apreciou o convite, mas ela estava entusiasmada para experimentar uma nova receita e quer que eu e a Mary sejamos as suas cobaias.
- Eu percebo. – acariciei os seus cabelos, sorrindo. – Temos o almoço, pelo menos.
Aquele Natal ia ser especial. Geralmente, eu passava a primeira metade do dia com os meus amigos, num almoço coletivo, em que todos levávamos os amigos e parceiros que quiséssemos. Jane levava Cassie e, naquele ano, Noah levaria Julio e Jason iria aproveitar o pretexto para nos apresentar Rachel. Harry estava convidado, claro, e Mary também. Depois do almoço, no entanto, separávamo-nos para irmos jantar com as nossas respetivas famílias. Jason, tendo perdido ambos os pais antes de entrar na faculdade, alternava entre todas as nossas famílias e, naquele ano, iria passá-lo comigo. Os meus avós e a minha mãe tinham tentado que Harry e a sua família passassem o restante do dia de Natal connosco, mas a mãe de Harry tinha mantido a sua posição.
Depois de ter conhecido oficialmente a mãe de Harry – oficialmente porque, durante a faculdade, só a tinha cumprimentado quando ele nos apresentara rapidamente -, apanhei-me a adorá-la. Era claramente dela que Harry tinha herdado grande parte das suas boas qualidades, a honestidade, o carisma e a sociabilidade. Mary era quase uma cópia da sua mãe, apesar da sua insistência em pintar o seu cabelo daquele loiro que eu já associava à mais nova dos Styles e a mais ninguém, e eu tinha elogiado incessantemente os genes daquela família. Quando mostrara uma foto da matriarca da família aos meus amigos, todos eles concordaram comigo.
- Não quero sair daqui. – comentou, beijando a curva do meu pescoço. Sorri e coloquei as minhas mãos nas suas. – De certeza que não podemos trancar o quarto e deixá-los sozinhos?
- Não digas isso muitas vezes ou eu vou aceitar.
Quando já tínhamos energia suficiente nos nossos corpos para nos levantarmos, decidimos tomar banho juntos e passámos assim a meia hora seguinte. Naquele momento, a vida era boa. O álbum de Harry tinha sido bem recebido nos últimos dias e ele parecia resplandecer sempre que eu olhava para ele; era algo etéreo, ver Harry Styles tão feliz como estava naquela manhã preguiçosa. Com cabelos colados à sua cara por causa da água e braços a rodearem o meu corpo, passámos grande parte do duche sem realmente fazer algo produtivo. No entanto, eu apressara-nos porque os nossos amigos – e, no caso de Mary, familiares – não demorariam a chegar e nós ainda precisávamos de decorar a casa como deveríamos ter feito na noite anterior.
Harry ajudou-me a colocar um vestido de inverno que a minha mãe me tinha oferecido só porque sim e eu, em troca, atara a blusa dourada que ele escolhera usar naquele dia. Ele estava cada vez mais liberto nas roupas que escolhia usar perto de nós, perto de mim, e essa era outra coisa que o fazia resplandecer. A cada dia, Harry parecia estar cada vez menos inseguro das pequenas coisas que o tornavam especial e estava, progressivamente, mais seguro de si próprio e de tudo o que o fazia brilhar. Porque, na verdade, e mesmo que ele não o visse, ele nascera para o estrelato, para ser uma superestrela.
Descemos para o rés-de-chão da minha casa de mãos dadas, mesmo tendo passado o último dia juntos. Não me conseguia fartar da sua companhia e isso era algo que me indicava claramente que aquilo que partilhávamos era bem maior do que eu alguma vez imaginara. Em julho, quando o reencontrara naquela gala, nunca diria que acabaríamos o ano juntos, numa relação, ainda por cima. Mas tinha sido isso a acontecer e eu estava feliz.
- Onde estão as luzes?
- Naquelas caixas ali. – apontei para o fundo do corredor, onde tinha colocado o monte de caixas que tinha tirado da espécie de dispensa. – Estão um pouco desar-
- Lizzie! Não podes guardar as coisas assim!
- Ei, eu ia avisar-te. – Harry revirou os olhos e ajoelhou-se em frente a uma das caixas que ele tinha puxado para longe das outras.
Apesar de a árvore de Natal já estar feita desde o início do mês, as decorações eram outro assunto completamente diferente. Estava sempre a adiar fazê-lo, por estar sozinha ou por estar cansada ou porque só queria aproveitar o tempo com Harry ou com os meus amigos quando, de facto, não estava sozinha ou cansada. Começámos, então, por colocar as luzes: a minha parte preferida. Tinha imensos conjuntos de luzes, de cores e feitios diferentes; um para a sala de estar, outro para a cozinha, outro para a sala de estar e um outro, maior que todos esses, para cada um dos corredores, o do andar de cima e de baixo. Harry ajudou-me e, em cima de cadeiras, decorámos primeiro o corredor. Abri a porta da frente apenas para pendurar lá a decoração do costume – um hábito que ganhara com os meus avós, na verdade – e voltei a fechá-la assim que comecei a tremer de frio.
Pela altura em que os nossos amigos chegaram – Mary tinha pedido a minha morada e coincidentemente chegara pouco depois do meu grupo de amigos -, eu e Harry tínhamos suado um pouco a decorar toda a casa em menos de uma hora e meia. Todos eles estavam vestidos formalmente, apesar de nenhum de nós ter mencionado algo do género antes. Cumprimentei todos e apreciei os pequenos gestos pessoais de cada um – o beijo na testa por parte de Noah e de Jason, o abraço apertado de Jill e de Jane e os dedos no cabelo por parte de Anna – sorrindo abertamente porque os adorava de verdade e, em ocasiões como aquelas, era fácil lembrar-me disso.
Mary apareceu no seu entusiasmo natural, abraçando o seu irmão mais velho primeiro. Harry rodopiou-a e despenteou os seus cabelos loiros, mas não fez muita diferença porque ela tinha-os alisado. Depois, ela abraçou-me com força e, com a voz entusiasmada de sempre, cumprimentou todo o outro grupo. Presenciei o momento exato em que Cassie começou a olhar à volta e a sentir o aroma que tinha envolvido a minha casa; comecei a rir baixinho, quase esperando que ela começasse a seguir o aroma apenas com o seu pequeno nariz.
- São as bolachas de canela que Harry fez, amor. – esclareci, quando ela olhou para mim com aqueles grandes olhos tão parecidos aos da sua mãe. Ela arregalou-os ainda mais, algo que me espantava sempre, como que a pedir-me. – Ainda não estão feitas, mas estão quase.
- E são maravilhosas. – Mary ajudou. – Oh, tu és adorável. Quantos anos tens?
- Quatro! – Cassie respondeu, entusiasmada. Provavelmente porque tinha quatro anos há precisamente catorze horas. – Faço anos hoje.
- Oh, parabéns, sua linda. – todos rimos com a maneira com que Mary estava a falar com a criança, mas teve o efeito esperado. Cassie sorriu, esticando os braços e pedindo um abraço à Styles mais nova.
feliz dia dos namorados, meus amores
espero que tenham gostado deste capítulo bonito e adorável, em que tudo está bem (e assim vai continuar!!) e eles são lindos e felizes
já não é natal, - e nem escrevi isto no natal tbh - mas este capítulo dá-me sempre uma sensação quentinha, a vê-los todos felizes e natalícios. este é o penúltimo capítulo, tho, por isso esta felicidade está quase a acabar, de certa forma
anyway, espero que estejam todos bem, também felizes, e que estejam a gostar desta história <3 até ao próximo capítulo
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