Capítulo Treze

- Muito prazer, Senhor Lumi. – estiquei a minha mão para cumprimentar o gerente da livraria.

Era a primeira vez que o conhecia pessoalmente e estava petrificada. Apesar de ele não ter ligação direta com o criador da livraria – era seu trisneto ou algo ridículo assim -, eu não conseguia evitar achar que estava na presença de alguém magnífico. Principalmente porque estava no seu escritório, depois de ele ter apontado a disposição da livraria para o lançamento que seria dali a dois dias. Eu estava entusiasmada, o meu avô ligara-me todos os dias na última semana para me dizer quão orgulhoso estava de mim, e até os meus irmãos me disseram que contavam a toda a gente que conheciam que a sua irmã mais nova ia apresentar um livro naquela livraria.

Mal conseguia acreditar.

- O prazer é todo meu, Elizabeth! – garantiu, numa voz suave e que traía a sua aparência juvenil.

Eu sabia que Edgard Lumi tinha perto de setenta anos mas, ao olhar para ele, nunca lhe daria mais que quarenta e cinco. O seu cabelo era uma mistura de preto e branco e a sua expressão era jovem, assim como o seu próprio corpo. Edgard era mais ou menos da minha altura e todo ele aparentava ser mais novo do que realmente era, principalmente indo pelas roupas que ele envergava. No entanto, a sua voz era suave e frágil, indicando precisamente que ele já tinha vivido e falado muito durante todos os seus anos.

- Os meus netos adoram os seus livros, querida. As raparigas preferem o seu primeiro romance e os rapazes tendem a preferir o policial, mas eu li todos e consigo dizer que a sua escrita é que faz os livros ganharem. – senti-me corar furiosamente.

- Isso significa muito. – admiti, baixando os olhos humildemente.

Jodie e Anna não tinham conseguido acompanhar-me até à livraria e, portanto, eu tinha ficado com a tarefa de garantir que tudo estava pronto para o lançamento na sexta feira. A pequena e informal reunião com Edgard serviria para ele me garantir que já tinha contactado com todos os que lhe competiam e para tratarmos da questão da organização da sessão de autógrafos e da segurança. A minha editora tinha feito uma espécie de lista de tarefas que eu tinha que completar durante a reunião, mas a mais importante era sobretudo a questão da segurança. Com o aumentar de rumores à volta da minha suposta relação com Harry Styles, não seria de espantar se alguém tentasse armar confusão.

Paparazzi eram absolutamente proibidos na livraria Lumiére, algo que me acalmava porque sabia que a própria livraria tinha uma boa equipa de segurança. No entanto, não podia negar que estava nervosa para começar a abordar esse assunto com Edgard. Tinha medo que ele me considerasse arrogante ou me descartasse apenas porque eu estava relacionada com uma celebridade; tinha sobretudo medo que ele se arrependesse do convite.

Harry tinha-me garantido que iria ao lançamento, assim como Mary, mas admitira não saber como o fazer sem dar nas vistas. Onde quer que ele fosse, seria conhecido, e eu honestamente não sabia que opções tínhamos. Eu tentara que ele não se sentisse obrigado a ir e garantira-lhe que não ficaria triste se ele preferisse não ir e evitar a confusão, mas ele literalmente tapara-me a boca com uma das suas mãos e me proibira de continuar a falar. No seu carisma peculiar de Harry Styles, ele convencera-me de que não havia sítio nenhum onde gostaria mais de estar na sexta feira que não perto de mim e dos meus livros.

Só quando Edgard estava tão obviamente a preparar-se para terminar o nosso encontro, quase duas horas depois, é que eu ganhei finalmente coragem de falar do assunto que me perturbava. Surpreendendo-me, Edgard Lumi não se importou e muito menos me julgou quando eu falei das razões que originavam a minha preocupação. Garantiu-me, então, que estava preparado para afastar jornalistas e paparazzi não desejados e que isso não atrapalharia o meu contacto com os fãs. A sala onde seria efetivamente o lançamento seria fechada, apenas com uma lotação de cinquenta pessoas – para as primeiras a chegar e aquelas que me acompanhassem – e aí seria permitido apenas o jornalista credenciado. Durante a sessão de autógrafos, para a qual a livraria iria "fechar" mais cedo para todos os funcionários auxiliarem as vendas e etecetera, a segurança seria apertada e toda a gente seria revistada antes de entrar.

Quando referi a presença específica de uma celebridade minha amiga, Edgard informou-me da existência de umas portas traseiras, com um piscar de olhos. Saí do seu escritório com agradecimentos a saírem constantemente da minha boca – tanto pela atenção como pela oportunidade – e ele lembrou-me, antes de eu fechar a porta, que gostaria de conhecer o meu avô. Não duvidava que eles já se conhecessem porque o meu avô era um regular nas conversas culturais da sua altura, mas adorei a simpatia do gerente da livraria. Ele era maravilhoso e eu estava ainda mais entusiasmada para sexta feira.

De repente, um pensamento assombrou-me: queria que o meu pai estivesse comigo.

Assim que o pensei, senti uma onda de tristeza a sobressaltar-me, mas não permiti que permanecesse durante muito tempo dentro de mim. Na manhã seguinte, a minha mãe chegaria e eu teria que a ir buscar ao aeroporto – quando expressei o perigo que era eu ser vista em público, ela rira na minha cara e prometera afastar qualquer pessoa que me perturbasse e eu não duvidava minimamente dela. Apesar de pouco presente durante a minha infância, devido a todas as viagens que o seu trabalho pedia dela, o instinto maternal estava muito presente nela. Quando alguém atacava um dos seus filhos, uma força natural saía dela. Não tinham sido raras as vezes em que ela aparecera na escola dos meus irmãos, ignorando as suas responsabilidades a doze horas de avião de distancia, apenas porque um professor ou um diretor o tratara abaixo do justo.

Liguei ao meu avô.

- Izzy, bebé! – o cumprimento regular do meu avô fez-me sorrir automaticamente.

- Vim agora da reunião com o gerente da Lumiére, vovô. Estou tão feliz! – anunciei, ouvindo o seu riso rouco do outro lado da linha. – Ele quer conhecer-te.

- Ah, Edgard Lumi...Lembro-me vagamente da cara dele. Tenho quase a certeza que a tua avó namorou com ele.

- Vovô! – exclamei, em choque, voltando a ouvir o seu riso. – Estás a falar a sério?

- Oh sim, antes de a conhecer. Nunca te contámos isto? Bem, não interessa...Ela casou comigo.

Embora quisesse saber a história completa – principalmente por estar tão relacionada com o tema do meu livro -, não insisti. Sabia que, quando lhe apetecesse, eles mo contariam. E a verdade é que não interessava, por muito engraçado que pudesse ser. Os meus avós eram o casal mais romântico que eu conhecia, assim como o casal que mais se adorava e que mais me fazia ter fé no amor e no casamento. Por isso é que eram a origem da história do meu próximo livro e talvez eu compreendesse porque é que Edgard Lumié tivesse gostado tanto da história, talvez o fizesse lembrar da altura em que ele próprio vivera, tendo uma idade tão próxima à dos meus avós.

Minutos depois, terminámos a chamada, com uma garantia de que eu iria jantar lá a casa no dia seguinte, com todos os meus irmãos e sobrinhos, e cumprir a promessa que os quatro tínhamos feito à nossa mãe. Estava entusiasmada por ter a família toda junta; eram raras as vezes em que via os meus irmãos, estando todos tão afastados uns dos outros, e mais raras ainda eram as vezes em que via a minha mãe. Ficava feliz, portanto, por mais um dos meus eventos ser a desculpa perfeita para a família se juntar.

Eu era demasiado nova para me lembrar concretamente da altura em que os meus pais se divorciaram, mas o meu pai sempre insistira que continuara a gostar imenso da minha mãe. Tal como Anna e Sam quando terminaram o seu namoro, os meus pais permaneceram amigos. Nenhum deles queria que eu e os meus irmãos fossemos afetados por um possível mau ambiente entre eles; além disso, a minha mãe estava fora do país oitenta porcento do tempo, não existia possibilidade de sequer discutir com o meu pai. Quando ela aparecia, era para estar connosco, não para abrir a caixa do passado.

Vinte minutos depois, estava finalmente a chegar a casa, depois de um dia a andar de um lado para o outro. Felizmente, no dia seguinte iria apenas buscar a minha mãe ao aeroporto e depois passaria todo o dia em casa dos meus avós, com todos eles.

- Olá, Elizabeth. – sorri para o segurança, cumprimentando-o. – Tens uma visita.

- Tenho? – pensei em todos os meus amigos, que tinham dito que estavam ocupados demais para irem comigo à livraria e sorri. – Obrigada, John.

Conduzi por toda a estrada, acenando educadamente para todos os meus vizinhos que estavam na rua a passear os seus cães ou simplesmente a conversarem e que me reconheceram. Quando cheguei finalmente à zona mais escondida do condomínio, a minha, onde a minha casa estava escondida por algumas árvores enormes, vi a visão distinta do carro antigo e provavelmente de colecionador de Harry. Sorri, estacionando ao seu lado, e saí calmamente do veículo. Harry não estava à porta, mas eu ouvia um assobio melodioso da parte de trás da casa e, evitando entrar em casa apenas para sair outra vez, dei a volta ao edifício, seguindo o som.

Encontrei Harry deitado na cama de rede em que ele tinha passado a noite há três dias atrás, quando voltámos a repetir a experiência de jantarmos todos juntos. Harry sugerira um jantar com Mitch e Sam e todos concordaram, entusiasmados pela ideia de uma espécie de reencontro de antigos colegas da faculdade. Tínhamos marcado uma data ao calha e Harry comprometera-se a falar com os seus dois amigos – Anna apontara-lhe um indicador definido pela unha vermelha tão caraterística dela e prometera-lhe que falaria com Sam para se certificar se ele manteria a promessa. Sorri para a memória de Harry tão bem reintegrado no grupo de amigos de antigamente.

- Não sei quem te deu toda esta confiança, Harry Styles, mas não sei se gosto. – disse, de repente, aproveitando o momento em que Harry ouviu a minha voz e quase caiu da cama de rede, de tão sobressaltado que ficou.

- Lizzie, eu ia morrendo!

- Claro. – concordei, assentindo solenemente. Ele revirou os olhos, mas sorriu-me.

Depois, levantou-se e eu praticamente abri os braços, esperando o inevitável e tão caraterístico abraço. Como de costume, fui completamente envolvida pela sua colónia intoxicante e respirei fundo, sentindo-me imersa naquele aroma familiar. Lentamente, quanto mais tempo passava com Harry, estava a voltar a ganhar o jeito para lidar com Harry Styles. Todas as suas feições e expressões que eu tinha desaprendido com o passar do tempo estavam frescas na minha memória, por conta de o ver pelo menos três vezes por semana, nas últimas três semanas. Ocasionalmente, Mary juntava-se a nós, mas as nossas saídas eram sobretudo idas a cafés e Mary estava demasiado ocupada a procurar um bom emprego para passar tardes connosco – os demasiado famosos para ser seguro trabalhar das nove às cinco.

- Porque vieste?

- Por várias razões. – encolheu os ombros. – Primeiro, porque estava aborrecido e tu és literalmente a única outra pessoa que tem a mesma disponibilidade que eu.

- Vantagens de ser famoso. – levantei a mão para ele me dar um mais-cinco e ele encontrou-me a meio caminho, rindo.

- Segundo, - levantou dois dedos, repletos de anéis como sempre – apetece-me imenso ver A Pequena Sereia.

Comecei a rir antes de sequer processar totalmente o que ele tinha acabado de dizer. Ele acompanhou-me mas não ficou embaraçado, limitou-se a encolher os ombros e a aceitar a minha reação. Quando parei de rir, olhei para ele, para a sua face emoldurada pelos seus cabelos que já tinham crescido imenso desde a primeira vez que o vira e as covinhas que marcavam o seu rosto. À minha frente, tinha o grande Harry Styles, que tinha estado à minha espera nas traseiras da minha casa, apenas porque, quando ficara aborrecido, eu tinha sido a primeira pessoa em quem ele pensara. Porque, quando lhe apetecera ver um filme da Disney, preferia vê-lo comigo.

Não sabia dizer concretamente quando é que nos tínhamos tornado tão íntimos, mas não me apanhei a desgostar. Encolhi os ombros e limitei-me a passar ao seu lado, enquanto retirava as chaves da minha mala e puxava aquela que abriria as janelas da sala de jantar. Harry seguiu atrás de mim e eu pedi-lhe que começasse a preparar as coisas na sala de estar. Depois de um piscar de olhos e de uma pequena continência, ele seguiu pelo caminho que já parecia conhecer bem, enquanto eu fiquei pela cozinha para fazer as pipocas. Peguei também numas garrafas de cidra de maçã, porque sabia que ele gostava e estava imenso calor. Esperei que o microondas apitasse e, quando finalmente o fez, levei tudo ao mesmo tempo até à sala de estar.

Fui cumprimentada pela visão de Harry sentado com pés cruzados debaixo das pernas no meu sofá, com o comando numa das suas mãos, e a olhar expectante para mim enquanto batia no espaço no sofá ao seu lado. Revirei os olhos, embora estivesse a rir, e pousei tudo na mesa de café que existia ao lado do sofá. Sentei-me ao lado de Harry, aproveitando a frescura que a minha casa tinha acumulado, devido ao facto de eu ter passado o dia fora e de ter deixado todos os estores fechados.

No momento em que eu me compus no sofá, Harry puxou-me para mais perto do seu corpo. Antes que eu pudesse reclamar – de estar calor ou de qualquer outra coisa – ele colocou o filme, forçando-me a calar. Revirei os olhos mas aceitei a espécie de abraço que ele me oferecera, porque parecia que seria um hábito. Depois de vermos Entrelaçados juntos, numa posição semelhante àquela, e de nos termos divertido tanto, parecia que ele queria repetir a experiência.

- Look at this stuff, isn't it neat? Wouldn't you think my collection's complete? – Harry acompanhou Ariel, numa voz muito mais aguda que a sua.

- Wouldn't you think I'm the girl...the girl who has...everything? – olhei para cima, para o teto, imitando Ariel.

Continuámos a cantar juntos, imitando a pequena sereia na sua canção triste. O filme progrediu, com o eventual encontro entre Eric e Ariel, quando ela o salva da morte. Apertei o joelho de Harry que estava mais perto, embora soubesse praticamente o filme todo de cor. Quando Ariel voltou à sua coleção e Sebastian lhe cantou a Under the Sea, Harry e eu separámo-nos para imitarmos todos os animais marítimos a tocarem os seus instrumentos, enquanto Sebastian lhe cantava. Embora eu soubesse toda a letra também, Harry conseguia fazer o sotaque do caranguejo, fazendo-me parar de cantar imensas vezes apenas porque começava a rir desalmadamente.

- Each little snail here knows how to wail here. That's why it's hotter under the water... - apontou para mim, num gesto completo de artista, para eu continuar.

- Yeah we're in luck here, down in the muck here, under the sea! – e Harry acompanhou-me, harmonizando comigo e com as personagens do filme, até eu estar tão cansada que voltei a cair no seu ombro, tal como tinha acontecido da última vez.

eles têm a amizade mais linda do mundo

e o Edgard? que tal? ele dá-me muitas vibes de avô fixe e gosto muito muito dele

obrigada por lerem <3

p.s na próxima semana conhecem finalmente Todos os Sanders - mãe, irmãos, cunhadas e sobrinhos. vai ser difícil acompanhar todos os nomes 


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top