026
Point of view: Lalisa Manobal
Acordei com a luz do sol invadindo meu quarto, já que as cortinas estavam abertas, deixando o local com uma claridade insuportável para meus olhos. Tentei me mover, mas meu braço estava preso, e ao olhar, percebi que Jennie o usava como travesseiro, enquanto dormia de costas para mim, com minha mão rodeando sua cintura.
Estávamos nuas.
Tentei lembrar do que aconteceu na noite passada, mas só me recordo de ter pedido ela em namoro e depois nós duas bebemos uma quantidade de vinho capaz de nos deixar muito bêbadas.
— Jennie — a chamei, sussurrando.
Ela ronronou feito um gatinho, não querendo acordar. A mulher se virou para mim ainda de olhos fechados, dando-me a visão perfeita de seus seios livres, sem nada os cobrindo. Admirei por míseros segundos aquele corpo maravilhoso, logo voltando à realidade.
— Jennie, lembra do que fizemos ontem? — sussurrei em seu ouvido, só então conseguindo sua atenção.
A morena abriu os olhos, me encarando por um tempo antes de levantar correndo, levando o cobertor junto com seu corpo e se tapando enquanto ficava de pé, encarando-me envergonhada.
— Não tem nada aí que eu não tenha visto. Por que está se escondendo? — perguntei, me sentando na cama, vendo-a se virar para trás.
— Coloque uma roupa, por favor — pediu com sua voz trêmula.
Sorri, percebendo que a mulher de ontem era a Ruby Jane, e não a Jennie Kim. Levantei-me e peguei meu roupão, o vestindo enquanto me aproximava dela, abraçando-a por trás, fazendo-a dar um pulo e encostar mais seu corpo no meu. Envolvi meus braços por sua cintura fina e perfeita, apertando-a de forma que não a machucasse. Pousei meu queixo em seu ombro, percebendo que sua respiração estava acelerada.
— Somos namoradas agora, não precisa ter vergonha — falei com minha voz suave.
— Eu não tô acostumada com isso... No nosso primeiro dia como namoradas já fizemos sexo, e bom, eu nunca nem tinha cogitado a ideia de começar a namorar com uma mulher, imagine transar.
— Ontem você me disse que sou sua primeira namorada. Nunca namorou antes? — negou. — Por quê? Receio que não foi por opção.
— É meio idiota — riu, sem graça, caminhando até o banheiro, enquanto eu a seguia, abraçada nela.
— Me conte! Eu quero conhecer mais de você.
— Vai ficar me abraçando mesmo? — assenti. — Ok — riu. — Eu nunca namorei porque sempre acreditei em amor à primeira vista, e eu me apaixonei por você desde a nossa primeira troca de olhares.
— Sério?
— Uhum — parou em frente à pia, olhando nosso reflexo. Fiz o mesmo, acariciando sua cintura. — Começar a trabalhar com você me fez acreditar que estávamos destinadas a ficar juntas.
— Hum — murmurei, virando seu corpo para mim. — Isso é verdade mesmo. Tô começando a acreditar nessas coisas, sabia? — aproximei-me de sua boca.
— É? — sorriu se afastando, e eu assenti. Ela colocou a mão na minha boca, encarando meus olhos com aquele seu olhar apaixonado. — Que tal escovarmos os dentes primeiro?
Concordei, soltando sua cintura, mesmo contra a minha vontade.
[...]
Fui até o quarto pegar minha carteira, pois Jennie e eu decidimos passar na casa da Momo para pegar minhas filhas e irmos tomar café em uma padaria. Já mandei mensagem para Chiquita e elas estão nos esperando.
Abri a carteira para verificar se meus documentos estavam ali e, ao abrir, percebi que a camisinha que eu havia trazido estava lá.
Fui até o banheiro e olhei a lixeira; não havia nada, nem embalagem nem nada. Nervosa, corri até a sala onde Jennie estava sentada no sofá, mexendo no celular, apenas me esperando para irmos.
— Jennie — gaguejei, recebendo sua atenção. — A gente não usou camisinha... — já pude sentir as lágrimas querendo aparecer em meus olhos.
Ela se levantou e ficou em minha frente, pousando sua pequena mão em minha bochecha e acariciando o local. Com a outra mão, segurou a minha levemente, me ajudando a parar de tremer.
— Por que está tão nervosa?
— Você pode engravidar... — sussurrei, sentindo uma lágrima escorrer. — Jennie — tirei sua mão de minha bochecha e a segurei firme —, toma a pílula do dia seguinte, por favor.
— Por que, Lisa? O que tem se eu engravidar? Não quer ter um filho meu? Eu sei que começamos a namorar ontem, mas eu realmente gosto de você. Meu sonho sempre foi engravidar, então não estou incomodada com...
— Eu não quero te perder, Jennie — a interrompi, falando desesperadamente e balançando nossas mãos, liberando mais lágrimas. — Por favor... E se você morrer? O que eu vou fazer, Jennie? Me apeguei tanto a você que não consigo imaginar minha vida sem você. Eu não posso passar por esse trauma de novo...
— Lalisa — falou com a voz firme, soltando minhas mãos e segurando meu rosto, limpando cada lágrima que estava ali. — Você não vai me perder. Não precisa ter medo, isso não vai acontecer — deixou um selinho em minha boca. — Eu te amo, me escutou? Se tá com medo, tudo bem, eu tomo a pílula do dia seguinte, mas saiba que, quando se sentir pronta para ter um filho meu, eu vou estar aqui, disposta a realizar o seu desejo.
— Não está brava?
— Óbvio que não, meu amor... Não quero te ver chorando por conta de traumas. Eu quero te ajudar, portanto, se isso te deixa mais tranquila, eu não vou engravidar agora, ok? — sua voz soava suavemente em meus ouvidos, tranquilizando-me um pouco. — Podemos comprar a pílula depois que tomarmos café? — assenti.
— Obrigada...
Ela sorriu, deixando um selinho demorado em minha boca, com suas mãos macias em meu rosto, seus dedos acariciando minha pele cuidadosamente.
Point of view: Narrador
Chiquita havia percebido o comportamento estranho de sua mãe, e quando elas pararam em uma farmácia, a garota ficou mais desconfiada ainda.
Ao chegarem em casa, ela pediu para Jennie levar Ellen para dentro enquanto ela e Lalisa iam até a praia caminhar um pouco. Enquanto Jennie tirava Ellen do bebê conforto, Chiquita, que estava segurando a bolsa de Jennie, pegou disfarçadamente a compra de Jennie, sem nem saber o que era.
Enquanto caminhava com sua mãe pela maré, sentindo o vento bater contra seus corpos, tentava achar o momento perfeito para perguntar o que havia acontecido.
— Vocês transaram? — perguntou como se fosse uma das amigas de sua mãe, recebendo o olhar surpreso de Lisa. — Desculpe! Vocês praticaram atos mais 18?
— Não vou falar disso com você.
— Mãe, você não tá bem, eu percebi isso, então me conta o que tá acontecendo com a senhora. Não quero te ver triste, já que quando estou triste, você faz de tudo pra me ver feliz. Então não é justo que eu não faça isso também. E eu também pensei que não escondíamos nada uma da outra.
— Eu tô com medo — suspirou, cruzando os braços e olhando para o céu. — Eu tô com medo de perder a Jennie, Quita. Tô com medo de que aconteça com ela o mesmo que aconteceu com a sua mãe.
— Posso te contar algo? — Lisa assentiu. — Eu também tenho medo. Sabe, às vezes tenho déjà-vus horríveis, e sempre que possível, tento não pensar no passado. Não gosto nem de cogitar a ideia de perder a Jennie, já que se isso acontecer, tudo aquilo vai se repetir de novo. Mas nesse caso, eu acho que devemos deixar o passado pra trás, mamãe. Querendo ou não, Jennie não é a Sooah, a Jennie é a Jennie, e se ela quer isso, não podemos impedir.
— Mas e se quando uma vida nova chegar na terra, outra for embora?
— Isso não vai acontecer. Se a Jennie tiver um parto normal, ela tem menos risco de morrer.
— A Sooah teve cesárea, se ela tivesse tido normal, ela estaria aqui? — olhou para sua filha, que deu de ombros.
— Eu não faço a mínima ideia. Mas, enfim, quer mesmo que a Jennie não engravide? Quer prendê-la junto com você nesse trauma?
— Não...
— Então você já sabe o que tem que fazer. Vai lá e converse com ela, diga que está pronta pra ter outro bebê, só que dessa vez, junto com a Jennie.
— Já é tarde. Ela deve ter tomado a pílula que compramos hoje mais cedo.
— Mamãe — a chamou, sorrindo enquanto tirava a caixinha do bolso de seu short. — Achou que eu descobri que você transaram como? Não tenho bola de cristal pra saber o que aconteceu ontem.
— Quando você pegou isso? A Jennie deixou? Você roubou, Chiquita?
— Eu não diria exatamente isso, mas é, eu roubei — colocou a mão na cintura, encarando Lisa com um semblante arteiro. — Me agradeça quando a obra de arte nascer, mamãe.
— Eu deveria te deixar de castigo por fazer isso, mocinha.
— Não deveria não, eu só tô ajudando vocês. Parece até que eu sou a adulta aqui, eu hein. Você vai lá ou não?
— Eu vou — falou fria, pegando a caixinha da mão de sua filha. — Mas a gente vai conversar sobre você roubar isso da Jennie. Tô de olho em você — ela levantou o dedo indicador e o dedo do meio, levando-os até o meio de seu nariz e logo os apontando para Chiquita. — Eu te amo, praguinha! — falou com a voz firme e um olhar sério, arrancando uma risada de Chiquita.
— Eu também te amo, praguinha grande!
Penúltimo capítulo, leitores e leitoras
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