013

Point of view: Jennie Kim

Desde que comecei a trabalhar nesta casa, percebi como Lalisa trata suas filhas. Já ouvi Chiquita chorar em seu quarto muitas vezes por causa da mãe, que gritou e brigou com ela. Sempre parte meu coração vê-la abalada.

Ellen não recebe nenhum afeto de Lalisa, e pelo que conversei com Momo, Lalisa não consegue amar Ellen porque sua esposa faleceu no parto da pequena. Isso parte meu coração, percebendo o quão "destruída" está essa família.

Acabei de fazer Ellen dormir, aproveitei e arrumei o quarto de Chiquita, pois estava bagunçado. Enquanto descia as escadas, passei pelo quarto de Lalisa e ouvi gritos. Parei ao lado da porta fechada e tentei escutar.

— LALISA, ACORDA PRA VIDA, CARALHO! SÃO SETE DA MANHÃ E VOCÊ ESTÁ BÊBADA, PORRA. VAI TRABALHAR, SAI DESSE QUARTO, VAI VIVER! VOCÊ TEM DUAS FILHAS, NÃO TÁ SOZINHA, PRECISA DAR ATENÇÃO A ELAS — Momo gritou.

— O QUE VOCÊ TÁ PENSANDO? EM SE MATAR? É ISSO QUE VOCÊ QUER? A MERDA DAQUELA MENSAGEM QUE VOCÊ MANDOU PRA GENTE, ERA UMA AMEAÇA DE SUICÍDIO? — a voz de Chaeyoung ecoou com irritação.

— QUANDO VOCÊ VAI CRESCER E ENFRENTAR A REALIDADE? ACHA QUE TEREMOS PACIÊNCIA PRA SEMPRE? ACHA QUE CHIQUITA VAI CONTINUAR PERTO DE VOCÊ QUANDO CRESCER?

— VOCÊ SENTIU A DOR QUE ELA SENTIU QUANDO SUA MÃE MORREU HÁ QUATRO ANOS, LEMBRA DO QUE VOCÊ PRECISOU? DE UM ABRAÇO. E SABE QUEM TE DEU ESSE ABRAÇO? SEU PAI. E DEPOIS DISSO, VOCÊ SE AFASTOU DELE.

— E QUANDO CHIQUITA PRECISOU DO SEU ABRAÇO, VOCÊ DEU? — perguntou Momo, elevando a voz. — NÃO! VOCÊ NÃO DEU. SABE POR QUÊ? PORQUE VOCÊ É IRRESPONSÁVEL, LALISA! VOCÊ SE TORNOU UMA PÉSSIMA MÃE A PARTIR DO MOMENTO EM QUE FEZ UMA CRIANÇA CUIDAR DE OUTRA CRIANÇA.

— Estou decepcionada com você. Queria poder voltar atrás e impedir que você se tornasse essa pessoa que é hoje — Chaeyoung falou, um pouco mais calma. — O aniversário de Chiquita é amanhã, é sua chance de se reconciliar com ela.

— Mas, por favor, não volte a ser uma idiota depois. Entenda que se Chiquita está agindo assim com Jennie, é porque VOCÊ não está dando atenção a ela. E por causa disso, ela está fazendo de tudo para chamar sua atenção e está se tornando uma adolescente malcriada — Momo acrescentou.

— Tome um banho de água gelada e cuide de seu machucado. Pense duas vezes antes de encher a cara desse jeito, já imaginou se fosse Chiquita quem tivesse entrado por aquela porta? Já imaginou a reação dela ao ver a mãe desmaiada no chão, toda machucada por causa de cachaça?

Após isso, nada foi escutado, apenas um suspiro alto.

— Vamos embora, Lisa é uma causa perdida, Momo.

Corri para o quarto de Chiquita ao ouvir isso, me escondendo lá e esperando alguns minutos para ter certeza de que elas tinham ido embora.

Lalisa desmaiou?

Eu sei que isso não tem nada a ver com minha vida, mas eu precisava ajudar aquela família. Mesmo sendo tratada com indiferença, percebi que Chiquita apenas não quer perder sua mãe. Momo disse que ela se sente insegura por causa do abraço que dei em Lalisa.

Decidida, caminhei até o quarto da mulher, percebendo que a porta estava entreaberta. Escutei um choro baixo antes de bater no objeto à frente e então o empurrei lentamente, vendo Lalisa sentada no chão, abraçada em seus joelhos e chorando baixo.

— Senhorita Manobal? Está tudo bem? — aproximei-me devagar, sentindo um frio na barriga ao trocar um olhar sério com ela. — Sua cara está muito machucada, é melhor cuidar disso.

— Quem te deu permissão para entrar no meu quarto? Saia! — mandou, com a voz fria e embargada. — SAI, JENNIE!

— Não precisa gritar, eu só quero te ajudar. Não vou sair daqui, olha o seu estado. Tome um banho, vou trazer algo pra você comer e alguns curativos. Chiquita não vai gostar de te ver assim.

Ela não se levantou, não se mexeu e não disse nada, o que me fez suspirar profundamente e me sentar ao lado dela, encarando seu quarto todo bagunçado, cheio de garrafas de cerveja.

— Já tentou procurar por ajuda? Isso não é normal, Lalisa. Se quiser, eu posso te ajudar com seu vício em álcool.

— Não preciso de ajuda.

— Mesmo você sendo grossa comigo, sei que existe uma pessoa muito dócil e gentil aí dentro de você, e confio que essa pessoa vai se libertar e matar essa Lalisa fria e idiota — ela não disse nada, apenas me olhou. — São sete da manhã, você pode descansar e comer algo. Depois, se quiser, eu te ajudo a preparar algo pra Chiquita.

— Seu dever é cuidar da Ellen, por que está me ajudando? — ela olhou para sua coxa, que tinha sangue na calça que a cobria.

— Porque não quero que você acabe como meu pai... — seus olhos me encararam curiosos. — Meu pai também se perdeu no mundo da cachaça. Ele morreu porque sofreu um acidente enquanto dirigia bêbado, completamente embriagado.

— Você acha que eu posso me tornar como seu pai?

— Se não se controlar e cuidar de si mesma, sim. Meu pai era um anjo, cuidava de todas nós. Eu e minhas irmãs somos muito gratas por ele. Somos adotadas, e receber seu amor foi incrível. Nunca tive uma mãe, já que ele era pai solo, e quando ele se perdeu na cachaça, me preparei para o pior.

— Por que pensou negativo?

— Porque ele saía toda noite pra beber e nos deixava preocupadas, sem notícias nem nada. Tenho medo de que você faça o mesmo com Chiquita, pois essa dor de ter que ir atrás do seu pai ou mãe em um bar qualquer, eu já senti e é péssima. Dói mais ainda saber que eu poderia ter impedido ele de sair naquela noite, talvez ele estivesse conosco agora — segurei o choro.

Lisa estava bêbada, mas parecia entender a situação, já que tentou se levantar e ficar em pé, o que não foi fácil, já que estava tonta. Seus olhos focaram em mim e pude ter certeza de que aquela mulher era frágil, mesmo parecendo não ser.

— Você pode me ajudar?

— Com o que exatamente? — levantei, segurando sua cintura para que ela não caísse.

— Em tudo. Eu me vejo morta, mesmo estando viva. Já tentei mudar muitas vezes, mas as lembranças dela rodeiam a minha mente sempre que eu tento. Tem oito meses que não consigo viver.

— Vai mudar mesmo?

— Vou. Eu prometo que vou. Só não garanto que isso vai ser rápido, ainda penso nela e nos momentos felizes que tivemos.

— Pense sobre a ideia de fazer terapia, isso pode te ajudar bastante. Agora vá se banhar, com cuidado, por favor.

Ela assentiu.

Sem segurança, a soltei, percebendo que estava com dificuldade para andar, já que estava segurando em todos os móveis. Sei que ela é dura, chata, e às vezes até insuportável, mas me doía muito vê-la naquele estado. Eu estava vendo meu pai nela, e aquilo só me destruía mais. Vou fazer o possível para que Chiquita e Ellen não tenham que sentir a dor que eu senti. Perder a pessoa que amamos por conta da bebida, dói mais que um tiro.

[...]

— Que horas são? — assustei-me ao escutar a voz sonolenta de Lalisa, virei-me para trás, vendo-a com o rosto todo amassado e acabei sorrindo.

— São duas da tarde — respondi, enquanto segurava a mamadeira de Ellen, ajudando-a a beber o leite.

— Por que não me acordou? Vai ficar tarde pra eu comprar as coisas pro aniversário da Chiquita — falou, indo apressadamente até o chaveiro que estava na parede.

— Lalisa, calma. Não precisa comprar tantas coisas. Vai aceitar minha ajuda pra organizar tudo? — seus olhos focaram em mim, e novamente, aquele frio na barriga foi inevitável.

Eu nunca me apaixonei por ninguém, pois sempre acreditei que quando acontecesse, sentiria o tal frio na barriga, e foi isso que aconteceu quando a vi pela primeira vez, quando senti seu toque, seu cheiro, vi seu sorriso. Portanto, não neguei que poderia sentir algo a mais por ela, e confesso que quando cheguei nesta casa e a vi em seu escritório, surgiu um pingo de esperança de que talvez pudéssemos dar certo. Na minha cabeça, o destino armou isso perfeitamente para nós.

— Tá, mas eu vou preparar tudo. É um ótimo passo, não é? — perguntou, com o cenho franzido. Assenti, indo até a mesa, sentindo seus olhos em mim.

— Fiz uma lista do que precisa, está aqui em cima — ela caminhou até mim, pegando o papel de cima da mesa. — Não são tantas coisas, então dá tempo de fazer tudo hoje, e se faltar algo, compramos amanhã de manhã.

— Perfeito. Eu vou comprar as coisas.

— Sem comer nada? Mina preparou algo pra você. Vá lá na cozinha e se alimente, precisará de energia pra andar o centro inteiro atrás dessas coisas.

— Mas...

— Mas nada. Se você quer mudar, comece substituindo a cerveja por comida. Ande, vá comer. Ou você quer desmaiar de novo? Sabe que sua saúde tá péssima, não sabe? — ela suspirou, assentindo e caminhando até a cozinha, mesmo não querendo.

Parecia que o que eu falei sobre o meu pai fez ela cair na real e perceber que estava virando alguém que só se importava com cerveja. Acho que o medo a consumiu, já que mudou bem rápido. Espero que essa sua determinação em cuidar de sua saúde e se reaproximar de sua filha, não acabe com a primeira lembrança que vier da sua esposa.

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