007

Point of view: Park Ahyeon

Chaeyoung e eu estamos cuidando da Ellen enquanto Chiquita e Lisa estão fora. Ficamos muito felizes ao ver que Lisa realmente está tentando ter uma relação saudável entre mãe e filha.

A porta de repente foi aberta com força, encaramos o local, vendo chiquita subir as escadas correndo e chorando, Lisa entrou logo atrás, seu semblante abalado nos revelou o que havia acontecido. Encarei minha irmã, que me pediu para ir ver como Chiquita estava. Assim fiz. Levantei-me do sofá e fui até o quarto da minha amiga.

— Cha, posso entrar? — bati na porta.

— Pode — sua voz embargada era evidente, o que me preocupou ainda mais.

Ao abrir a porta, o rangido suave revelou a visão dela deitada de bruços, sua cabeça enterrada em seu travesseiro, um choro baixo ecoando pelo local. Aproximei-me, pensando no que falaria para ela. Sentei-me na beirada da cama, ela provavelmente sentiu o colchão afundar, já que se sentou lentamente e me encarou nos olhos. Nossos olhares se encontraram em um instante, decifrei o que havia acontecido a partir dali, e sem a necessidade de palavras, ela se acomodou em meu colo, buscando refúgio e segurança em meus braços.

O choro dela era como uma arma apontada para a minha cabeça; doía vê-la assim, já que sempre foi alegre e feliz, tentando ver o lado positivo das coisas ruins.

Juro que mato a Lisa quando souber o que aquela mulher fez. Não sou muito de brigas, mas pela Chiquita, posso até acabar na delegacia, que não me importarei com as consequências. Não suporto ver ninguém fazê-la chorar, e mesmo sabendo que foi sua mãe, não consigo deixar de sentir rancor dela.

— Quer me contar o que aconteceu? — perguntei com uma voz suave e afetuosa, acariciando levemente sua bochecha, já que ela estava deitada de lado. Seu soluço, seu choro alto, seu sofrimento me causava angústia, angústia de tê-la em meus braços sofrendo e não poder fazer nada para aliviar essa dor que ela sentia.

— Eu vi minha mãe abraçando outra mulher... Fiquei com ciúmes, já que ela não abraça a própria filha, mas uma estranha...

— Você não está sozinha, estou aqui. Vamos ficar juntas assim, e quando se sentir melhor, pode sair do abraço se quiser. Chore o quanto precisar, não há forma melhor de lidar com a dor do que chorar.

— Eu podia... A gente podia voltar a ser como antes, e eu estraguei tudo. Eu sempre estrago tudo. Fui eu quem pediu para ter uma irmãzinha, fui eu a culpada pela morte da minha mãe. Eu fui...

— Riracha Manobal, nunca mais fale isso, me ouviu? — a interrompi, sentindo suas lágrimas molharem o tecido do meu moletom. — Você não é culpada de nada, se você e sua mãe brigaram, foi porque ela ainda não está madura o suficiente para enxergar as filhas lindas e perfeitas que ela tem. E outra coisa: se sua mãe morreu, foi porque estava na hora. Não foi por sua culpa, me entendeu? — perguntei, mas ela não respondeu. — Me ouviu, Riracha?

A garota saiu do abraço, encarando meus olhos com suas pupilas um pouco dilatadas. Pude perceber seus olhos inchados e seu rosto vermelho.

— Eu odeio aquela mulher. Será que ela não vê tudo que eu faço? Eu me esforço tanto só para ganhar UM sorriso dela, e nem isso eu consigo. Sem contar que estou perdendo minha adolescência cuidando de uma criança que tem uma mãe "presente" — ela fez aspas.

Eu precisava distraí-la, mas não sabia como...

— Vou tomar um banho, tudo bem?

— Chiquita — puxei seu braço, fazendo-a me olhar. — Você vai tomar um banho! — falei com voz firme. Ela assentiu, mas não parecia totalmente segura. — Se demorar, vou revistar todo o seu corpo.

— Não confia em mim?

— Eu confio, mas quando está assim, sei o que faz pra amenizar a dor. Se não está dançando, imagino que esteja doendo muito, né? — ela olhou para o chão. — Ei, olha para mim — levantei-me ficando em sua frente. Coloquei uma mecha de seu cabelo para trás e sorri gentilmente. — A dor física nem sempre é a solução para acabar com a dor sentimental. O que dói aqui — levei meu indicador ao seu peito esquerdo, vendo seu olhar o seguir -, não se cura aqui — apontei para seu pulso.

— Ahyeon... promete que nunca, nunca mesmo vai me deixar sozinha?

— O que seria do mundo se o sol não existisse?

— Um completo desastre.

— Essa é a minha vida sem você — uma lágrima que estava presa em seus olhos, escorreu, junto a um sorriso que apareceu em seus lábios. Com meu polegar, limpei aquela gota lentamente, segurando o choro. — Eu jamais deixaria o meu solzinho sem a sua lua.

— Você é a lua? — assenti. — Você é a lua e eu sou o sol. Mas a Lua e o sol se separam, eles não ficam juntos.

Segurei suas duas mãos, encarando-as por um tempo antes de voltar a prestar atenção em seus lindos e atraentes olhos.

— Nós ficamos longe uma da outra na maior parte do tempo, mas mesmo assim, sempre arranjamos um tempo para nos encontrarmos. O sol fica longe da lua, mas mesmo assim, se encontram e formam o eclipse. E, eu não sei se percebeu, mas sempre que estamos juntas, o tempo está limpo, não está nublado ou chovendo. De dia, o azul está estalando no céu, de noite, as estrelas estão brilhando sem parar.

— Eu te amo, Yeon — ela sussurrou, deixando lágrimas compor seu lindo rosto.

Inclinei-me para deixar um selar demorado em sua testa, enquanto acariciava suas duas mãos levemente.

— Eu também te amo, solzinho — cochichei, próximo a ela. — Agora vá tomar banho, quando sair, estarei aqui te esperando.

[...]

Até que ela não demorou tanto.

Seu banho durou no máximo dez minutos, e nesse tempo, fiquei assistindo a uma série na sua TV. Olhei para a porta do banheiro sendo aberta; logo ela saiu com a calça do seu pijama, meia e top. Reparei que em seu braço havia marcas de dedos e a encarei com um misto de raiva e preocupação.

— Eu esqueci a parte de cima — ela riu, pegando a roupa que estava em cima da cama, mas antes que pudesse colocar, segurei seu pulso, sentando-me na beirada do colchão. — O que foi?

— Quem fez isso com você? Foi a Lisa? — seu silêncio e seu olhar triste foram a resposta mais sincera que ouvi dela. — Eu já volto — levantei-me e fui até a porta.

— Onde você vai? Não vai brigar com a minha mãe, né?

— Eu vou pegar uma pomada pra passar nesse roxo. Me espera aqui, não vou demorar — ela assentiu, mas dava para ver sua preocupação.

Fui até a sala, onde a Lisa e minha irmã conversavam, sentadas no sofá. Ellen dormia no colchão que estava no chão. Ambas olharam para mim assim que me aproximei, pisando forte, com os braços cruzados e a raiva tomando conta do meu corpo. Encarei Lalisa com rancor, ódio e todos os sentimentos ruins que existem.

— Tem pomada pra passar em manchas roxas, Lalisa? — perguntei com um tom de sarcasmo.

— Pra que você quer pomada? — minha irmã perguntou, franzindo o cenho.

— Não sei, pergunta para sua amiguinha. Por que eu precisaria dessa pomada, Lalisa? Lembra de algo que aconteceu há cerca de uma hora atrás?

Ela suspirou, ignorando minha pergunta e indo pegar uma pomada. Esperei ali, batendo o pé no chão, impaciente e não conseguindo esconder meu desgosto por aquela mulher.

— O que aconteceu?

— A Lalisa apertou o braço da Chiquita. A marca dos dedos dela está na pele da própria filha — falei, vendo minha irmã mudar seu semblante calmo para surpreso.

— Como ela está?

— Triste, obviamente. Por que você não tenta conversar com a Lisa e faz ela enxergar que está sendo infantil e cruel demais? — ela se aproximou de mim, ficando em minha frente.

— Eu vou conversar com ela. Não conta isso para a Momo, é capaz dela querer matar a Lalisa.

— Não seria uma má ideia — murmurei, recebendo um beliscão dela. — Foi mal, pensei alto demais.

— Aqui — Lisa apareceu ao meu lado, entregando-me a pomada com aquele olhar morto e acabado.

Por Deus! Aquela mulher já havia morrido há oito meses, parecia que só vivia por obrigação, de tanta má vontade de se expressar. Acho que desde o ano passado, nunca a vi sorrir. Na verdade, eu quase nunca via a sua cara, quem dirá sorrir.

Ao pegar a pomada, subi até o quarto da Chiquita, escutando sua risada ao me aproximar. Assim que entrei, abri um sorriso bobo em vê-la rindo da série que assistia. O sorriso e a risada dela iluminavam todas as minhas noites que as nuvens cobriam a lua.

— Voltei com a pomada. Tira o moletom para eu passar — falei, sentando ao seu lado.

Ela tirou apenas o braço que estava roxo, creio que por preguiça de tirar todo o moletom. Coloquei um pouco da pomada no meu dedo indicador e do meio, logo começando a passar lentamente e cuidadosamente em seu braço.

Nem percebi quando seus olhos focaram em mim. O jeito que aquela garota me olhava deixava-me com borboletas no estômago, um frio imenso na barriga e com meu coração palpitando. Mas, não podia dizer nada, já que eu a olhava da mesma forma.

— Eu amo seu toque, sabia?

A sua voz soou como uma melodia incrível, deixando-me arrepiada por conta de suas palavras. Chiquita tinha o costume de flertar comigo, me elogiar a cada movimento bobo que eu fazia, me secar quando eu não estava olhando, me fotografar enquanto eu estava desprevenida — as fotos sempre ficavam lindas -, ela fazia tudo o que uma namorada faria. E eu admiro que mesmo gostando de mim, não se afastou como a maioria das pessoas fazem, pelo contrário, ela me trata como se fosse minha namorada, às vezes me dá flores e chocolates, mas não me beija ou tenta algum contato que possa me deixar desconfortável.

— Eu amo a sua voz — falei quase num sussurro, vendo-a sorrir vitoriosamente.

Ela amava quando eu a elogiava, sempre dizia que ser elogiada por mim era uma grande conquista. Às vezes, quando eu demonstrava algum afeto romântico, seja um elogio ou um ato, ela comemorava como um jogador de futebol quando faz um gol. Já passei tanta vergonha por causa disso...

— Amanhã você tem aula de dança, certo? — mudei de assunto e ela assentiu. — Ok, era só isso que eu queria saber.

— Por quê?

Fechei a pomada, preparando-me para levá-la de volta para Lisa, tentando arranjar paciência para não voar no pescoço daquele defunto vivo.

— Eu ia te chamar para ir ao parque, mas deixa para outro dia. — Ela abriu a boca, mas já sabendo o que ela falaria, não deixei que dissesse nada. — Não, você não vai faltar na sua aula de dança, Riracha.

Seus lábios se formaram em um beicinho fofo, arrancando-me um sorriso singelo.

— Eu vou levar a pomada para a sua mãe. Pode colocar o outro lado do seu moletom.

— Não demora, quero te mostrar algo que fiz — assenti, saindo do quarto.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top