004
Point of view: Riracha Manobal
Como de costume, o choro de Ellen me acordou na madrugada, mas, ao contrário das outras vezes, seu corpo estava mais quente. Apressei-me em acender a luz assim que senti sua temperatura. Meus olhos arderam com a iluminação forte, mas tudo que me importava era minha irmã.
— O que foi, bebê? — perguntei, pegando-a no colo, mas não conseguindo fazê-la parar de chorar apenas com isso.
Rapidamente desci as escadas, seu choro aumentando a cada passo que dava. Ultimamente, seu nariz escorria bastante e às vezes ela tossia, mas como está frio, imaginei que fosse apenas uma simples gripe. Até dei-lhe um remédio que haviam receitado na última vez que a levamos ao médico, mas parece que não resolveu.
Caminhei até a cozinha, acendendo todas as luzes enquanto me aproximava da caixinha de remédios, onde estava o termômetro. Rapidamente o coloquei debaixo de seu braço, esperando até que apitasse, enquanto tentava acalmá-la. O choro ficava cada vez mais alto, o que me preocupava, pois o medo de minha mãe acordar e brigar conosco era muito grande.
Ao apitar, o tirei, vendo que ela estava com 37.7. Sabia que aquilo poderia ser alguma doença, virose ou qualquer coisa do tipo, então me assustei ao ver.
— O que tá acontecendo? Por que ela não para de chorar? — olhei para a entrada da cozinha, onde minha mãe se encontrava, de pijama e com o rosto todo amassado.
— Ela está com 37.7 de febre. Precisamos levá-la ao médico agora. Vai colocar uma roupa, mãe! Anda! — passei por ela, subindo até meu quarto para tirar meu pijama e vestir minha roupa.
Lisa não disse nada, apenas fez o que mandei. Da última vez, eu, Momo e Chaeyoung a levamos ao médico, pois a bendita da minha mãe não estava em casa, já que havia saído para sei lá onde.
Ao descer, vi que ela já estava pronta, conferindo se todos os documentos da Ellen estavam ali. Percebi que seu semblante estava assustado, como se aquilo fosse um trauma para ela. Seus olhos tinham lágrimas, enquanto seu corpo tremia sem parar. Estranhei, mas apenas a segui até o carro. O silêncio dentro do veículo era amedrontador, junto com o medo que me consumia a cada sinal vermelho que ela ultrapassava, mas chegamos rapidamente ao hospital, o que foi um alívio.
Ela foi fazer a ficha da Ellen, e não demorou para que ela fosse chamada. O doutor permitiu que eu entrasse junto com minha mãe para a consulta. Sentamos nas cadeiras que haviam ali, enquanto minha irmã cheirava meu moletom. Ellen não estava mais chorando, mas seu corpo ainda estava quente.
— Ela tem febres com frequência?
Minha mãe me encarou, sem saber o que responder. Confesso que senti um grande desgosto dela, também me senti desconfortável, pois era como se eu fosse a mãe da Ellen, o que é completamente ridículo. Ignorei isso e respondi ao médico com calma, enquanto acariciava levemente o braço da minha irmã.
— Não eram altas, normalmente um banho ajudava. Na verdade, as temperaturas nunca passaram de 37.2, então nunca me preocupei muito, já que ela não apresentava nenhum outro sintoma.
— Ah, entendi. E como anda a saúde dela? A alimentação e a amamentação estão corretas? — ele olhou para minha mãe, que começou a tremer a perna.
— A mãe dela não está mais entre nós, então ela não recebe leite materno — ela disse, mas pude perceber seu desconforto.
O médico continuou fazendo perguntas, até que Ellen foi levada para uma sala onde só poderia entrar uma pessoa. Percebi que minha mãe estava muito preocupada, então pedi para ela dar uma volta enquanto eu ficava com Ellen. Parecia ser o melhor a se fazer.
Minha irmã acabou adormecendo depois de um tempo, sentindo o cheiro do meu perfume, que mesmo após várias lavagens, ainda impregnava minhas roupas. Olhei seu rosto pequeno, sentindo uma dor no coração ao perceber que eu era como uma mãe para ela, como se não tivesse mãe de verdade. Por mais que Lisa diga que não tem nada contra Ellen, eu sei que ela a culpa pela morte da nossa mãe, Sooah, e isso dói mais em mim do que nela...
Point of view: Lalisa Manobal
Enquanto a brisa gelada batia contra meu corpo, sentada em um banco em frente ao hospital, eu aguardava por notícias da Ellen. Já passei por isso antes, Riracha nos deu um grande susto. Lembro-me dela chegando ao hospital com o corpo mole e a boca roxa, sua pele quente, e tudo o que consegui fazer foi chorar e rezar para que ela ficasse bem. Aquilo foi meu maior trauma, pensei que iria perdê-la para sempre, e hoje, ao saber que Ellen estava com febre, o medo daquela cena se repetir me assombrou novamente.
— Oi... Com licença — olhei para trás ao ouvir uma voz doce, vendo que era a moça que ajudei na apresentação da Chiquita. — Tudo bem? — assenti, mesmo estando chorando por dentro. — Posso me sentar aqui? — dei de ombros, olhando para frente novamente. — Muito obrigada por aquele dia, queria poder te recompensar, mas não sei como.
— Não precisa me recompensar, só te ajudei porque conheço aquele cara. Ele já foi preso por estupro e assédio, então se vê-lo novamente, dê meia volta e saia correndo.
Ela ficou em silêncio, provavelmente chocada com o que eu havia dito. Para ser sincera, éramos amigos no fundamental, até que descobri que ele engravidou uma garota sem o consentimento dela e a abandonou, simplesmente a abandonou. Como ele tinha um bom relacionamento com a diretora, sendo um dos melhores alunos, conseguiu inventar uma mentira para expulsar a garota da escola.
— Está doente? — ela quebrou o silêncio.
— O quê?
— Você está aqui porque está doente ou só veio visitar alguém? — senti seus olhos em mim, mas não a encarei em momento algum.
Suspirei, observando os carros passarem, algumas pessoas caminhando por ali. Seul é uma cidade que nunca dorme, isso é um fato. O clima gélido, as nuvens escuras indicando chuva, o vento forte fazendo nossos fios voarem, tudo isso só me deixava mais triste e preocupada.
— Minha filha está com febre.
— Não deveria estar lá dentro, então?
— Não consigo ficar com ela — baixei meu olhar, sentindo o peso das minhas próprias palavras. Eu sou uma péssima mãe.
— Por quê? Não gosta de hospitais? — neguei. — Bom, eu posso te ajudar. Também não gosto muito, mas sou uma ótima companhia, segundo as minhas irmãs. Está com fome? Podemos comer alguma coisa.
— Eu preciso estar aqui para saber de qualquer notícia da minha filha. E você não está doente? — perguntei, olhando para ela depois de um tempo.
— Eu vim ver meu pai. Ele já está bem velhinho, respirando por máquinas. E também vim fazer alguns exames anuais. Eu sei que está cedo, mas de dia tem muita gente, então teria que esperar muito — seus lábios tinham um sorriso, tentando mascarar seu verdadeiro sentimento, mas seu olhar estava brilhoso, como se quisesse chorar ao falar de seu pai. Apenas assenti, sem saber o que responder. — Bom, eu já volto. Não saia daqui, a não ser que chegue notícias da sua filha.
Ela saiu, se afastando do hospital.
Meu celular apitou segundos depois, e eu logo o peguei, ansiando por uma mensagem da Chiquita. E lá estava. Era uma foto dela fazendo bico, enquanto Ellen dormia cheirando seu moletom. Confesso que aquilo aqueceu meu coração. Quando percebi, um sorriso habitava meu rosto e lágrimas enchiam meus olhos, deixando minha visão um pouco embaçada.
Coloquei aquela foto como papel de parede do meu celular e tirei print, mandando para minha filha em seguida, junto com a mensagem escrita: "Estou usando como papel de parede, e arrisco em dizer que vai ficar aqui até vocês tirarem outra foto juntas".
Minha atenção foi capturada por uma sacola do McDonald's, fazendo-me erguer o olhar até a pessoa que a segurava à minha frente. Era a mesma mulher que havia saído há pouco, seus lábios formavam um sorriso singelo e gentil.
— Pra você. Não sei se está com fome ou não, mas é melhor comer — hesitei por um momento, meio desconfiada. — Eu não coloquei veneno aí não. Se quiser, pode até trocar o lanche. Fico com o seu e você com o meu. É do mesmo sabor mesmo.
Minha barriga roncava desde que saí de casa, então resolvi aceitar, apenas para saciar minha ansiedade e preocupação. Ela sorriu satisfeita e sentou-se ao meu lado, começando a comer seu lanche. Enquanto eu retirava o copo de refrigerante e o lanche de dentro da sacola, reparei que seus olhos se fixaram no meu celular, ligado na tela de bloqueio.
— São suas filhas?
— Sim, são sim. Por quê? — olhei para ela, abrindo a embalagem do lanche.
— Elas são lindas, e essa maior se parece muito com você — suas palavras saíram como uma melodia, e logo um sorriso orgulhoso surgiu em meu rosto.
— Sim, elas são perfeitas. Essa maior é a Chiquita, ela é o meu maior orgulho. Quis seguir meus passos e desde criança dançava pela casa toda. Inclusive, ela se apresentou naquele teatro.
— Lembro dela, foi a principal. Muito talentosa também, imagino que a mãe seja igual — ela deu uma mordida em seu lanche, e eu logo fiz o mesmo com o meu.
A explosão de sabores encheu minha boca, aquilo estava delicioso. O queijo derretido se fazia presente e quanto mais eu puxava, mais difícil ficava de separá-lo do resto do lanche.
— Eu era. Parei de dançar faz um tempo por conta do trabalho e outras responsabilidades, não tinha tanto tempo para praticar esse hobby.
— Creio que, se tentar dançar novamente, vai se sair bem — ela me ofereceu um sorriso gentil e incentivador, mas não foi suficiente para me fazer repensar sobre aquilo.
Depois de um tempo, terminamos de comer, agradeci profundamente a ela. Reparei que seu queixo tremia com o frio, enquanto suas mãos estavam escondidas entre suas pernas. Como agradecimento, tirei minha jaqueta e entreguei para ela, que me encarou confusa.
— Tome! Não precisa me devolver, pode ficar com você.
— Mas...
— Você está com frio — a interrompi. — Ela não vai fazer falta pra mim. Posso comprar várias dela amanhã, então pode ficar. É de marca, original da Lloud.
Depois de insistir muito, ela finalmente aceitou, colocando a jaqueta e relaxando um pouco mais seus músculos. Seu sorriso gengival apareceu ao olhar para mim novamente, seus olhos brilhavam sob a luz do poste, e suas bochechas estavam avermelhadas.
— Muito obrigada! Me chamo Jennie Kim, inclusive — ela se levantou, curvando-se para mim.
Fiz o mesmo enquanto me apresentava, percebendo que ainda não sabia seu nome, e mesmo assim aceitei seu lanche. Eu poderia estar morrendo envenenada agora.
— Eu já vou indo. Espero que sua filha fique bem. Tchau, senhora Manobal! — ela se curvou novamente, com suas mãos no bolso da minha jaqueta, enquanto seus lábios estavam levemente curvados para o lado.
— Tchau, senhorita Kim — curvei-me também.
Consegui ser gentil com ela por um momento, mas logo minha expressão voltou ao normal. Pessoas que considero gentis, trato bem, já outras não. O costume de falar com estranhos assim desapareceu há muito tempo, provavelmente só conversei hoje para não ficar pensando no pior.
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