A luz do clube estava amena, variações de vermelho, azul, verde e roxo balançando em feixes pela pista de dança, dando o devido ar de festa que as pessoas eufóricas tanto apreciavam. A banda no palco estava empolgada tocando músicas antigas e baladas românticas em uma versão mais animada. Nunca fui muito fã de adaptações, mas de fato era melhor ouvi-las no slemp de guitarra e bateria no que o costumeiro groove melancólico.

Suspiro contendo o ímpeto de buscar o papel guardado na jaqueta, ainda não Sirius, você não está suficientemente bêbado para lidar com isso.

Ao invés disso, pego meu celular no bolso da calça, ponderando um pouco, vagando o olhar através do ambiente, procurando algo que me disse em claras palavras para não fazer aquilo, mas pareceu uma possessão, totalmente contra minha vontade, mal senti quando digitei minha senha, só pude fingir que não estava fazendo aquilo.

Olhei a tela do celular, a besteira digitada ali, o número discado esperando para ser ligado. Meu polegar ameaçava fazer o de sempre recusando. Mordi o lábio inferior antes de soltar um suspiro, me sentindo atordoado, eu sou patético. Virei o resto de tequila pura e já quente na boca, ao mesmo tempo que a base de vidro bateu no balcão, minha digital tocou o celular, em um impulso o nome dele já piscava na tela, chamando. Sabia que não deveria ligar, que ele provavelmente não atenderia, mas o bolo em minha garganta e a cabeça girando me controlava muito mais que meu senso.

Eu precisava ouvir sua voz, era para nós estarmos fugindo para nos encontrar, ambos reclamando de sua irmã maluca com suas tradições e medo de má sorte. Eu não deveria estar ali, em um clube longe de casa, bebendo e sendo piegas. As coisas estavam tão erradas.

No New Year's Day to celebrate

No chocolate covered candy hearts to give away

No first of spring

No song to sing

In fact here's just another ordinary day

Fazia meses que nada me fazia rir, poucos eram os momentos onde eu conseguia sorrir, sem ele na minha vida era realmente difícil manter o otimismo e o bom humor. Ver que ele rejeitou minha ligação só fez meu peito apertar mais, nem fazendo sentir menor e inferior.

Pouco me importava com o clima festivo de fim de ano, não teria o que comemorar no ano novo, minha única razão recusava minha chamada, deveríamos estar confidenciando segredos e bolando planos mirabolantes para nos ver antes do altar. Ao invés disso, ele estava recusando minha chamada.

Não teria nada que me tirasse do eixo de tristeza no qual estava. Pedi mais uma dose de tequila, o barman me olhava com pena, não tinha porque me importar com isso, minha situação era lastimável mesmo, talvez isso o fizesse me dar desconto nessa conta astronômica que eu estava fazendo.

Beberico a nova dose, ouvindo os agradecimentos da banda, antes de iniciar uma nova música ainda mais alta, e mesmo conhecendo a canção não quis cantar, não consegui, de todas as músicas do mundo, logo aquela me perseguia. Pude sentir lágrimas se formando em meus olhos e a voz dele ressoava em minha mente, "Essa não pode ser nossa música, é sobre término, Sirius!" e no fim, era nossa música.

Apaguei seu número do meu celular, não que fizesse sentido.

Disquei o número, memorizado, novamente, na esperança que o tempo de ir colocando os nove dígitos no celular fosse o suficiente para me fazer desistir daquela loucura.

No April rain

No flowers bloom

No wedding Saturday within the month of June

But what it is, is something true

Made up of these three words that I must say to you

Soube que não iria adiantar de nada, tanto, continuar insistindo na ligação quanto apagar seu número do aparelho. Assim como seu número estava gravado na minha mente, seu rosto, sua voz, ele por completo não iria me abandonar, eternamente memorizado em minha alma e coração.

Pouco importava se apagasse seu número, você continuaria fugindo dos lugares que frequento, rejeitando minhas ligações e me apagando da sua vida. Beberiquei o destilado sem ânimo algum, ouvindo o som de "chamando" junto da mudança drástica que a banda fazia na música, engajando em seu refrão com o instrumental original, o ambiente sendo preenchido pelo coro bêbado das pessoas, reverberando o refrão.

Quase engasguei quando sua voz se fez presente do outro lado. Tanto para ser dito, tanto para se desculpar, como queria por em palavras a bagunça que ele deixou para trás quando foi embora. Queria discutir porque foi embora, porque não me levou contigo, queria tanto ter ido.

I just called to say I love you

I just called to say how much I care

I just called to say I love you

And I mean it from the bottom of my heart

Minha voz estava embolada quando comecei a balbuciar coisas sem nexo algum, ele suspirou com certa raiva do outro lado da linha. Ameaçou desligar a ligação, o desespero foi tão natural, meses sem ouvir sua voz e agora ela só repete de forma incansável que é para não lhe ligar, o inferno seria menos doloroso que isso, havia certeza.

Só consegui dizer o quanto te amava, o quanto me importava com você, em um ato de afoito, impulsivo pela mera possibilidade de ser a última vez que eu poderia lhe proferir aquilo. Eu gostaria de saber se o afeto o qual me olhava no passado ainda existia, se ainda havia qualquer esperança para nós. Tirar de você notícias e sentimentos que não possuía, qualquer coisa que tornasse os meses longe menos doloroso de se lembrar

Querendo saber se ainda doía em você ver nossas fotos juntos, se também chorava vendo o ensaio fotográfico de nosso futuro casamento, se ainda lia nosso chat com pesar. Se eu ainda significava algo na sua vida. Se cada dia especial longe trazia o gosto de bile na sua boca. Mas no fim, eu lhe ligava, para dizer que meu amor nunca acabou e você desligava, talvez por odiar conversar com bêbados como eu, ou o problema completo se limitava as duas letras, eu.

No summer's high

No warm July

No harvest moon to light one tender August night

No autumn breeze

No falling leaves

Not even time for birds to fly to southern skies

Eram em noites como essa, onde a lua cheia iluminava o céu, onde minha mente simplesmente não conseguia desvincular sua imagem de cada pequena coisa ao meu redor, onde eu conseguia ouvir nossas conversas sussurradas a luz do asteroide, que eu me sentia ainda mais piegas e deplorável.

Como se nosso amor de anos pudesse ser resumido em suas coisas em caixas pelo o que já foi nosso apartamento, que um dia já foi cenário de confidência e juras do mais puro amor, resumido em fotos e conversas velhas, em brisas de outono que levaram nossa paixão. Sintetizado e comprimido em memórias se deteriorando pela tristeza e gastura do tempo longe, sem qualquer resposta.

Eu poderia culpar a todos, até mesmo o universo, o qual você tanto apreciava, poderia virar detentor de minha frustração, mas se havia um culpado pela sua ida, ele era eu, que não vi você se afastar, não percebi minha família corroendo nosso relacionamento, que não te percebi, não notei suas súplicas mudas, mas pior que isso, duvidei de você quando o fez de forma verbal, levando quase como loucura sua histórias. Eu fui o maior culpado de nosso fim.

Você se foi, mas eu dei a razão para isso.

Eu lhe ligo, mas também fui eu que dei a razão para desligar.

No Libra sun

No Halloween

No giving thanks to all the Christmas joy you bring

But what it is, though old so new

To fill your heart like no three words could ever do

As festas de fim de ano estão chegando, e eu não consigo sorrir diante ao ar familiar e festivo. Você amava o natal, um feriado de tradições e família, era o que repetia toda vez que xingava os velhos de shopping fantasiado de "bom velhinho", mas se fosse para voltar, eu colocaria uma barba falsa, calças horríveis, eu seria uma rena de nariz vermelho, um cara se fazendo de elfo, até mesmo a mamãe noel, se fosse para ouvir sua risada, ter seus olhos sobre mim novamente. Poder ser sua família nesse natal, manter nossas tradições, criar novas. Seria nosso primeiro feriado casados, como maridos. Mas eu estraguei tudo.

Por você, eu participaria do halloween, não iria implicar com sua fantasia de casal, colocaria a fantasia de Jasmine que comprou no ano passado só para lhe ver de Alladin, deixaria você transformá-la em zumbi e não iria xingar as crianças que iriam rir da minha cara.

Eu faria de tudo, absolutamente tudo para tê-lo novamente, para você me colocar novamente em seu planos. E conforme os pensamentos se transformam em palavras, eu já não tinha certeza se você continuava na chamada, se eu estava alucinando sua respiração por conta do som alto.

I just called to say I love you

I just called to say how much I care

I just called to say I love you

And I mean it from the bottom of my heart

Você ainda me ouvia enquanto eu proclamava meu amor. Verifiquei duas vezes a barra verde com a minutagem. Você decidiu que seria legal me ouvir hoje, acho que talvez, você ainda lembre que seria o dia do nosso casamento. Talvez você também queria ouvir minha voz, mesmo que embargada pela tequila. Talvez ainda me ame como o amo.

Me agarro a todas as esperanças, criando teorias, cenários onde tudo não passa de um grande pesadelo. Até que você finalmente resolveu falar, e minha mente tem certeza que sairá palavras doces, mas você nunca foi alguém previsível, e a primeira e única frase que sai de seus lábios, Remus Lupin, depois de meses é simples, cruel e crua:

" Por que você só me liga quando está chapado?"

Notas Finais:

Primeiro capítulo dessa história curtinha feita exclusivamente para expressar meu amor por songfics e como meu perfil facilmente poderia ser só delas.

Sigam o setembro wolfstar!!

No wattpad: @wolfstarmoth

Obrigada pela betagem @devonsgfs

E claro vc é tudo @psychocover vlw pela capa gata

Segue a letra da música traduzida:

https://youtu.be/rMSXe9VEScw