Capítulo 1 | ritual
Austrália, Sydney. - 2h55 am. 1999.
O cenário naquele barracão escuro era medonho. Mas para alguns, seria uma obra de arte.
Havia um bode amarrado em cima de uma bancada de cimento, sangue escorria aos montes, e a mulher ali presente aproveitava para pegar o sangue com um cálice.
Com as próprias mãos desenhava um círculo com uma estrela de cinco pontas no meio.
Acendeu as velas posicionadas estrategicamente e colocou o bode dentro do círculo. Pegou uma faca de prata e começou a proferir algumas palavras em latim enquanto passava a lâmina pela própria palma da mão.
- Belial! Behemoth! Belzebu! Asmodeus! Satanás! Lúcifer! - a mulher gritava em plenos pulmões, o desespero já havia tomado conta de si antes mesmo de fazer o ritual de invocação. - Belial! Behemoth! Belzebu! Asmodeus! Satanás! LÚCIFER! - gritou mais uma vez, sentiu sua garganta arder ao proferir a última palavra.
- Filha. - a loira sentiu cada poro de seu corpo arrepiar. A voz que tanto conhecia ecoou como um sussurro suave em seus ouvidos. Ela, aos prantos, continuava com a cabeça abaixada, pela vergonha e pelo desgosto de si mesma. A figura em sua frente se abaixou e levantou seu rosto pelo queixo.
- Mestre, e-eu não sabia- foi interrompida pelos dedos da criatura magnífica à sua frente. Sua aparência era a mais deslumbrante possível. Não poderia ser nominado por nenhum gênero. Sua existência ultrapassava qualquer rótulo terreno. Sua pele era escura e brilhosa, seus lábios eram cheios e seus olhos eram completamente brancos e reluzentes. Apesar de ser o Diabo, a divindade de Lúcifer ainda estava dentro de si.
- Fostes tola. - a voz ecoava por seus ouvidos, mas sua boca não se mexia. - A alma da criança em seu ventre me pertence. - ela assentiu atenciosa. - No entanto, não a verá crescer. Virei pessoalmente buscar sua alma, Rosé.
Nesse momento, viu que não teria outra maneira de se redimir com seu Mestre. Teria que arrumar um jeito de a criança conseguir viver decentemente. Belial desapareceu assim que piscou os olhos, colocou as mãos ensanguentadas no ventre e proferiu mais algumas palavras em latim.
- Behemoth, eu lhe presenteio com essa criança, como forma de reparar meu pecado. - nesse momento, sentiu em seu ventre uma sensação que nunca havia sentido, mas ela estava em paz.
Depois de limpar o que havia feito seguiu caminho para a estação de trem e avistou um telefone público. Discou os números que já sabia de cabeça e torceu para sua irmã atender.
- Alô? - Rosé suspirou aliviada.
- Jisoo? Unnie? - falou sentindo sua garganta fechar. Faziam tantos anos que não a via e agora precisaria de sua ajuda mais do que tudo.
- Oh meu Deus! - Rosé revirou os olhos pelo nome citado, mesmo sabendo que era automático das pessoas. - Como está? Faz tempo que não me liga!
- Eu estou bem, mas eu preciso da sua ajuda, mais do que nunca. Acho que precisarei ir pra Seoul. - disse indo direto ao ponto e ouviu um suspiro do outro lado.
- Sabe que pode contar comigo. Sempre. - a loira fungou, limpando as lágrimas. - Venha assim que puder.
- Obrigada. Amo você. - a coreana se despediu do outro lado e colocou o telefone no gancho.
Pegou o próximo trem até sua casa e só então desabou. Seu psicológico estava terrivelmente abalado. Tanto por ter falhado como serva, quanto por não poder ver sua criança crescer. Mas saberia que ela ficaria segura. Havia entregado sua alma ao Senhor do submundo, sabia que a criança não ficaria desamparada.
Arrumou suas coisas e em menos de uma semana já estava em Seoul, na casa de sua irmã. Jisoo ficou espantada no começo, sabia das práticas da irmã, mas não imaginava que ela poderia ter um fim assim.
Jisoo aceitou que a criança fosse registrada em seu nome e com pai ausente.
Sendo assim, os nove meses se passaram, a loira entrou em trabalho de parto e foi levada ao hospital imediatamente.
Cada suspiro ela sentia que seria o último. Em cada contração ela sentia... Alegria.
Com um último grito, ela ouviu um chorinho e sorriu aliviada. Sentiu um toque em sua bochecha e avistou seu Mestre ao seu lado, observando a cena, planejando levá-la desse plano terrestre.
- Vamos? - ela, sorrindo, assentiu. E assim, sem nem ao menos poder ver o rosto da criança, se entregou, de corpo e alma. Suspirando uma última vez antes do caos na sala de cirurgia começar.
Do lado de fora Jisoo chorava, mesmo já sabendo o que iria acontecer.
Depois de algumas horas, a chamaram pra conhecer o bebê. Assim que ela o segurou, sentiu a alegria de sua irmã, iria cuidar da criança como se fosse sua. Seja qual foi o pacto feito por Rosé, não deixaria nada de mal acontecer com ele.
- Qual vai ser o nome, madame? - a enfermeira perguntou para fins de registro. - A mãe dele já escolheu. Jake Sim. Quem traz felicidade. - disse sorrindo sem se conter.
O destino daquele pequeno ser com apenas algumas horas de vida já estava selado, sua alma pertencia à Lúcifer, Jisoo apenas se perguntava por quanto tempo iria ter que esconder a verdade até o garoto começar a ter experiências como sua mãe teve.
Mas ao ver da tia, agora mãe dele, teria um futuro brilhante, sendo influenciado ou não pelas criaturas sobrenaturais que sua progenitora insistia em suplicar.
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