Capítulo 4

- Bom dia, Mia. – cumprimentei, num sussurro, assim que cheguei à biblioteca.

- Superstar, where you from, how's it going? – revirei os olhos, sentando-me ao seu lado. Pousei o que tinha trazido especialmente para ela na larga mesa. – I know you. Got a clue, what you doing?

- Britney Spears é ultrapassar toda a espécie de limites. – ela tirou um dos auscultadores dos seus ouvidos e olhou para mim, tentando processar o que lhe disse.

- Toda a espécie de limites de brilho, sim.

Era a primeira vez que me encontrava com Mia propositadamente fora do contexto de aulas. Depois daquele dia na esplanada, ela passou a recorrer a mim para todas as suas dúvidas. Com algumas frequências a aproximarem-se, ofereci-me para a ajudar durante os nossos tempos livres porque assim eu também estudaria. Ela não era burra, definitivamente, mas não conseguia estar muito tempo concentrada. No entanto, Ava, a sua irmã gémea, garantiu-me que se eu me mantivesse como Mia me descreveu nos primeiros dias, tudo correria bem. Só precisava de a controlar e de tentar que ela se focasse. Até ao momento, não estava a correr muito bem, mas também era o início.

Como nas últimas vezes em que ela me pediu ajuda, ela abriu o seu caderno e mostrou-me páginas cheias de dúvidas. Sinceramente, era algo que eu gostava que ela fizesse. Ela conseguia explicar-me o que não percebia e isso tornava as coisas bastante mais fáceis. Para além disso, as pequenas notas com que ela enchia o caderno mostravam-me um lado dela que eu ainda não tinha conhecido. Conseguia perceber perfeitamente o estado de espírito com que ela estava quando escrevia cada uma das dúvidas nas páginas outrora brancas daquele caderno. Sim, maior parte delas mostrava que ela estava feliz; fazia-me perguntar como é que ela conseguia estar sempre de tão bom humor.

Mas, em algumas notas, ela tinha escrito com força como se estivesse irritada, a caligrafia estava confusa porque ela estava com pressa e, ocasionalmente, eu mal percebia o que ela tinha escrito. Nesses casos, eu percebia que era algo que a frustrava porque a sua reação antes de me responder era sempre a mesma: dizia nem me digas nada, revirava os olhos e, de seguida, semicerrava-os para ela própria tentar entender o que tinha escrito. Depois disso, ficava frustrada mais uma vez e eu dava-me ao trabalho de tentar decifrar aquilo para evitar que ela ficasse num mau humor.

- Britney? Mia, desculpa, mas achei que eras melhor que isso. – o que não lhe disse foi que, de todas as músicas que ela cantou e de todos os artistas que já homenageou, a Britney era a mais talentosa, na minha opinião.

- Eu nem te vou responder, Asher. Vamos estudar.

Feliz com o resultado que eu sabia que a minha intervenção iria ter, encolhi os ombros e peguei no seu caderno. A nossa rotina – se é que se podia chamar isso ao que nós fizemos duas ou três vezes – era simples. Primeiro, eu tentava que ela me explicasse o contexto da sua questão. Isto porque eu sabia que grande parte das dúvidas que ela tinha ao estudar eram porque não tinha percebido o que certa frase queria dizer em certo contexto, ou porque tinha trocado algo que ouviu sobre um outro assunto com aquilo que estava a ler. Outras vezes, a sua ordem de raciocínio começava com algo que era completamente diferente do que dizia no artigo e isso só resultava em caos, claramente.

Com Mia, o tempo passava rapidamente. Entretanto já tinha passado uma semana e meia desde a primeira vez que falámos e que ela quase me matou, mas eu já quase não guardava ressentimentos. Fazia sempre o meu máximo para não a assustar e para não correr riscos até porque já tinha percebido que ela era um maior risco para ela própria que para mim. Mas não queria abusar da minha sorte.

- Mia, por favor, foca-te no que eu estou a dizer. Já repeti isto três vezes. – pedi, depois de meia hora, deixando a minha cabeça cair na minha mão. Puxei os meus cabelos de leve, tentando não ficar frustrado com ela.

- Desculpa, Asher. A sério. Eu estou a tentar, mas isto é tão desinteressante... - queixou-se, prolongando um pouco mais as palavras. – Eu percebo se quiseres desistir.

- Não vou desistir de ti, Mia. Ouve mais uma música da Britney e depois vais focar-te, está bem?

Pela forma como ela arregalou os olhos, consegui perceber que ela não estava à espera que eu fosse tão paciente consigo. Não fiquei ofendido, porque tinha noção que, de manhã, eu não era a melhor das pessoas. A primeira vez que falámos não foi exatamente uma situação ideal, portanto eu entendia que ela tivesse um pouco de receio de me irritar. Na verdade, se ela não me tentar matar com canetas pontiagudas, eu estarei bem.

Aprovei o facto de ela estar imersa na música que estava a ouvir, a abanar a cabeça e a tentar dançar discretamente, para ir buscar um chá à máquina que havia ao lado da porta da biblioteca, no lado de fora. Suspirei, já sentindo uma dor de cabeça a nascer na minha nuca, mas sabia que ela precisava mais de mim do que eu dela, portanto controlei-me. Aquela rapariga podia ser irritante e ter um péssimo gosto musical, mas eu não iria abandoná-la quando ela obviamente estava perdida em relação à matéria. Eu não era assim tão má pessoa. Aliás, ela já não me exasperava assim tanto. Para ser sincero, até me apanhava a esperar pela próxima música que ela me iria dedicar, mas nunca lhe iria admitir isso.

- Estou pronta! – garantiu, com um sorriso enorme, quando eu voltei. – Como é que conseguiste demorar exatamente o tempo da música que eu escolhi?

- Olhei para o teu telemóvel e vi quanto tempo demorava. – encolhi os ombros e voltei a sentar-me ao seu lado.

- Asher? – olhei para ela, com uma sobrancelha levantada. Ela riu. – Para de fazer essa expressão! Vês? Agora já nem me lembro do que eu ia dizer. Idiota. – queixou-se, fazendo-me rir, mas mantive a mesma expressão de curiosidade. Ela esticou a sua mão, para fazer baixar a minha sobrancelha.

- Mia. Foca-te. – pedi, com a voz grave, mas sorri-lhe para ela saber que eu não estava a mandar nela. – O que ias dizer?

- Deixa-me tentar lembrar...hm...oh! Eu ia dizer que agradeço bastante estares a tentar ajudar-me. Pensei que não gostavas muito de mim, mas eu consigo ver que até me achas engraçada.

- Acho? – questionei, para a fazer duvidar disso mesmo, mas o meu plano não resultou. O seu sorriso aumentou e ela agarrou na minha mão por três segundos. Quando eu comecei a ficar assustado com o contacto, ela obrigou-me a pegar no seu caderno outra vez.

– Já me ajudaste com duas perguntas, faltam dezoito. Nós conseguimos, Asher Miller! – levou o seu punho ao ar, fazendo-me rir e revirar os olhos.

Depois disso, ela conseguiu focar-se mais facilmente. De vez em quando, ela esticava a sua mão até à sua mala e tirava um pedaço de chocolate. Achei aquilo adorável, porque ela pensava que estava a ser discreta, mas não poderia ser mais óbvia nem que tentasse. Talvez ela tenha notado que eu notei no que ela estava a fazer porque, depois da quinta ou sexta vez que comeu chocolate, colocou a barra de chocolate com avelã entre nós e ofereceu-me. Revirei os olhos mais uma vez, mas agradeci e tirei um pedaço para mim. Não a repreendi por estar a comer numa biblioteca nem por estar a distrair-se porque a verdade era que ela estava mais focada que nunca.

Ao comer o chocolate quase que inconscientemente, ela não sentia a necessidade de parar. Continuava a olhar para mim ou para o livro, conforme se eu lhe estava a explicar ou a apontar para ilustrações, e a sua atenção era inquebrável. Apreciei bastante estar a ser ouvido e, aos poucos, em vez de ficar mais cansado, aconteceu exatamente o oposto. Encontrei-me a gostar de passar tempo com ela, a comer chocolate alternadamente, e de lhe explicar as coisas. Ser ouvido com a atenção que ela me dava, com os seus olhos negros esbugalhados, deu-me uma boa sensação. Caso ela me pedisse para nos encontrarmos outra vez, eu iria aceitar sem pensar duas vezes.

- Asher, desculpa interromper-te, mas é o último pedaço. Dividimos? – olhei para as suas mãos, para observar o pequeno pedaço de chocolate.

- A barra era tua, Mia, claro que não vamos dividir. Aliás, já comi demais. – empurrei a sua mão para mais perto da sua boca, mas ela impediu-me.

- Não. Eu quero que tu fiques com ele, na realidade, mas não sabia se estavas pronto para este nível de bondade. – sorriu-me e eu olhei diretamente para os seus olhos de ónix. – Então?

- Dividimos. – acabei por ceder à primeira opção, não querendo que ela não comesse mais daquilo que parecia ser a fonte da sua atenção. – Obrigado.

- Obrigada eu, Asher. – agradeceu, já com a boca cheia, o que me fez rir um pouco. – Tu adoras rir de mim, não adoras? Espera até eu...au. Porra.

- Mia? – questionei, chegando a minha cadeira um pouco para trás para poder ver onde ela se magoou, mas isso só fez pior porque bati contra o pé dela. – Oh, porra, estás bem?

- Eu ia dar-te um pontapé, mas acabei a bater contra a minha própria cadeira. – riu de si própria, abanando a cabeça. – Vou ficar com o dedo gordo todo negro.

- Depois tens que me mandar uma foto. – pedi, enquanto ria e abanava a cabeça. – Nunca conheci ninguém que se magoasse tão facilmente.

- Se tivesses conhecido, eu já não seria tão especial, não é verdade? 

eu adoro a mia e adoro o facto de o asher já estar a começar a gostar um bocadinho mais dela

fun fact: quando ia para a biblioteca da minha escola, durante o secundário, estudar história, nunca o fazia sem ter um pacote de m&ms comigo...mas eu não me focava com o chocolate, acontecia exatamente o oposto tbh

mas precisava do meu chocolate


anywayyy, espero que o vosso início do ano letivo tenha sido bom!! (acabei de perceber que já é tipo a 4ª vez que eu digo isto numa história minha, porque entretanto faço 5 anos aqui no Watt...holy fuck)

o meu foi muuuito bom; ao início estava um bocado amedrontada com o facto de ir para lisboa e de as pessoas que eu conhecia irem para a praxe e eu não, mas adoro a fcsh e o ambiente e tenho conhecido pessoas muito fofinhas e bué simpáticas, então estou muito bem.

obrigada por lerem isto e peço desculpa mas durante a semana eu chegava a casa exausta e ia ver rick and morty até ir dormir, nem me lembrava de vir aqui tbh, mas adoro-vos <3

p.s: a womanizer sempre foi das minhas músicas preferidas da Britney, lembro-me vagamente de ser pequena e não ter pc então gravei esta música com o meu mp3 (porque obriguei os meus pais a comprar-me um barato para ouvir música) quando passou uma vez na MTV ou wtv para eu a ter, porque yah...eu não tinha pc para passar a música para lá

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