Capítulo 15
Eram quase oito quando eu deixei que as gémeas saíssem de casa. Sempre que ia bater à porta de Ava, ouvia-a a chorar, então deixei-a na sua tristeza durante mais um pouco. À terceira vez, não ouvia nada, mas quando abri a porta ela estava a dormir e não achei em mim a força para a acordar. Ela precisava do seu descanso. Mia, no entanto, era outra história. Bebeu um café que eu diria que o Miles acharia forte demais e estava incontrolável. Não parava quieta à minha volta. Para quem estava no dia do seu vigésimo primeiro aniversário, ela parecia estar no seu sétimo. Revirava os olhos sempre que ela me perguntava qual era a sua prenda, ignorando-a.
A certa altura, e depois de eu limpar minimamente a sua sala, estávamos no sofá e ela estava sentada nas minhas pernas. Tinha pousado a sua cabeça no meu ombro direito e respirava lentamente contra a minha pele. De vez em quando, Jake mandava-me uma mensagem a perguntar como estavam as coisas e eu respondia-lhe, desviando o meu telemóvel de onde Mia pudesse ver. Ela ria-se, achando toda a situação divertida mas eu queria tornar aquele dia especial para ela. Para além disso, com toda a situação da Ava, eu sentia em mim a responsabilidade de tornar aquele dia ainda mais memorável para ambas.
- Ash, diz-me, qual é a surpresa?
- Logo verás, não sejas irritante. – ela riu e beijou o meu queixo, fazendo-me estremecer um pouco. – Acordas a Ava?
- Sim. É melhor ser eu, também não gostaria de acordar com essa cara feia à minha frente.
- Se bem me lembro, tu adoras acordar ao meu lado. – comentei, um pouco mais alto já que ela estava a sair da sala.
- Cala-te, Asher Miller! – ri alto, levantando-me também.
Esperei dez minutos até que Ava aparecesse, quase que renovada. Observei as irmãs, sorrindo e apreciando o facto de os seus vestidos serem exatamente do mesmo modelo, mudando apenas a cor. Enquanto o de Mia era amarelo, o de Ava era azul-marinho, realçando os seus olhos. Sorri para as duas e beijei os cabelos de Ava, apertando o seu ombro na minha mão. Mia olhou para mim, atentamente, com uma expressão suave, e eu sorri-lhe. Ambas entraram no meu carro e eu mandei uma mensagem ao Jake, ao Miles e ao Deke – para ter a certeza de que pelo menos um deles veria – a avisar que estava a sair. Nenhum deles, principalmente o meu irmão, poderia estar no apartamento quando nós chegássemos.
Subimos até ao apartamento e, apesar de ir um pouco à frente das irmãs, sabia que Mia tinha a mão entrelaçada na de Ava. Elas conversavam em sussurros e eu não conseguia ouvir nada, nem tentei, por isso não as incomodei. Abri a porta do apartamento lentamente, para ter a certeza de que não ouvia nada que pudesse denunciar os rapazes. Suspirei inaudivelmente, deixando as irmãs passarem. Percebi que Mia estava a olhar à volta, tentando perceber o que é que existia de tão especial no apartamento para eu ter acordado de madrugada para as ir buscar. Olhou-me atentamente, com os olhos semicerrados. Sorri, inocentemente.
- Asher, tu sabes que eu te adoro, mas porque é que estamos aqui? – questionou Ava, fazendo-me rir.
- Já tens vinte e um anos, Ava, precisas de aprender o que é ter paciência. – a mais alta das duas revirou os olhos. – Eu sei que é um defeito de família, eu sei, acredita, mas precisas de controlar isso! – ela soltou uma gargalhada e vi pelo canto do olho que Mia me estava a agradecer, com o olhar e o sorriso.
Fiz sinal com a minha mão para elas esperarem, sendo muito mais sério para a Mia do que para Ava, e caminhei até ao meu quarto. Abri a segunda gaveta da minha cómoda e tirei duas caixas embrulhadas com o papel mais colorido que eu tinha encontrado no supermercado. Saí do meu quarto e vi as irmãs no sofá, abraçadas. Parei durante uns segundos, deixando-as ter o seu momento, mas depois limpei a minha garganta. Ambas olharam para mim, mas os seus olhares não demoraram a desviar para as caixas nas minhas mãos. Era apenas o primeiro dos presentes que elas iriam receber ao longo do dia e, portanto, eram mais a brincar que outra coisa, mas eram prendas de qualquer maneira.
Das duas, não sabia escolher a minha reação preferida. Talvez fosse Ava, que riu até ter que limpar lágrimas dos olhos quando viu o pequeno pacote de piripiri que eu e o meu casal de amigos lhe tínhamos comprado, uma referência ao almoço em que ela deixou cair todo o conteúdo do pacote cá de casa sem nós virmos e se obrigou a comer tudo. Talvez fosse a de Mia que, quando abriu a caixa para encontrar duas embalagens de pensos rápidos, primeiro me bateu no braço e depois sorriu abertamente, rindo alto. Ambas estavam no mesmo nível, e ambas subiram simultaneamente desse mesmo nível quando me abraçaram com força, gritando aos meus ouvidos uma outra música da P!nk.
- Agora que já receberam o vosso primeiro presente do dia, estão prontas para a próxima surpresa. Talvez seja a maior, na realidade.
As irmãs entreolharam-se e eu sabia que elas estavam a pensar no que eu lhes tinha dito. Elas provavelmente pensavam que a festa surpresa para a sua irmã estaria à sua espera, mas nenhuma sabia que a maior surpresa era um rapaz de dezasseis – quase dezassete, naquela altura – anos muito parecido comigo mas muito mais simpático, que ambas adoravam, e o seu namorado. Nenhuma delas via Deke desde antes o Natal, quando eu tinha obrigado a que ele convencesse a nossa avó a passá-lo no meu apartamento, para conhecerem as gémeas. Declan passou dias a convencer a mais velha mas valeu a pena, porque ela tinha adorado conhecer as raparigas. Adorou principalmente Ava, talvez pela parecença em alguns aspetos de personalidade, mas quase adotou Mia, quando soube que estávamos juntos.
Pisquei-lhes o meu olho direito e puxei-as do sofá. Deixei que Mia voltasse a agarrar a mão da sua irmã, não me importando de todo com o facto de ela preferir dar conforto à sua irmã a estar mais perto de mim. Eu faria o mesmo com o Deke. Nunca tinha levado Mia ao telhado, por causa das temperaturas, portanto percebi que ela estava confusa, mas sabia que ela iria gostar. Quem não gostava de panquecas e sumo de laranja? Era isso que nós tínhamos planeado para elas; isso e toda a decoração que elas me disseram que a outra iria adorar. Jake tinha encontrado um intermédio que até eu achei bonito, portanto foi isso que ficou. Eu sabia que as irmãs gostavam de estar em sítios altos e olhar para paisagens, por isso tinha colocado um banco e muitos cobertores prontos para elas as duas. Sentia que, com tudo o que estava a acontecer na vida de Ava, iriam precisar mais daquilo do que eu tinha pensado inicialmente.
- Asher, onde é que estamos a ir? – perguntou Mia, mas eu não lhe respondi. Limitei-me a sorrir e a abrir a porta pesada que era a passagem para o telhado.
Apreciei a forma como ambas paralisaram, a olhar para a decoração. Jake tinha pedido ajuda a um amigo que era decorador de interiores. O telhado estava repleto da flor que era a preferida das duas, girassóis, e de balões de todas as cores que o amigo de Jake achava que fossem combinar com isso. Tínhamos feito um bom trabalho, eu sabia disso. E sabia também que, embora não tivesse sido esse o meu plano inicial, a companhia dos meus amigos era o que Ava precisava. Mia tinha-me explicado que ela ainda não tinha contado aos seus e, para ser sincero, os meus amigos eram boas pessoas e adoravam Ava como se fosse da família. Na verdade, ela era. Nunca seria apenas a irmã da Mia, tal como Deke nunca seria apenas o meu irmão aos olhos das raparigas e de Jake e Miles.
Éramos família.
- Oh. – pronunciou-se primeiro a irmã mais alta. – Isto está tão giro! Obrigada, Asher.
- Não me agradeças ainda. – afirmei, sorrindo. – Só me podes agradecer depois da próxima surpresa, porque eu sofri incrivelmente muito para trazê-la até aqui.
- Cala-te, Asher. – uma voz ordenou, num tom divertido, e eu revirei os olhos. – Olá! – exclamou Declan, para as gémeas, sorrindo abertamente.
Mia foi a primeira a reagir, gritando alto e correndo até ao meu irmão. Deke, sendo mais alto que ela, apertou-a nos seus braços e até a rodopiou, fazendo-a rir. Depois, quando finalmente a largou, fez o mesmo a Ava. Consegui perceber que ela estava mais relaxada que nas horas anteriores e, mais uma vez, senti-me vitorioso. Depois de Mia e Ava gritarem tudo o que tinham a gritar a Declan, Jake e Miles apareceram, trazendo um Patrick tímido atrás de si. Eu tinha gostado bastante do rapaz, porque a primeira coisa que ele fez me disse quando me conheceu foi agradecer-me por proteger Declan. Talvez eu estivesse a ser parcial, mas não queria saber.
- Parabéns, meninas! – exclamou Jake, abraçando as gémeas ao mesmo tempo. Miles fez o mesmo, depositando um beijo nos cabelos de cada uma. – Já que o Deke é mal-educado, eu faço as apresentações. Este é o Patrick, o namorado do nosso menino.
- Então tu és o rapaz que tem roubado a atenção que o Declan me deveria dar? – questionou Mia ao pobre rapaz, mas antes que ele ficasse desconfortável, ela sorriu. – Sou a Mia, a namorada do irmão do Asher. E esta é a minha irmã, Ava. Somos gémeas.
- Acho que dá para perceber. Sou o Patrick. – esticou a mão, mas Mia só a utilizou para o puxar para um abraço.
Jake olhou para mim atentamente, contendo a vontade de rir. Miles tinha uma expressão praticamente igual, e Declan não se conteve. No entanto, Mia não entendeu o que fez. Nós já estávamos juntos há certa de quatro meses, mas era naquele dia que eu iria finalmente ganhar coragem para oficializar a nossa relação. E ela tinha estragado tudo, como sempre. Realmente não sabia porque é que esperava outra coisa, ela conseguia dar sempre a volta a todas as situações. Mas, no fundo, eu não estava irritado, mas sim frustrado e aliviado. Frustrado porque, como sempre, Mia estava sempre um passo à frente; aliviado porque passei a saber que ela estava tão dentro daquela relação como eu. Aliás, até estava mais, de certa forma, porque eu nunca a tinha apresentado como minha namorada. Estávamos juntos, apenas.
Maldita rapariga.
No entanto, antes que eu pudesse dizer alguma coisa ou reagir, sequer, Mia correu até às colunas que tínhamos colocado no telhado e escolheu uma música. Quando começou, todos olharam para mim, esperando a minha reação.
- Mia, - comecei, numa voz séria; revirou os olhos – Porquê?
- Porque não? – questionou de volta. – É a música perfeita para nós!
Suspirei, puxando-a para mais perto de mim. Concordando com o Ricky Martin em tudo o que ele dizia em Livin La Vida Loca. Aquela era a música perfeita para nós.
She'll make you live her crazy life but she'll take away your pain like a bullet to your pain.
Upside, inside out, she's livin la vida loca.
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olá olá olá
espero que tenham gostado deste capítulo!! eu adoro a minha ava e quis rodeá-la dos amigos mais lindos do mundo
tal como o asher disse, eles são família, e acho que essa é das coisas mais bonitas que pode acontecer a uma amizade
às vezes a família em que nascemos não é o melhor para nós e temos que arranjar essa componente nos amigos, and that's totally okay
espero que tenham gostado e até ao próximo! faltam mais 5, incluindo o final
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