você também quer?

Estive escutando aquela música do WINNER — Deus me ajude quando Doyoung descobrir que andei comprando músicas na sua conta — e foi impossível não ser pego por um pensamento: há mesmo milhões de razões para eu gostar de Ten?

Honestamente, sejamos insensíveis ao dizer que os tais compositores tenham se equivocado ao extremo para pôr coisas do tipo numa canção tão gostosa como essa. Estou errado, por acaso? Não há razões para gostar de alguém. Não há.

Por que eu gosto de Ten? O que me faz gostar dele? Exatamente nada. Talvez sua voz, mas por que gosto dela? Que raios tem nela para me despertar tanto assim? Eu não sei, eu simplesmente gosto. É isso que quero dizer: não há razões para gostar de alguém, você só gosta. Sei disso porque, se houvesse essas razões e eu conhecesse-as bem, faria de tudo para estraçalhá-las e não me apaixonar por ele.

Saudades da época em que eu tinha ranço dele, mesmo que houvesse uma lambiscada de atração envolvida no meio. Agora é mais que uma atração e é disso que tenho medo. Não sou como ele, que foge do amor a todo custo. Eu só fujo de situações que irão me foder todo. E, bem, eu sei perfeitamente que amar Chittaphon fará a vida e a morte virem numa suruba mortal com o meu coração. E adivinha quem vai sair fodido no final?

— Você está andando muito rápido, Mademoiselle — apresso-me para acompanhar seus passos.

— Precisamos chegar rápido — responde, numa leve meneada de cabeça.

E se eu segurasse sua mão agora? Talvez pudéssemos esquecer de sonhos, futuro ou qualquer outra coisa. Estamos em Paris, a cidade mais romântica do mundo. E eu estou apaixonado. Eu estou terrivelmente apaixonado. Quer dizer, será que estou mesmo apaixonado? Não quero estar enganado com algo que talvez seja uma vontade louca de beijar na boca. Eu tenho medo que seja mais que isso.

— E se comprássemos algo para comer? — proponho, mesmo detestando comer.

Estou amando vê-lo sorrir, concordar e me enfiar numa dessas confeitarias bonitas. É melhor assim, não é mesmo? Ele fingir que não rolou nada entre nós, que ele não me beijou também... Eu até prefiro, se ele não quiser nada. Mas vou fazê-lo mudar de ideia.

Saímos com duas caixas — cada uma com uma dúzia de macarons coloridos — e um sorvete a lamber sem parar. Eu consigo ver a Torre daqui e ela está aumentando de tamanho a medida que vamos nos aproximando. É como o que sinto por esse deus ao meu lado: aumenta a cada dia.

— Ten, qual seu tipo ideal? — ainda está pra nascer alguém mais direto que eu.

— Plantas — é a resposta dele. Começo a pensar em como mudaria minhas células animais para vegetais.

— E como você chamaria sua namorada ou namorado? — nem estou querendo saber sobre apelidos carinhosos.

— Briófita — ele responde com a colher na boca. Que inveja dessa colher.

— Qual presente você gostaria de ganhar no dia dos namorados?

— Oxigênio.

— Você gosta de mais altos ou menores que você? — eu pergunto. Ele é tão baixinho que é impossível não rir. Será que devo dar espinafre a essa criança?

— Rasteiras — droga, ele ainda está falando sobre plantas.

— Hm... Se você fosse uma planta, que tipo planta seria?

Ele me olha de cima a baixo e pigarreia:

— Cacto.

Eu sorrio instantaneamente.

— Você gosta de cactos?

Ele para e se vira de frente para mim. Estamos bem próximos da Torre.

— Não se trata disso. É só uma questão de... Bem, você não vai tocar num cacto, certo?

— Certo.

— Por quê?

— Porque eu vou me machucar.

Ele respira fundo e volta a andar, deixando-me apreensivo. Então ele é um cacto. E ele sabe que as pessoas não devem tocá-lo, pois todas vão se machucar. Ele sabe que vou me machucar. Mesmo assim eu estou aproximando meus dedos cada vez mais perto desses malditos espinhos pensando que não vai ser nada de mais. Eu sei que talvez doa. Só não consigo lutar contra...

— Sinto como se fosse propaganda enganosa — comento ao sentarmos na grama.

— Por quê? — ele abre uma caixinha e come um biscoitinho.

— Eu pensava que era maior — isso o faz rir.

— Maior como?

— Sei lá, tocava o céu... Tipo, nuvens no topo — eu sei que estou falando porcarias, porém eu quero que ele converse comigo sem ter de pensar no nosso beijo. Ele está meio caladinho depois disso.

— Ali? — ele ergue o braço e aponta.

Meu lado anjinho está me pedindo para eu tirar o olho dali, porém que culpa tenho eu se não tinha percebido antes que a camisa que ele está usando é um cropped que revela uma pequena parcela da sua barriguinha quando ele ergue os braços? De repente ficou tão quente aqui...

— Ai, eu vou comprar uma água — me levanto.

Eu pensava que sua camisa já estava chamando minha atenção por não ter mangas e do nada vem essa novidade bônus? Desculpa, querido, não tenho emocional para isso. Eu sou fraco.

— Vê se não compra cigarro! — me avisa.

Eu não estava com isso em mente e vou honrar meu lado do acordo. Pelo menos sei comprar uma garrafa de água em francês, me sinto até fluente — mesmo que o cara tenha pedido para eu repetir mais claramente. Estou sentando outra vez ao lado dele, que agora está deitado na grama olhando para o céu.

Bonjour, estou de volta — apareço.

Abro a garrafa e bebo longos goles até que sinto suas mãos checando os bolsos da minha jaqueta e da calça. Enfim ele desiste, já que não encontrou nenhum sinal de cigarro. Quanta falta de confiança, francamente.

— Obrigado por confiar em mim, anjão — faço careta e me deito ao seu lado, porém apoiando meu corpo com os cotovelos.

Sua camisa ainda está um pouco levantada. Então bebo um gole, depois dois e aqui está mais três. Eu não sei por que é que estou tão desestabilizado por conta disso. Sério, não é nem a primeira vez que vejo seu corpo. Quer dizer, eu quase nunca vi a frontal do seu corpo. Ele se troca de costas para mim. Deve ser por isso que meus olhos percorrem o árduo caminho para baixo, rumo à Oz.

— Será que um dia você vai me contar o que tanto fez entre os dezoito e vinte? — ele começa do nada, ainda olhando para o céu ou a pontinha da Torre.

— Ah, eu fui um gangster — conto, sendo que está óbvio que não, pelo meu tom de voz. Desvio o olhar da sua barriguinha parcialmente nua.

— Tipo com armas e essas coisas?

— Uhum — afasto a jaqueta do meu braço direito e levanto a manga. — Está vendo essa marca? Foi um tiro.

— Não brinca com isso, idiota! — ele dá um tapa na minha marca de nascença e eu escondo-a com a manga e a jaqueta.

— Poderia ser verdade, se você não fosse tão curioso assim.

Ele rosna como oposição e passamos a admirar a Torre. Ela é bonita, alta a ponto de assustar e estou tentado a saber como seria escalá-la. Do nada começo a pensar em como seria se eu não estivesse com medo de me apaixonar por Ten, como seria se ele gostasse de mim também.

Se vivêssemos na época do Romantismo, com toda a certeza eu faria loucuras por ele. Eu escalaria a Torre ou até mesmo o Everest. Enalteceria-o intensamente e viveria apenas por ele. Eu seria poeta, afinal suicídio amoroso é visto como belo e é disso que sou experiente. A diferença é que neste século o amor tem sido pela morte e somente.

— Não arranca a grama, animal! — ele dá um tapa na minha mão que, distraída, estava  puxando a planta.

— Eu quero te beijar — revelo e isso até me surpreende. — Você também quer?

O mínimo que posso fazer é pedir seu consentimento, uma vez que a última tentativa não bateu muito com as minhas expectativas.

— Deus me Louvre! — ele ri e eu vejo isso como uma ofensa. Não sorrio, como sempre faço. — Você está falando sério?

— Já fizemos isso uma vez — engulo em seco. — É apenas um beijo.

— Jura?

Concordo com a cabeça.

— Isso não vai estragar a nossa amizade?

Abano a cabeça na negativa.

— Tem certeza?

— Sim — respondo logo.

Ele parece aceitar isso. Acho que já deve estar acostumado com coisas do tipo, já que não costuma entrar em relacionamentos. Ele deve ficar com muitas pessoas, sem compromisso algum. Será que é isso mesmo o que eu quero?

Nem me importa mais, sei lá. Ele me puxa pela nuca, nossos corpos se encontram, nossas bocas se juntam e eu sinto sua língua outra vez. Aquelas poesias românticas da aula de literatura nunca me pareceram tão coerentes e coesas como agora. Todas as canções de amor fazem sentido e eu sinto que todas foram escritas sobre nós dois.

Ele me deixa tocar sua cintura sob a camisa. Eu deixo ele bagunçar meu cabelo ao acariciá-lo delicadamente. Não há mais espaço pessoal, eu posso sentir seu cheiro, posso tocar sua pele, posso ter seu contato. Não foi fácil, mas valeu à pena. Valeu cada reza para que isso acontecesse.

E quando ele se afasta de mim... Sabe, quando ele se afasta de mim, por um segundo eu penso que ele não está levando mais nada consigo. Daí eu vejo meu coração nas suas mãos e não há como pegar de volta.

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