você está tocando em mim

Eu me empolguei com os sentimentos. Quando ficam à flor da pele, quando transbordam, quando a reação química do amor sai do equilíbrio e formam-se mais produtos que reagentes, as coisas ficam extremas demais para eu conseguir controlar a mim mesmo. Eu só fico sorrindo olhando para ele, acompanhando cada gesto, cada traço, seu olhar escuro inquieto, as palavras pronunciadas erroneamente. Eu cutuco meus lábios com o garfo enquanto, distraído, deleito-me no seu timbre, no sotaque, nas palavras aleatórias em francês ditas em meio as frases, substituindo as que ele não conhece em coreano — eu finjo compreendê-las no idioma ocidental em questão.

Esfrego o guardanapo nos lábios e levo a taça de vinho a estes, elegantemente bebericando o restinho que sobrara. Tento retirar os olhos do peitoral dele, tento não querer ver o resto que a parte abotoada esconde, porém quando percebo, cá estou eu olhando de novo. É como um ímã.

— Quer mais? — me estende a garrafa, como se vindo para me servir.

— Não, obrigado — sorrio pela gentileza. Olho para o relógio de pulso sobre a mesa, que ele deixou ali após revelar que deixa-o escondido sob a manga da camisa. É um rosé gold. Brilhante.

— Tem tortinha de nozes, se você quiser — sua perna se choca com a minha por debaixo da mesa, assim que ele decide cruzá-la.

— Não, obrigado — agito as mãos na negativa.

— Mas fui eu que fiz e está uma delícia! — ele exclama e eu queria ter um pouco de crença em mim mesmo para dizer o mesmo dos meus feitios.

— Mais tarde, mais tarde.

Então peço que ele toque piano, pois o instrumento está me olhando desde o momento que toquei os pés aqui. Mas Ten me responde que não, ainda esfregando a mão na nuca, dizendo que irá tocar amanhã. Mas eu não quero ouvir amanhã. Mesmo assim, concordo com a cabeça e fito o formato espetacular dos seus olhos e, se foi mesmo Afrodite quem fê-lo, eu aplaudo-a até com os pés. Porque ele é lindo demais.

— Eu vou terminar de encher a banheira — levanta-se vagarosamente, deixando-me só.

Recolho os pratos, talheres e ambas taças usadas. Aproveito que ele está fora e lavo tudo o que sujamos durante a noite. Ele vai ficar feliz em saber que ajudei-o em algo. Eu não gosto do fato de ele me fazer coisas que não sou capaz de devolver do mesmo jeito. Me sinto impotente e fraco. Se não posso nem ao menos levá-lo de primeira classe à algum legal, talvez eu possa pensar na possibilidade de cozinhar-lhe algo. Porque me sinto limitado e inútil ao lado dele. Talvez eu seja.

— Eu não acredito que você fez isso, Taeyong — Ten aparece na cozinha, tentando tirar da minha mão o último prato.

— O quê? Estou te ajudando — respondo e, quando vou olhá-lo, já não há mais botão nenhum fechado na camisa social dele. Céus...

— Mas você é visita — vem ele enxugar minhas mãos com o pano e, mesmo depois de seca, ainda sinto seus dedos tocarem os meus e sinto falta desse nosso contato de Paris.

Capturo seus dedos e entrelaço aos meus. Ficamos assim por enquanto, observando nossas mãos juntas, nossos dedões acariciando a pele um do outro, a troca de temperatura intensa.

— Eu gosto de quando ficamos assim — sussurra, segredando-me, aproximando-se mais. Algo em mim derrete. Ele gosta de quando ficamos assim.

— Eu gosto de quando ficamos de qualquer maneira. Porque eu simplesmente gosto — aperto o peito, espremo as palavras presas. Elas tem que sair.

— Você simplesmente gosta? — ele sorri encantadoramente, agora ciente de que me fode todo assim. Puxa-me pela mão e eu repuxo-o também. Gosto de brincar.

— Eu simplesmente gosto — repito, após morder o lábio inferior.

— Sabe do que eu também gosto?

Nego com a cabeça.

— Do fato de eu não ter gosto de BB Cream — aproxima seu rosto ao meu tão rapidamente que nem acredito. Encaro seus lábios, depois seus olhos e fecho os meus. Vou deixar ele vir até mim.

Ele não demora muito, para meu agrado. Aqueço-me na sensação boa do roçar dos seus lábios aos meus, do jeitinho único com que ele vem entrando, sem pedir licença nem nada, bagunçando tudo mesmo, bem do jeito que ele gosta. Mas é curto, tão breve. Como uma prévia, uma degustação de um livro qualquer sobre amores plásticos e encantos mútuos, bem comuns em livrarias de metrô.

— Eu vou te levar ao quarto que você vai ficar — puxa-me pela mão para o corredor. — Aqui embaixo tem dois quartos para hóspedes, mas eu durmo em um. Às vezes eu chego bêbado e é difícil subir as escadas... Então me fixei por aqui mesmo.

Eu rio escondido e deixou-o guiar-me para o segundo quarto. Ele liga a luz e percebo que talvez seja o dobro do meu quarto. Aqui tem uma cama de casal, no meu só cabe uma de solteiro e olha lá. Temos aqui uma luminária bacana, guarda-roupa espaçoso, carpete no chão, um cheirinho agradável e aparentemente aquela porta da esquerda me leve a algum banheiro.

— É bonito e organizado — viro-me para Chittaphon. Ele está sorrindo bem daquele jeito que ele faz. Ele é muito angelical.

— Obrigado — toca-me rapidamente no ombro. — Você sabe o que fazer antes de entrar no banheiro.

E então ele sai do quarto.

Com a porta fechada, me sento na cama e suspiro de alívio. Se ele me disse que vou ficar qui, significa que não quer nada sexual comigo. Se quer, não transpareceu muito. Ele separou uma roupa para mim e deixou-a sobre a cama. Ela tem o cheiro dele e agora não quero usá-la para estragar isso. Mesmo assim, estou feliz por estar aqui. Porque Chittaphon está sendo gentil, carinhoso e amável comigo. E eu gosto de sentir que alguém gosta de mim. E mais ainda que esse alguém é ele.

Sendo bombardeado pela preguiça, vou me despindo devagar. Arranco o tênis, a camisa, o cinto, a calça preta apertada que comprei há um ano numa promoção de inverno careta e, por último, a minha cueca qualquer que, mais uma vez, deveria ser a Calvin Klein falsificada. Mas pelo menos nessa não tem o Thor, mas sim uma nebulosa. Estava em promoção, ora bolas. Tinha que aproveitar.

Enrolo-me numa toalha e caminho descalço pela casa até achar o tal banheiro. Bato à porta três vezes até escutá-lo dar-me permissão para entrar. Quando abro a porta, encontro-o com a cabeça jogada para trás e olhos fechados. Todas as luzes estão desligadas, mas há velas aromáticas iluminando o banheiro nas bordas da banheira. Não há apenas velas ali, mas também uma garrafa de vinho e duas taças abastecidas.

Após livrar-me da toalha e pendurá-la, entro de uma vez na banheira quente preparada por Chittaphon. Incrivelmente acho-a maior que a do hotel e isso me surpreende. Aconchego-me na água, trezentas vezes em alerta para não tocar em algo que não devo.

— Onde está a poesia? — indago sutilmente, tocando seu joelho.

— Hoje não tem poesia, mas tem vinho — estende-me a taça, pego-a.

Ajeita-se com as pernas afastadas, justamente para deixar-me entre elas, como da outra vez. Olhando-o pelo alaranjado da chama, percebo seu cabelo molhado, longo, caindo sobre os olhos. Sua imagem à minha frente é calma e sensual, como se estivesse vindo vagarosamente tomar conta de mim. Mas são apenas dois discos avaliadores sobre mim, enquanto bebe um longo gole da bebida e estica mais as pernas.

A quentura da água me relaxa e eu continuo o carinho nos joelhos dele. O álcool aquece mais e, ao passo que bebo, meus pés vão deslizando involuntariamente. Percebo apenas ao encostar na bunda macia dele, mas não falamos nada e assim fico. Não há mau algum nisso, certo? E talvez ele nem tenha percebido. Se eu tirar, aí sim ele vai se dar conta e vamos ficar constrangidos.

— Você tem fumado? — sua voz esquarteja o silêncio que eu já estava acostumado.

— Sim, mas... Não tanto quanto antes. Desde que voltamos, minha média por dia é um ou dois, no máximo — explico.

— Eu posso sentir — revela e eu, como sempre, fico um pouco feliz por ele notar coisas em mim. Ele faz algumas ondas na água com as mãos na minha direção e, em contra partida, faço outras na direção dele.

Bebo o resto do meu vinho olhando para ele. Ao me ver pousar a taça, desencosta-se e fica sentado mais próximo de mim. Assim que sinto seu toque na minha nuca, puxando-me para perto, percebo que dessa vez terá elementos a mais que outrora.

Desencosto-me e sento de frente para ele. Suas pernas dobradas ao redor do meu corpo me instigam a fazer o mesmo. A temperatura está quente aqui, mas não estou me referindo a água. Porque quando nossas bocas se encontram, eu já disse, é tudo exotérmico. E o que piora a situação é essa calmaria toda, essa lentidão ao me beijar. Mas, pela primeira vez, ele não me impede de acelerar, não apresenta anteparo algum. Inclina-se para trás, tentando acompanhar a velocidade com que guio.

Parece que estou faminto, mas é o vício. Vício que são nossos beijos. E agora que me inclino mais, estou praticamente sobre ele. Afastamo-nos para respirar, aproveito para beijar-lhe o pescoço. Ele ofega, de olhos fechados, rendendo-se a mim. Empurro a espuma do seu ombro e beijo-o também, subindo com beijos forte, quase chupões. Estou entrando em êxtase vendo-o desse jeito, deixando-me no controle. Mas eu sei que são apenas beijos e devo deixar por isso mesmo.

Só que, de uma hora pra outra, sinto algo percorrer a minha pele e dou-me conta de que é a mão dele acariciando minha bunda. Depois vem a outra, e ambas estão deslizando devagar pela superfície da minha pele. É uma surpresa, mas ao mesmo tempo maravilhoso. Isso me instiga muito, instiga-me a grudar nossos corpos.

— Você está tocando em mim — ele sussurra, um pouco antes de eu vir beijá-lo na boca.

— Eu sei — respondo, confuso, sem entender nada. É claro que estou tocando nele.

— Não, Taeyong. Você está tocando em mim — ele dá ênfase em tocar e eu estreito os olhos, tentando entender. — Lá embaixo.

Ah, sim. Agora entendi. Talvez a posição em que me encontro nesse momento tenha proporcionado isso e, constrangido, sento-me outra vez. Eu me inclinei tanto que estava apenas apoiado nos joelhos — que finalmente estão melhorando, pela glória do senhor — e, literalmente, em cima de Chittaphon. Nossa, que constrangedor.

Eu rio para disfarçar.

— Pronto — mordo o lábio inferior. — Desculpa.

— Mas está tudo bem — ele balança o cabelo molhado, respingando água em mim.

Eu jogo espuma na cara dele como vingança, então ele faz o mesmo comigo. Tenta empurrar-me pra baixo, mas não adianta muito. No fim, ficamos no escuro, pois o galã fez o favor de jogar água nas velas e apagá-las.

— Parabéns, Ten, agora não estou enxergando nada — resmungo, falsamente aplaudindo-o.

Ele me chama de abestalhado e que vai sair da banheira pra ir ligar a luz. Mas a verdade é que eu só escuto seu grito no meio do caminho e o som de algo caindo. Ele escorregou e agora eu estou rindo, rezando pra Maria enquanto tento encontrá-lo jogado no chão no meio desse breu. E adivinha? Eu caio também. De bunda no chão. E se já não bastasse meu chifre, meu joelho e cotovelo, eu agora estou com a bunda dormente.

Real oficial: o universo me detesta.

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