você está poderoso como a espada de um samurai
Eu caio na cama e abro as sacolas de compra. Temos doces e salgadinhos de diferentes marcas e sabores. Estou animado, mas Ten me olha feio e joga os livros sobre mim. Um deles atinge minha cabeça, daí vem o meu gemido e meu choramingar dramático. O moreno à minha frente decide deitar-se ao meu lado e ambos estamos assistindo o teto como se algo extraordinário estivesse ali. Sinto sua mão roçar a minha e enlaçá-la.
— Somos melhores amigos, né? — ele pergunta baixinho, inseguro com isso.
Eu concordo, porque é verdade.
— É o que estava escrito no seu cartão — ele continua. — "Eu te amo como um verdadeiro irmão"
Ah, então era isso. Se eu soubesse, com certeza não escolheria esse. Eu escolheria algo como "eu te amo mais do que um irmão". Agora ele entendeu errado o recado, mas que culpa tenho eu se só entendi o "eu te amo" da frase? Sinto como se não pudesse piorar a situação.
Mas o que estava escrito no seu? Será que o "eu te amo" presente lá também era de irmão? Eu espero que não. Sabe, eu vou manter isso em segredo a mim mesmo antes que eu me machuque todo. Me ralar por conta dessas coisas não vai me fazer bem. E nem sei se amo-o de verdade.
— Você vai me ajudar a me vestir? — sua pergunta me atenta ao horário. É mesmo, já estamos no período da tarde e Ten precisa se arrumar.
Provavelmente tudo esteja ao contrário entre nós. Por mais que soe impróprio, eu quero é ajudá-lo a se despir. Nossa, isso foi muito podre. Nem vejo-o assim. Quer dizer, honestamente estou vendo sim, já que ele de repente começa a tirar a roupa bem na minha frente. Desvio o olhar antes de me viciar. Ele precisa parar com isso. Que mania!
— Você acha que eu vou discreto ou cheio de brilho? — ele me pergunta ao abrir a fivela do cinto. É melhor eu parar de notar isso.
— Cheio de brilho — respondo rapidamente. Onde está mesmo o iPad de Doyoung? Ah, sobre a bancada do outro lado da cama. Vou me ocupar com ele por ora.
— Tem razão. Prefiro chamar atenção — Ten comenta. Sua calça está aberta, dando-me um intenso vislumbre da sua cueca. Eu não deveria estar olhando, eu não deveria...
— É o seu forte — concordo, abrindo rapidamente o The Sims e recebendo a recompensa do trabalho de um deles.
— Tenho esse preto e um gold — sua voz me chama para ver o que está mostrando.
Em suas mãos há dois texudos (smokings) dentro de uma capa protetora. Ele estava com eles lacrados no aeroporto, agora finalmente entendo o porquê de tudo isso. Ele gosta é de mistério.
Um é preto, porém com um brilho prata bastante chamativo e sofisticado. Deve ter custado o olho da cara, porém vale totalmente à pena. Ele é lindo, parece que foi feito para eventos como esse.
O segundo é dourado e isso já basta. É dourado, muito dourado. Ele reluz, é de um brilho intenso. Não é só algo atrativo, é a coisa mais formosa que já vi. É como algo banhado a ouro que tivesse um holofote voltado à si. É perfeito.
— O dourado — respondo rouco. Ele ficará perfeito em Ten.
Ten coloca-os pendurados no mesmo local de antes e se volta para mim. Consigo ver sua silhueta num blur de desfoque, uma vez que já estou vidrado na tela do aparelho e não vou tirar os olhos daqui até Ten decidir entrar no banheiro e me deixar menos envergonhado.
— Por que você é tão viciado nesse iPad? — ele pergunta ao tirar a calça jeans.
— Nada — não olho para ele, não paro de comprar itens legais para a casa dos bonequinhos.
— Você nem está olhando para mim. Estou te consultando em algo importante, boboca! — em que ano foi que Ten decidiu aprender coreano? Em 1990? Ninguém mais usa isso de "boboca".
— É só você falar que eu respondo — respondo.
De repente sinto um corpo pesado sobre o meu e uma tentativa de querer arrancar o aparelho da minha mão. Tento lutar contra, mas ele avança mais o corpo sobre mim e arranca-o da minha mão. Ten bloqueia o iPad e eu bato-o nas costas.
— Por que você fez isso? — reclamo. Quando vou desbloquear, o boboca dá um tapa no bixinho, que acaba por cair no tapete. A queda é uma besteirinha, mas não deixo de ficar preocupado. — Parabéns, seu tribufu!
Agora entendo por que é que Ten disse que sou mais infantil que ele. Parecemos crianças brigando assim, falando essas coisas e chamando um ao outro de palavras que ninguém mais usa. É uma vergonha.
Me viro para pegar o iPad, mas Ten segura o meu braço e, além disso, decide imitar um mata-leão no meu pescoço. Eu juro que quando eu sair dessa situação, eu vou me vingar a altura.
— Eu sou o quê? — ele sussurra perto do meu ouvido. Por que é que estou gostando disso?
— Um tribufu, um abutre, um platelminto! — quanto mais eu insulto-o, mais ele me aperta contra o seu corpo. Preciso urgentemente gerar mais nomes. — Um bocó, um abestalhado, um palerma!
O filho da mãe me morde no ombro tão forte que aposto mil euros que minha mãe escutou, da Coréia, o meu grito de dor. Eu rolo pela cama até cair no chão e ainda escuto Ten rir de mim por conta disso. Meu grito não foi uma coisa muito masculina, mas eu não ligo para isso. Agora minhas cordas vocais estão ferradas e sinto dor latente no ombro.
— Shh, vão pensar que estou maltratando uma donzela em apuros — ele me provoca.
Deus que me perdoe, mas eu me levanto virado no Satanás e ninguém vai me parar agora. Meu olhar de ódio tomba a cara de Ten, mas essa peste pequena é rápida ao entrar no banheiro e trancafiar-se antes de eu alcançá-lo. Desgraçado me paga, vou matar ele com travesseiro.
Tive uma ideia. Vou fingir que vou sair e fico aqui de tocaia esperando ele sair para dar uma na cara dele. Boa ideia. Agarro um travesseiro e abro a porta, em seguida bato-a forte. Ele deve estar pensando que dei no pé com raiva. Hihihi.
Encolho-me ao lado de uma bancada e espero ele terminar seu banho. Quando Ten aparece de toalha, perdido olhando para os lados, eu surpreendo-o com um golpe de travesseiro e faço-o cair na cama.
— Depois diz que o monstro sou eu! — fico de joelhos sobre o colchão enquanto golpeio-o inúmeras vezes com um intervalo minúsculo entre eles.
Ele está tentando me segurar pelos braços, mas para isso ele deve largar uma das mãos da toalha e tentar bloquear um golpe. Claro que ele não vai sacrificar ser visto pelado por me impedir de batê-lo. Óbvio que não.
Percebendo que já bati-o demais, largo o travesseiro na cara dele e corro para o banheiro. Também me tranco e dessa vez estou morrendo de medo de alguma vingança que ele possa fazer. Somos tão adultos!
Tomo um banho caprichado para limpar o suor do meu corpo e ficar perfumado. Na hora de sair, estou morrendo de medo. Ten está frente ao espelho fazendo um levíssimo delineado que dê destaque aos seus olhos. Ele me olha, mas rapidamente desvia o olhar e se concentra no que deve ser feito. Acho que a brincadeira acabou.
Volto ao banheiro com minha roupa. Meu smoking é azul, não chama muita atenção como o de Ten. Me perfumo da cabeça aos pés, penteio meu cabelo com cuidado e aproveito a distração dele para dar uma roubada no seu fixador. Eu já estou pronto quando escuto-o andar de um lado para o outro conversando em francês com alguém no telefone.
Sua camisa social e a calça são pretas, porém com inúmeros detalhes dourados. Ele está magnífico e até seu iluminador está condizente. O cabelo preto não está caindo sobre os olhos, não está dividido pelo meio. Sua franja está para o lado e com um aspecto de molhado — eu sei que não está. Tem um hidratante com uma cor meio avermelhada nos seus lábios e eu me pergunto que gosto deve ter ele.
— Pierre, eu te odeio! — consigo traduzir alguma coisa.
Ele ri do nada e responde mais alguma coisa antes de desligar o telefone. Checa o horário no seu relógio caríssimo e guarda o telefone no bolso da calça. Ele me diz que estamos de partida, daí nos levantamos e vamos embora. Quase esqueço de pegar o cartão do quarto, porém Ten me lembra disso antes de eu fechar a porta.
Agora estamos no hall do hotel e estamos de partida. Há uma limousine branca bem à frente, mas eu desvio à procura de algum taxi. Escuto Ten me chamar e, quando me viro, tem um homem abrindo a porta para ele entrar na limousine e isso mexe comigo. Vamos de quê?
— Entra, criatura! — ele faz um gesto e eu, atrapalhado, sigo-o para dentro.
— Olá, senhor. Obrigado — digo em francês ao motorista e fico imensamente feliz pela minha pronúncia ter sido perfeita.
Aqui dentro é tão espaçoso e aconchegante! Tem luzes em todo lugar e uma música eletrônica está tocando como plano de fundo. Ten se ajeita facilmente, ele deve estar acostumado com isso. Ele é uma espécie de celebridade? Vou ficar quieto aqui no cantinho.
— Vamos passar na frente da Torre Eiffel e ao seu lado tem Chandon Rosé. Vê se cala a boca agora — Chittaphon esfrega na minha cara. Credo, ele guarda rancor mesmo.
Pareço uma berinjela murcha nesse banco gostoso de confortável. Estou com cara de paisagem e Chittaphon está se vangloriando com isso. Ele bem que vai quebrar a cara por ficar rindo de mim.
— Eu gostei da sua roupa — ele comenta do nada. — Você está poderoso como a espada de um samurai.
Eu rio envergonhado com seu elogio. Me surpreendo com sua mudança de humor repentina, do mesmo jeito que acaba por passar isso para mim também.
Ele senta-se ao meu lado, porém distante. Ah, é mesmo. Seu espaço pessoal. Queria que Ten esquecesse dele só por algumas horas comigo.
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