você está convidado

Finais de semana deveriam ser eternos. Ou melhor, quão legal seria morar num planeta em que um dia duraria anos em relação a este? Não sei porque estou pensando nisso, deveria estar limpando a mesa seis, mas ainda estou na quatro com uma cara de idiota perguntando-me por que foi que passei o final de semana inteiro conversando com Doyoung pelo telefone e ignorando as chamadas de Yuta para sairmos, bebermos e pegarmos alguém. Eu disse que era compromissado, então veio a tafuia da pergunta em mim: com quem? Dei de ombros, eu não sabia bem. Ele não podia ver, então selecionei qualquer emoji idiota. E então ficamos assim.

Va Te Fouder disse-me três vezes que estou muito devagar hoje. Ele deveria saber que, além de devagar, também estou com um humor muito ruim para gente chata como ele e que é melhor ele ir embora antes que eu bote em prática outro palavrão em francês que aprendi: fils de pute.

— Você está muito devagar hoje, Taeyong. Deveria estar atendendo ali, não ainda limpando essa mesa. Você é uma tartaruga, por acaso? — lá vem ele com a ladainha ridícula.

Ten passa detrás dele, mas não olha para mim, não comenta nada.

— Ficou surdo? — o infeliz chama a minha atenção.

— Estou escutando muito bem — encaro-o. — Pode deixar que vou tentar ser rápido aqui.

Queria ser rápido também como Jackie Chan para largar um golpe na barriga dele para que ele se arrependa de falar comigo todos os dias. Nem sei como ele e Ten são amigos. O cara é completamente arrogante, rude, grosso, ignorante e tem um ego que, meu Deus do céu, nem sei como descrever. É bonitinho, mas é idiota, então fica feio. Queria socar a cara dele, mas não posso. Quando ele se aproxima de Ten e ficam conversando, fico louco para saber se está falando mal de mim.

Termino de limpar a mesa, vou atender os novos clientes e sorrio simpático, porém feliz, pelo fato de minha pronúncia estar fenomenal. Ten deveria estar aqui ao meu lado para me aplaudir. Obrigado, obrigado, evoluí bastante. Vou mostrar à Ten mais tarde, quando estivermos a sós e eu não sentir vergonha de ser eu mesmo. Por ora, surpreendo-me com o cartão preto que um burguês apresenta-me ao pagar e fico pensando se um dia terei um na vida. É muito, decido que não. Mesmo assim, sorrio encantadoramente para ele e evito o olhar de uma garota que acompanha-o.

Felizmente, trabalhar o dia inteiro rende uma graninha boa e estou até satisfeito após mais um pagamento. Estou conseguindo pagar o aluguel e acredito estar apto para comprar roupas novas e materiais de desenho. Conheço uma loja incrível e, além disso, os preços são uma delícia... Ah, tudo que mais quero é um pouco de tempo para fazer minhas coisas e me sentir bem.

Quanto mais o tempo passa, mais o restaurante fica movimentado. Ouvi dizer que irão contratar mais garçons ou talvez mais cozinheiros. O pessoal fofoca demais e certa vez escutei-os dizer que nunca me vêem sair pela noite. Olhares maliciosos sobre mim e sorrisos bestas. Fingi que estava ocupado olhando, pela centésima vez (não é hipérbole), o cardápio francês do restaurante. Já gravei cada ingrediente de cada prato, cada preço, cada bebida e sobremesa. Mesmo assim, foi demais ter de fazer-me ler tudo de novo só para poder ignorar as teorias do que eu fico fazendo aqui tão tarde.

Eu não almoço, como Ten pensa que estou fazendo. Tem um cara aqui que ama comer, então peço que ele fique com minha comida e aproveite. Ele não objeta, o que é bom. Saio para fumar, não importando-me se Ten irá reclamar mais tarde. Na verdade, vou lhe fazer uma proposta mais tarde. Espero que ele aceite, pois não quero me sentir como um parasita em sua vida. Acho que uma hora ele vai se enjoar de mim. Sou bastante desinteressante.

As tardes passam sempre rápido e quando vejo o sol indo embora, suspiro alegre com isso. Depois, a noite chega, trabalhamos que nem animais o mais rápido possível — porque são burgueses apressados, cansados e impacientes. Um segundo estou limpando uma mesa, depois estou a dizer quais vinhos temos e o especial de cada um. Na verdade, nunca pensei que me tornaria um especialista em vinhos. Ten gosta de vinho, então sempre bebemos. Pesquisei coisas na internet, ele já me contou algumas também e já fizemos algumas degustações. Agora toda vez que alguém precisa de alguma informação sobre vinho, simplesmente me chamam. Me acho até um pouco útil assim.

Finalmente livro-me dos últimos clientes e o restaurante fecha. Ajudo a organizar as coisas, pois não me importo de enrolar o máximo possível aqui dentro. Aquele bom e velho "bom trabalho!" exclamado por Ten é tudo que escuto antes de me enfiar no banheiro e demorar quinhentos anos para trocar de roupa. Sei que ele em breve irá mudar um pouco da gestão e terá nova gente por aqui, uma decoração diferente, nossas roupas serão diferentes e nossos benefícios também serão diferentes. Isso não me enche de animação, mas Ten está muito ocupado com isso e desde o incidente com o freezer, na semana passada. Mesmo assim, estou feliz que ele esteja conseguindo as coisas dele. Fico feliz, juro.

— Vai estudar hoje, trabalhar até tarde ou vai me deixar fazer uma massagem em você? — ousado e nem um pouco educado eu sou ao invadir o escritório dele. Já temos intimidade para tal, então ele não se importa com isso. Ou não demonstra.

— Talvez tudo isso junto? — ele tira os olhos do computador e me encara. Sua franja está maior ou é impressão minha? Está cobrindo mais da metade das lentes e me pergunto como é que ele enxerga.

— É pra já! — caminho até sua cadeira e tiro o sobretudo que ele está usando. Quando minhas mãos encostam nele, percebo que seus músculos estão rígidos e isso me deixa com o coração partido. Sabe, ele é tão jovem e cheio de responsabilidades. — Ten, você entrou na faculdade cedo demais, né?

— Sim. Eu era o mais novo em todas as minhas turmas da escola, então entrei na faculdade cedo também e consegui concluir cedo — ele respira fundo quando meus dedos pressionam a região abaixo da sua nuca. Seu cabelinho é tão fofinho aqui, fica todo espetadinho... Ah, vou explodir. Que ódio dele.

— Gênio — comento. Olho para a tela do seu computador da Apple que não tenho a mínima vontade de saber qual a droga do nome que inventaram para ele. Ele está respondendo algum e-mail em inglês, mas não vou meter o olho para traduzir. — Tenho orgulho de você.

Ten ergue a cabeça e vira-se para mim, olhando-me estranho.

— Estranho. Nunca achei que você fosse de falar isso — ele gira a cadeira na minha direção. Umedeço os lábios e aperto os olhos.

— Sério? — comprimo os lábios e faço uma expressão pensativa. — Mas estou sendo sincero. Porque eu te admiro, sabe disso.

— Obrigado, então — ele sorri, mas sei que está um pouco envergonhado e não sabe bem o que dizer.

Sem nem esperar convite ou pedir permissão, sento-me no seu colo e só em sentir suas mãos em meu quadril percebo que era isso mesmo que ele estava esperando de mim. Ele recosta-se na poltrona de chefão dele e me olha com um sorriso no rosto.

— Que foi? — pergunto.

— Você é lindo, sabia?

Meu rosto fica vermelho instantaneamente e sinto vontade de levantar, mas Ten me segura antes que eu consiga sair. Minha vergonha vem do seu elogio. Fico sem jeito com isso, não sei o que falar ou fazer. As pessoas não costumam me elogiar. Ninguém costuma me elogiar. Que eu deveria falar?

— Ah, obrigado — mordo o lábio e desvio o olhar do seu, uma vez que sua encarada estava ultrapassando os limites físicos possíveis.

Ten abraça-me pelo quadril e minha respiração fica meio descompassada. Não sei, Ten faz um "a" e já fico nervoso. Eu não sei porque isso acontece, acho que tenho medo de piorar mais a minha situação. Já amo-o demais, tem como piorar? Acho que sim. Sempre há.

— Eu queria saber se você vai estar livre sexta agora.

— Outro rolê? — Ten diz, com seu sotaque forte. Isso é tão casual. Fico feliz que ele se sinta à vontade para falar do jeito que quiser comigo.

— Mais ou menos. Você poderia ir lá em casa para passarmos um tempo juntos. Você nunca entrou, então eu pensei que seria legal — claro que não vou contar meus planos, vou deixar como surpresa para quando ele chegar lá

— Calma, vou ver na minha agenda — ele gira a cadeira comigo e tudo, então tenho que segurá-lo pelos ombros para não cair. Estou de costas para o monitor e Ten enxerga-o por cima do meu ombro. Fico brincando com a franja dele enquanto ele procura. — Hã... Eu tenho um compromisso que provavelmente vá terminar no final da tarde, então eu posso sair de lá e ir direto para a sua casa. Está bom pra você?

Concordo com a cabeça. Ten arrasta a cadeira para frente, fazendo minhas costas grudarem-se na mesa e agora percebo que ele quis me colocar contra ela. Me sinto incomodado quando estamos numa situação em que fico submisso, mas Ten adora isso e seu olhar diz tudo. Tento buscar o que falar para preencher o silêncio, mas a cada segundo que passa, percebo que ele está próximo de mim e visa beijar-me.

— Ahn... Então você está convidado — retomo o assunto da sexta e ele ri por eu ter dito meio embolado.

— Obrigado, Taeyong Lee. Você tem a minha presença — diz-me antes de colar os lábios aos meus.

Segura-me a coxa quando a língua invade minha boca. Eu suspiro, pois não estava preparado para isso. Nunca estou preparado para nada, ou será que meu coração é fraco para tudo? Os estalos dos beijos molhados são os únicos barulhos da sala. E então estou tocando seu cabelo. E então sua mão está de volta ao meu quadril, puxando-me para perto. Tua saliva umedece meus lábios secos e minha língua constrói castelos na tua boca. Segurando teu rosto, afasto-me em busca de ar. Mas que vale o oxigênio, se é de Ten quem preciso para continuar vivo? Ele me faz sentir-me vivo.

Na tua boca sou como algodão-doce: desmantelando, desmanchando em tua língua. Somos calminhos e carinhosos, mas quando ele inclina a cabeça para o lado e sinto a profundidade e intensidade que sou bombardeado com seu toque, dou-me conta de que ele quer realmente arrancar um pedaço de mim hoje. Um beijo muito confuso, molhado e curioso. E somos assim porque estamos a sós. Por mim, passaríamos a vida inteira a sós. Não preciso de mais ninguém, de mais ninguém.

Abraça-me forte após alguns beijos rápidos como despedida. Abraço-o também, grudando meu corpo ao seu e apoiando a cabeça em seu ombro. A cabeça em seu ombro. Pus a cabeça em seu ombro. Encaro seu rosto que agora foca no monitor e, ainda que sua mão esquerda esteja ao meu redor, sei que a direita está no mouse. Quero ficar assim mesmo com ele, ainda que ele esteja ocupado com o trabalho. Beijo seu pescoço e ele sorri. Ele sempre sorri.

Eu sei que ele não me ama, mas às vezes parece que sim. Queria que ele não me enganasse tão bem assim. Queria ter seu coração também. Queria sussurrar que amo-o e escutá-lo dizer o mesmo. Abraço-o mais forte, tão forte! Ele diz que assim vou sufocá-lo e que pareço uma criança.

Pois eu sou, sim. Sou uma criança. Uma criança que ainda não aprendeu a amar direito, mas que faz mesmo assim. De rebeldia. Estou fazendo de rebeldia. Amo-o de rebeldia. Rio com uma cócegas que recebo no abdômen. Queria poder socá-lo de beijos. Senhor, eu só te peço uma coisa: resolve esse b.o pra mim, por favor? Joga o pó de pirlimpimpim nessa criatura, por favor? Só isso que te peço.

Que merda, amo ele. Amo ele. Amo ele.

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