você e suas artimanhas pra me beijar

Ele gosta de beijos no pescoço e segurar a minha mão. Eu gosto de qualquer coisa que ele faça, tudo me agrada. É perigoso gostar de alguém assim, mas eu continuo nessa. De vez em quando faz bem. Eu gosto de como as coisas estão.

— Doce ou salgada? — ele me olha com esses olhos lindos numa expressão séria ao indagar-me a respeito da pipoca.

— Metade — respondo, depois mordo o lábio inferior e continuo checando a tela para decidir qual filme vamos assistir. Chittaphon deixou essa responsabilidade sobre meus ombros — Ten, me ajuda aqui.

— Só um minuto, docinho — ele está pegando meu copão de Coca-cola na mão do moço ao dizer isso. Ele pede algo em francês ao funcionário e eu seguro o copo para ajudá-lo. Ten disse que não queria refrigerante e quem sou eu para obrigá-lo. Se bem que eu poderia infernizar ele só de vingança por todas as vezes que ele me obrigou a comer o que eu não queria.

— Eu estou entre Toy Story e Rei Leão — ergo dois dedos, fazendo a listinha. — O que você acha?

— Rei Leão, não? — ele pega o balde de pipoca e digita a senha do cartão de crédito internacional dele. Tiro o canudo do plástico de proteção e enfio-o no buraco da tampa do copo.

— É uma boa — concordo com a cabeça e sugo um pouco do refrigerante.

Seguimos para o balcão de compra dos ingressos, escolhemos o filme e selecionamos nossos lugares. Claro que há uma pequena briguinha por conta disso, porque Ten acha que o canto superior direito é um ótimo lugar e eu pergunto se ele fumou ou algo do tipo, porque está óbvio que cinema só presta se for nas fileiras do meio — nem em cima nem embaixo, mas exatamente no meio.

— Poxa, você escolheu o filme e que o balde deve ser metade pipoca doce e metade pipoca salgada e eu não posso nem escolher a droga do lugar? — ele reclama comigo, então eu reviro os olhos e percebo que a atendente está nos olhando assustada. Ela está literalmente com olhos arregalados. Não deve ser mesmo normal ver dois asiáticos brigarem numa língua que ela não faz a mínima odeia do que seja.

— Você poderia escolher, caso não fosse um lugar tão ruim! — aponto para a tela com os lugares disponíveis e a atendente dá um passo para trás.

— Não é ruim, Taeyong. Aposto que você nunca se sentou lá — ele suspira impacientemente e faz uma expressão de cansado.

— Eu não sento em lugares ruins — me defendo, arqueando o cenho.

— Como vai saber se é ruim se nunca sentou? — Ten me olha como se estivesse me afrontando. Queria beijar ele agora mesmo.

— Ih, quer saber? Nenhum desses lugares são bons para sentar, porque nenhum deles é seu colo — solto a bomba e fico olhando para o visor das poltronas, mordendo o lábio inferior para mascarar o sorriso de merda depois dessa porcaria que falei.

Ficamos alguns segundos num total silêncio e de soslaio vejo Ten afastar a franja do rosto. Ele empurra o balde na minha barriga e eu pego-o.

— Vai pra fila, vai, Taeyong — ele me manda, com o tom de quem já está sem paciência para discutir. Mas eu sei que ele forçou isso, porque meu nome sai antes de uma lufada de risada. Ele se divertiu com o que falei.

— Sim, daddy... — brinco, virando-me em direção a fila de espera para a sessão — Quer dizer, Sir... — pigarreio propositadamente. — Ou melhor, Ten. Já vou indo, tá bom?

Caminho com a cabeça baixa até a fila para garantir nossos lugares. Quando Ten aparece ao meu lado, ele simplesmente mostra nas notas que escolheu o pior lugar para nós dois: canto superior direito. Qual o problema dele? Ninguém gosta desses lugares, ninguém vai para lá. Queria dizer que ele vai se arrepender de ter escolhido esses lugares, mas ele vai mandar eu calar a boca com aquele tom de impaciência e vai me cortar no meio com o olhar. Em síntese: não vai dar para assistirmos nada do filme.

Aliás, eu nem sei se meu inglês está tão afiado assim para assistirmos legendado em francês. Claro que não vou entender droga nenhuma da legenda, mas não garanto compreender exatamente tudo do áudio. Só pratico meu inglês debaixo do chuveiro, quando eu estou de férias e tomo um banho danado de longo para durar a semana toda. Eu sei que é nojento, mas eu sou preguiçoso e só ficava dentro de casa.

— Não coma toda a pipoca — ele adverte ao me pegar enfiando uma pequena porção de pipoca doce na boca.

— Me mire e me erre, Chittaphon! — faço uma cara de raiva com beicinho e me viro para um cartaz de um filme qualquer de super-herói. — Você é muito arrogante.

— Você não me diz isso quando me beija — ele diz, debochado, só para me provocar. Viro meu corpo na sua direção e olho-o com raiva. Quem ele pensa que é pra ficar esfregando as coisas na minha cara?

— Até porquê não tem nem como falar no meio do bei... — ele me interrompe com um beijo rápido e súbito, mas depois afasta-se com a mesma rapidez com que veio. Eu mordo meu lábio inferior com timidez, pois Ten lambeu-o quando enroscou seus lábios aos meus.

— Cala a boca, boboca — ele põe a mão na testa e tenta jogar a franja para trás, mas não adianta tanto quanto ele pensava. Eu me pego hipnotizado pela sua beleza. Como pude um dia pensar que esse deus era desprovido de tal dádiva?

Eu pego mais um pouco de pipoca, mas ele me dá um tapa na mão por eu estar fazendo isso antes do filme começar. Mas, querido, é lei você comer metade do balde antes do filme ter início, porque é isso o que todos fazem por conta do tédio e a fome. Eu não estou com fome, mas pipoca é vício.

Entramos silenciosamente e nos dirigimos aos lugares de merda que Chittaphon nos arranjou. Eu amo meu anjo, mas ele tem um péssimo gosto na escolha do cinema e isso me traz estresse, porque eu realmente queria assistir esse filme e o lugar não irá me proporcionar a melhor das experiências.

Ten diz que vai me ajudar com as coisas — porque o gatinho estava pleníssimo com as mãos livres quando, por incrível que pareça, o boboca aqui estava segurando o baldão da pipoca e o copão do refrigerante sozinho e fazendo malabarismo para comer a pipoca sorrateiramente — e pega o balde da minha mão. Isso é realmente um alívio, porque eu sou todo desastrado e sempre faço merda (pra variar).

Eu pirraço no meio da subida, então Ten me deixa pra trás e chega na poltrona antes de mim. Tropeço duas vezes no meio da escada e, na terceira vez, eu caio de joelhos no degrau e é aqui mesmo onde faço minha oração para os poderosos, santíssimos e gloriosíssimos Rá, Zeus, Buda e Jesus. Amém, eles vão tirar a burrice de mim e curar meu joelho dodói que já está cansado, coitado, de tanto tombo e desprezo.

— Você é todo desastrado, Taeyong — Chittaphon comenta como se não estivesse óbvio. Me sento ao lado dele e ponho o copo no compartimento específico para isto.

— Obrigado, docinho — dou uma piscadela para ele e sorrio quando vejo-o rir.

Nos acomodamos rapidamente, para nossa alegria. O único problema é que não tem muito o que fazer enquanto esperamos, a não ser bisbilhotar Ten curtir fotos alheias no Instagram estourado dele.

— Vem, vamos tirar uma foto! — ele abre a câmera de repente e eu escondo minha testa com a mão.

— Não, meu galo está horrível! — balbucio, escondendo-me da câmera frontal.

— Seu cabelo está na frente, abestalhado — Ten afasta minha mão da minha testa e ajeita minha franja platinada. Meu corpo se arrepia com esse carinho, tudo fica eriçado. — Faz um aegyo, tudo bem?

Concordo com a cabeça e aperto minhas bochechas enquanto faço um beicinho com meus lábios rosinhas. Ten faz um coração com os dedos e põe na bochecha enquanto sorri e aperta os olhinhos encantadoramente. Ele nem precisa fazer isso para ser fofo, ele sempre é fofo. Finalmente tiramos a foto e eu desmancho meu aegyo, mas eu fico sorrindo contemplando o rostinho dele na tela. Aff, que saco. Ten não tem nenhum defeito.

— Qual teu Instagram? — ele me pergunta, fitando-me. Eu me recosto na cadeira e cruzo as pernas.

— Eu não uso muito Instagram, já que estou sem celular — explico. — Mas eu digito para você.

Ten me entrega o celular e nossos dedos se encontram. É, parece que estou com saudades de segurar sua mão. Sinto saudades toda vez que largo e, agora que tenho comprovado o fato de que ela é quente e macia, não quero ficar longe dela. Digito o meu user abandonado e marco-o na postagem.

Então as luzes se apagam, enfim. Engulo em seco. Aquele aviso de não gravar, não conversar e ter de desligar o celular aparece e eu já sei que vai ser um processo intenso para filme começar. Ten bloqueia o celular e guarda no bolso do short. Mesmo que a única iluminação venha do grandioso telão logo à frente, o fundo branco do que está sendo apresentado traz iluminação suficiente para que eu possa ver sua coxa espalmada na poltrona.

Bebo refrigerante o bastante para sentir a cabeça congelar e como pipoca salgada quando dou-me conta, por um fortunoso pensamento momentâneo, que este lugar de bosta é perfeito — extremamente perfeito — para uma troca de amassos estalados no cinema. E se não foi por isso que Chittaphon escolheu esse lugar, com certeza é. Está na cara.

Tomado pela coragem, jogo meu braço direito sobre o recosto da poltrona dele e me inclino sorrateiramente para o lado.

— Nossa, esse ar-condicionado parece o Polo Norte, não? — comento, como quem não quer nada. Ten não me dá atenção, pois o filme já começou.

— Nossa, foi muito bem feito... — ele comenta, claramente me ignorando e se esquivando da minha proximidade. — Vai pra longe, Taeyong, assim você vai ficar na minha frente.

Essa é minha intenção, besta. Aposto que ele está fazendo o dissimulado só para não me beijar. Qual é, esse lugar é isoladamente perfeito para rolar beijo na boca e ele não pode negar isso. Parece até que fizeram essa parte só para isso, porque para assistir o filme não foi, já que o ângulo absolutamente não é um dos melhores.

— Eu gosto da sua orelha — sussurro baixinho, próximo dela e toco-a para provocá-lo. Hoje ele está usando somente um brinco e os outros furos estão livres.

Ten ri.

— Você é ridículo! — então me empurra para longe. — Nem sabe atuar, Taeyong.

— Eu fiz o quê? — me passo por inocente.

— Acha que não percebi você e suas artimanhas para me beijar? — ele morde o lábio enquanto balança a cabeça negativamente.

Meu plano nunca foi ser descoberto. Isso não é muito divertido. Eu pensei que, sei lá, ele iria dar brechas e eu iria me aproximar mais e mais e finalmente poderia beijá-lo. É tenso o fato das coisas não acontecerem bem do jeito que quero.

— Você entendeu errado — mantenho meu personagem.

— Taeyong — Ten se vira de frente para mim e eu faço o mesmo, já que ele me pede com um gesto. — Só um pouquinho, porque eu esperei o ano todo por esse filme.

Sorrio e balanço a cabeça com euforia, intensamente infantil. Ten ri da minha idiotice e me puxa pela nuca. Nunca pensei que seríamos o típico casal clichê que se pega no cinema, mas aqui é escurinho demais e escutar "tudo isso onde o sol toca" enquanto sinto sua língua vagarosamente invadir minha boca é um puto climão digno de filme de Hollywood.

Mas ele se afasta logo no melhor momento e eu fico a ver navios, porque eu amo quando a lenha chega e eu finalmente posso pôr mais intensidade no beijo, posso explorá-lo melhor. Que difícil ser refém de Chittaphon. Que difícil.

— Que foi isso? Logo na melhor parte? — reclamo, mas ele faz um shhh irritado. Eu me inclino na sua direção e beijo sua bochecha. — Foi muito pouco, Ten. Vou morrer na abstinência.

— Você é dramático demais — ele ri e pega o copo do refrigerante e bebe. Parece que alguém mudou de ideia em relação a bebida.

— Pensei que você não quisesse refrigerante. Esse é meu — roubo o copo da mão dele.

— É, mas agora eu quero — ele tenta alcançar, mas eu estico minha mão para o lado oposto dele e impeço-o de pegar.

— É, mas você não vai ter a menos que aceite me beijar — mordo o lóbulo da sua orelha e vejo afastar-se de repente e sufocar um grito de susto.

— Sai, Taeyong! — ele me bate no braço. — Eu não quero te beijar.

— Hm. Ok, então — recosto-me na poltrona e bebo meu refrigerante em silêncio enquanto assisto o filme.

Rei Leão me remete a minha infância, quando eu assistia repetidas vezes a ponto de eu gravar as principais falas dos personagens e exatamente tudo o que acontecia. Não sei quantas vezes chorei com esse filme, é que sou demasiadamente sensível e tudo me machuca ou cutuca meu coração.

— Você está bravo? — num certo minuto, olha só quem decide puxar conversa?

— Imagina — respondo sarcasticamente. Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo e também não beijo tão bem quanto gostaria, mas as vezes que ele me recusa trazem-me uma tontura chata e angustiante.

— Chega mais perto — ele sussurra. Eu suspiro e demoro um tempo para obedecer.

Sinto seus dedos acariciarem meu pescoço e ele se inclinar para me beijar. Eu gosto de como ele faz isso e eu ouso me fazer de difícil em não dar passagem. O desgraçado me faz cafuné, sutilmente morde meu lábio para me instigar e espreme ambos lábios nos meus. Há um estalo gostoso quando ele deixa o ósculo em mim, meu coração sai do lugar para dar pinote. Eu lhe dou passe livre para a minha boca e sinto ele contrair os lábios num sorriso vitorioso. Ele sabe me dominar.

Será que ele pensa que o que sinto é algo carnal? Absolutamente não, deveria eu andar com uma placa assim escrito. Eu realmente gosto de tudo nele. Eu gosto de tudo nele. Qualquer coisa sobre ele, qualquer coisa que o envolva me chama a atenção.

Mas Ten gosta de me beijar tão sensual e lentamente que almejo gemer só num único contato das nossas línguas. Eu acelero, ele desacelera. É como um equilíbrio. Minha mão esquece o canudo do refrigerante e atrai-se à cintura dele como ímã. Eu roço os dedos na sua pele macia, suave, delicada ou qualquer outro adjetivo que diga que sim, é a pele mais gostosa e afável que já senti na vida.

Ele recua quando eu avanço e me deixa um selinho como recordação. Mas isso não é o suficiente para mim, é como se eu estivesse viciado em nossos beijos. Deslizo minha mão para cima, sua blusa sobe e eu me enfio nas suas costas. Ele me olha nos olhos quando acaricio-o.

— Você tem uma pele de fada, Ten — falo baixinho, mais respiração do que timbre, tentando lutar contra o Hakuna Matata que grita na sala de cinema.

Acho que Hakuna Matata é um ótimo fundo para mais uma sessão de beijos, não? Acho que sim. Acho que o lema "os seus problemas você deve esquecer" é o que consigo extrair de representatividade nesta canção. Eu esqueço de todos os meus problemas quando estou com ele.

Ele acaricia minha nuca, então eu me arrepio todo instantaneamente. Meu corpo é escasso de contatos físicos e carinhosos com alheios, por isso que facilmente me rendo ao cafuné. Seu cabelo está tão longo que quase fica preso atrás da orelha e eu estou tentando fazer isso ao retribuir o carinho que ele faz em mim.

A textura do seu cabelo é incrivelmente macia. Eu sei que estou sendo chato e provavelmente ninguém queira saber dessas informações em excesso, mas eu noto cada detalhe nele e guardo isso na memória. Seu cabelo é maravilhoso e cheira tão bem!

Ah, meu Deus, eu preciso de um banho d'água fria para ver se assim eu acordo de uma vez desse amor ridículo o qual me meti.

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